segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Mamão-de-veado

A frutinha simpática da foto é o jaracatiá (Jacaratia spinosa), segundo mostra o blog Xapuri News, do blogueiro Joscíres Angelo (veja). Entre outros nomes interessantes, a espécie da rica flora brasileira também atende pela sugestiva denominação de mamão-de-veado. Tornando-se mais conhecido, o jaracatiá poderá fazer concorrência à caxinguba, outra fruta apreciadíssima pelos cervídeos, especialmente em Xapuri, cidade que as más línguas apontam como a Pelotas do Acre.

Fla é campeão da Guanabara

Sim, este blog é tricolor até a alma, mas não pode negar a justa glória ao Flamengo, campeão do primeiro turno do Campeonato Carioca, a Taça Guanabara. Mesmo longe de ser brilhante, a urubuzada fez o suficiente para não repetir o vexame do Fluminense, que a despeito do bom time do Boa Vista, não poderia se dar ao luxo de cair para um pequeno.

Não pude, também, desconsiderar o comentário do blogueiro flamenguista Eden Barros Mota. Segue:

“Parabéns. Aos críticos, a resposta de R10 veio em grande estilo. Como apenas os grandes craques sabem fazer. Dezenove títulos na Taça Guanabara. O mengão nesta tarde mostrou que perder para time sem expressão não é sua sua especialidade. O bonde do mengão está nas ruas. Cuidado que ele pode te atropelar”.

Acho que meu amigo Eden deve sofrer de grave problema de memória. Deixem-me então refrescar a cuca do bom xapuriense. Lembram-se do recente ano de 2009, quando o time da Gávea foi abatido pelo modesto Resende pelo placar de 3x1, na semifinal da mesma Taça Guanabara? (clique aqui para relembrar). E no mais distante – mas nem tanto assim – ano de 2004, quando o Santo André aplicou aquele “maracanaço” inesquecível, na final da Copa do Brasil, em um implacável 2x0 com 70 mil flamenguistas presentes, alguém lembra? (Clique aqui para rememorar).

Vamos comemorar, é justo. Afinal, o Flamengo foi, sem discussão, o melhor time do primeiro turno. Depois da ressaca, porém, sugiro ao amigo Eden tratar da amnésia futebolística da qual foi acometido talvez em razão da euforia. E que venha a Taça Rio, para vermos até onde o bonde urubuzento pode chegar.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Berço de sonhos

O lugar acima, que por longos anos permaneceu abandonado pela prefeitura, vai finalmente ter um destino condizente com a importância que teve, no passado, para grande parte dos jovens de Xapuri. O matagal que se tornou paisagem naquela região da cidade esconde um campinho de futebol que durante os anos de 1980 reunia, diariamente, dezenas de garotos apaixonados por futebol, que ali usufruíam de uma das pouquíssimas áreas disponíveis para o lazer e a prática de esportes.

Alguns dos muitos moleques que jogaram bola naquele campinho se revelaram bons jogadores no futebol local, outros – como este blogueiro – se destacaram como grandes e teimosos pernas-de-pau. Chamava-se Centro Social este pequeno espaço, que recebia alunos de pré-escola no velho prédio de madeira que chegou a servir de sede à Banda de Música Dona Júlia Gonçalves Passarinho, alguns anos depois. Bons tempos aqueles, de um passado que está sempre presente na minha vida.

No campo, ao lado da escolinha, as intermináveis peladas só acabavam com os gritos de mães com caras de poucos amigos e chinelos na mão a chamar para o banho um punhado de pivetes com os pescoços cheios de "ceroto" e a cabeça repleta de sonhos de se tornar um Zico ou um Roberto Dinamite, os grandes craques da época. Era um tempo em que, diferentemente dos dias atuais, os jovens de Xapuri se ocupavam mais em jogar bola e soltar pipas que ingerir álcool e cheirar porcarias.

Em 2007, sugeri aqui no blog (leia aqui) à prefeitura e aos vereadores que refletissem sobre a importância de se construir naquele local uma estrutura que pudesse receber crianças e adolescentes para atividades esportivas, educacionais e de socialização. O espaço era privilegiado e havia sido o berço de sonhos de muitos jovens. Claro que minha sugestão jamais foi levada em consideração, mas isso não importa. O que vale mesmo é que agora, 4 anos depois, a Unopar – Universidade Norte do Paraná instalará ali o seu campus de ensino à distância em Xapuri.

A prefeitura cedeu o espaço à instituição educacional em regime de comodato pelo prazo de 25 anos, e já a partir do segundo semestre de 2011 a Unopar abrirá 15 cursos superiores, 11 cursos técnicos e 29 cursos de pós-graduação. A solenidade que oficializou a parceria entre a faculdade paranaense e a prefeitura de Xapuri foi realizada na última quarta-feira, dia 23 de fevereiro, no auditório da escola Divina Providência.

O polo da Unopar Virtual em Brasileia já possui um grande número de estudantes xapurienses que, a partir da instalação do campus de Xapuri, não precisarão mais se deslocar até o município vizinho, economizando tempo e dinheiro. Motivo de alegria para mim, que na infância fiz do local onde funcionará a Unopar a extensão do quintal da minha casa, e que agora continuarei a ver os jovens sonhando. Se não em se tornarem craques de futebol, pelo menos em portarem um diploma de graduação.

Radiola Rouxinol



José Carlos dos Reis Meirelles

Era o toca disco mais cobiçado nos seringais. Branco e cinza com auto-falante separado por fio, embutido na tampa. Alimentado por oito pilhas “radiovaque”, comia uma ou duas caixas delas por noite, dependendo se a festa fosse até o raiar do dia. Quando o dono da “Roxinó” chegava com pilha boa da festa é que tinha havido briga, de faca ou tiro, dependendo da ocasião e precisão.

