sábado, 13 de dezembro de 2008

Carlos Chagas passou por Xapuri em 1913

No início do século passado, a expedição do renomado médico sanitarista brasileiro Carlos Chagas passou por Xapuri e encontrou uma cidade rica na produção de borracha, comércio intensamente movimentado, muitos casos de malária e construções melhores que as de Rio Branco.


A Comissão: Carlos Chagas (indicado pela seta), Pacheco Leão e João Pedroso, junto com a tripulação da embarcação usada na expedição. Foto: Acervo da Casa de Osvaldo Cruz.

Chafurdando noite adentro na internet, encontrei o
Relatório sobre as Condições Médico-Sanitárias do Vale do Amazonas apresentado pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz, em setembro de 1913, ao então ministro da Agricultura, Indústria e Comércio do Brasil – Dr. Pedro de Toledo.

O documento mostrava o resultado da expedição do igualmente famoso sanitarista Carlos Chagas à Amazônia, que teve objetivo de estudar as condições de vida a nível médico-sanitário das populações, e em particular dos seringueiros que habitavam o vale do rio Amazonas.

A intenção do governo brasileiro era estabelecer as bases da profilaxia a ser aplicada na região, com vista à resolução simultânea dos problemas médicos e sociais e dos problemas econômicos que deles advinham. Os problemas de saúde dos seringueiros afetavam largamente a produção da borracha, que se encontrava em desenvolvimento àquela época.

Entre outubro de 1912 e março de 1913, a comissão constituída por Carlos Chagas, Pacheco Leão e João Pedroso percorreu os rios Solimões, Juruá, Purus, Negro, Branco e Acre, que representavam alguns dos principais centros de extração de borracha, passando por diversos seringais e povoados ribeirinhos, entre eles Xapuri.

Ao passar por Xapuri, a expedição de Carlos Chagas encontrou um povoado à margem direita do rio Acre que possuía a segunda maior concentração populacional do Departamento – 1.500 a 2.000 almas - e talvez o primeiro centro comercial. As casas, apesar de feitas de tábuas, eram agradáveis e as construções mais confortáveis que as de Rio Branco.

O relatório diz que Xapuri era bastante rica em produção de borracha, com um movimento comercial de grande intensidade, mostrando como exemplo que nos dias de permanência da Comissão na cidade se achavam no porto 10 grandes vapores (gaiolas) e diversas lanchas, que abasteciam com mantimentos as grandes casas aviadoras.

Não existia em Xapuri abastecimento de água, servindo-se a população da água do rio e da colheita em fontes naturais e cacimbas. Havia, no entanto, assistência médica regular, exercida por 2 médicos ainda moços, com duas farmácias bem montadas, onde se encontravam os medicamentos habituais.

Os casos de doenças eram muitos, com letalidade elevada, principalmente pela malária. E vejam só: a Comissão não observou o abuso do álcool, nem casos mórbidos que representassem conseqüências de alcoolismo intenso, situação bem diferente da que ocorre nos dias atuais.

Clique aqui e veja como em alguns aspectos a Xapuri do início do século passado era bem melhor que a da atualidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

A Xapuri de outrora ser melhor que a de hoje, discordo totalmente. No entanto vamos sopesar as conquistas e as perdas. Aliás falarei só das perdas, porque é bem mais fácil enumerá-las. A perda maior foi a deterioração da família e dos bons costumes (quem quiser se aprofundar mais no assunto fique à vontade). Olha que fui a Xapuri na década de sessenta, mas mesmo assim, pude constatar o elevado indice de alfabetização, o respeito às autoridades e principalmente à propriedade alheia, não se ouvia falar de furto e/ou roubo, homicídios eram raros e quando aconteciam, ficavam anos na boca do povo. A ligação com a capital Rio Branco, era via fluvial, ou aérea (aviões da FAB e da Cruzeiro do Sul), hoje temos a estrada, telefone,e o principal, energia elétrica dia e noite. Será que antes era melhor? Creio que não.