terça-feira, 13 de maio de 2008

Ministra Marina Silva pede demissão



Marina Silva deixou hoje o Ministério do Meio Ambiente, surpreendendo o seu próprio staff. Deverá reassumir a sua cadeira no Senado Federal. Em carta de demissão enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela menciona o caráter irrevogável do pedido. O Palácio do Planalto não confirmou o recebimento. Surpresos, assessores da ministra não arriscaram explicar os motivos que a levaram ao pedido de demissão. A carta de demissão entregue nesta terça ainda não foi divulgada.

No Senado houve esperneio. A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), praticamente suplicou à ministra que reconsidere seu gesto. Também não deve ter lido a carta escrita pela ministra e de teor desconhecido até às 17h20. E acenou: "Caso ela prefira retornar ao Senado será recebida de braços abertos, pelo patrimônio político que ela representa, por sua liderança política proeminente".

Marina só deverá falar a partir desta quarta-feira. Os assessores do MMA preferiram não revelarr o teor da carta enviada ao presidente Lula sobre o pedido de exoneração. De acordo com a assessoria, apenas o Palácio do Planalto poderia divulgar a carta.

Dois fatos ocorridos na semana passada concorreram para a decisão de Marina: na quinta-feira, durante solenidade de lançamento do Plano da Amazônia Sustentável (PAS), no Palácio do Planalto, deixaram de ser anunciadas as metas do plano combinadas antes por Marina, o presidente Lula e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O outro fato foi a gestão do plano ter sido entregue ao ministro da Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo, Mangabeira Unger. Este chegou a ser um crítico ácido do governo. Antes de ser convidado para o novo cargo, declarou que Lula comandava um governo corrupto.

Sentindo-se desprestigiada, Marina decidiu sair. Nem o embate com lideranças rurais que insistem em aumentar a área de derrubadas de floresta ou a demora em aprovar a construção das usinas hidrelétricas do Rio Madeira, em Porto Velho (RO) a desgastara tanto. No final do ano passado, por decreto, ela enquadrou 36 municípios amazônicos como os maiores desmatadores do País. Foi um corre-corre: prefeitos bateram às portas dos gabinetes se deputados e senadores, pedindo para sair da lista.

Na semana passada, a ex-ministra foi aclamada no plenário do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, durante a Conferência Nacional do Meio Ambiente, em Brasília. A platéia gritava: "Marina presidente!".

(Montezuma Cruz e Chico Araújo - Agência Amazônia).

História

Marina Silva filiou-se ao PT em 1985. Participou das Comunidades Eclesiais de Base, de movimentos de bairro e do movimento dos seringueiros. Em 1984 foi fundadora da CUT no Acre. Chico Mendes foi o primeiro coordenador da entidade e Marina, a vice-coordenadora. Nas eleições municipais de 88 foi eleita vereadora por Rio Branco. Em 1990 foi eleita deputada estadual. Foi eleita pela primeira vez para o Senado em 1994, pelo PT do Acre. Em 2002 foi reeleita.

Foi designada Ministra de Estado do Meio Ambiente pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva e tomou posse em 1º de janeiro de 2003. No Senado Federal, é vice-presidente da Comissão de Assuntos Sociais e membro titular da Comissão de Educação. Foi vice-presidente da Comissão Especial do Congresso de Combate à Pobreza, criada por proposta de sua autoria. Foi líder da bancada do PT e Bloco de Oposição no ano de 1999.

"Perco a cabeça, mas não perco o juízo".



Comentário da jornalista Míriam Leitão, em seu blog:

Derrota para o meio ambiente

Marina aguentou desaforo e falava sozinha

"Encontrar razões para explicar a saída da ministra Marina Silva é fácil.

A ministra Marina Silva foi desrespeitada várias vezes, perdeu inumeras brigas dentro do governo, e viu nos últimos meses o desmatamento voltar a crescer.

Esta semana foi divulgado o Plano Amazônia Sustentável que tinha muito mais espaço para as obras do PAC do que para qualquer projeto concreto para proteger a Amazônia da pressão que estes projetos representam.

Entre os vários desaforos que ela engoliu está a viagem espalhafatosa do ministro Mangabeira Unger a Amazonia com a autorização de fazer um planejamento para a região. Assunto que ele mostrou não dominar.

A política industrial fala de tudo, mas não tem nenhum incentivo ou exigência para que as empresas contempladas respeitam regras mínimas de sustentabilidade.

Enfim, esse assunto está alheio completamente do atual governo. Ela estava falando sozinha.

Ela mesma havia dito que perdia o pescoço mas não perdia o juizo. Pode ter achado que ficar era definitivamente perder o juizo, num governo que nunca deu de fato importância para o meio ambiente.

A saída de Marina Silva enfraquece o governo Lula. Ela é um ícone e por isso a saída será vista - aqui e lá fora - como mais uma vitória do grupo que acha que meio ambiente é barreira ao desenvolvimento".

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