Mas a do Chico Celestino, naquela madrugada, tinha ficado na colocação da Lua. O toca disco com um rasgo no prato de se ver os fios do mecanismo, o braço e agulha quebrados e o alto-falante com três furadas de peixeira doze polegadas, largado às pressas em cima da tábua do pote da água de beber que sempre é tirado do canto pra dar lugar à radiola, que mesa em sala de festa num tem. Só tem banco ao redor da sala, no fim da paxiúba batida, nos três cantos da sala que dão pro terreiro. Dois ou três rolos de paco-paco com dois ripões de paxiubão em cima. Quem não dança e senta, fica com o queixo escorado no joelho.

Chico Celestino era das matas do alto rio Iaco. Filho de pai cearense e mãe índia, porte médio, bigode de paca e cabelo preto-azulado de índio. Criado desde cedo no cabo da faca de seringa, se formou seringueiro nas colocações de fim de linha, boas de leite e fartas de caça. Bom caçador, marupiara, arrumou logo mulher e um bocado de meninos.

Naquele final de ano, depois da pesagem da borracha, o Chico foi o tuxaua do seringal. 1580 quilos de borracha! Primeiro lugar. E ganhou do Canízio Brasil, patrão do seringal Petrópolis, como de costume, uma “Roxinó”, estalando de nova, na caixa, como prêmio.

Fez logo um débito danado em pilha e disco de forró! Maior que o valor do prêmio que acabara de ganhar, mas ele não sabia disso. Se soubesse perderia a graça e não haveria festas no centro, movidas a som do melhor, de disco “sem furo, que num fica gaguejando musga”.

A vida do Chico mudou! Nos fins de semana que eram dedicados a rastejar um veado, anta ou bando de porcos, pro rancho da semana que vem, lá ia o Chico, varadouro a fora, estopa novinha e lavada às costas com a Roxinó dentro e os discos. Tudo num saco encauchado, pra não molhar de suor ou chuva. Na mão direita a calibre 16, ponto branco, americana. Cano comprido, juntadeira de chumbo que só. Afamada no seringal por não usar palanqueta, nem pra anta e de não dar dois tiros em caça nenhuma. Tiradeira de macaco preto em olho de pau crescido em lombo de terra. No cinturão de couro de veado, apertando a velha bermuda, que as “carça e a bruza ia dobrada drento da estopa, que ninguém é besta de suá ropa de festa”, curtido com casca de mogno, a boroca de seringa, impermeável com 10 cartuchos de metal dentro, carregados no capricho, “meieiro de porva alefante, socado com bucha de murmurú e tapado com cera de urucu”.

Todo sábado era uma festa. Com uma, duas, seis ou oito horas de viagem. Mas o Chico sempre ia. Não havia como recusar um convite de mensageiro da família que ia dar a festa, chegado na quinta, de dormida, pra de noite, depois da janta, se desincumbir da embaixada de responsabilidade que era portador.

Num fevereiro, sábado de carnaval tinha um festão na colocação do Buraco. Matança de capado, almoço, janta e festança a noite toda. O Chico foi. Três horas de viagem, caminho bom, apesar da lama criada pelo pisotear das tropas de burro, levando mercadoria e trazendo borracha. Logo na saída do caminho no varadouro:

- Txicuammm! A cantiga daquele passarinho do peito amarelo, que não é bem-te-vi, é agourento! O lado índio do Chico voltaria pra casa, se pudesse, pois índio não é nem besta de não dar ouvidos a agouro de pajé. Mas o lado seringueiro foi teimoso e arrastou a banda índia no rumo da festa. Isso sem falar que a 16 malhou um cartucho num porco choco de manso na beira do caminho e o dedão do pé esquerdo recebeu um espinho de taboca que varou o sapato de seringa e entrou, o tanto que um espinho entra, debaixo da unha, na subida de uma terra, justo quando enterrava o dedão nela pra não escorregar.

Chegou no buraco pelas cinco da tarde, manquitolando um pouco, porque espinho de taboca é reimoso que só. O campo do Buraco tinha uns 150 metros até o aceiro da mata. Era lugar de descanso de tropa e tinha dois ou três hectares de capim nativo. Entre a boca do caminho e a casa, uma moita de banana roxa, feito quinta feira no meio da semana, nascida sem consentimento a uns 20 metros da casa, tapava a visão de quem ia ou vinha. Antes de se desviar, o Chico deixou escondida a 20 e a boroca de cartucho.

A função do capado já tava no apuro do torresmo. Os boas de praxe, um copo de água do pote e uma talagada de cachaça, com tira gosto de torresmo quentinho é tudo que o viajante pode querer.

Um banho no igarapé de água fria, mudada a roupa, o Chico ta pronto pra janta, servida por turnos, pois já tem muita gente chegada, de todo centro e margem do seringal. Até Severino e Antonio, da família dos Praxedes da colocação Três de Paus. Gente valente, acabadeira de festa a custa de ponta de faca. E já corria o boato que eles tinham vindo pra acabar com a festa! Mas como na mata ninguém corre antes de ver o bicho, fica o dito pelo não dito, grita o bode, berra o cabrito.

