quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Verdade global

Carlos Estevão Ferreira Castelo envia:

"Raimari,

O último comentário que fiz em teu Blog parece que repercutiu. Recebi alguns e-mails de xapurienses e de amigos petistas de Rio Branco.

Acho que alguns não entenderam a mensagem, então vamos lá:

Sobre gestão pública, vale apontar que no contexto brasileiro dois modelos estão em desenvolvimento e disputa. A administração pública gerencial e a administração pública societal. O primeiro inspirado no gerencialismo, ideário que floresceu no Reino Unido e nos EUA, e o segundo possuindo suas origens no ideário dos herdeiros políticos das mobilizações populares contra a ditadura e pela redemocratização do país (movimentos sociais, partidos políticos de esquerda e centro-esquerda, e Ong’s).

No caso do Acre a experiência tem mostrado que o Governo da Frente Popular, que se encontra no comando da administração estadual desde 1999, mesmo com todo o histórico de lutas em defesa da participação cidadã na gestão pública, enveredou pela vertente gerencial que se constituiu no Brasil na era FHC durante os anos 90. As práticas implantadas pelos três governos da Frente até o momento indicam, claramente, que as lideranças embarcaram na suposta “verdade global” de que as burocracias públicas seriam incapazes de gerenciamento eficiente. Em outros termos: que as empresas públicas deveriam adotar formas organizacionais, e modelos, típicos da gestão privada. É claro que o conceito de burocracia (o apropriado “do senso comum” e não o de Max Weber) é utilizado como justificativa.

Quando falei que Jorge Viana seria o arauto do gerencialismo, apenas tomei como base o que o próprio declarou em uma entrevista concedida ao Jornal O Globo de 07/12/2008. Seus argumentos na entrevista sintetizam e corroboram fortemente com a afirmação do parágrafo anterior. Disse Viana: “Na minha primeira eleição, o Presidente Lula falou: Você tem que fazer curso de gestão, porque vai ser prefeito. Ele conseguiu para mim bolsa de estudos para um curso em Caracas. O curso mostrou que ser bom gestor é parecido com ser empreendedor de sucesso. Tem que trabalhar com metas e uma equipe competente para criar ambiente de governabilidade, conduzir coisas e ter bons resultados... no Acre, a gente entendeu que a prefeitura e o governo eram nossa empresa. Nosso negócio...”

Particularmente acho que cidadão não é cliente. Portanto, sou contrário ao gerencialismo no setor público. Repetindo: minha posição é contra o modelo de gestão conceituado por Bresser Pereira como administração pública gerencial. Quanto ao Bira, desejo todo o sucesso do mundo. Seu êxito será bom para Xapuri, mas acho que perderia uma oportunidade valiosa admitindo e implantando na Prefeitura a “verdade global” do gerencialismo. Mais grave: perderia uma chance valiosa de promover uma participação radical na administração da princesa que virou plebéia".

◙ Xapuriense, atualmente cursando Doutorado em Administração na UFRGS.

Um comentário:

Eden Mota disse...

Interessante o ponto de vista do Carlos Estevão. Como xapuriense que sou, acredito que toda contribuição é bem vinda e nada melhor do que criar o novo. Sugiro ao Bira que ouça o Carlinhos pessoalmente, uma vez que nosso município está precisando de pessoas que venham a contribuir de forma eficaz com o desenvolvimento do mesmo. Quiçá que outros colegas de outras áreas, venham também contribuir. Eu estou preparando a minha contribuição, porém, dentro da minha área de atuação. É isso aí Carlinhos, parabéns pela sua explicação e espero que em breve você seja convidado pelo Bira para implantar esse modelo em nossa cidade.