quarta-feira, 31 de março de 2010

Ponto de vista

Nazareno Albuquerque

O jornalista Armando Nogueira joga sua última partida neste planeta. Colocado por Deus em Xapuri (Acre), recebeu nova missão Dele: `Vai, filho, para a terra dos Deuses do Futebol, e deixa Xapuri comigo. Vou escalar Chico Mendes para a missão de defender as florestas por aqui`.

Armando - assim como os jornalistas Mário Filho e Nelson Rodrigues - tornou os estádios uma academia literária, fontes de belíssimos textos para expressar as emoções do futebol. Foi mais longe: modelou para a Rede Globo um dos maiores fenômenos da mídia brasileira, o Jornal Nacional.

Estive com Armando Nogueira em duas ocasiões, e pelo menos uma vez por mês ao telefone. Eu era chefe de telejornalismo da TV Verdes Mares, e ele o comandante de telejornalismo da Globo. Chamava-me, não sei se carinhosamente, de `Polivalente`, pois além de dirigir a equipe, eu era o apresentador do Jornal Nacional local.

A terceira e última vez, e mais recentemente, nos encontramos no café da manhã de um hotel. Como sempre elegante e sorriso pronto para uma frase inteligente.

Deus não deixou com Armando Nogueira a defesa das florestas de Xapuri, mas ele cumpriu direitinho a missão de defender o verde dos gramados e os cantos emocionados dos maracanãs.

Nazareno Albuquerque é  jornalista e publicitário.

terça-feira, 30 de março de 2010

Quase em branco

A morte de Armando Nogueira quase passa em branco em Xapuri.

Foram tímidas as homenagens prestadas ao jornalista Armando Nogueira em Xapuri, sua terra natal. Na câmara, as referências se resumiram à lembrança de um ou outro vereador. Da parte da prefeitura, o decreto de Luto Oficial chegou à única emissora de rádio do município com um dia de atraso.

Pouco, muito pouco para alguém que mesmo tendo vivido pequena parte de sua vida neste rincão nos fez orgulhosos daquilo que produziu lá fora, aos olhos de todos, sempre deixando claro e evidente o seu prazer e a sua satisfação em ser filho desta sofrida terra.

Outro fato é que muita gente que vive plugada na internet e antenada na TV só tomou conhecimento agora da acreanidade xapuriense de Armando Nogueira. Pessoas para quem os ‘zeróis’ do Big Brother são muitos mais interessantes e representativos. Pior para eles. Armando deixou uma lição que talvez nunca seja aprendida.

Que bom seria se todo o amor empenhado por esse xapuriense ilustre às coisas que fez e nos deixa como legado fosse também aplicado nas ações daqueles que podem fazer deste vale de lágrimas um lugar melhor para se viver. Talvez ainda haja tempo para a lição ser aprendida. Armando se foi, mas seu exemplo permanecerá.

Armando Nogueira, a Estrela de Xapuri

Amauri Queiroz

Às vezes parece que o tempo para. Agora mesmo estou sentindo que parado está. Acho que Deus, em sua incomparável sapiência, faz a Terra parar de girar (só por instantes) com o fugaz objetivo de proteger um daqueles seus, que estava aqui e Ele resolveu chamar de volta. Foi assim que aconteceu com Armando Nogueira, o nosso Barão de Xapuri. Terra de gente valente, lugar pequeno que sabe fazer gente grande e valente como Glória Perez e Chico Mendes.

Agora, a santíssima trindade da crônica esportiva está finalmente reunida: Armando, João Saldanha e Nélson Rodrigues. Por ali ainda circula, carrancudo, o Sandro Moreyra, meio que fazendo o papel de D'Artagnan, reivindicando para si o papel de também legítimo e ardoroso botafoguense, como "João sem Medo" e Armando. Cria-se então um movimento separatista, para que a santíssima trindade fosse constituída somente por adoradores da estrela solitária. Mas como bater Nelson... ainda mais com Glauber do lado dele, naquele falatório danado.

Armando agora certamente está feliz... Imagine poder conversar sem pressa com Garrincha, Zizinho, Heleno de Freitas, Puskas, Altafini, Friedenreich, enquanto o Feola tira sua soneca numa nuvem logo ali.

Chegou lá um pouco cansado. A vida terrena tirou-lhe as forças e agora precisa de descanso. Mas nada como conversar com João, Sandro e Nelson, escandalizados que estão com a não convocação de Neymar do Santos para o escrete canarinho. Assim que chegou, já ralhou com Garrincha e Didi, que esconderam suas novas asas atrás de uma cumulus nimbus, lá escutando alguém gritando: "Cacildis"!

Acho que Deus está fazendo uns ajustes na crônica esportiva. Já que o pessoal só quer saber de blogs, links, sites, web e outras esquisitices, Ele resolveu resgatar os cronistas de verdade, os poetas da pena esportiva. Como escrever? De que maneira? Como exaltar Obinas e Dentinhos sem atentar contra o rígido pudor da estética futebolística e do imponderável e sagrado bailado que a todos extasia?

Vivendo num período de transição, da Terra para o Céu e vive-e-versa, Armando vivia ora nos ares, ora na Terra (planando suavemente como sempre escreveu e viveu) nos seus ultraleves, em seu ultraleve viver. Quando, um dia, olharmos para o céu e avistarmos uma estrela brilhante bem sozinha, podem ter certeza que será o Armando, e se prestarmos mais atenção ainda, notaremos Nélson Rodrigues, João Saldanha e Sandro Moreyra formando uma linha imaginária, tentando conter e aconselhar um cometa desgovernado e saltitante, divertindo a todos, chamado Mané Garrincha.

Amauri Queiróz é leitor do jornal O Globo.

Peladas

Armando Nogueira

Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.

E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: "eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe." Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha.

Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro jogo sem camisa.

Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.

Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quiçá no meio-fio, pára de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.

Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: "Copa Rio-Oficial", "FIFA - Especial." Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!) jamais seria barrada em recepção do Itamarati.

No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.

Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.

Nova saída.

Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas.

O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar.

Em cada gomo o coração de uma criança.

Armando Nogueira é um estilista, na medida em que escreve sobre futebol a partir de uma consciência artesanal que envolve suas crônicas de um grau de literaridade tal, que elas, hoje, constituem páginas realmente literárias com toda a força imagística, poética, carga épica e dramática, que costumam envolver tais criações.

Texto extraído do livro "Os melhores da crônica brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1977, pág. 29.

Os pedidos recursais da defesa

Antônio Gonçalves

Em todo caso julgado pelo júri popular as pessoas e a mídia em geral se impressionam pela complexidade e, em especial, pela longa duração do julgamento. Afinal, não há como negar que o Júri em si é fascinante em todas as suas nuances.

As reviravoltas, as estratégias, em especial na oitiva das testemunhas, delineiam o longo caminho a ser trilhado tanto pela acusação quanto pela defesa.

Em alguns momentos se duvida da culpa, em outros, uma certeza latente e a emoção reverbera a alma. Após dias e dias de incerteza vem a sentença com a esperada condenação e a opinião pública fica com o sentimento de que a justiça foi feita. Ledo engano!

Todo esse espetáculo, na verdade, será traduzido em parcos anos de cumprimento de pena. O caso Isabella Nardoni retrata fielmente a questão, pois, apesar de uma condenação elevada, no Brasil existe uma limitação ao período de cumprimento de sentença que é de trinta anos.

Com os benefícios da lei, é possível a progressão de regime após o cumprimento de 2/5 da pena, por ser considerado crime hediondo, ou seja, depois de oito anos para Anna Carolina e dez anos para Alexandre, já descontados o período cumprido antes do julgamento, já estarão aptos a receberem as benesses da legislação, portanto, migrar para o semi-aberto, isto é, sair do universo prisional.

Então, na prática, o casal ficará preso pouco menos de uma dezena de anos para já estar habilitado à progressão de regime e, assim, migrar para o semi-aberto. Todo o tempo e o esforço em busca da justiça se traduzirão em parcos anos de pena para um crime vil e atroz contra uma menina, uma criança inocente, que foi brutalmente assassinada.

Isso sem falar na possibilidade de impetração do pedido de protesto por novo júri por parte da defesa, apesar de toda controvérsia doutrinária, numa clara tentativa de obter um novo julgamento, apesar do Juiz já ter sinalizado com a dosimetria da pena: 31 anos, um mês e dez dias para Alexandre e 26 e quatro meses anos para Anna Carolina, que não aceitará o pedido.

E, ainda assim, é possível recorrer ao Tribunal de Justiça de São Paulo, mas este possui entendimento pacífico em negar tal pedido, logo, restará a espera do STJ e o transcorrer de longos anos.

Ademais, também é passível de apelação, isto é, o recurso para que o Tribunal de Justiça reverta à decisão do Tribunal do Júri. Ao menos essa possibilidade deve demorar mais do que a soltura do próprio casal, já que a justiça paulista ainda nem julgou o pedido de apelação de Suzane von Richthofen, imagine quantos anos demorará a apelação do caso Isabella?

De tal sorte que o sentimento de impunidade impera, a certeza da justiça e do dever cumprido se esvai e o descrédito no sistema é inevitável. De que adianta termos um Júri tão complexo para um resultado prático tão pífio.

Por resultados como esse que a mídia critica, com razão, o sistema processual brasileiro e divulga amplamente que a impunidade está incorporada à agenda do dia da justiça nacional.

Antonio Gonçalves é advogado criminalista.

Privatização dos Cartórios

Cúpula da Justiça dá posse ao delegatário das Serventias Extrajudiciais de Xapuri

DSC06149 

Os desembargadores Pedro Ranzi e Samoel Evangelista, Presidente do Tribunal de Justiça e Corregedor Geral da Justiça do Acre, respectivamente, realizaram em Xapuri, nessa segunda-feira (29), a solenidade de posse do Delegatário das Serventias Extrajudiciais de Xapuri, que a partir do próximo dia 5 de abril já funcionarão sob a responsabilidade da iniciativa privada.

O paranaense bacharel em Direito Arysson Garcia é o delegatário que assumirá as serventias, e que cuidará, apartir de agora, do acervo que há mais de um século é guardado pela Justiça acreana. “Estamos lhe repassando a história de nossas vidas”, afirmou o presidente do TJ, Pedro Ranzi, em sua fala.

O Tabelionato de Notas, o Tabelionato de Protesto de Títulos, o Ofício do Registro Civil das Pessoas Naturais, o Ofício do Registro de Imóveis e o Ofício do Registro de Títulos e Documentos e das Pessoas Jurídicas estão entre as primeiras serventias do Acre a serem entregues ao setor privado.

A privatização dos cartórios brasileiros é uma determinação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em obediência à Constituição Federal de 1988. Em todo o País, apenas os estados do Acre e Bahia ainda não cumpriram esse dispositivo constitucional.

O processo de privatização dos cartórios acreanos iniciou-se em 2006 e começa a se consolidar agora com o repasse das trinta serventias distribuídas por todas as cidades acreanas aos novos delegatários aprovados em concurso público promovido pelo Tribunal de Justiça do Acre, cujo processo foi conduzido pelo próprio Pedro Ranzi.