Salão limpo a custa de vassoura de cipó titica, que é só quem tira caroço de farinha de fresta de paxiúba batida, radiola assentada na tábua do pote coberta por um pano alvinho de saco de açúcar, de barra costurada à mão, Chico, todo pigôito, a postos começa a festa. Seringal de muita dama, que a macharada era abatida por mordida de cobra, queda de pé de burro de 15 dentes, de seringueira maltratada e outras armadilhas, que Deus permite e o diabo arma na mata. Quem escapa, de uma hora pra outra morre na peixeira ou no chumbo, nestas festas de fim de semana. Ainda mais nessa, de feriado grande.

Os irmãos Praxedes, cada qual com uma dama dançam, já meio tocados da cachaça ao som de Luis Gonzaga:

- Luuuiz, respeita Januáaariu, respeite os oito baixu du teu paaai.

Acabou a parte e Severino falou alto, pra todo mundo escutar:

- Chico Celestino, coloca de novo essa parte.

Chico, com cuidado coloca a agulha do braço da radiola naquela linhazinha preta que separa a penúltima da última faixa do LP 33 rotações do Gonzagão. A música enche a sala e o pessoal dança. E de novo ao final da parte, Severino, falando cada vez mais alto, pede bis. É atendido. E de novo, ao final pede bis, aos gritos!

-Severino, já ta bom, vou mudar de disco!

Pra que! Severino empurra a dama que se estabaca no piso de paxiúba, ao lado de seu irmão Antonio, que nestas alturas não dança mais, a mão das costas da dama segura uma peixeira doze polegadas, e sem vê nem praquê, fura o disco e o prato da Roxinó do Chico. O irmão lasca o auto-falante do mesmo modo.

- A radiola já foi, agora é tu Chico!

A cachaça dos irmãos deu uma ajuda ao Chico, que ligeiro como só gato salta no terreiro, por cima dos bancos da beira da sala e vai direto à moita de banana roxa. Num instante a 20, com cartucho na broca, está na posição de tiro.

Os irmãos Praxedes, confiados, acharam de descer pela escada de três degraus, escorada no assoalho. Cada qual com uma peixeira maior, desfolhada, na mão. Quando Severino botou o pé direito no terreiro, Antonio tava no segundo degrau.

Chico fez ponto da cabeça de Severino, meio de banda e arrochou o dedo. Tiro seco, de cartucho bem carregado. Metade dos 25 caroços de chumbo 3T arrancaram uma banda da cara de Severino, que caiu morto. A outra metade dos caroços entraram no peito de Antonio e saíram nas costas, que caiu morto em cima do irmão. A valença é que nenhum caroço varado encontrou ninguém. A sala já estava vazia e a parede de paxiúba que dividia a sala da cozinha segurou os caroços, cansados de varar gente.

Chico foi ter mão em casa e noutro dia no barracão do seringal, aonde estas notícias chegam mais rápido que um raio. Foi levado até Sena Madureira, mas bom seringueiro, de morte justificada, não fica preso. Voltou ao seringal Petrópolis.

Na última vez que o vi, há muitos anos, ouvi dele esta história, que já sabia, por boca de outros, na noite que dormi em sua colocação, varando do Seringal Petrópolis para a Vila Assis Brasil, que neste tempo era vila. Perguntei a ele, antes de dormir, se ele ainda ia a festas.

- Nunca mais fui a nenhuma! Até o rádio vendi. De instrumento cantadô só possuo a muié. Assim mermo só na lavagem de ropa no garapé. Cantano baxo e sem repiti parte.

José Carlos dos Reis Meirelles é sertanista e coordenador da Frente de Proteção Etno-Ambiental do Rio Envira, na fronteira Brasil-Peru. O texto foi publicado no blog do Altino, no dia 2 de fevereiro de 2008.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

“Mais resistentes”

Camisinhas de Xapuri reforçam o combate à Aids no carnaval

O Ministério da Saúde vai distribuir no carnaval 84 milhões de camisinhas - 26 milhões a mais que em 2010. Segundo o ministro Alexandre Padilha, boa parte dos preservativos foi fabricada em Xapuri, no Acre. Ele disse que o material que será distribuído é cinco vezes mais resistente que as demais camisinhas.

A campanha nacional contra a Aids no carnaval foi lançada nesta sexta-feira pelo ministério, no Rio, e tem como foco garotas de 15 a 24 anos, faixa etária em que a incidência da doença tem crescido nos últimos anos.

Três vídeos serão transmitidos pela internet e pela televisão antes, durante e depois do período da folia. Dois deles, divulgados desta sexta-feira a 8 de março, são protagonizados por um grupo de meninas que chamam a atenção para o uso da camisinha na relação sexual.

A segunda fase, já depois do carnaval, terá um vídeo veiculado de 9 a 20 de março que incentiva quem fez sexo desprotegido com parceiro fixo ou casual a fazer o teste de Aids.

As estimativas apontam que cerca de 630 mil pessoas no país vivem com o vírus HIV, sendo que 255 mil não sabem que têm a doença.

Conforme dados de 2010, divulgados pelo ministério, os casos de Aids entre mulheres de 13 a 19 anos superam o de homens. Para cada oito meninos infectados, existem dez meninas. Nas outras faixas etárias, o número de casos entre o sexo masculino é maior do que entre o sexo feminino.

Uma pesquisa de 2008 revelou que as garotas de 15 a 24 anos usam menos camisinha nas relações casuais ou fixas. De acordo com a pesquisa, na última relação sexual com parceiro casual, 76,8% dos rapazes responderam ter usado o preservativo, ante 49,7% das meninas. Em relacionamentos fixos, apenas 25,1% das garotas afirmaram usar a camisinha regularmente, enquanto o percentual é de 36,4% entre os meninos da mesma faixa etária.

Com informações da Agência Brasil.

Mulher bonita não é para qualquer um

Autoestima em alta.

