terça-feira, 30 de março de 2010

Armando Nogueira

José Augusto Fontes

Cadê você, Armando? Hoje, amanhã e depois, o esporte vai carecer do teu olhar comprido, o futebol vai querer o teu passe preciso, toda mídia vai lembrar do teu jeito querido, e a gente vai sentir a tua falta, vai procurar pela tua inspiração de menino peralta contido, vai querer sentir a tua experiência de homem apaixonado, encantado, articulado e vivido.

Sim, a razão foi sempre tua, e o Rio Acre é teu, como também é tua a princesinha Xapuri em que você nasceu. Agora mesmo, sinto que o nosso rio já teceu umas rendinhas de emoção e começa a seguir ao teu encontro, passeando pela imensidão dessa Amazônia, vagueando do Aquiri para o Rio de Janeiro, com ondinhas de imaginação, para beijar o teu segundo berço, para roçar o leito da tua despedida, levando a mesma mensagem do velho rio que te banhou a infância, que é mistério e consolação, a mensagem de passar sem sair do lugar, como as águas do teu Acre, que fingem partir, sem deixar de estar.

Cadê você, Armando? Hoje, amanhã e depois, lances geniais vão carecer do teu comentário, o povo vai querer o teu imaginário, a platéia vai lembrar da tua tática incomparável, a gente vai sentir falta da tua revelação memorável. Na tua ausência física, teremos que matar a saudade no peito e driblar a emoção. E essa emoção é única.

Sim, você foi aviador, músico e mágico. Sempre houve um drible qualquer em teu olhar, no teu pensar. Havia uma espécie de firula no teu escrever poético, um passe longo e certeiro no teu dizer arteiro, e isso vai ficar. Havia um gesto quase tímido, havia uma procura e um amor, havia um homem dedicado, resolvido, decidido. E por tudo isso, para bem adiante do momento, há um sentimento coletivo que vai ficar. Como vai ficar a velha vontade de contigo conversar, por isso escrevo esta mensagem da floresta, por isso sei que o céu está em festa.

Cadê você, Armando? Já está chegando outra Copa! Há craques para você ver, segredos para dizer, anseios para sofrer. Há uma multidão te esperando, uma nação já quase te escutando, os minutos estão passando. Quem vai ganhar, Armando? Ah, você já sabe. Mas você não diz, pra não perder a graça. Tudo bem. Isso mesmo, disfarça, assiste lá do alto, comenta do além. Isso mesmo, é tudo ilusão, está tudo passando. Ou permanecendo. Até parece que a gente está vendo você abrindo os braços e correndo outra vez nos gramados, assim tabelando com sonhos e driblando o passado. Isso mesmo. As jogadas da vida são bolas de fogo que você, um craque dos tempos, chutou como ninguém. Até parece que a gente está vendo, ouvindo, sentindo. É tudo enfeite, é um jogo, e no video tape do sonho, a história gravou.

Nota: A referência ao Rio Acre ser do Armando, vem desde o texto “Este Rio É Meu - Ciúme”, escrito por mim em 2003, após visita dele ao Acre, durante as comemorações do centenário do Tratado de Petrópolis (importante marco histórico da independência do Acre), ocasião em que, emocionado, o Armando disse: “este rio é meu!”. O referido texto está publicado no meu livro "Páginas da Amazônia – Proseando na Floresta". Foi feito para o Armando e ele mesmo o fez publicar no Jornal do Brasil e em vários outros diários, como em A Gazeta do Espírito Santo. Ele foi muito gentil e cordial, apesar de nossas conversas terem sido apenas por e-mail.

José Augusto Fontes é poeta, cronista e juiz de direito no Acre, com passagem por Xapuri. O texto foi publicado originalmente no blog do jornalista Altino Machado.

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