O Desembargador-Presidente enfatizou que a privatização das serventias acreanas visa à melhoria da qualidade do atendimento ao cidadão, o que deverá ocorrer com a ampliação dos investimentos por parte da iniciativa privada, assim como a modernização e inovação dos serviços oferecidos à população.

"Com a privatização, cumprimos o dispositivo constitucional e criamos condições para a melhoria dos serviços prestados à população, a exemplo do que já ocorre em outros Estados. Esperamos que, efetivamente, com a visão da iniciativa privada, melhore a qualidade dos serviços e o atendimento ao público", ressaltou o desembargador.

Para o Corregedor Samoel Evangelista, o fim do processo de privatização dos cartórios acreanos deverá trazer vários benefícios para o cidadão, como maior celeridade, qualidade e diversidade de serviços prestados. Ele ressalta, entretanto, o relevante serviço prestado pelos atuais servidores públicos que até então comandavam as atividades nas unidades extrajudiciais.

"Muito embora estejamos repassando esses serviços para a iniciativa privada, há que se reconhecer a dedicação dos nossos servidores ao longo de tantos anos na condução desses trabalhos. Eu tenho destacado que ao longo dos anos o nosso servidor fez uma prestação de serviço de excelência. Não é raro encontrarmos o servidos de nossas serventias nos seringais e aldeias indígenas prestando esses serviços, principalmente no que toca ao registro civil, afirmou Evangelista.

A juíza da Vara Cível da Comarca de Xapuri, Zenair Ferreira Bueno Vasquez Arantes, também fez referências ao trabalho exercido pelos funcionários do Poder Judiciário durante muitos anos cuidaram dos acervos das serventias extrajudiciais. Representando os demais serventuários, foram citadas as servidoras Maria Pelegrina e Maria Audilena, responsáveis pelas serventias de Registro de Imóveis e Registro Civil, respectivamente. A magistrada pediu ao delegatário, além da excelência na prestação dos serviços, atenção e paciência com os mais necessitados.

Para o delegatário das serventias de Xapuri, Árysson Garcia, além do cumprimento com a norma constitucional, o grande objetivo da privatização dos serviços extrajudiciais é o de atender a necessidade que a população tem no que tange a agilidade e a versatilidade dos serviços prestados. Entre as inovações que virão com a mudança está a digitalização dos acervos das serventias, o que, segundo ele, deve começar a ser feito muito em breve.

Vale ressaltar que, apesar da privatização, os serviços extrajudiciais permanecem sob o controle da Justiça, que atuará na fiscalização da qualidade dos serviços prestados e na aferição da satisfação da população. Caso não esteja satisfeito com a qualidade do atendimento recebido, o cidadão poderá recorrer ao juiz da sua comarca e fazer reclamação. Em casos como esse, a delegação poderá ser cassada pelo Tribunal de Justiça.

Nota minha: Pegou muito mal para Xapuri a ausência de representantes dos poderes executivo e legislativo municipais na cerimônia. Inadmissível que prefeitura e câmara se permitam deixar de ser representadas em um ato tão importante que envolve a transmissão de responsabilidade sobre grande parte da vida documental do município e de seus moradores. Se justificativas houverem, o blog está à disposição para torná-las públicas.

Armando Nogueira

José Augusto Fontes

Cadê você, Armando? Hoje, amanhã e depois, o esporte vai carecer do teu olhar comprido, o futebol vai querer o teu passe preciso, toda mídia vai lembrar do teu jeito querido, e a gente vai sentir a tua falta, vai procurar pela tua inspiração de menino peralta contido, vai querer sentir a tua experiência de homem apaixonado, encantado, articulado e vivido.

Sim, a razão foi sempre tua, e o Rio Acre é teu, como também é tua a princesinha Xapuri em que você nasceu. Agora mesmo, sinto que o nosso rio já teceu umas rendinhas de emoção e começa a seguir ao teu encontro, passeando pela imensidão dessa Amazônia, vagueando do Aquiri para o Rio de Janeiro, com ondinhas de imaginação, para beijar o teu segundo berço, para roçar o leito da tua despedida, levando a mesma mensagem do velho rio que te banhou a infância, que é mistério e consolação, a mensagem de passar sem sair do lugar, como as águas do teu Acre, que fingem partir, sem deixar de estar.

Cadê você, Armando? Hoje, amanhã e depois, lances geniais vão carecer do teu comentário, o povo vai querer o teu imaginário, a platéia vai lembrar da tua tática incomparável, a gente vai sentir falta da tua revelação memorável. Na tua ausência física, teremos que matar a saudade no peito e driblar a emoção. E essa emoção é única.

Sim, você foi aviador, músico e mágico. Sempre houve um drible qualquer em teu olhar, no teu pensar. Havia uma espécie de firula no teu escrever poético, um passe longo e certeiro no teu dizer arteiro, e isso vai ficar. Havia um gesto quase tímido, havia uma procura e um amor, havia um homem dedicado, resolvido, decidido. E por tudo isso, para bem adiante do momento, há um sentimento coletivo que vai ficar. Como vai ficar a velha vontade de contigo conversar, por isso escrevo esta mensagem da floresta, por isso sei que o céu está em festa.

Cadê você, Armando? Já está chegando outra Copa! Há craques para você ver, segredos para dizer, anseios para sofrer. Há uma multidão te esperando, uma nação já quase te escutando, os minutos estão passando. Quem vai ganhar, Armando? Ah, você já sabe. Mas você não diz, pra não perder a graça. Tudo bem. Isso mesmo, disfarça, assiste lá do alto, comenta do além. Isso mesmo, é tudo ilusão, está tudo passando. Ou permanecendo. Até parece que a gente está vendo você abrindo os braços e correndo outra vez nos gramados, assim tabelando com sonhos e driblando o passado. Isso mesmo. As jogadas da vida são bolas de fogo que você, um craque dos tempos, chutou como ninguém. Até parece que a gente está vendo, ouvindo, sentindo. É tudo enfeite, é um jogo, e no video tape do sonho, a história gravou.

Nota: A referência ao Rio Acre ser do Armando, vem desde o texto “Este Rio É Meu - Ciúme”, escrito por mim em 2003, após visita dele ao Acre, durante as comemorações do centenário do Tratado de Petrópolis (importante marco histórico da independência do Acre), ocasião em que, emocionado, o Armando disse: “este rio é meu!”. O referido texto está publicado no meu livro "Páginas da Amazônia – Proseando na Floresta". Foi feito para o Armando e ele mesmo o fez publicar no Jornal do Brasil e em vários outros diários, como em A Gazeta do Espírito Santo. Ele foi muito gentil e cordial, apesar de nossas conversas terem sido apenas por e-mail.

José Augusto Fontes é poeta, cronista e juiz de direito no Acre, com passagem por Xapuri. O texto foi publicado originalmente no blog do jornalista Altino Machado.

The best player

por Armando Nogueira

Está fazendo 50 anos, este mês, a instituição popular mais conhecida no mundo inteiro; mais conhecida e mais cortejada também. Onde quer que apareça, dá-se logo uma alegria entre as pessoas. Pedem-lhe autógrafo em Los Angeles, no corredor de um Jumbo em pleno vôo, na mais longínqua maloca africana, na alfândega de Moscou e na porta do Vaticano. Aqui no Brasil, nem se fala. Até parece que ele acabou de fazer um gol de placa no jogo da véspera. E, no entanto, não chuta uma bola de súmula há cerca de vinte anos.

Mas, quando chutava, ah!, com que graça e beleza ele exercia o dom de jogar futebol. Sua arte tudo suportou e a tudo suplantou: craque, chuva de vento, pontapé, perna-de-pau, campo careca, guerra de nervos, quebranto. Trocava com a bola assombrosas figurinhas, e com Coutinho, idem, idem, tabelinhas. Os outros subvertiam a lei do jogo para não deixá-lo passar, e ele, a da gravidade, para não chegar atrasado. Tinha sempre mais um gol a fazer. Um, por Nossa Senhora da Ajuda, outro, para uma criança doente, outro mais para comprar a mobília de quarto do roupeiro do clube. Promessas que ele assumia em nome de seu grande amor ao futebol.

Fez mais de 1 000 gols e muito mais teria feito se não fora, como canta Camões, para tão longo amor tão curta vida.

Conheci-o numa noite remota no Maracanã. Acabara de marcar dois dos cinco gols que o Santos enfiou no América, paixão de Lamartine Babo. Fui vê-lo de perto no vestiário. Tinha, então, 16 anos.

Era franzino, uma criança. No corpo retinto reluzia ainda o suor do jogo. Perguntei-lhe:

- Quem é o melhor centroavante do Brasil?

- Eu - respondeu com naturalidade.

- E o melhor meia-esquerda?

- Eu também - já agora, com um sorriso.

Deixei o Maracanã sem saber direito se acabara de conhecer um pirralho convencido ou um eleito dos céus.

Como estávamos no ano de 1957, o leitor já percebeu que minha dúvida não durou muito tempo. O menino do vestuário ganharia com o Brasil, já no ano seguinte, o Mundial da Suécia.

Felizes os que pressentem. Louis Armstrong fazia uma temporada de show em Santiago. Jogava-se, então, o Mundial do Chile. Ao assinar o caderno de um fã, Armstrong dá com o autógrafo de Pelé, destacado na página. Entre a assinatura dele e a de Pelé, Armstrong abre parêntese e escreve com letra de imprensa: The best player in the world. Fecha parêntese e celebra, com uma gostosa gargalhada, a feliz circunstância que lhe permitia homenagear o nosso craque com um frase que, em inglês, podia se aplicar a ele também.

O magistral trumpetista não entendia de futebol, mas teve o lampejo que eu não tive aquela noite longínqua do Maracanã. O menino prosa que entrevistei tinha a luz dos predestinados.

Pelé já era o melhor muito antes de ser; e continua sendo, mesmo depois de ter sido.

Texto escrito em 1990 e publicado no livro O Vôo das Gazelas.

O homem e a bola

DSC06063

" Bola é magia, bola é movimento. Brincar com ela é descobrir  a harmonia e o equilíbrio do universo".

Armando Nogueira.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Apito Final

Leônidas Badaró

Hoje a bola não vai rolar. O futebol que tem na alegria seu principal ingrediente para ser o esporte mais praticado no mundo ficou triste. E a culpa não foi de nenhuma briga em estádio, gol perdido, goleada em final de campeonato. É que nesta segunda-feira, 29, o futebol brasileiro perdeu um de seus mais competentes e apaixonados torcedores.

Armando Nogueira era um “cara” que escrevia da política ao futebol com a mesma elegância. Parecia um Didi, aquele da folha seca, da escrita. Parecia não pertencer ao mundo real. Diferente de nós, pobres cronistas esportivos, não olhava apenas o futebol, conseguia enxergar o que para ele era o óbvio e que para nós às vezes é indecifrável. Via a emoção, a humanidade em um esporte tão amado.