Vestibular do IFAC

Neste domingo, dia 27, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre – IFAC realiza seu exame seletivo para cursos superiores para o semestre 2011/1

ifac

Da Assessoria

As provas serão realizadas das 8:50 (fechamento dos portões) às 13 horas em escolas públicas nos municípios de Rio Branco, Xapuri e Cruzeiro do Sul. Foram inscritos 7.926 candidatos a 90 vagas para seis turmas de tecnólogos em Agroecologia, Logística, Gestão Ambiental e licenciaturas em Ciências Naturais com as habilitações respectivas de Biologia, Química e Matemática.

A presidente da Comissão do Processo Seletivo do IFAC, Jailene Soares, comunica que há possibilidade de ampliação da oferta para cursos superiores pela prova do IFAC se as vagas destinadas ao ingresso pelo Sistema Unificado de Seleção – Sisu não forem preenchidas. “Já realizamos três chamadas e esta semana disponibilizamos matrículas para a lista de espera”, disse.

O exame do IFAC segue a linha do Enem, com 30 questões e uma redação que visam avaliar o ensino do nível médio. Para os que vão fazer o exame do IFAC neste domingo às orientações para os candidatos são:

·         Ler o edital 04, onde há informações sobre os conteúdos que serão avaliados;
·         Ler com antecedência o edital complementar 03/04/2011 com as orientações sobre horários e locais das provas bem como conferir o colégio e sala que fará o exame;
·         Dormir bem na noite anterior para estar com disposição para o exame;
·         Se alimentar bem antes de chegar ao local de prova;
·         Lembrar de levar documento com foto e caneta esferográfica preta;
·         Sair cedo de casa, garantindo a entrada no colégio, se possível com uma hora de antecedência (8 horas da manhã)
·         Ir ao banheiro e beber água antes do início das provas (só poderá sair da sala após uma hora após o início do exame;
·         Evitar levar equipamentos eletrônicos (celulares, calculadoras e outros) que não poderão ser utilizados nos locais das provas (nem corredores e banheiros);
·         O aluno não poderá levar o caderno de provas antes de uma hora antes do final do exame;

Os gabaritos serão divulgados no dia 01 de março de 2011.

Realidade nua e crua

José Cláudio Mota Porfiro

O Sororóca é um desses cabras cheios de bons préstimos. Bom para com todos e muito menos para consigo próprio. É solteiro há uns vinte ou mais anos. A mulher, uma negra fornida que só gosta mesmo é de luxo e vida mansa, ele perdeu num jogo de cartas marcadas por ela mesmo, para um tal Coroné João Gabiru, dono do Polopongó, um seringal do Médio Amazonas. Num acerto de contas de fim de fabrico, ele ficara devendo, segundo o próprio, mais ou menos, um conto e um canudo fora o dinheiro miúdo para o seringalista que já frequentava desde algum tempo as alcovas e as poucas vergonhas de Odete, a ex-esposa. A quantia relativa à dívida ele nem tinha certeza porque, como na superior maioria dos casos, não sabia ler um ó sentado na areia. E os elementos débito e crédito, como sempre, haviam sido anotados à lápis em um borrador que logo desapareceu.

Então, combinado ficou que a mulher luxenta ficaria com o Coroné Gabiru e ele poderia ir-se embora para onde quisesse com as contas zeradas. Homem de mais de metro e oitenta, maranhense, desconfiado que só ele mesmo, voltou pra barraca já sem a nêga com a finalidade de buscar uns poucos pertences a que tinha direito, menos a espingarda e a poronga que já não eram dele. Apanhou então um velho Smith & Wesson, o revólver escondido debaixo da barraca com o qual havia chegado à colocação e, de madrugada, arribou aí pelas três. Querendo ser mais esperto que a cabroeira do patrão, pegou o varador e fez um atalho por dentro da mata de forma a não mais passar pelo barracão do Coroné, como se o homem fosse um santo e quisesse apenas a mulher vistosa e cheia de quentura.

- Dexastá... Na manhecença do dia, na travessia do igarapé Tijuco, ouvi foi só o pipoco e caí na água. E vieram mais dois tiros e mais outros três. O inverno ainda mal tinha chegado e o rebojo da água era grande... E foi o que me salvou... Mergulhava aqui e saía lá acolá, no rumo de baixo, isto, até mais ou menos umas dez horas da manhã, segundo tirei pela posição do sol.

O Coroné João Gabiru mandara tocaiar o Sororóca e, desde a tarde do dia anterior, atrás da sapupema de um samaúma, lá já estava o Tonico Gago armado até os dentes com duas repetições e mais um revólver calibre 38. Muito tempo depois, ele soube que o bandoleiro ficou sem ganhar os quatrocentos réis prometidos porque a sua orelha e os seus pissuídos  -  do alvejado  -  permaneciam nos seus devidos lugares.

Em três dias, chegou à sede do Seringal Ôco do Mundo dizendo que, durante uma caçada, havia sido atacado por uns índios de cara preta e se perdera na mata tentando escapar. Deram-lhe comida e pouso. Para a sorte da vítima, o seringalista era homem bom e, acima de tudo, lá no Polopongó, ele havia sido dado como morto, e ninguém se importou em fazer buscas pelo corpo de um dizinfiliz como o Sororóca. Em retribuição aos favores recebidos, passou quinze dias rachando lenha e, depois, foi recrutado para levar de balsa, através do rio abaixo, com outros companheiros, uma partida de duas mil pélas de borracha em direção à cidade de Oriximiná. Aí chegando, ouviu falar do Acre, uma terra onde se cata dinheiro com um cambito. E se foi.

