domingo, 18 de março de 2007

É pra rir ou pra chorar?

Depois de ler as lorotas escritas pelo jornalista Archibaldo Antunes, viúva desvalida do Márcio Bittar, que transformou, ao que parece, um fim de semana em Xapuri em estadia permanente, impossível não fazer alguns comentários sobre uma hilariante entrevista montada por ele com o prefeito Wanderley de Lima, seu novo patrão. Compreensível a tentativa de melhorar a imagem desgastada do chefe do executivo municipal ao mesmo tempo em que faz um pé de meia na terra mais acolhedora do mundo. Agora, querer fazer alguém engolir essa conversa fiada de vítima de conspiração é de fazer ‘morrer de rir’ até o Narciso Mendes.

Não achando bastante afirmar que seu amo esbanja carisma no trato diário com a população, com quem mantém relação inabalável de afeto e adoração, disparata que a biografia de Viana poderia render livro para figurar com destaque na literatura de auto-ajuda. Asneira maior, só o tal levantamento que aponta o prefeito como favorito à reeleição. Não podia deixar também, de pintar o chefe de vítima da vida e das circunstancias adversas, comuns a qualquer vivente de origem pobre. Catou lixo, vendeu picolés, engraxou sapatos e, acreditem, morou no Papôuco, comeu cascas de banana, virou prefeito. Um verdadeiro dramalhão mexicano.

Eis a entrevista do super-hiper.bem-humorado.archibaldo.com.br:

A imprensa xinga, mas o povo adora

Archibaldo Antunes

O atual prefeito do município de Xapuri, Vanderley Viana de Lima (PMDB), é disparado o político mais achincalhado na imprensa acreana. Segundo ele, as versões publicadas quase nunca correspondem aos fatos, o que o leva a crer que por trás das “notícias” há sempre uma conspiração.

Divorciado, pai de três filhos (Priscila, Moisés e Raiana) possui formação de Técnico Agropecuário obtida em Cabrália Paulista (SP). Professor da rede estadual e autor do livro “Xapuri, nossa história”, Vanderley esbanja carisma no trato diário com os moradores do município – uma relação que nem mesmo as “arengas” jornalísticas conseguem abalar.

Ex-vereador (1982-86) e prefeito entre 86 e 89, ele ocupa a cadeira mais cobiçada do interior acreano, pela repercussão que Xapuri obteve no mundo após a morte de Chico Mendes. Herdeiro da administração petista que arrasou a cidade, o atual prefeito tem se ocupado em reconstruir o que realizou na década de 80.

Nascido em uma família de cinco irmãos, da qual foi também “pai e mãe”, Vanderley ostenta não só um currículo de importantes realizações políticas, como histórias que caberiam em um livro de auto-ajuda. Filho de mãe alcoólica, ele vendeu picolé, catou lixo e engraxou sapatos (entre seus clientes figurava o coronel Fontenele de Castro). Morou no bairro do Papôco e comeu casca de banana para sobreviver. Na avó, Francisca Viana Nery, encontrou a entusiasta incentivadora de seus estudos, já que a mãe achava perda de tempo ocupar-se com lápis e papel.

“A elite política acreana, por mais que tente, não consegue me desmoralizar”, afirma o prefeito de Xapuri, amparado em levantamento que aponta seu favoritismo como candidato à reeleição em 2008.

Existe uma campanha orquestrada, via imprensa, contra o senhor?

Vanderley de Lima – Existe uma campanha não da imprensa, mas de pessoas que agem por trás dela, sempre mal-intencionadas. Xapuri é um município muito cobiçado, pelo que se transformou em anos de publicidade no Brasil e no exterior. Como em oito anos de mandato petista não há muito que mostrar a não ser escândalos e degradação, meus adversários vivem de plantar notícia falsa contra mim. Querem me transformar num monstro que as pessoas daqui sabem que não sou.