Na televisão, não esqueçamos que foi ele que revolucionou o telejornalismo brasileiro. Recordo de um programa de entrevista no canal pago Sportv, feito por ele. Armando Nogueira não era representante no mundo de Apolo - Deus grego da beleza - também estava longe de ter uma voz de locutor de FM. Longe disso!

Era exatamente pela sua timidez, não sei se proposital, pois os sábios lançam mão de artifícios para prender a atenção da gente, que ele conseguia extrair de jogadores, técnicos e personagens do futebol brasileiros, já calejados de entrevistas, coisas que ninguém mais conseguia.

O melhor de Armando Nogueira é que ele deu um chute de primeira nos intelectuais de ar condicionado que fizeram tantas críticas à paixão do torcedor pelo futebol. Esse acreano mostrou ao Brasil que poesia e futebol podem vestir a mesma camisa.

Duas coisas me unem a Armando Nogueira, ter nascido em Xapuri e ser apaixonado pelo esporte bretão. Mas sei que pertenço ao mundo real e jamais terei um terço da maestria do meu conterrâneo com a escrita. Mesmo assim o agradeço; graças aos seus textos hoje consigo enxergar poesia em 22 homens correndo atrás de uma bola.

Leônidas Badaró é xapuriense, jornalista, cronista esportivo, narrador da TV Aldeia e Rádio Difusora Acreana e goleiro frustrado.

Brasil perde o Marquês de Xapuri

O velório do ex-diretor da Central Globo de Jornalismo e comentarista esportivo Armando Nogueira, de 83 anos, morto na manhã desta segunda-feira (29), está sendo realizado na Tribuna de Honra do Estádio do Maracanã. O sepultamento ocorrerá nesta terça-feira, por volta das 12 horas da manhã, no cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Nascido em Xapuri em 14 de janeiro de 1927, Armando Nogueira vivia no Rio de Janeiro, onde se tornou ícone do jornalismo brasileiro, desde os 17 anos de idade. Filho do Oficial de Justiça Rodovaldo Justiniano Nogueira e da dona de casa Maria Soares Nogueira, fazia parte do seleto grupo de xapurienses nacionalmente famosos.

Ao contrário de outros, Armando nunca negou suas raízes acreanas e demonstrava carinho por sua terra de nascimento, tendo adotado o “título” de Marquês de Xapuri. Junto com a também acreana Glória Peres, o jornalista visitou a cidade, em 2003, durante o mandato do ex-governador Jorge Viana. Oportunidade que perdi de conhecer esse conterrâneo que sempre me causou fascínio.

Numa de suas crônicas sobre o retorno à sua terra, escreveu:

“Visitei Xapuri, cidade em que nasci. Reencontrei, confluentes, em doce comunhão, os rios Acre e Xapuri, cúmplices ambos de um remoto devaneio que os anos acabam de me trazer de volta, íntegros. Águas silenciosas que nunca choraram por mim. Nelas, nada mudou. A fluidez é a mesma; mesmo é o remanso, em cujo vagaroso rodeio, até hoje, voltejam as minhas essências. Louvado seja 2003, o ano que me devolveu a minha infância”.

Morre Armando Nogueira

O jornalista Armando Nogueira morreu nesta segunda-feira, 29, no Rio de Janeiro.

O texto a seguir é da Wikipédia.

Filho de retirantes nordestinos que vieram parar em Xapuri, Armando Nogueira se mudou para o Rio de Janeiro, em 1944, onde entrou para a Faculdade de Direito e conseguiu um emprego de ensacador, mas desde então pensava em ser jornalista.

Em 1950, foi trabalhar na seção de esportes no Diário Carioca. Esse jornal reunia, na época, os mais expressivos jornalistas do Rio de Janeiro como Prudente de Moraes Neto, Carlos Castello Branco, Otto Lara Resende, Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Pompeu de Souza, e foi uma verdadeira escola de jornalismo para Armando, que lá permaneceu por 13 anos.

Foi testemunha ocular do atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, na Rua Toneleros, em Copacabana. Ao escrever sobre o espisódio, fez história no jornalismo brasileiro: pela primeira vez numa reportagem um fato era narrado na primeira pessoa.

Além do Diário Carioca, passou a colaborar também com o Diário da Noite. Depois de uma passagem pela revista Manchete, em 1957, foi para a revista O Cruzeiro, dos Diários Associados, propriedade de Assis Chateaubriand e, em 1959, para o Jornal do Brasil, onde foi redator e colunista. Lá, de 1961 a 1973, assinou a coluna diária "Na Grande Área".

Armando foi pioneiro na televisão brasileira, ao trabalhar, a partir de 1959, na primeira produtora independente do país, dirigida por Fernando Barbosa Lima, onde escrevia textos para os locutores Cid Moreira e Heron Domingues lerem na antiga TV-Rio.

Convidado por Walter Clark, foi para a Rede Globo em 1966 onde implantou, com Alice Maria, o telejornalismo da emissora. Graças ao trabalho de Armando e Alice Maria, o telejornalismo, que antes era visto como uma coisa menor, passou a atrair o interesse dos profissionais e do público.

Nos 25 anos que passou na Globo foi responsável ainda pela implantação do jornalismo em rede nacional e pela criação dos noticiosos Jornal Nacional e Globo Repórter.

Mas sua paixão sempre foi o esporte, em especial o futebol. A partir de 1954, esteve presente na cobertura todas as Copas do Mundo e, desde 1980, de todos os Jogos Olímpicos.

Mesmo com todos esses serviços prestados, envolveu-se em uma rumorosa polêmica em 1989, dentro da própria Globo. No segundo turno das eleições presidenciais daquele ano, a emissora promoveu um debate entre os candidatos Fernando Collor de Melo e Luiz Inácio Lula da Silva. No compacto do evento, que foi exibido no dia seguinte de sua transmissão no Jornal Nacional, houve uma edição que favoreceu claramente o candidato Collor, que desde o início foi apoiado - direta ou indiretamente - pelas empresas de Roberto Marinho. Na qualidade de diretor de jornalismo, Armando foi pessoalmente a Roberto e fez duras críticas à sua postura e a dos funcionários que realizaram aquela edição, dizendo que não compactuava com aquilo. Por causa disso, acabou aposentado pela alta cúpula e desligou-se da emissora definitivamente no ano seguinte. Passou, então, a se dedicar integralmente ao jornalismo esportivo.

No início de 1990, Nogueira deixou a TV Globo para se dedicar ao jornalismo esportivo. Foi comentarista do programa Cartão Verde, da TV Cultura, entre 1992 e 1993; e da TV Bandeirantes, de 1994 a 1999. No SporTV, canal da Globosat, participou em programas de 1995 a 2007. Mantinha uma coluna reproduzida em 62 jornais brasileiros, um programa no canal por assinaturaSporTV, um programa de rádio e um sítio na Internet. Era também proprietário da Xapuri Produções, que faz vídeos institucionais para empresas, para as quais também profere palestras motivacionais. Escreveu dez livros, todos sobre esportes.

Foi praticante de vôos em ultraleves, tendo sido fundador do clube carioca da modalidade. No futebol, foi torcedor apaixonado do Botafogo.

Em consequência de um câncer no cérebro, Armando Nogueira, então com 83 anos, faleceu neste 29 de março de 2010 em sua casa no Rio de Janeiro.

domingo, 28 de março de 2010

A Liberdade de expressão na era dos blogs

Processos por danos morais contra blogueiros levantam a questão de qual o limite para expressar a opinião na internet

Verônica Mambrini, revista Isto é.

Quando surgiram, os blogs eram vistos apenas como diários online, um espaço inofensivo no qual as pessoas faziam relatos do cotidiano, desabafavam e compartilhavam experiências.

Com a popularização da internet e a maior eficiência dos mecanismos de busca como o Google, comentários que antes ficariam restritos ao círculo de amizades do blogueiro passaram a ganhar outra dimensão. É comum que no resultado de uma busca apareçam posts de blogs mencionando uma empresa ou marca antes mesmo do link para o site oficial.

Diante dessa exposição, muitos dos que se sentem ofendidos por relatos ou opiniões expressas no vasto território da internet estão querendo reparação judicial. E aí colocam-se questões importantes: até que ponto vai o direito à liberdade de expressão? Um blogueiro pode ser processado por um comentário anônimo feito a um texto seu? Uma crítica a um serviço prestado pode ser motivo para uma ação por danos morais?

Esta é a situação com a qual a tradutora Cláudia Mello, 44 anos, se deparou inesperadamente. Em novembro de 2006, ela publicou em seu blog o relato de uma consulta médica pela qual passou. Depois de um ano e quatro meses, foi informada de que estava sendo processada pelo médico por danos morais. Segundo ela, não houve nenhum contato prévio dele, apesar de o blog ter espaço para comentários e de a ficha com seus dados de paciente ter sido anexada ao processo. Na audiência conciliatória, não houve acordo. “Não achei que estava errada em criticar o atendimento”, diz Cláudia. “Não se considerou a contribuição informativa e preventiva dos fatos narrados por mim.” Na sentença, prevaleceu a tese de que a crítica ao atendimento do médico feita na blogosfera não foi construtiva e por isso ela foi condenada a pagar R$ 2 mil por danos morais.

Casos assim devem se tornar cada vez mais comuns. A discussão que está em jogo envolve a tênue fronteira entre o fim da liberdade de expressão, garantida pelo artigo 5º da Constituição, e o início do dano moral. “O limite vai até onde afeta a reputação, a imagem e a marca de uma pessoa física ou jurídica”, diz Alexandre Atheniense, presidente da Comissão de Tecnologia da Informação da Ordem dos Advogados do Brasil.

Leia a reportagem completa no site da revista.

Homens e caranguejos

“Metade da população brasileira não dorme porque tem fome; a outra metade não dorme porque tem medo de quem está com fome”.

Um domingo de chuva, convite para uma boa leitura. Estou revendo, de Josué de Castro, Homens e caranguejos, romance que narra a história de vida de um menino pobre do Recife que começa a descobrir o mundo a partir da miséria e da lama do mangue.

Filho de retirantes nordestinos, Josué de Castro foi médico, professor, nutricionista, antropólogo, geógrafo, sociólogo, escritor, político. É autor do clássico Geografia da Fome, cujo tema o fez reconhecido internacionalmente.

Recomendo a leitura.

Maconha na Resex

Três pessoas foram flagradas cultivando a droga na Reserva Chico Mendes

Pedro Paulo, Assessoria da Polícia Civil

Um plantio de maconha com mais de cinco mil pés foram destruídos por investigadores da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e aproximadamente 10 mil que haviam sido colhidos foram localizados no Seringal Macapá, Colocação Ananá, km 58 da estrada Transacreana, na área de Reserva Chico Mendes, zona rural do município de Xapuri.