Ao Sororóca, já na Boca do Lago, deram uma colocação da linha do meio  -  central  -  a apenas uma hora de viagem, com três estradas para cortar. É o bastante para quem vive sozinho e não deixa de ir olhar a sua conta, semanalmente, agora sob a minha responsabilidade. Há saldo, sim.

Segundo diz o próprio, todo janeiro, aí pelo dia quinze, ele ruma para Xapuri e lá tira o atraso e a reima de macho, enfiado nos aposentos de uma Etelvina não-sei-das-quantas, de onde, aí pelo dia trinta, ele volta tendo lá deixado alguns víveres, quatro ou cinco cortes de chita, uns sapatinhos brilhosos e água de cheiro. Desejo comprados na A Limitada, a grande loja dos portugueses recém conhecidos meus.

- Ano passado, ela ficou dois meses por aqui. Tem quarenta e oito anos, mas já tá toda encolhidinha, murchinha de tanto uso. Não sabe sequer cozinhar. Só gosta mesmo é de limpeza, de ficar cheirosa o dia inteiro, de pintar os beiços e de xamegar... Ela me chama de meu nêgo!...

Dona Nenzinha, a patroa do Boca do Lago, é mulher bem simples, educada e sem pedantismo. A história do Sororóca já é do seu conhecimento desde alguns anos. Segundo ela me conta, este é mais um exemplo dentre milhares em que as mulheres são tomadas dos seringueiros pouco produtivos pelos patrões.

- Aqui perto mesmo, no Seringal Iracema, havia um cabra ainda com uns vinte e dois anos  -  Laelço, parece que era o nome dele  -  e já com dois filhos pequeninos, de um e de dois anos, e uma mulher muito formosa de nome Raimundinha. Ele, metido a bonito, havia roubado essa dona e chegado ali para trabalhar duro. No fim do ano, isso, há uns cinco anos, na hora do ajuste de contas, o homem chegou ao barracão e o guarda-livro observou que ele tinha produzido apenas quatrocentos e poucos quilos de borracha em um ano inteiro de trabalho. E viu mais: estava com um débito muito maior que o crédito obtido pela produção anual. Estava devendo cento e cinqüenta réis, o que poderia ser pago depois de uns três anos de muito trabalho. Como? Ele, a companheira e os filhos teriam que continuar comendo, consumindo, fazendo mais contas... Aí, chamaram o patrão que, sem dó nem piedade, ajeitou a situação que já vinha sendo costurada há dias. É que havia um tal Zé Bento, homem de quarenta anos, solteiro, trabalhador demais, que ameaçara ir-se embora porque não agüentava mais viver sem mulher... O homem produziu naquele ano mil e cem quilos de borracha!... Uma fortuna! Na mesma hora veio a palavra final. Laelço ficaria no barracão consertando uma cerca, cuidando do roçado, rachando lenha, carregando água, caçando, pescando e batendo campo, trabalhando feito um fi-da-peste, por um ano, findo o qual ele foi mandado embora campiar macaco em outra freguesia. Era, sim, um vagabundo! A tal Raimundinha, muito formosa, e os menininhos, foram para a companhia de Zé Bento, o seringueiro arrojado e próspero que vivia numa colocação arejada, limpa, com um gadinho até.

E Dona Nenzinha continuou o relato:

- Hoje em dia, dizem, eles vivem muito bem. E foi mais ou menos o que vi no ano passado quando passaram por aqui para a procissão de São Sebastião, em Xapuri. Ela toda faceira, bem vestida, os meninos chamando o Bento de pai... É assim, homem que não presta tem que dar a vez pros outros... Há tanto homem bom por aí por esses seringais precisando de uma mulher que lhe faça companhia nas horas de ócio. Eu digo pra todo mundo que Seu Pergentino, o patrão do Iracema, tomou uma decisão muito mais que acertada, inclusive, para os negócios do seringal que precisam, sim, é de gente com sangue no olho e que não se borre de medo na hora do esturro da onça. Ora, pois!

Continue lendo, no blog do autor, o capítulo XXX do romance O Inverno dos Anjos do Sol Poente.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Marina e Bonner disputam prêmio do Twitter

A ex-senadora e candidata à presidência da República no ano passado, Marina Silva, e o jornalista e apresentador do Jornal Nacional, Willian Bonner concorrem ao prêmio de melhores microblogs de 2010. O 3º Annual Shorty Awards será no dia 28 de março e os prêmios serão anunciados pela Real-Time Academy of Short Form Arts & Sciences.

Os prêmio são divididos em 30 categorias. Nesta edição, como nas anteriores, alguns brasileiros disputam com grandes chances de vencer.

William Bonner (@realwbonner), que já ganhou o prêmio uma vez, concorre na categoria “Journalists”. Flávio Fachel (@flaviofachel), correspondente da rede Globo em Nova York também disputa na mesma categoria. Já a ex-senadora Marina Silva (@silva_marina) disputa na categoria “Politics”.

Fonte: Aqui.

Ponteiros incômodos

Miguel Ortiz

A risco de ser criticado por ainda ser considerado estrangeiro, apesar de meus 35 anos de Acre, 20 de brasileiro, seis de riobranquense e quase três de acreano, ademais de eleitor contumaz, de vez que a questão entrou na seara jurídica, onde vem sendo deturpada até por peritos na área, sinto-me obrigado a também expor meu convencimento sobre o tema.

Acredito que estão buscando chifre em cabeça de cavalo. A questão do horário acreano, nos termos da lei, está resolvida desde o dia em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou a homologação do resultado da consulta submetida a referendo pelo Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC). Tentarei ser didático.

