quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O império em ruínas

José Cláudio Mota Porfiro

Desde as primeiras épocas da civilização, sempre fomos sofregamente ambiciosos. Deleitamo-nos ao experimentar fórmulas e ardis que signifiquem levar vantagem a qualquer preço. A partir do momento em que os vetustos chineses começaram a dar à galáxia as primeiras notícias nossas, pouca ou nenhuma vez o ser humano conseguiu realizar com a ambição coisa que não prejudicasse a terceiros.

No cinema, o episódio 5 da saga Guerra nas estrelas, de 1980, dirigido por Irvin Kershner, é chamado O império contra ataca. Hoje, todavia, o grande império de Uncle Sam está ruindo, a nave de pau a pique está avariada e Mestre Yoda já não consegue ensinar nenhum americano a dominar a força para tornar-se cavaleiro jedi.

Por isto, de antemão, é preciso considerar quando Niccolò Machia-velli escreve que a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela. Deduz-se, assim, que, para o ambicioso, o bom êxito desculpa a ilegitimidade dos meios.

Os mega especuladores das bolsas de valores, por exemplo, a grande maioria formada por arquimilionários do primeiro mundo, jamais há de se importar com quem morrerá de fome ou de sede, ou viverá com medo ou em pranto, depois da quebradeira internacional que se anuncia. Não é dada importância alguma à vida, ao suor e ao sangue de quem os investiu em nome do pão de cada dia que não pode faltar em suas pacatas mesas.

Lula disse que o novo liberalismo falha demasiadamente porque os seus agentes se preocupam em fazer a economia crescer por intermédio da especulação no mercado, o que é um erro crasso. Uma economia cresce, segundo Lula, quando os investimentos levam em consideração, não o acúmulo de capital, mas a construção de meios que facultem o aumento dos postos de trabalho, o que culmina na melhoria do nível de renda das pessoas. Os benefícios, desta forma, se estendem a um número bastante significativo de pessoas que deles sentem a necessidade.

Nenhum economista se arvorou a contrariá-lo. Nem Allan Greenspan, o ex-todo-poderoso do Fed, o banco central americano. Nem Miriam Leitão, a velha musa de saias justas que não topou o desafio de Luiz Inácio que a queria discutindo Economia, com ele, ao vivo, na Rede Globo.

Ora bolas! O bom cidadão é um simples metalúrgico que fala sobre Economia com o objetivo simples de fazer-se realmente ouvir, e com a intenção metodológica deliberada de levar todos a entenderem a sua mensagem. Melhor é observar que, hoje, a maior parte da população compreende a linguagem presidencial porque o presidente é um homem do povo. O que ele transmite, na maioria dos casos, interessa tão somente às pessoas mais humildes que vêem nele um agente eficaz para a solução de problemas do cotidiano através de programas sociais colocados em prática em hora tão oportuna. É! A pobreza diminuiu, sim.

Mas o que Lula disse na reunião das Nações Unidas foi simplesmente a mais pura verdade em letras garrafais. Quem envergonha e humilha os Estados Unidos da América é George W. Bush, o anunciador e operador do apocalipse financeiro globalizado. E isto nos leva a refletir sobre a magnitude que iluminaria certos homens, se estes não fossem tão arrogantes. E, mais uma vez, o caos financeiro nos leva a repetir um adágio antigo segundo o qual a soberba nunca desce de onde sobe, mas cai sempre de onde subiu.

Foi Henry Paulson, o então executivo maior da Goldman Sachs - a casa bancária que ele chefiava em Wall Street - que, em 2002, criou um índice econômico-financeiro denominado lulômetro. Quanto maiores as chances de Lula nas eleições presidenciais daquele ano, maiores seriam a cotação do dólar e o risco Brasil. E deu no que deu. Os números estão aí para comprovar. Não obstante a torcida contrária formada pela elite e pela alta classe média, os índices brasileiros de desenvolvimento social, se comparados aos de há oito anos, demonstram com grande contundência que nós temos, sim, alcançado patamares de desenvolvimento invejáveis para uma currióla de banqueiros americanos que se atrapalham quando as marés não lhes são plenamente favoráveis. É como aquela história do raio que brilha nas trevas e, depois, o brilho volta a ser treva novamente. Na face do arrogante, o brilho da superioridade desaparece com extrema rapidez.