Foram quatro dias de buscas na região que faz fronteira com a Bolívia. Policiais civis da DRE alcançaram uma plantação de maconha, em diversas fazes cultivo e mais de 80 kg da droga pronta para consumo. Três pessoas foram presas pelo crime: Natanael Lima de Oliveira, 27, e o irmão dele, Naleudo Lima de Oliveira, de 25 anos, além de um menor de 15 anos, enteado de Naleudo, que prestava serviço ao traficante Natanael, arrendatário das terras de Naleudo.

A prisão do entorpecente é resultado de um trabalho intenso da DRE, na repressão a produção e consumo de droga no Estado. A operação foi comandada pelo delegado Adriano Carrasco, com os investigadores Ari, Adriana, Laurence e Railson. A DRE contou ainda com o apoio do sargento Claudio Roberto e do soldado Cavalhase, ambos do corpo de bombeiros militar.

Para chegar ao local, os policiais seguiram de barco pelo rio acre, depois pelo Riozinho do Rola até alcançar o seringal Macapá, colocação Ananá, incluindo 9 horas de caminhada por trilha inóspitas na região da Reserva Chico Mendes. No local, os investigadores da narcóticos encontraram um casa, onde eram armazenados o estoque da maconha.

Logo nas proximidades do casebre, a polícia se deparou com um viveiro da erva Cannabis Sativa. Assim como outras plantas, a maconha possui dois gêneros: macho e fêmea. Em um mesmo pé pode ter ambas as estruturas sexuais. Cerca de 5 mil pés da planta foram arrancados e queimados pela polícia.

Os detidos foram indiciados por tráfico de entorpecente, crime disciplinado pelo art. 33 da Lei 11.343/2006. Pelo que foi possível apurar, o traficante cultivava a droga na área há cerca de um ano, até ser localizado e preso pelos investigadores da DRE.

Parte dos mais de 80 kg da droga, ainda não haviam passado pelo processo de prensagem, que era feito no tronco de samaúma, depois pressionado por macaco hidráulico em um bandeja de madeira até se transformar em "tijolos", que eram vendidos na Capital, principalmente nas bocadas do bairro Calafate, segundo disse o delegado Adriano Carrasco.

"Foi uma investigação complexa, mais pelas condições de acesso. Tivemos que transpor diversas barreiras, inclusive nadar por córregos com ‘tromba d'água' e enxurrada", ressaltou o Adriano. Ele também prometeu intensificar as buscas na região da Rodovia Transacrena.

Fonte: Agência de Nótícias do Acre.

sábado, 27 de março de 2010

Declínio, parte II

Postei há alguns dias (leia aqui) uma parte do texto Declínio, do escritor xapuriense José Cláudio Mota Porfiro, e linkei o blog para dele para que os leitores pudessem terminar lá mesmo a leitura. Hoje, posto aqui a segunda parte. O texto é delicioso, e o pano de fundo é a nossa Xapuri. O Zé Cláudio é uma jóia rara, que nos pertence.

Segue:

“Os cuidados eram muitos e os meninos cresciam gordos e bem bonitos. Até que um dia o João se saiu muito bem, para um sujeito de poucas palavras:

- Olhe, Zeré! Você é moça solteira e desimpedida, zelosa e trabalhadeira, não é?

- Sou, sim!

- Entonces, vosmecê aproveita, arruma as trouxas e casa comigo, em Xapuri, no padre e no juiz, e nós já viaja amenhã.

- Nem concordo, nem deixo de concordar! Meu pai é que vai lhe arrespondê.

Era o que o véi queria. Um homem daqueles só o destino é que poderia colocar no caminho de uma filha tão boa como a Zeré... Casaram-se e a riqueza só aumentava.

João Veloso adquiriu, a preço de ocasião, um outro seringal a que deu o nome de Nossa Senhora de Nazaré, para homenagear a esposa nova, a pedido de Padre Felipe, o pároco de Xapuri.

Alguns anos depois, com a renda das duas propriedades mais velhas, adquiriu o Palmarizinho, já no Rio Acre.

Naquele tempo, mais cinco filhos já haviam chegado ao mundo: Estácio, Lafaete, João, Ruzevelto e Maria das Graças. Os mais velhos, já adultos, ficaram tomando de conta dos seringais São Pedro e Nazaré e as filhas do primeiro casamento vieram estudar no Colégio Divina Providência.

Como se não bastasse tanta bondade, o agora Seu Veloso levou para junto de si uma das irmãs da mulher e mais o pai, e os alocou numa fazendinha do outro lado do rio Acre, um pouquinho abaixo da sede do Palmarizinho.

De tanto subir, os negócios do Seu Veloso começaram agora a despencar, a declinar. Os meninos mais velhos não tinham o tal tino para ganhar dinheiro e os mais novos eram muito pequenos. Vieram as preocupações. Veio uma bronquite que se tornou crônica. O catarro do peito subiu de volume porque o cigarro porronca só contribuía para tal progresso. Em outubro de 1958, sob os cuidados do doutor Atel, o homem morreu num suntuoso bangalô, de sua propriedade, localizado na rua Floriano Peixoto.

O declínio financeiro ocorreu com a venda, pelos filhos, das propriedades do rio Xapuri. Mas faltava vir a derrocada fatal.

Nazaré, uma mulher de poucas letras, ficou com uma parte do dinheiro dos seringais mais velhos e, ainda, com o Palmarizinho, o que causou grande inveja à irmã Marissanta, agora casada com um traste de nome Raimundo Carneiro, irmão de outro traste, João Carneiro, ambos filhos de Zé Carneiro, agora todos amoitados na fazendinha herdada de Seu Veloso.

Um dia, Marissanta, fez proposta a Nazaré:

- Já que o teu filho João, de dezoito anos, gosta muito da minha Mariinha, já que ele pelejou e pelejou e findou arrancando o cabaço dela, e ela está buchuda dele, ela casa com ele e eu mais o Raimundo meu marido viremos morar com vocês no Palmarizinho, pra ajudar.

A proposta não foi aceita porque a vontade da viúva era arrendar o seringal e morar em Xapuri, no palacete adquirido pelo marido morto. Pior foi o fato de a família do lado de lá não ter tomado conhecimento da história.

Aí, quando Raimundo tomou ciência dos fatos, deu uma surra de umbigo de boi em Marissanta, botou Mariinha pra correr roçado adentro e jurou João Veloso Filho de morte, assim que o encontrasse. O outro João, irmão do insatisfeito, por sempre acalentar a vontade de ter para si a sobrinha como mulher, morto de ciúme, disse que o ajudaria a fazer o serviço pior. José, o pai dos dois, também deu o apoio de que eles precisavam para levar a cabo a ação final.

- Ora, eu caso com ela, com certeza, embora só tenha dezoito anos. Amanhã, eu atravesso o rio, de manhãzinha, e converso com eles. Não vai haver confusão nenhuma. Eu vou conversar direito com o pessoal de lá. – Foi o que disse o João à mãe sem saber que lhe armavam a tramóia que lhe daria fim à vida.

- Eu vou contigo! Eu e os meninos teus irmãos. – Respondeu a mãe preocupada.

E todos se aquietaram, menos João que, ali pelas cinco da tarde, sorrateiramente, pegou uma canoa e foi ter a conversa com a família da tia traidora que já concordara com a solução final.

À tardinha, no silêncio da floresta e do rio, qualquer batida mínima do remo na canoa é ouvida à distância considerável. Os que estavam lá em cima do barranco se aperceberam da aproximação de João Veloso Filho e se armaram. A vítima optou por subir atravessando um pequeno plantio de melancia e, depois, uma roça de macaxeira, indo dar na frente da casa de farinha, onde viu um pilão deitado e se sentou, na maior calma. Em seguida, por trás, sorrateiramente, o outro João, o tio enciumado, soltou-lhe uma pancada com uma cacete de bater borracha, de maçaranduba, no meio da cabeça do jurado que não caiu mas, ao contrário, de posse de uma acha de lenha, passou a travar luta mortal contra o primeiro algoz. Foi então que Raimundo, o pai de Mariinha, vendo que o irmão levava desvantagem na contenda, mirou com uma espingarda calibre dezesseis os peitos da vítima e lhe meteu chumbo. O corpo caiu estrepitosamente, já morto. João, o assassino primeiro, então, desferiu-lhe mais umas três bordoadas na cabeça de forma a destampar-lhe o cérebro. José Carneiro, o avô, ainda deu uns chutes nas costelas da vítima, como para cumprir a sua parte na ação macabra.

O corpo foi velado no palacete da Rua Floriano Peixoto. As crianças do grupo escolar, localizado em frente à vivenda, entravam na sala e ficavam perplexas ao ver os miolos da vítima que caíam, pingando, numa bacia ali colocada pata tal fim.

A única precaução contra os remorsos da morte é a inocência da vida. Uma cantiga russa de muitos séculos diz que das grandes traições é que podem se iniciar as grandes renovações. Ao fruto da inveja sem medida, da discórdia incontrolável e do declínio moral também deram o nome de João. Depois, com os três parentes mais velhos na cadeia e as mulheres sem condições de dar sustento às muitas crianças da família de assassinos, aos quatro de idade, o garotinho foi adotado por um casal de pastores evangélicos americanos, Mark e Fernanda Trimble, que o transformaram no atual jornalista e publicitário renomado de Montana, nos Estados Unidos da América”.

Poesia para alegrar o dia

A bunda, que engraçada

Carlos Drummond de Andrade

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda
redunda.

© Graña Drummond.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Fim de semana chegando

Hoje é sexta-feira, dia de fazer uma reza, um banho de sal grosso, um descarrego forte para afastar as peçonhas reimosas que infestam a vida. Depois uma boa “gelada”, que ninguém é de ferro.

Cidadezinha danada, gente ruim, mexerico, inveja, olho gordo e mau olhado. E dá-lhe falta de vergonha na cara, cinismo, dissimulação, empáfia, comer sardinha e arrotar caviar.

Lembrei do velho mestre Wando Barros, que gostava de um provérbio muito usado pelo guru Luiz Beleza: "Quem tem o mel dá o mel, quem tem o fel dá o fel, quem nada tem nada dá".

É a pura verdade. Não adianta se estressar pelo mundo ser como é nem pelas pessoas serem como são. Aceitá-los? Sim, pero no mucho, reservas são sempre necessárias.

Que venha o fim de semana, com paz, amor, diversão, relax total, mulher bonita, mais cerveja e descanso para todos. E vade retro inveja, olho gordo e mau olhado.

A música xapuriense

Maxsuel Maia

Hoje, ao chegar de mais um dia de trabalho, coloquei uma boa música pra dar uma relaxada, após algumas faixas começou a tocar a música Segredos de composição do grande Frejat. Automaticamente lembrei dos festivais de música que haviam em Xapuri, isso porque a música citada acima foi executada em um desses festivais por esse blogueiro que teima em ser metido a músico.

