segunda-feira, 26 de março de 2007

O museu do Prezado

Em nenhum outro lugar, os visitantes de Xapuri vão encontrar tanta informação sobre a cidade como na Casa Kalume, antiga casa aviadora, localizada no centro comercial, que no século passado abasteceu grande parte dos seringais do município, na época, um dos maiores produtores de borracha do estado. O local passou a ser, nos últimos anos, um dos pontos da cidade de visita obrigatória para turistas, estudantes e pesquisadores.

Nos dias atuais, a Casa Kalume não "avia" mais os seringais, nem compra a produção de borracha, como fazia em épocas mais favoráveis do ponto de vista econômico em que a casa comercial chegou a enviar em um único carregamento, cerca de 200 toneladas de borracha para Manaus, com base em antigas guias de embarque, guardadas até hoje.

Aberta desde 1916, a antiga Casa Kalume foi transformada em um museu informal pelo paulista de Corumbataí, Antônio Assad Zaine, o "prezado", como é carinhosamente conhecido pela população da cidade. Às vésperas de completar 80 anos de idade, dos quais 53 são inteiramente dedicados a Xapuri, o velho prezado se tornou uma das figuras mais significativas para a preservação da história e da memória do município, onde é uma das pessoas mais populares e queridas.

Com uma dedicação incomum a uma pessoa da sua idade, ele conseguiu preencher o vazio deixado pela falência do modelo de atividade comercial baseada no sistema de aviação, que consistia na troca da produção da borracha por mercadorias, com a criação de um museu, onde estão reunidos elementos diversos da vivência do povo acreano, que organizados de forma cronológica, retratam a trajetória histórica da cidade, desde a ocupação pelos primeiros nordestinos que aqui chegaram, passando pela Revolução Acreana, até os acontecimentos mais recentes do cotidiano social e político da "Princesinha do Acre".

Entre poucas mercadorias e muitas histórias para contar, o senhor Antônio Zaine convive com um grande número de objetos raros, que vão desde rifles Winchester calibre 44, apelidados de "papo-amarelo", trazidos pelos grandes seringalistas durante a Revolução Acreana, espadas, instrumentos usados pelos seringueiros na extração do látex, artefatos de origem indígena, vasos vindos da Europa no início do século passado e, até mesmo, instrumentos de uso doméstico, como antigos ferros de passar à brasa, fogões de lenha e outros itens que denunciam o estilo de vida levado pelos nossos antepassados.

Outro acervo que chama bastante a atenção de quem visita o museu é o de recortes de revistas e jornais antigos que relatam o desenrolar dos acontecimentos políticos e sociais da cidade e do Acre, retirados das mais antigas publicações do estado. Algumas fotos raras mostram locais históricos da cidade de Xapuri ainda engatinhando, como por exemplo, a construção do Instituto Divina Providência, administrado pelas freiras da Ordem das Servas de Maria Reparadoras, em Xapuri, entre os anos de 1927 e 1971, referência educacional para toda a região norte, no século passado.

Como o espaço da casa comercial foi se esgotando, o senhor Antônio Zaine passou a utilizar o velho armazém de borracha e a casa da sua sogra já falecida, situada ao lado de sua residência, na Rua Dr. Batista de Moraes, para acomodar o crescente número de objetos que a cada dia passam a fazer parte do acervo que é formado, principalmente, por objetos antigos que foram abandonados por seus donos nos quintais das casas comerciais e residências localizadas na área mais antiga da cidade. Todo objeto antigo encontrado por um morador, transforma-se, nas mãos do "Prezado", em uma peça de museu.

O senhor Antônio Assad Zaine luta, atualmente, para conseguir apoio das autoridades estaduais para conseguir tornar oficialmente a Casa Kalume um museu, uma vez que mesmo sem praticar a atividade comercial de forma efetiva há vários anos, ainda recaem sobre o estabelecimento os encargos tributários referentes à empresa Abib Kalume e Cia. Ltda. Ele espera também que o governo do estado o ajude, através da Fundação Elias Mansour, a restaurar e adequar o espaço que ele considera inadequado para guardar tantos elementos relacionados à história de Xapuri e do Acre.

Uma história de amor e dedicação ao Acre

O paulista Antônio Assad Zaine chegou ao Acre no dia 09 de julho de 1954, segundo ele mesmo conta, a convite de seu primo Jorge Kalume, então futuro governador do Acre (1967-1971), para pescar. Ao aqui chegar se apaixonou pelas belezas da região e logo adotou a cidade como a sua terra de coração, onde constituiu família (casou-se com a Professora Déa Gomes, com quem teve dois filhos, o ex-vereador César Gomes Zaine e a professora Terezinha Zaine Sarkis) e estabeleceu-se definitivamente.

Trabalhou durante muitos anos na empresa da família Kalume, mas desde cedo já começou a se dedicar a guardar os registros da história da cidade e do estado que o proporcionaram a criar o Museu da casa Kalume ou o Museu do Prezado como muitos dizem, onde permanece, mesmo que informalmente, a escrever a história do município de Xapuri. Seu trabalho e dedicação a Xapuri e ao Acre já foram mostrados para todo em Brasil através do programa Repórter Record, apresentado pelo jornalista Celso Freitas.

Um comentário:

clenio disse...

É uma vergonha o governo do estado ainda não ter dado as condições para transformar o acervo do seu Antônio Zaine em museu, ainda mais porque o governo se gaba de ter conseguido resgatar à acreanidade com a valorização da cultura de nossa gente, o que em parte é verdade, mas bem que poderiam dar essa alegria a nós xapurienses, e ao prezado seria um prêmio por tanta dedicação e amor à nossa história.