Há pouquíssimos dias, o agora secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, de pires na mão, choramingava na mídia implorando o apoio do Congresso para que fosse aprovado, dentro da maior urgência possível, um vergonhoso pacote de US$ 700 bilhões. (É a malfadada reinvenção de Fernando Henrique Cardoso quando, no Brasil, criou o maldito Proer, um programa de soerguimento de alguns bancos brasileiros.) Com o dinheiro dos contribuintes, seriam salvos da bancarrota os tubarões do mercado financeiro.

Enquanto isso, na assembléia geral das Nações Unidas, com setenta e sete por cento de aprovação popular, Luiz Inácio condenava a socialização de prejuízos comandada pela Casa Branca.

Segundo a revista IstoÉ, eles não poderiam ter confiado nas premissas de que o dólar continuaria sendo a única reserva de valor global e de que o resto do mundo sempre os financiaria. Países emergentes, como o Brasil, a Rússia e os tigres asiáticos, ainda sentiam os efeitos de suas crises no balanço de pagamentos. E a América mantinha a pose imperial. Por isto, é preciso revisitar o postulado cristão segundo o qual, se nos purificarmos dos nossos preconceitos e nos desembaraçarmos da mentalidade que nos engana, tornar-nos-emos homens e mulheres radicalmente novos.

Paul O’Neill, o antecessor de Paulson, chegou a condenar veementemente qualquer tipo de ajuda aos governos em crise. Esses países precisam adotar políticas que assegurem que o dinheiro que recebem seja bem aproveitado, e não saia direto para uma conta na Suíça.
E o que dizem as Fábulas de Fedro? Pego a primeira parte para mim porque me chamo leão, / a segunda, sois vós a dar-me porque sou robusto, / a terceira cabe a mim porque valho mais. / A quarta, pobre daquele que ousar tocá-la.

Hoje, esse discurso cairia como uma luva para os Estados Unidos, onde os banqueiros endinheirados, até agora, estão saindo ilesos. Uma situação que o próprio Henry Paulson chamou de vergonhosa no Congresso americano, mas que seria, segundo ele, a única alternativa para evitar uma quebradeira em série, em efeito dominó. O fato incontestável é que, na era Bush, a América faliu, o que não significa que o mesmo destino tenha ocorrido ao capitalismo. Ele apenas mudou de endereço. A beleza do sistema é que ele pune os arrogantes e premia o trabalho. Por isto, este cronista se sente, agora, novamente proverbial e afirma que, se um homem quer provar a sua competência em agricultura, que não o prove semeando urtigas.

... Mas conviria uma nota mais plausível... Em verdade, não estou querendo me fazer passar por economista. Eu não tenho a elevada honra de ser um deles. Estes são apenas rasgos filosóficos de um poeta menor. É que já há algum tempo nenhuma nota sobre Economia é publicada neste espaço. Faz muita falta o bom companheiro Mário Lima, desaparecido no fulgor destas batalhas horrendas... Daí, eu pensei que talvez esse bom xapu-riense - o Carlos Estevão Ferreira Castelo, economista graduado e Mestre em Engenharia de Produção - pudesse fazer alguns adendos aos bordões tão mal alinhavados neste pretenso artigo.

*Cronista xapuriense. Escreve no blog Impressões Gerais.

Um comentário:

Eliana disse...

Olá Raimari.Sou uma leitora assídua de seu blog, pois é sempre bom saber notícias de nossa querida Xapuri. Parece que nosso "ilustre" prefeito está cada vez mais louco. É um ser humano dígno de pena. Que chegue logo 1º de janeiro!