Com essa lembrança pude perceber que a música já teve fases bem melhores em nossa princesinha, haviam várias bandas, e quando digo bandas, digo completas, com guitarras, baixo, teclado, bateria, vocais, lembro-me bem de ouvir meu pai Carlinhos Castelo contando suas aventuras no contrabaixo nos bailes do "Bilhar" e de falar em outras bandas como Siderais, Os Vibrantes, Super Sonic, elogiando os companheiros de boemia da época, falava: "Meu campeão, os caras eram bons demais, Brejeira, Beleza, Duplaní, Zequinha, Magão, Nader, eita tempo bom". Além dessa época de ouro da música xapuriense, pude ver e participar de um segundo momento que formou uma nova geração de bons músicos em Xapuri, geração de Lineker, Lennon, Elias, Luan, Diego, que compunham o H-uelem; de Diarles, Thiago, Marcelo (em memória) componentes do Frutos da Terra; não poderia deixar de citar a minha banda Santo Graau que em sua última apresentação tocou com Maicon, Ralide, Heitor, Kennedy, Leonardo e este blogueiro.

Hoje a música xapuriense encontra-se em baixa, sem muito prestígio com a população e com os governantes, a prova disso são os eventos realizados em Xapuri nos quais as bandas convidadas sempre são de Rio Branco, com algumas exceções quando o Frutos da Terra é convidado. A ausência dos grandes festivais é outro exemplo da fase complicada que a música xapuriense atravessa, lembro-me que no festival citado no início desse texto o ginásio coberto estava lotado, a população compareceu em massa para prestigiar seus músicos, em outro no qual participei na categoria composição, a praça da igreja estava repleta de xapurienses ouvindo e apreciando os músicos da terra.

Vale lembrar o esforço do grande Magão em resgatar a música xapuriense, com um evento que se tornou anual ele reúne os músicos do passado e do presente no seu Resgate Cultural. Iniciativas como essa são louváveis, mas uma só pessoa e um evento anual não são suficientes para ressucitar a cultura musical de Xapuri, são necessários mais incentivos, oportunidades, eventos para nossos músicos mostrarem seu valor, o poder público e a comunidade em geral precisam olhar com mais carinho para essa classe tão talentosa e tão desvalorizada.

Maxsuel é futuro historiador e blogueiro xapuriense.

O blog é nosso

Escrever neste blog, apesar de não ser nenhum expert nas letras, me dá imenso prazer. Essa rotina, apesar dos percalços, tornou-se  para mim uma necessidade, uma espécie de catarse.

Vez por outra deparo com surpresas agradáveis, reencontro pessoas que há muito tempo não vejo, amigos que o tempo com sua fria indiferença tratou de afastar fisicamente.

Tenho recebido emails e comentários no blog desses velhos amigos de infância, dos primeiros anos nos estudos na escola Plácido de Castro, que naquele tempo chamávamos simplesmente de “Grupo”.

Num desses, me comuniquei com uma colega daqueles bons tempos, Eliana Santos, filha do nosso conhecidíssimo “Pipiu”. Eliana era uma garota franzina, caladona, comportada e muito inteligente, sempre uma das melhores da turma.

E haviam outros, que há muitos anos não vejo: Edinaldo e Edivanda, filhos do Edílson, Ana e Ilza, filhas do músico “Bigode de Ouro”. A propósito, Ana Maria foi minha primeira e platônica paixão infantil.

Eliana me envia a seguinte mensagem, dando notícias dos antigos colegas:

“Olá caro Raimari,

Não imaginei que você ainda lembrasse de mim. Era bem comportada, é verdade, mas os anos e as experiências de vida me fizeram mudar.

Todos tomamos caminhos diferentes, é verdade, mas pelo que sei todos foram muito bem sucedidos. A  Edivanda, filha do Seu Edilson, minha prima é uma senhora casada, professora.

A Ana do "Bigode de ouro" é minha cunhada, trabalha no governo, o Edinaldo é magistrado, e por aí vai.

Eu também me graduei nesse mesmo processo: pedagogia on line pela Universidade de Brasília. Já havia cursado Ciências Sociais, pela UFAC. Por isso que digo que mudei. Agora sou mais "falante", exponho minhas idéias e opiniões sem medo ou timidez.

Por isso que gosto tanto de ler seu blog. Você é crítico, inteligente e imparcial em seus escritos, aliás como devem ser os jornalistas.

Deixo meu abraço e a certeza de que continuarei assídua leitora do blog,  afinal como boa xapuriense que sou, sempre quero saber as notícias de nossa terra.

Abraços,

Eliana Santos”.

Eliana,

Me causa uma alegria muito grande saber que o tempo nos coloca em caminhos diferentes, mas as lembranças, a consideração e a amizade continuam as mesmas. Desejo sucesso a todos os amigos, e deixo esse espaço à disposição de todos que aqui queiram dar uma entradinha e deixar alguma mensagem. O blog é nosso.

Ar de mausoléu

Paira, desde sempre, uma nuvem negra e carrregada de raios sobre a Câmara Municipal de Xapuri. A chuva ainda não chegou, mas os trovões já se fazem ouvir à distância.

O ruído vem de uma parte do próprio corpo de vereadores, insatisfeita com os rumos ditados pela atual administração da Casa. Falta que esse clamor silencioso ganhe voz e se faça ouvir.

O blog não vai se adiantar aos fatos, mas conferiu que, com um quadro de 10 funcionários, a Casa do Povo permanece, no período vespertino, como na foto acima: com as portas cerradas.

Percebe-se que falta ao lugar a sinergia própria de uma instituição que representa o mais nobre de todos os interesses: o da plebe. Sente-se ali o cheiro do desleixo e da acomodação.

Nota-se também que há portas com fechaduras quebradas, como resultado presumido de arrombamentos injustificados. Fala-se em coisas piores e mais graves, o que virá a ser?

Existe uma atmosfera de mausoléu em torno do prédio do Parlamento Mirim. Lá dentro, nove almas que respondem pelo compromisso de defender o bem público e o patrimônio moral da própria Câmara.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Mãos de mulher

[fotos+da+Conceição+pessoal+e+cooperativa+473.jpg]

O artesanato regional é coisa pouco explorada em Xapuri. O turista que aqui chega, tem dificuldade para encontrar o que levar de lembrança de um lugar tão visitado.

Uma das poucas exceções é a Cooperativa Mãos de Mulher, que trabalha com artesanatos prontos e sob encomenda. A cooperativa entrega seus produtos em todo o Brasil.

Um grupo de mulheres como Irmã Ignez, Dona Graça, Conceição, Dona Odília, Dona Alaíde, Gelci, Elecí e outras, se dedicam no capricho com peças que abusam do bom gosto.

[DSC01413.JPG]

[DSC01408.JPG]

Pedidos podem ser feitos através do email: maosdemulher@gmail.com.

Conheça o blog da Cooperativa.

Obs. O marketing é espontâneo.

Parque adventure em Xapuri

DSC05679 

Estive ontem no local onde está sendo construído o primeiro “Parque Adventure” do Acre, iniciativa dos proprietários da pousada Ayshawa, que pretendem fazer de uma área de 7 hectares de mata localizada na margem do rio Acre uma opção de turismo ecológico e de aventura em Xapuri.

DSC05680

O empreendimento é financiado pelo BID, por meio do Programa de Promoção de Negócios do Governo do Estado, e vai oferecer 250 metros de trilha para a prática do arvorismo. O investimento, de cerca de R$ 100 mil, vai atender a um público diversificado, segundo o empresário Vítor Pontes, administrador da pousada Ayshawa.

DSC05686

É desnecessário escrever sobre a beleza do cenário natural com o qual o visitante vai ter contato. Na foto acima, o “igarapé do Boró” um pouco antes de desaguar no rio Acre. No alto da árvore, ao fundo, trabalhador da empresa que monta o parque trabalha na preparação de uma tirolesa que vai passar do cima do riacho.

O arvorismo é uma atividade que surgiu da necessidade de biólogos e pesquisadores se deslocarem pelas copas das árvores em suas pesquisas. Com a introdução de técnicas e equipamentos, o arvorismo se transformou em uma atividade de aventura capaz de proporcionar emoção, lazer e entretenimento para adultos e crianças.

O empreendimento dos Pontes, no entanto, não se resumirá à prática do arvorismo. Futuramente, o parque terá também uma área destinada à prática de camping, uma piscina com vista para o rio Acre e chalés para acomodar os visitantes em estadias dentro da floresta. Uma outra área será loteada para quem desejar se estabelecer nas proximidades do parque.

Para o engenheiro Reginaldo Pontes, proprietário da pousada Ayshawa, o grande objetivo do empreendimento é oferecer uma opção que segure o turista por mais tempo em Xapuri, valorizando outras atividades, como o artesanato e a culinária locais, contribuindo assim para o aquecimento da economia do município.

DSC05691

Na foto acima, Reginaldo e Vítor Pontes. Pai e filho apostando no turismo ecológico e de aventura como alternativa para movimentar a empacada economia do município. “Temos que criar atividades que prendam o turista em Xapuri”.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O desproporcional “estupro de vulnerável”

Encontrei na internet um artigo interessante de autoria do juiz de direito Marcelo Bertasso sobre as mudanças na legislação que criaram a figura penal do “estupro de vulnerável”.

O termo ganhou notoriedade nos últimos dias em Xapuri depois que dois homens foram presos, em casos distintos, sob a acusação de terem mantido relação sexual com garotas menores de 14 anos, tendo os atos ocorrido de forma consensual, segundo as informações da polícia.

Pelo o que está disposto na atual legislação penal brasileira (Lei nº 12.015/2009), os acusados poderão ser condenados a uma duríssima pena de reclusão que varia de 8 a 15 anos.

O magistrado do Paraná se coloca contra o rigor da sanção, elevadíssima em sua opinião, e que estabelece para o crime de “estupro de vulnerável” punição mais severa que as cominadas ao estupro “comum” do art. 213 e a outros delitos graves como homicídio simples e roubo e que é idêntica ao do crime de extorsão mediante sequestro.

Para Marcelo Basseto, o legislador, no momento de tratar da questão relacionada à punição do autor do crime de “estupro de vulnerável”, deveria ter levado em consideração situações ocorrentes na atual realidade social, onde jovens menores de 14 anos, não raramente, possuem vida sexual ativa e têm plena consciência do que estão fazendo.

“Não se pode desprezar que, na atual realidade social, não são raros os casos em que menores de 14 anos possuem vida sexual ativa e praticam, com normalidade, atos sexuais de forma consentida. Nessas situações, ainda que reprovável a conduta daquele que adere à vontade da menor e com ela pratica ato sexual, não se mostra proporcional a aplicação de sanção tão gravosa”, afirma.

Vale a pena ler o artigo.

Pintando a Cidadania

lei_incentivo_xapuri_foto_angela_peres_11_640x427

Governo do Acre e prefeitura deram início na manhã desta quarta-feira (24), no auditório do museu Casa Branca, à capacitação de 90 famílias que vão participar do processo de implantação da Fábrica de Bolas Ecológicas de Xapuri, parte integrante do programa federal Pintando a Cidadania, que aporta neste ano no município.

O pontapé inicial para o empreendimento foi dado no dia 9 de fevereiro passado, quando o município de Xapuri e os governos estadual, através da Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer (Setul), e federal, por meio do Ibama, assinaram o termo de cessão do espaço da antiga usina de beneficiamento de castanha Chico Mendes para a instalação das dependências da fábrica de bolas.