Antes de esmiuçar o assunto, digamos primeiro que a Constituição Federal no seu Capítulo IV - onde trata dos Direitos Políticos - artigo 14, define que "A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos...”

Essa “soberania”, que é poder perpétuo e absoluto de uma população definida, é resultante da vontade geral. Vontade que, por sua vez, é manifestada em plebiscito, ou em referendo, ou iniciativa popular (art. 14, I,II,III).

O presidente Fernando Henrique Cardoso, em 18 de novembro de 1988, promulgou a Lei 9.709, regulamentando o artigo 14 da Constituição Federal, ou seja, regulamentando as maneiras através das quais o povo manifesta sua decisão soberana.

No artigo 2o dessa lei, é definido que “Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa” e, nos seus parágrafos descreve ambas formas de consulta da vontade do povo, explicando que:

§ 1o O plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido.

§ 2o O referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição.

Esse preâmbulo é necessário para deixar claro, em primeiro lugar, que a mudança de horário no Acre  foi enfiada goela abaixo ao povo deste Estado de forma ilegal, porque inconsulta. Tratando-se de uma questão que atingiria toda a população, jamais, apenas um político poderia decidir sobre essa questão administrativa.

O “jamais” é porque, até prova em contrário, o Acre enquanto integrante da federação brasileira é um estado democrático e de direito. Aqui não há soberano que não seja o povo acreano e como tal, somente ele – povo acreano – tem poder perpétuo e absoluto para decidir sobre o que ele deseja. 

Pois bem, apesar de ter havido usurpação da soberania do povo acreano, a mudança de horário foi autorizada por uma lei ordinária. Lei que passou a vigorar quase que de imediato.

A lei que impôs o novo horário no Acre era um ato legislativo. Porquanto o objeto desse ato legislativo foi questionado pela população depois de consolidado, o TRE-AC corretamente interpretando o disposto no parágrafo 2º do artigo 2º da Lei 9.709/98 – lei complementar que regulamentou o dispositivo constitucional definidor da soberania popular e sua forma de manifestação – decidiu consultar o verdadeiro soberano e promoveu o referendo.

Recordemos que referendo é convocado com posteridade a ato legislativo enquanto que plebiscito é convocado com anterioridade ao ato legislativo.

Assim sendo, conforme manifestado na lei complementar, cabia ao povo do Acre ratificar ou rejeitar o tal ato legislativo. E os acreanos rejeitaram soberanamente a Lei ordinária nº 11.662/2008, na parte que o afetava.

Daí porque a lengalenga de se exigir outra lei é incabível. Não há suporte legal nenhum para tal pretensão a não ser o desejo de continuar ludibriando a vontade soberana do povo do Acre.

A lei 11.662/2008 foi rejeitada através de um referendo legal e democraticamente convocado e efetivado.

Isto posto, conforme regulamentado pelo artigo 10 da Lei 9.709/1998, uma vez homologado o resultado do referendo pelo Tribunal Superior Eleitoral, o ato legislativo que modificou o horário do Acre, deixou de existir.

Recordemos que esse também foi o entendimento da Assessoria Jurídica do Congresso quando afirmou que bastava a declaratória formal de tal situação e a exclusão do mundo jurídico da lei rejeitada, ou da parte dela.

Basta, pois, de enganação.

Miguel Ortiz é advogado. O título do post remete à nota da Carta Capital sobre o assunto (Clique aqui e leia). O texto foi publicado originalmente no blog do Altino Machado sob o título “Entrei na briga”.

Nota do governo sobre helicóptero

Governo afirma que nenhum fato novo se apresenta no caso. Por isso, nada pode acrescentar, a não ser lamentar a deturpação dos fatos.

"A compra do helicóptero de propriedade do Governo do Estado do Acre, há dois anos, seguiu rigorosamente os procedimentos licitatórios exigidos pela lei. A necessidade do equipamento é inquestionável, tendo sido imprescindível para operações e serviços diferenciados nas áreas de segurança, saúde e mesmo de apoio a instituições de outros poderes, ainda mais em um Estado onde expressiva parte da população vive em áreas isoladas ou de difícil acesso.

Os questionamentos levantados pela Folha de S. Paulo, na edição desta quarta-feira, 24 de fevereiro, já foram todos esclarecidos. A própria matéria afirma que “em 2009, o Ministério Público acusou o Estado de usar a aeronave para fazer propaganda ilegal do PT. O governo alegou que a estrela remetia à bandeira acriana, e a ação foi arquivada”.

Quanto a suposto laudo da Polícia Federal apontando irregularidades na compra do equipamento, o Governo do Acre sempre se dispõe a zelar pela transparência de todo e qualquer negócio realizado pelo Estado. Como nenhum fato novo se apresenta neste caso, nada pode acrescentar. A não ser lamentar a deturpação dos fatos, o que pode resvalar em injustas suspeitas sobre a honra de pessoas honestas e até sem nenhuma vinculação com o processo de compra e venda do referido helicóptero.

Atenciosamente,

Tião Viana

Governador do Acre"

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Anjo ou demônio?

Artigo do jornalista Leonildo Rosas

Alinhado com setores da imprensa nacional, o Ministério Público Federal voltou a ligar as baterias aéreas e jurídicas contra o senador Jorge Viana (PT).

Os procuradores da República encontraram espaço na mídia para reabastecer o noticiário com a história da compra do helicóptero pelo governo do Estado. Leia aqui.

A denúncia é que o petista, por ter sido presidente do conselho administrativo da Helibras, fez lobby para que a administração estadual adquirisse a aeronave.

