quinta-feira, 10 de abril de 2008

O poeta da floresta

Lendas, mitos e a vida no seringal são temas usados por Francisco Aquino e Silva, o seu Tico, nos textos de cordel



Nesta quinta-feira, 10, o poeta Francisco de Aquino e Silva, xapuriense por opção, lança o segundo livro de sua autoria, no auditório da escola Anthero Soares Bezerra, às 19 horas, com a presença de representantes da Fundação Elias Mansour. O livro traz duas histórias contadas na forma de repentes. A primeira, "Contos da Floresta", narra um fato sobrenatural que teria ocorrido no seringal onde viveu quando chegou ao Acre, um típico exemplo das famosas lendas e assombrações tão comuns no imaginário dos homens da floresta.

Nascido em Castanhal, no estado do Pará, o soldado da borracha e poeta Francisco de Aquino e Silva, o seu Tico, como é carinhosamente chamado por quase todos em Xapuri, chegou ao Acre em 1943, aos 11 anos de idade, durante a Segunda Guerra Mundial. Junto com os pais e os irmãos se estabeleceu no seringal Apodi, nas margens do Rio Xapuri, para viver do corte da seringa e da coleta da castanha.

Da terra natal, seu Tico nada trouxe senão a lembrança dos parentes que ficaram - e que jamais voltou a ver - e das histórias cantadas pelos repentistas nordestinos que popularizaram em outras regiões do Brasil a literatura de cordel, gênero trazido da Europa pelos portugueses na segunda metade do século XIX. Seu Tico começou ainda menino a escrever seus próprios versos, que logo foram se transformando em histórias sobre a realidade da vida do seringueiro.

O número de poesias escritas ele já não lembra. São centenas de histórias sobre o dia-a-dia do seringueiro, seus costumes e crendices, a labuta diária e os desafios e perigos encontrados na floresta. Seu Tico já escreveu, também, sobre acontecimentos da cidade. Uns engraçados, sobre a sempre conturbada política paroquiana; outros tristes, como a morte do seringueiro Chico Mendes. "Fazer poesias faz parte da minha maneira de ser, da minha vida. Muitas histórias nem estão no papel, apenas guardadas na minha memória", diz ele.

Em 2005, publicou o primeiro livro intitulado "A despedida da Floresta", que aborda a destruição das matas e o êxodo do seringueiro, que deixa sua colocação para viver na periferia da cidade. Ele se orgulha de ter sido um dos poucos que não fugiu do ronco da moto-serra. Até hoje mantém o lugar para onde se mudou em 1968 e criou os 8 filhos da união com dona Carmélia Rodrigues.

A segunda história, "A bravura de um urubu e a queda de um avião" é uma narrativa cômica sobre os anos de penúria que o Acre atravessava em meados da década de 90. Naquela época, o funcionalismo público estadual e municipal estava com salários atrasados havia vários meses e o clima em Xapuri era de muito descontentamento da população.

Aconteceu àquele tempo, que o avião que trazia de Rio Branco o dinheiro do pagamento dos servidores públicos caiu perto de Xapuri depois de bater em um urubu. O episódio verídico se transformou em comédia nos versos de seu Tico, que credita o acidente a um atentado promovido pelos urubus em protesto contra a situação de fome que atingia a espécie.

"Se o funcionário não comia, porque não tinha dinheiro, não produzia lixo nem sobras para alimentar o urubu, que resolveu tomar a sua atitude e fazer o seu protesto", explica, com risos, o seringueiro Francisco De Aquino e Silva, xapuriense por opção e poeta acreano que tão bem representa a riqueza e a tradição da cultura regional, que bravamente resiste à modernidade do nosso tempo.

Um comentário:

Unknown disse...

Meu herói sempre o Sr estará no meu coração....