Nesta quarta-feira, famílias beneficiárias dos programas sociais do governo começaram a ser capacitadas para trabalhar na confecção das bolas ecológicas. O treinamento ocorrerá em dois turnos diários para atender, inicialmente, famílias de 4 bairros da cidade, que vão trabalhar na costura dos gomos  produzidos apartir de látex de seringueiras nativas.

DSC05895

Segundo a Setul, a tecnologia e produção em escala dos insumos foi desenvolvida por meio da empresa Ecológica, sediada no interior de São Paulo. A empresa assumiu o compromisso de, futuramente, transferir sua linha de produção para o Acre. O produto final, em torno de 90 mil bolas/ano, beneficiará  os alunos das escolas da região.

DSC05892

A fábrica Pintando a Cidadania em Xapuri tem a meta de produzir inicialmente bolas de futebol de campo, futsal, voleibol, handebol e basquetebol, empregando cerca de 320 pessoas diretamente, sendo 20 no gerenciamento, produção dos kits para costura, pintura em silkscreen, controle de qualidade e armazenamento, e 300 na costura de bolas mediante produção em suas próprias residências.

O projeto Pintando a Cidadania, gerido pelo Ministério do Esporte, contemplará também o extrativismo com a inclusão de cerca de mais 100 famílias moradoras da Resex Chico Mendes. Dados do Siafi, órgão que registra a movimentação financeira do governo   federal, mostram que o projeto tem uma dotação orçamentária de R$ 13,4 milhões para o ano de 2010, a serem aplicados em todo o Brasil.

Apagões no Acre

Hoje podem ser anunciadas as providências que empresários, estudantes, setores da imprensa, governos e movimentos organizados esperam há meses

Assem Neto, Notícias da Hora.

O que a União tem feito para evitar os apagões que atormentam a população do Acre? É possível solucionar a questão a curto prazo?

Hoje podem ser anunciadas as providências que empresários, estudantes, setores da imprensa, governos e movimentos organizados esperam há meses. Uma solução rápida foi cobrada pela deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB). Ela será recebida logo mais às 18 horas (horário de Brasília) por Josias Araújo, secretário executivo de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energias.

A deputada, que tem sido procurada nos gabinetes de Brasília e Rio Branco por cidadãos comuns, entidades classistas e movimentos organizados,  estendeu o convite para reunião aos demais membros da Bancada Federal do Acre. O esforço político se soma à Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal e MPE contra as estatais responsáveis pela geração e distribuição de energia na região: Eletronorte e Eletroacre. “Não é certo que nós também baixemos a cabeça. O problema é muito grave e nada justifica que perdure por mais tempo”, disse a deputada.

Ambas as empresas têm reafirmado que não sabem a razão para as interrupções continuadas e diárias no fornecimento de luz. O problema acarretou prejuízos superiores a R$ 4 milhões ao comércio da capital, além de danos materiais a milhares de consumidores em quase todas as cidades acreanas.

Para Sérgio Petecão, uma alternativa é “manter as termoelétricas existentes em funcionamento até que as obras do linhão sejam finalizadas”. O deputado Gladson Cameli também espera por “uma alternativa antes da conclusão do linhão”.

A ação judicial pede que as empresas sejam multadas em R$ 200 mil por minuto de interrupção, bem como apresentem um plano de reestruturação capaz de pôr fim às panes na geração, transmissão e geração de energia no Acre.  Saúde, Educação e demais setores essenciais estão comprometidos, assegura Ricardo Gralha, procurador da República no Acre e autor da ação que aponta a Aneel como omissa na sua obrigação de fiscalizar.

Atendendo a requerimento da deputada, a Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara federal já agenda uma audiência pública a ser realizada em Rio Branco, para ouvir empresários, representantes das associações de moradores e sindicatos.

Juiz indefere ação contra Jorge Viana

Para a Justiça Eleitoral do Acre, candidatos poderiam pedir votos antecipadamente, desde que de maneira indireta

O juiz federal David Pardo negou ação contra o ex-governador do Acre e pré-candidato ao Senado, Jorge Viana (PT), por propaganda eleitoral antecipada proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) ao Tribunal Regional Eleitoral. O juiz entendeu que Viana não fez nenhum pedido direto de voto aos eleitores e indeferiu a ação.

O MPF alegava que o ex-governador utilizou dois blocos de um programa da TV Gazeta para pedir votos. Segundo a denúncia, o pré-candidato divulgou, durante a participação no programa de TV, as candidaturas de lideranças da coligação do qual faz parte, entre elas a do seu irmão, senador Tião Viana (PT), que disputará a sucessão estadual no Acre.

Segundo o MPF, Viana reforçou seu desejo de ser eleito e pediu o apoio dos eleitores acreanos. Além de citar as lideranças que devem disputar as eleições deste ano no Estado, o pré-candidato ao Senado também citou a pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff, que disputará a sucessão presidencial.

O Ministério Público Federal recomendava que o material da entrevista fosse retirado da internet, mas Pardo alegou ter reservas quanto ao controle judicial das divulgações feitas pela internet.

O juiz entendeu que não houve abalo à isonomia dos candidatos, nem às eleições. Além disso, a legislação eleitoral vigente permite que pré-candidatos participem de debates, entrevistas, desde que se respeite princípio da isonomia.

Para Pardo, nas declarações transcritas pelo Ministério Público Eleitoral não existe "pedido literal e direto de voto, ainda que haja sempre a defesa de plataformas e projetos políticos, inclusive de programas em andamento".

Na representação, o juiz afirma que o Ministério Público não cuidou de demonstrar, nem mesmo alegar, que tenha havido violação do dever de tratamento isonômico.

“Pode ser que o tratamento dispensado ao representado [Jorge Viana] tenha sido o mesmo para outros filiados a partidos políticos ou pré-candidatos, inclusive de agremiações partidárias distintas e até mesmo adversárias. Segundo entendo, para interpretar com menos rigor as afirmações feitas", se os adversários de Jorge Viana tenham se comportado de maneira parecida. "Creio que a regra de ouro da aplicação da lei eleitoral seja a do tratamento isonômico entre os candidatos", diz o juiz David Pardo em sua decisão.

A liminar não é definitiva e a representação deve ser julgada no Pleno do Tribunal Regional Eleitoral, em data a ser marcada.

O MPF já recorreu da decisão. Segundo o recurso apresentado, a decisão deve ser reformada por conter argumentos equivocados, já que, por exemplo, o dispositivo legal citado que determina igualdade de tratamento aos candidatos é dirigido aos meios de comunicação e não ao representado na ação.

Além disso, o recurso demonstra que a legislação eleitoral prevê para casos extremos como a cassação do registro ou do mandato eleitoral que a mera demonstração do dolo seja suficiente para tal. Sendo assim, não haveria razão para, no caso da aplicação de uma penalidade mais branda como uma multa, haver, por parte do julgador, a exigência de pedido direto literal e direto de votos.

Outro argumento combatido no recurso foi o de que a Internet deveria ser olhada de maneira diferenciada por demandar maior esforço do eleitor para seu acesso. O recurso lembra que hoje a Internet é meio de comunicação de massa moderno, podendo ser acessado facilmente, disponível até em escolas públicas no Acre, diferente do rádio e TV. Além disso, a Internet é incluída expressamente dentre os veículos em que vedada a propaganda antecipada no inciso I do artigo 36-A da Lei 9.504/1997.

Fontes: MPF/Procuradoria da República ano Acre e Jusbrasil.

Arara vermelha

arara_vermelha_0121a1aa.jpg

Clicada pela fotógrafa Talita Oliveira na pousada Ayshawa, administrada pelo empresário Vítor Pontes, filho do engenheiro Reginaldo Pontes.

É deles a iniciativa de se criar, em Xapuri, o primeiro Parque de Aventuras do Acre. Serão mais de 250 metros de trilhas para a prática de arvorismo.

A estrutura está sendo construída por uma empresa do estado de São Paulo especializada nesse tipo de empreendimento. O parque servirá para treinamento, entrenimento e pesquisa.

Saiba mais sobre o assunto clicando aqui ou assistindo a reportagem abaixo, de Sandra Assunção, na TV Aldeia.

terça-feira, 23 de março de 2010

Juvenal Aquino, uma instituição xapuriense

DSC02106

O sanfoneiro Juvenal Aquino (63) é de fato uma instituição xapuriense. Exemplo da riqueza cultural que a cidade possui e das figuras marcantes da história da cidade que nem sempre recebem o merecido reconhecimento.

Conheço Juvenal desde os tempos em que meu falecido pai adotivo, Antônio Firmino, era comboeiro nas matas dos seringais Novo Catete, Albrácia, Sibéria e outros. Quando vinha à cidade, era inevitável aquela passada pelo “Remanso” para ouvir o sanfoneiro tocar sucessos de artistas renomados.

Remanso era o nome dado a um pequeno beco localizado na área central da cidade, onde hoje estão erguidas as drogarias Paraná e Drogamira. Ali, se acotovelavam pequenos comércios e microbotequins, onde pululava a boemia desabastada da cidade.

Num desses frequentados botequins, em um tempo em que o centro de Xapuri possuia uma doce agitação, tão diferente da atual, Juvenal Aquino fazia sua sanfona atrair a atenção de “doutores” e matutos. Membros da segunda categoria, eu, ainda criança, e meu pai parávamos sempre para ouvir, meio abestalhados, a melodia saída dos 48 baixos daquele instrumento que encantava.

Juvenal Aquino nasceu no seringal Apodi, nas margens do rio Xapuri, sendo o único xapuriense de nascimento em uma família de 12 irmãos. Seus pais, um cearense de Sobral, Teodoro Rodrigues da Silva, e uma paraense de Castanhal, Rita Tomás de Aquino, vieram para o Acre nos anos de 1940. Na viagem de barco entre Castanhal e as matas de Xapuri, morreram três dos 11 filhos que traziam.

A paixão pela sanfona nasceu por volta dos 20 anos de idade, quando resolveu pedir a Teodoro que comprasse para ele um instrumento de fole. Dos irmãos homens, Juvenal conta que todos tocavam alguma coisa, mas que o pai, mesmo tendo possuído um acordeão, jamais conseguira extrair um único acorde, motivo pelo qual resolveu vendê-lo. Daí a resistência do velho em adquirir a tão sonhada sanfoninha de 8 baixos dos sonhos de Juvenal, que findou por ser comprada algum tempo depois.

Em 1968, Juvenal deixou o seringal e veio para Xapuri, onde se inspirou num tocador chamado Mundico Agostinho, a quem considera seu grande mestre, e comprou uma nova sanfona, essa de 24 baixos. No ano seguinte, vendo que o filho levava jeito para a coisa, o velho Teodoro resolveu presenteá-lo com um instrumento maior: uma sanfona de 48 baixos com a qual o sanfoneiro começou a animar festas por vários lugares do município.