Um colunista da capital escreveu que uma vez iniciadas as gravações da minissérie “Amazônia” em Xapuri, o senhor colocaria os atores pra correr. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

VL – Só se pode responder a um absurdo desses tratando com respeito a equipe da Rede Globo, que me procurou, acompanhada pelo secretário de Ciência e Tecnologia do Estado, João César Doto. Todos, aliás, que vêm a Xapuri em missão oficial recebem tratamento respeitoso e saem com uma outra imagem do prefeito. O diretor de produção da minissérie, Pedro Vasconcelos, foi bem recebido na prefeitura quando veio anunciar as gravações. Os atores também foram tratados assim. Mandei publicar decreto oficial declarando hóspedes oficiais do município todos os profissionais que estiveram aqui no início da semana. As pessoas com maior destaque foram homenageadas pela prefeitura com estatueta e medalha de honra ao mérito. Foi uma forma de expressar nossa gratidão pela importância do resgate cultural que essa gente está fazendo em Xapuri.

O senhor falou que em oito anos de mandato petista em Xapuri não há o que mostrar além de degradação e escândalos. Poderia explicar melhor essa afirmação?

VL – Houve muitas irregularidades na prefeitura do PT, atestadas pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado). Assim que assumi o governo municipal, fiz registrar na delegacia de polícia o estado em que os prédios administrativos foram deixados, com documentos oficiais espalhados pelo chão, alguns estragados. Herdamos mais de 500 mil reais em dívidas de energia elétrica, parceladas junto à Eletroacre. Meu antecessor também não fez os depósitos relativos ao FGTS, a prefeitura perdeu o crédito no comércio por conta das dívidas e o salário de dezembro de 2004 não foi pago. Em 2001 incendiaram o prédio da prefeitura para acobertar outros indícios de corrupção, além dos que já foram atestados pelo TCE, referentes à prestação de contas do ex-prefeito Júlio Barbosa. O promotor e o delegado que investigavam o caso foram afastados e nunca mais voltaram. Em oito anos de mandato, o PT não fez sequer um metro quadrado de pavimentação, sendo que veio dinheiro para fazer o serviço em duas ruas. Exemplificamos com a rua da Goaiaba, bairro da Bolívia, e a rua Childerico Maciel. Os recursos sumiram, e os moradores não receberam o benefício. Nós, sem apoio do governo do Estado, estamos fazendo a nossa parte, calçando ruas com tijolos que saem da olaria mantida pela prefeitura. Em dois anos e três meses alguns quilômetros de pavimentação beneficiaram pessoas que antes viviam com os pés na lama. Esse trabalho também gera renda para 34 famílias, só na olaria.

Por falar nisso, quais as principais melhorias que sua administração realizou em dois anos?

VL – Investimos mais de 130 mil reais em iluminação pública, construímos o Centro Cultural Caleb Nascimento Mota, próximo à Rodoviária, com quadra de areia, arquibancada, palco para apresentação de espetáculos e espaço de leitura. Ali também funciona o Centro Tecnológico de Informação e vai funcionar o Centro Comercial de Artesanato, a ser inaugurado no dia 22 de março. Na zona rural construímos aproximadamente 12 pontes, recuperamos 60 km de ramais e abrimos outros 30 km; doamos sementes selecionadas, casas de farinha e beneficiadoras de arroz ao homem do campo. Também erguemos postos de saúde e escolas, além de termos implantado a telefonia em alguns locais de difícil acesso. Melhoramos as acomodações dos taxistas do município, bem como os pontos de ônibus, em respeito aos passageiros.

O senhor critica a administração do PT por ter levado muito tempo para fazer quase nada. Dê um exemplo de como o seu governo, em apenas dois anos e três meses, pode ser mais eficiente.