É um direito dos procuradores querer explicação sobre a boa aplicação dos recursos públicos. Essa é uma das suas principais atribuições constitucionais.

Atribuição constitucional à parte, não dá para deixar de estranhar a sucessão de ações dos procuradores lotados no Acre contra o senador.

O que se pode concluir é que essas movimentações viraram também um questão de cunho pessoal.

Como político, Jorge Viana está longe de ser santo, mas não pode ser tachado de demônio e de alguém que usou os seus mandatos como trampolim para enriquecimento ilícito.

É um ser humano como qualquer outro. Comete erros e acertos.

O que não se pode negar é que Jorge Viana simboliza, mais do que ninguém, a mudança positiva operada no Acre nos últimos 12 anos.

Sob o seu comando, o Acre saiu da ilegalidade. Deixou de ser manchetes nas páginas policiais para ser destaque como um Estado que faz a boa política com respeito à natureza e ao erário.

Nos oito anos em que esteve no governo, Viana contribuiu para resgatar a autoestima do povo acreano. Isso jamais pode ser desconsiderado.

O escriba pode estar errado, mas há outras coisas bem mais complexas por traz de toda a história.

Parece que estão querendo jogar Jorge Viana na vala comum dos políticos, para passar à população local, nacional e mundial que ele é um político igual aos outros.

Igualando-o ficará mais fácil atingi-lo porque não terá mais o escudo sagrado da proteção popular.

Resta saber até que ponto isso vai ajudar ao Acre.

Foi por mostrar ao país políticos do quilate do Jorge Viana, Marina Silva e Tião Viana que as portas se abriram para o nosso Estado.

Se pessoas como essas forem igualadas ao que há de pior na política nacional as portas podem se fechar. É certo como dois mais dois são quatro.

O Ministério Público Federal é fundamental como guardião da legalidade, mas também erra.

Em meados da década de 1990, chegou ao Acre o procurador da República Luiz Francisco de Souza Fernandes. Foi fundamental para trazer o Estado à legalidade, quando enfrentou o crime organizado.

Luiz Francisco não teve o mesmo desempenho quando fez acusações infundadas contra o hoje vice-presidente nacional do PSDB, Eduardo Jorge Caldeira.

Foi comprovado que o procurador não estava certo e que fez o uso da imprensa para difundir as suas acusações. Foi punido por isso.

Eduardo Jorge, alias, escreveu o seguinte no livro “Era dos Escândalos”, de Mário Rosa:

“A lógica dos justiceiros, que inicialmente ganham simpatia popular, é executar a tarefa de “limpar a sociedade”, é a mesma que faz representantes da imprensa e do Ministério Público deferirem golpes mortais na honra de um suspeito – ou melhor, daqueles a quem consideram suspeitos – antes que o devido processo legal ou mínino de evidências o tenha incriminado”.

“Um mandato a muitas mãos”

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O deputado estadual Manoel Moraes (PSB) recebeu na manhã dessa quarta-feira (23), em seu gabinete na Aleac, uma comitiva de vereadores dos municípios de Brasileia e Epitaciolândia. Além dos presidentes das câmaras municipais dos respectivos municípios, Carlos Armando Alves, o Carlinhos do Pelado, e Raimundo Nonato Gondim, participaram do encontro os vereadores Roberto Nascimento e Jonas Bandeira, ambos de Brasileia.

A reunião, segundo a assessoria do deputado, faz parte da estratégia de aproximar a atuação parlamentar de Manoel Moraes do trabalho realizado pelos legislativos municipais. A intenção do deputado socialista é estreitar a relação com os parlamentos mirins de todo o estado com o objetivo de construir um mandato democrático feito a muitas mãos.

Os cinco vereadores se mostraram dispostos a trabalhar uma agenda conjunta e positiva que permeie todo o estado. “Ninguém trabalha sozinho, e nós estamos aqui para nos colocar à disposição do deputado Manoel Moraes. Ele foi um deputado eleito pelo Alto Acre e sabemos da sua intenção de fazer um bom trabalho naquela região e em todo o estado”, disse o vereador Roberto Nascimento.

O presidente da câmara de vereadores de Brasiléia, Carlos Armando Alves, concorda com a ideia de um mandato plural e em concordância com as agendas de interesse do interior do estado. “Nós, que somos vereadores do interior, sabemos como é importante o desenvolvimento rural, e também sabemos do empenho que o deputado Manoel Moraes tem para contribuir com esta área”, declarou.

Já o presidente da câmara de Epitaciolândia, vereador Raimundo Nonato Gondim (na foto, ao centro), que é filho do ex-vereador por Xapuri, João Gondim, já falecido, garantiu estar preparado para cada vez mais aproximar os legislativos dos dois municípios e apoiar o parlamentar que tiver olhos voltados para as peculiaridades da zona rural.

Manoel Moraes reafirmou aos vereadores o compromisso com os municípios do interior, se colocando à disposição dos representantes das câmaras municipais para discutir assuntos de interesse das populações cujos votos o levaram à Assembleia. “Estaremos sempre prontos a receber, a contribuir e a fazer um mandato com a identidade das pessoas que nos elegeram. Para isso, queremos estreitar os laços com os parlamentos do interior”, finalizou o deputado.

Nesse início de mandato, como presidente da Comissão de Legislação Agrária, Fomento e Agropecuária da Assembleia Legislativa, o deputado do PSB já tratou de discutir com a Superintendência do Banco do Brasil temas como renegociação de dívidas de produtores rurais, desburocratização das linhas de crédito aos clientes que moram nos municípios e a criação de agências do banco nas cidades onde o BB ainda não está presente.