Juvenal conta que nessa época ouviu muitas piadinhas e críticas vindas de quem não acreditava em seu talento para tocar sanfona. Certa vez, quando foi contratado para animar uma festa de casamento em um seringal, o pai do noivo foi questionado sobre a escolha do sanfoneiro.

- Chico Afonso, em Xapuri não tem mais tocador, não? Perguntou um parente da noiva ao anfitrião.

- Por que a pergunta? - devolveu o seringueiro, que desejava festejar o casório do filho ao som de uma boa sanfona, instrumento impreterível nos regabofes daquele tempo.

- Se tu fostes a Xapuri contratar um tocador e trouxe o Juvenal Aquino, é porque lá não tem mais sanfoneiro, treplicou o chato de plantão.

- Vou fazer o casamento de meu filho, quem vai tocar é juvenal Aquino e vem na festa quem quiser, pôs fim à conversa o enjoado Chico Afonso.

Alguns anos depois, o mesmo crítico se dirigiu a Juvenal para parabenizá-lo por sua sanfona atrair tanta gente às festas nas quais tocava.

- Nunca esmoreci com isso, não. Tocador não pode ter rancor, filosofa o sanfoneiro.

Há mais de 27 anos, mantém a casa de festas que se tornou famosa em Xapuri e conhecida em todo o estado, o Forró do Juvenal, que recentemente foi restaurada com apoio da prefeitura. Do fato de possuir público fiel e estar sempre lotada nos dias de sábado, a casa de forró ganhou um apelido – Espoca Chato - que, por considerá-lo pejorativo e indecoroso, Juvenal nunca o aceitou com bom humor.

- Muita gente de bem deixa de vir à festa por causa desse apelido indecente, reclama.

As festas são a única renda e meio de vida do tocador, que atualmente atravessa dificuldades financeiras e de saúde. Conversei com ele na véspera de viajar para Rio Branco, onde se submeterá a uma cirurgia de próstata marcada para ocorrer nesta quarta-feira, dia 24.

Fã do Trio Nordestino, Luiz Gonzaga e Noca do Acordeon, Juvenal Aquino deixou há dois anos a sanfona de lado para animar os tradicionais forrós ao som de um teclado. As razões são, segundo ele, as mesmas citadas no parágrafo acima. A falta de condição financeira para manter um conjunto que acompanhe a sanfona e as dores que o impedem de envergar o instrumento que afirma ser a grande paixão de sua vida.

Este texto é uma forma de homenagear essa pessoa querida que tão bem representa a história da arte e da cultura de nossa cidade. Xapuri possui muitos Juvenais, exemplos de vida e de coragem que, apesar das muitas adversidades lhes impostas, optaram por produzir e deixar como herança algo de bom para as novas gerações. A ele, um grande abraço e toda a proteção de Deus nessa jornada da qual em breve estará retornando para novamente nos alegrar com os belos acordes de sua sanfona. 

Em tempo: Juvenal Aquino é irmão do poeta de cordel Francisco de Aquino e Silva, o “seu Tico”, que possui dois livros publicados por meio da lei de Incentivo à Cultura.

Evandro Chagas se prepara para criar sede no Acre

Um dos mais prestigiados centros internacionais de pesquisa, o Instituto Evandro Chagas está dando este ano dois passos da maior importância para a ampliação do conhecimento científico na Amazônia. Um deles já está em movimento e começa exatamente agora a produzir ações concretas: a criação de uma unidade descentralizada em Rio Branco, capital do Acre. A outra – a transformação do Instituto em Fundação, nos mesmos moldes da Fiocruz (RJ) –, está ainda condicionada a procedimentos burocráticos e na dependência de decisão do Congresso Nacional, o que é um complicador a mais em ano de eleições. “Mas nada impede que a gente possa esperar um milagre”, afirma com uma ponta de confiança a diretora do IEC, Elisabeth Santos.

Para a implantação da unidade no Acre, lembra a diretora do IEC que os entendimentos começaram em meados de 2008, numa conversa que ela teve com o senador acreano Tião Viana (PT). O projeto foi recebido com entusiasmo pelo senador, conforme admite Elisabeth Santos. As conversações não evoluíram mais rapidamente na época, porém, porque ela estava então direcionando o máximo de seus esforços para a solução de dois problemas antigos, que causavam graves prejuízos ao desempenho do Instituto: a aprovação de um plano de carreira para os pesquisadores e funcionários e a realização de concurso público.

No ano passado, com o equacionamento dos dois problemas – a prova do concurso vai ser realizada no próximo dia 25 de abril, para o preenchimento de 396 vagas, sendo 120 para pesquisadores –, as conversações foram retomadas. Nessa nova audiência, Elisabeth Santos encontrou na companhia de Tião Viana o secretário de Saúde do Acre, Osvaldo de Souza Leal, e o diretor do Laboratório Central do Estado, Tiago Viana. Para praticamente concluir as negociações, os dois vieram a Belém duas semanas depois, no início de novembro.
No mês seguinte (dezembro), a diretora do IEC foi a Rio Branco para uma visita protocolar às autoridades locais, às quais fez a entrega de uma correspondência de apresentação do instituto e comunicando seu interesse em implantar naquela capital uma unidade descentralizada. As visitas se estenderam aos órgãos de governo ligados à área de saúde, nas três esferas de poder, ao Ministério Público (Federal e Estadual) e à Universidade Federal do Acre.

Leia a reportagem completa no Diário do Pará.

Poluição sonora

Sugiro aos nobres vereadores de Xapuri proporem uma lei municipal que regulamente a exploração dos serviços de propaganda volante, que funcionam na atualidade sem nenhum tipo de controle do poder público municipal, causando danos à saúde da população por conta do alto índice de poluição sonora que produzem.

A necessidade de se disciplinar o uso de atividades sonoras em Xapuri é urgente. Nenhum cidadão pagador de impostos é obrigado a suportar o nível de ruído produzido por alguns veículos que fazem propaganda de lojas comerciais ou divulgação de eventos sem nenhum respeito a horário, local e ouvidos do povão.

É inadmissível que esses carros continuem a pertubar a paz e a tranquilidade da população, soltando seus decibéis antes das 8 horas da manhã e depois das 5 da tarde. Também não é aceitável que deixem de guardar a distância regulamentar para escolas e hospitais.

Pesquisando na internet, encontrei uma proposta de lei aprovada pela Câmara Municipal de Santa Bárbara d'Oeste, no interior de São Paulo, que pode muito bem servir de orientação a quem, na Câmara de Xapuri, possa se interessar pelo assunto. Clique aqui para visualizar.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Onde estava a polícia?

Incrível a quantidade de carros que acompanharam a Cavalgada Alexandre Eluan transportando pessoas às dezenas em cima das carrocerias. Em alguns veículos, crianças e adultos se amontoavam sobre caixas de som ou dependuravam-se perigosamente nas janelas.

E a balbúrdia não se limitou ao trajeto da cavalgada. Mesmo após o evento, alguns carros continuaram a carregar para cima e para baixo pessoas de maneira perigosa e irregular sob o barulho ensurdecedor dos equipamentos de áudio automotivo.

Infelizmente, tive um “problema de junta” com minha câmera fotográfica que resultou em não poder fazer nenhuma foto relativa ao que critico acima. Também não quis catá-las nos Orkut, onde várias muitas beldades postaram imagens da cavalgada.

Pergunto: onde estava a polícia para aplicar o CTB?

“Quem sabe ano que vem”

Xapuri-photo1491-5[1]

Dia especial

Maxsuel Maia

Esse dia 22 de março de 2010 é mais que especial para todos os xapurienses, é o dia do aniversário da nossa querida princesinha, nossa cidade mágica, com seu povo humilde, simples, mas acima de tudo, feliz, hospitaleiro e talentoso. De Xapuri já saíram pessoas como Adib Jatene, Armando Nogueira, Jarbas Passarinho, além de seu filho mais ilustre, o líder seringueiro Chico Mendes.

Nesses 105 anos de História a cidade passou por várias transformações, foi palco da chamada "Revolução Acreana", das lutas dos seringueiros contra os sulistas nas décadas de 70 e 80 e a cada episódio ia cravando de vez seu nome na História do Acre e do Brasil. As comemorações pelo aniversário começaram na última sexta e se encerram hoje, os eventos vão desde passeios ecológicos, atividades esportivas à gincanas culturais e queima de fogos.

De acordo com alguns conterrâneos com quem pude conversar, a única frustração da população com a programação oferecida pela prefeitura foi com o evento musical, a população esperava um show com algum artista de fama nacional para finalizar com grandeza as comemorações dos 105 anos da princesinha, a ocasião merecia e o povo também. Fica a idéia, quem sabe ano que vem.

A função do Júri popular

Antonio Gonçalves

A cada crime de repercussão nacional de competência do Júri, a questão é inevitável: o Júri popular é o melhor remédio jurídico para analisar e, eventualmente, punir culpados por crimes contra a vida?

Exemplos recentes dividem a opinião pública: Suzane Von Richthofen e o caso dos bombeiros representam fielmente essa dicotomia. Enquanto a primeira foi julgada culpada e teve uma pena considerada baixa, os segundos foram absolvidos gerando uma revolta popular.

A cada novo julgamento com um resultado que não a condenação, a autoridade do Júri é questionada.

Então, expliquemos um pouco mais como é composto um Júri e quais são as suas atribuições.

O Código de Processo Penal estipula que o Júri é composto por sete membros escolhidos de uma lista de vinte e um, na qual o advogado de defesa pode recusar três sem justificativas, assim como o Ministério Público. A partir daí somente com motivo fundado, formado e reduzido ao número de sete passará a ter o nome de conselho de sentença.

Essas pessoas são comuns, sem nenhum tipo de especialidade que os diferencie e muito menos conhecimento jurídico. São leigos na acepção do termo. O único requisito essencial é a notória idoneidade.

A competência desses membros é compreender como os fatos se sucederam e se, de fato, o acusado é considerado culpado ou inocente. Não cabe ao conselho de sentença estipular a pena, pois essa função é exclusiva do Juiz, que analisará as circunstâncias atenuantes ou agravantes que cercam o delito e assim auferirá a dosimetria da pena.

Ao conselho de sentença não cabe analisar se a pena é justa ou injusta, se o quantum a cumprir deve ser muito ou pouco, pois a função exclusiva é decidir se o réu é culpado ou inocente.

E para auxiliar nessa convicção temos o advogado e o promotor para exercer ao máximo seus papéis de defensor e acusador. E também do próprio Juiz para garantir que o conselho de sentença compreenda todas as nuanças processuais ou quaisquer dúvidas que por ventura possam surgir.

Todo esse esclarecimento é importante para dois grandes e importantes julgamentos que estão por vir: Isabela Nardoni e Glauco Vilas Boas.

Em ambos, o crime praticado foi homicídio e caberá ao conselho de sentença decidir se Ana Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni são culpados pela morte de Isabela e se Eduardo Sundfeld Nunes será culpado pela morte do cartunista Glauco e seu filho Raoni.