VL – Em oito anos de mandato, o ex-prefeito do PT construiu quatro escolas, sendo que uma delas desabou, e só não matou alunos porque a graça de Deus concedeu que o desmoronamento acontecesse num fim de semana. Em apenas dois anos de mandato, a gente conseguiu construir 12 escolas. Também fizemos cortes de gastos, porque assim sobra dinheiro pra trabalhar. Na administração passada o custo mensal do combustível era de 40 mil reais. Agora nosso gasto é de no máximo 16 mil reais por mês. Também suprimimos o excesso de viagens e de diárias. Nesses primeiros três meses, recebi quatro diárias, enquanto o prefeito do PT chegou a receber 20 diárias por mês, o que é irregular, já que a Constituição Federal não permite que um prefeito fique mais de 15 dias fora do município.

Sua campanha a prefeito de Xapuri foi humilde, ao contrário da campanha do candidato Raimundão, do PT. A que o senhor atribui a vitória?

VL – A população se cansou de oito anos de peia, de descaso e ineficiência. Com toda a perseguição, meu nome permaneceu na memória do eleitor pelo trabalho que fiz na prefeitura, entre 1886 e 1989.

Como o senhor avalia a atuação da oposição ao PT acreano?

VL – Falta humildade à oposição. E senso coletivo. Os partidos de oposição só se preocupam em se unir em época de eleição. Em torno da candidatura de Marcio Bittar (PPS) não houve consenso, com cada candidato da coligação preocupado apenas com a sua campanha proporcional. Foi uma pena, porque Marcio tinha boas propostas, principalmente pra saúde e a agricultura.

A imprensa de vez em quando publica notícias negativas sobre o seu comportamento. O senhor é mesmo um homem “brigão”?

VL – Brigo pra manter o município limpo, pra que sobre recurso para as obras, pra que meus secretários trabalhem o máximo possível, em respeito ao dinheiro do contribuinte. Não sou prefeito de brincadeira, tenho muitas responsabilidades e poucos apoiadores. Minha campanha tinha como slogan “prefeito de verdade”, portanto, estamos cumprindo. Administrar muitos problemas com pouquíssimas verbas gera nervosismo, não tem jeito. Antes eu chamava a atenção dos munícipes que jogavam na calçada o lixo do quintal, que deixavam soltos nas ruas os animais de grande porte. Mas tenho tentado mudar isso, porque algumas pessoas não entendem que minha briga é pra melhorar cada vez mais o município, e assim estavam ficando ressentidas comigo.

O senhor é sempre visto capinando rua entre os garis da prefeitura. Isso é marketing?

VL – Não, é meu jeito de ser. Não paro quieto no gabinete, porque meu lugar é na rua, fiscalizando obras, exigindo providências e consultando os moradores. Tudo que tenho foi conseguido com muito trabalho, e o cabra, por mais que não goste de mim, tem que admitir que não faço corpo mole. Minha infância foi dura, passei fome, vivi meses do lixão do Aleixo, em Manaus. Só consegui estudar porque minha avó interferiu, já que minha mãe, que gostava de beber, preferia me ver trabalhando pra sustentar meus quatro irmãos. Pra mim nada na vida foi fácil, nada caiu do céu. Se hoje sou prefeito de Xapuri pela segunda vez é porque a população sabe que trabalho muito. Espero, nestes dois anos que nos restam de mandato, poder contribuir muito mais com a população de Xapuri, apesar de não receber apoio do Governo do Estado. Mas não ligo pra isso. O povo que me julgue.

  • Vale lembrar que ao "melhorar as acomodações dos taxistas do município", o prefeito provocou uma grande revolta entre os profisionais do volante que apoiaram maciçamente a sua candidatura e em troco foram expulsos da praça da Estação Rodoviária e mandados para um quiosque de não mais que 2 metros quadrados. Os taxistas proclamaram o prefeito traidor em nome de um acordo feito na surdina com a empresa Real Norte, através do qual a empresa obteve exclusividade no uso do espaço público, e que tinha como uma das condições a retirada da concorrência das proximidades do local. O prefeito assim o fez. Mais detalhes, contatar o presidente do Sindicato dos Taxistas Gean Fadúl (9972 2585).

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