segunda-feira, 9 de junho de 2008

Polícia captura "monstro do seringal"


Jorge do Có momentos após sua prisão

Depois de quatro dias de uma verdadeira caçada humana por dentro das matas da Reserva Extrativista Chico Mendes a Polícia Militar de Xapuri conseguiu capturar, na tarde desta segunda-feira, o homem que assombrou a população do município ao matar a tiros o próprio sogro e degolar uma criança de apenas quatro anos de idade, que era seu enteado. Jorge Santos da Cunha, o Jorge do Có, ou simplesmente “monstro do seringal”, como passou a ser chamado na cidade, foi preso no seringal Riozinho, colocação Boa Água.

A primeira vítima, Francisco Pereira da Silva, foi morta com um tiro de espingarda calibre 20. O garoto Anderson da Silva Boles Filho foi degolado e teve ainda uma das mãos decepada pelo assassino. O crime, ocorrido na última quinta-feira (5), foi um dos mais bárbaros e revoltantes dos últimos anos em Xapuri, razão pela qual centenas de pessoas se dirigiram para a frente da delegacia ao saber que Jorge do Có havia sido preso no seringal e estava sendo trazido para a cidade.

A prisão aconteceu depois de a polícia receber informações sobre o real paradeiro do criminoso. Ele estava na direção do seringal Riozinho, local muito distante da zona urbana. Os policiais o perseguiram dia após dia por ramais, varadouros e trilhas de difícil acesso. Chegaram a ser vistos pelo fugitivo, conforme relatos feitos por ele mesmo a seringueiros que o encontraram durante a fuga. A um dos informantes da polícia ele disse que em certo momento, escondido na mata, chegou a apontar a espingarda para a cabeça do Sargento PM Fadúl, nas proximidades da cena do crime.

A guarnição formada por oito policiais militares, comandada pelo Coronel Amarildo, cercou a casa onde Jorge se encontrava por volta das 13h30min desta segunda-feira. Ele estava sentado no assoalho quando aconteceu a invasão, sem que houvesse tempo para reação ou tentativa de fuga. O dono da casa, que já esperava a chegada da polícia havia tido o cuidado de desmuniciar e guardar a espingarda que ele carregava consigo.

Na chegada do criminoso a Xapuri, que aconteceu por volta das 07h30min da noite, houve princípio de tumulto. Do lado de fora da delegacia cerca de duzentas pessoas gritavam por justiça, entre elas vários parentes das vítimas. Em certo momento alguns mais exaltados tentaram derrubar o portão de acesso ao pátio da unidade de segurança. Do lado de dentro, sentado no chão, um homem franzino e de baixa estatura, sempre com um sorriso enigmático no rosto, tentava explicar o inexplicável: o porquê de tamanha brutalidade.

Demonstrando ser um sujeito extremamente frio, apesar de se dizer arrependido da barbárie cometida, Jorge do Có não baixou o rosto um só instante, nem se importou com as câmeras fotográficas às quais encarava sempre que era focalizado. Perguntei pelos motivos que o levaram a tomar aquela atitude tão extrema. Afirmou que vinha sendo ameaçado pelo sogro e que matou para não morrer. Sobre o que justificaria matar uma criança de apenas quatro anos, que criou desde pequena, segundo ele, como se fosse seu filho, respondeu: "Eu não sei, acho que perdi o controle e depois não sei mais de nada".

Está sendo aguardada para a manhã desta terça-feira a chegada do delegado Mardílson Vitorino a Xapuri para dar início aos procedimentos que se seguem à prisão do acusado, que tem a previsão de ser transferido rapidamente para o presídio de Rio Branco. Preso no dia em que o presidente Lula sancionou a Lei que não permite mais o protesto do réu por um novo júri, caso a pena decretada seja igual ou superior a 20 anos, Jorge do Có figura como sério candidato à pena máxima pelos crimes que cometeu. Seria o mínimo que poderia se fazer pelas suas vítimas indefesas.


Logo após chegar à delegacia


Filhas e tias das vítimas pedem justiça


Multidão revoltada tentou derrubar o portão de delegacia

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