Como os membros do Júri são pessoas do povo, é notório que o clamor popular em muito influenciará a decisão dos jurados, por isso a estratégia da defesa foi sempre postergar ao máximo o julgamento para arrefecer os ânimos. No caso do cartunista ainda não existe sequer uma previsão de julgamento, então a população de uma maneira geral clama sempre por justiça.

E caberá ao conselho de sentença separar a emoção da razão para se apurar o justo, o correto e o perfeito, seja qual for o resultado: culpado ou inocente. Que os advogados e o Ministério Público trabalhem ao máximo nessa busca imperiosa pela Justiça.

Antonio Gonçalves é advogado criminalista.

Parabéns, Xapuri!

Vista área de Xapuri, terra de Chico Mendes e de tantos outros personagens que marcaram seus nomes na história da cidade, que comemora 105 anos de fundação nesta segunda-feira. Na parte de cima da foto, a área central, abraçada pela curva do rio Acre. Abaixo, o bairro Sibéria.

Parabéns à nossa querida Xapuri e a seu povo hospitaleiro, honesto, trabalhador e, acima de tudo, guerreiro. O xapuriense é brasileiro e não desiste nunca, como diz aquela conhecida campanha publicitária da televisão. Leia mais sobre a Princesinha do Acre na Enciclopédia Livre da Internet – Wikipédia.

domingo, 21 de março de 2010

105 anos

Foto colhida da internet. Placa indica a entrada para Xapuri com outdoor ao fundo mostrando imagem de Chico Mendes. Cidade comemora amanhã 105 anos de fundação sem ter muito o que comemorar. Conversei nessa semana, por telefone, com o prefeito Bira Vasconcelos. Centrou-se na programação de mais uma festa alusiva a data de fundação da princesinha do Acre.

Perguntado sobre a avaliação que faz do atual momento de sua administração, Bira foi político:

- Xapuri tem muitos problemas e estamos fazendo tudo o que podemos para melhorar a cidade. Não será em um ou dois anos que resolveremos todos os problemas de Xapuri. Já fizemos muita coisa e outras estão acontecendo, como obras sendo executadas em pleno inverno, houve todo um trabalho de reorganização da estrutura administrativa do município que não se vê a olho nu, e agora é a hora de embelezarmos nossa cidade com as obras de infraestrutura que estamos executando; mas, apesar disso, não sou hipócrita ou demagogo de dizer que está tudo muito bem, mas posso dizer que estamos num momento bom. Voltaremos a Brasília para buscarmos os convênios com o governo federal, pois com os recursos de FPM não temos comno fazer as transformações que Xapuri precisa.

Sobre as críticas da população:

- Hoje nós vivemos um momento em que, com responsabilidade, as pessoas podem dizer o que querem e o que pensam. Eu fico feliz de ver que as pessoas sabem o que desejam para a sua cidade e que cobram isso da prefeitura. Essas críticas são sempre bem-vindas e ajudam a administração. Agora aquelas pessoas que fazem críticas irresponsáveis e acusações sem comprovação também têm que se responsabilizar por elas. Eu reconheço as deficiências de Xapuri, mas estamos trabalhando todos os dias com o apoio das pessoas que querem o bem da cidade para quer a gente possa reconstruir nossa sociedade, e não se reconstrói uma sociedade em um, dois ou três anos. Xapuri tem 105 anos de existência e muitos problemas, mas estamos melhorando a cada dia.

Clique aqui para visualizar a programação do aniversário de 105 anos da fundação de Xapuri.

sábado, 20 de março de 2010

Nem uma coisa, nem outra

Informo aos comentaristas deste espaço que costumam se esconder sob pseudônimos para assim poder atirar impunemente ofensas e calúnias contra o blogueiro, que não adianta mais enviar comentários ao blog. Assim que visualizá-los na minha caixa de email, mando-os todos à lixeira de onde nunca deveriam ter saído. E que não pensem que me darei ao desserviço de lê-los antes de usar a tecla “delete”.

Quando este blog foi criado, há quase 4 anos, o seu propósito, que continua sendo o mesmo, era proporcionar ao crescente público da recém chegada internet “banda larga” a Xapuri um espaço onde os problemas da cidade pudessem ser debatidos e no qual todos pudessem expor suas ideias e pensamentos através de comentários e publicação de textos sobre o universo xapuriense.

Depois de todo esse tempo, infelizmente percebo que, apesar de ser muito visitado e ter se tornado referência para informações sobre Xapuri, sua história e sua gente, servindo como fonte aos principais jornais e sites noticiosos do Acre, o Xapuri Agora não conseguiu atingir com plenitude o seu principal objetivo: servir como canal de discussão inteligente, saudável e democrática.

O que se vê na grande maioria dos comentários são ofensas morais, acusações levianas, falta de respeito com os leitores, e o que é pior: mesmo tendo banido os comentaristas anônimos, as pessoas que se prestam ao fim de achincalhar a vida dos outros encontraram uma solução para continuar tendo acesso aos comentários escondidos sob perfis criados no Google com nomes fictícios.

É comum que essas pessoas de caráter bastante duvidoso, algumas bem conhecidas no âmbito da vida local, se utilizem desse artifício para poder dizer o que querem sem ter que mostrar a cara como fazem os que, como eu, assinam embaixo daquilo que escrevem. Tentam, então, encontrar algum incauto que ofereça, mesmo que inadvertidamente, espaço a eles, assumindo o ônus referente às maledicências e ofensas atiradas via net.

Dias atrás, o blogueiro Joscires Ângelo, professor e pessoa com relativa vivência no mundo da política paroquiana de Xapuri, foi induzido ao erro por um desses comentaristas de falso nome. Ângelo postou em seu blog um comentário que afirma ter sido descoberto na prefeitura um rombo de R$ 400 mil. A “notícia” se espalhou rapidamente pela cidade e durante quase toda a semana não se falou em outra coisa.

Instado pelo departamento jurídico do município a apresentar no prazo de 15 dias a identidade do responsável pela denúncia anônima ou as provas de que ocorre o referido rombo, o professor-blogueiro pode ter se colocado em maus lençóis caso não consiga fazer nem uma coisa nem outra. Em comentário em seu blog sobre o assunto, tentou disfarçar a preocupação com a “canoa furada” na qual se meteu.

O mesmo sacripanta que engabelou Joscires também enviou a mim as mesmas “informações”. Irritado por não ter encontrado em mim a ingenuidade que achou em Joscires, passou a enviar-me mensagens raivosas nas quais me chama de “frouxo” por não ter dado bola às suas “denúncias”. Acredito que antes de ser frouxo, não sou trouxa para cair numa esparrela dessas, como fez o homem da “versão inteligente”.

Perguntado sobre o assunto, o prefeito Bira Vasconcelos afirmou que vai aguardar que o blogueiro apresente as informações solicitadas e que em seguida o departamento jurídico vai acionar judicialmente a um – Joscires – ou a outro – o comentarista que assina sob os singelos pseudônimos de “Persona non grata” e “Esperança”. Ao mesmo tempo, informou que todas as possibilidades de que alguma irregularidade esteja ocorrendo em sua administração passarão a ser cuidadosamente averiguadas.

De minha parte, quanto a esta ou aquela acusação contra a prefeitura, recomendo ao comentarista anônimo leve as provas das irregularidades que afirma ter ao conhecimento do Ministério Público ou à Câmara de Vereadores - acredito que o agente não precise se identificar para fazer isso. Só assim o assunto sairá da mera condição de conversa de rua, esquina e botequim para ganhar a verdadeira dimensão de denúncia, caso realmente existam os indícios que a possam fundamentar.

Eu, que não uso pseudônimos nem tenho medo de botar a cara a tapa, ficarei espiando de longe o desenrolar dessa confusão. E volto a garantir: de frouxo e de trouxa não tenho nem uma coisa, nem outra.

Bom fim de semana para todos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

América, campeão de 1982

Éden Barros Mota

Era o ano de 1982, na época Xapuri era administrada por Jorge Akel Hadad, popularmente conhecido por "Jorgito".

Após várias rodadas pelo campeonato xapuriense, o América de Vanderley Viana (Vereador/MDB) se encontrava na final contra o Brasília de Jorgito (PDS). Além do fator futebol, rolava também uma certa disputa política a qual apimentava ainda mais a decisão.

A final do campeonato mobilizou toda a cidade. Por ser o time das minorias, na época, o América tinha a preferência dos torcedores.
O América tinha um time mais competitivo, onde o grupo era sua força. Já o Brasília, na época, tinha as estrelas do futebol xapuriese.

No dia da decisão o América formou com: Evandro, Iran, Celestino, Paulo Mota e Zil; Rosemberg, Pipiuna e Ney; Vanderley, Epitácio e Ademir.

O Brasília entrou em campo com: Mauro, Fio Maravilha, Zeca, Jorge e Aldenor; Zeca da Emater, Olavo e Pirrucha; Paulo Boca, Vaisquerer e Mirim.

Ao término do jogo o América venceu a força do Brasília por 3 x 2, com um gol no final de Ney. Politicamente, o América (MDB) tinha vencido o Brasília (PDS). Foi um dos últimos grandes jogos do futebol xapuriense.

Abro um parenteses aqui para registrar que após Ivonaldo Portela, o Prefeito Jorgito foi um dos que mais deu incentivo ao esporte xapuriense.

Calvário

Relembre.

Ainda sobre a fábrica de pisos

DSC04264

O delegado Thiago Fernandes Duarte (foto), acompanhado do auditor César Ananinni, da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, esteve na tarde de ontem na fábrica Pisos Xapuri em razão da repercussão causada pelas declarações de pelos menos três pessoas ligadas direta ou diretamente à fábrica de que o uso de produtos químicos poderia estar colocando em risco a segurança dos funcionários.

Thiago Fernandes afirma que não detectou na fábrica qualquer problema que pudesse representar razão para a abertura de um inquérito policial. Segundo ele, os procedimentos adotados na linha de produção estão todos aparentemente dentro das normas de segurança exigidas e os produtos idem. Tentei falar hoje pela manhã com o auditor César Anananni, mas não consegui contato telefônico.

Por telefone, um irmão de Sebastião Nonato da Silva confirma o dignóstico de acidente vascular cerebral, que em tese não teria relação com uma suposta intoxicação por produto químico, como suspeita a família do paciente. Outra confirmação feita é da informação prestada pelo gerente administrativo da fábrica, de que o funcionário teria sido demitido antes que apresentasse os sintomas que o levaram à hospitalização. A baixa na carteira de Sebastião Nonato está anotada na data de 22 de janeiro e a entrada do mesmo no hospital Epaminondas Jácome se deu em 20 de fevereiro.

Dentro do emaranhado de suspeitas, afirmações e negativas, o que fica claro para mim é que faltou disposição da administração da fábrica para tratar do assunto com um maiores cuidados. Não poderiam ficar de braços cruzados enquanto funcionários, antes de procurar a imprensa, propagavam por toda a cidade que estavam apresentando reações adversas possivelmente relacionadas aos produtos usados na produção.