Novo visual

Um café, um memorial do seringueiro, uma casa de artesanato e um sujeito desconfiado. Os novos vizinhos da Casa de Chico Mendes.

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Esse é o novo visual do entorno da Casa de Chico Mendes, tombada como patrimônio histórico nacional pelo Iphan. O espaço foi revitalizado e inaugurado no finalzinho do ano passado, no dia 15 de dezembro, data em que, se fosse vivo, o sindicalista teria completado 66 anos de idade. Um café regional, um memorial do seringueiro e uma casa de artesanato fazem parte da nova paisagem que circunda o local histórico.

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Nota-se, no entanto, que apenas a Casa do Café Regional está sendo devidamente cuidada. Funcionando há mais de um mês, se tornou opção muito agradável para um lanche ou um simples cafezinho para os turistas e pessoas da cidade que visitam a Casa onde viveu Chico Mendes, o Centro de Memórias, a Casa de Artesanato e o Memorial do Seringueiro, que como mostra a foto abaixo, está com mato quase entrando pela janela.

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Quanto ao fato de todas as casas, com exceção do café, estarem fechadas em pleno meio da tarde de uma quarta-feira ensolarada, uma educadíssima funcionária da Fundação Chico Mendes explicou delicadamente que a razão da ausência de pessoas ali era a participação de quase todos os seus colegas em um curso. Assim, os espaços estão abertos ao público, por esses dias, somente pelo período da manhã.

Antes de fazer as fotos acima, preguei um susto em um desconfiado morador das proximidades do patrimônio histórico. O cidadão cismou que eu estava fotografando a casa dele, que está em fase de acabamento, e me fez cara de poucos amigos. Talvez tenha me confundido com algum fiscal da prefeitura ou com os sujeitos que determinam o valor do IPTU. Tive que mostrar ao bom homem que entre as imagens feitas não constava nenhuma que mostrasse ao mundo sua bela vivenda, no dizer do Zé Cláudio, logo abaixo.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A vivenda dos nossos

Mais uma ótima crônica do Zé Cláudio

Contam que eu cheguei por ali, de corpo e alma, exatamente no primeiro dia desta vidinha antes tão pacata e hoje tão feliz, na graça de Deus. O anjo, minha mãe, sofreu muito para colocar no mundo ou dar-me à luz de um abril de 1957. Foram três dias de serviço extenuante do doutor José Koury, médico e parteiro. Enfim, o berro e a alegria dos dois irmãos que papai havia trazido no pacote do casamento de dois anos, já.

Não foi usado o bacamarte nem houve o pipoco da riúna para festejar com vinte tiros, porque Xapuri já era cidade há muitos anos. Houve, sim, o tradicional mijo. Antes, mamãe houvera feito licor de mutamba e jenipapo, aluá de milho, paçoca de castanha de caju e uns biscoitinhos de araruta e bolos muito gostosos elaborados a partir das artes e talentos da vizinha Nenem Veloso, quituteira de mão-cheia.

Consta que recebi a visita da metade do meu povo, inclusive, das celebridades, como o Dr. Gundim, juiz de direito, o Padre Eduardo, pároco da freguesia, o soldado Cipião, o cabo Boca de Jóia, da força policial, e mais um bocado de gente, no dizer de Maria, a avó materna. Com uma recepção dessas, era praticamente impossível não dar certo!

À época, minha mãe tinha uma amiga de todas as horas. (Era um tempo em que as moças passeavam na praça de braços dados por pura amizade.) Como não poderia deixar de ser, ela, a bela Eulália Brasileiro, foi madrinha e ainda hoje  -  dizem  -  tem muito orgulho disso desde o bairro de Maria da Graça, no Rio de Janeiro, onde reside desde os anos sessenta. 

O padrinho, como teria que ser, era o maior amigo do saudoso estivador lá de casa. (Juntos, rijos e fortes, eu e ele, um dia pegamos na alça do ataúde que levou o meu velho para a última morada). Sujeito alegre e bonachão, sempre estava a contar um causo mais atual. Feliz da vida e de bem com todos. Assim foi o Murilo Matos até o dia da partida em fins de 2010. Tinha-me grande admiração e é dele a expressão a mim dirigida:

- Que Deus te faça feliz!

Talvez por isso tenha dado tão certo. As palavras eram sempre alvissareiras e carregadas de bons fluídos. A avó Júlia dizia “Que Deus lhe dê boa sorte” e a avó Maria dizia “Que Deus te dê fortuna e felicidade”. Não é todo mundo que pode contar com augúrios tão positivos, é verdade.

Durante os dois primeiros anos de vida, balancei entre a vida e a vida porque uma doidivanas com quem meu pai tinha um xodó me colocou um quebranto de lascar... E todo mundo sabe: mal olhado de puta ou mata ou aleija o dizinfeliz... Certo é que sobrevivi, na boa.

A vivenda não era lá tão aconchegante, mas cabia todo mundo porque os corações eram enormes. Havia uma sala pequena - não miúda  -  com uma mesa média de canto, sempre lotada de livros e cadernos, e quatro cadeiras da marca jararaca fabricadas em Belém. Na parede, quadros dos ancestrais cearenses misturados aos retratos das crianças lá de casa, como um onde figuramos nós, eu e o Motinha, juntos, em um aniversário dele. Em verdade, a velha parede levantada em 1913 abrigava umas três ou mais gerações de fortes que se ergueram pelos próprios punhos e deixaram por aqui quem lhes contasse pelo menos pedaços das suas histórias de caudilhos.

E havia mais o quarto, onde nasci, e mais o outro quarto, menor, ocupado por minha avó Maria, quando esta não estava fazendo veraneio no seringal Albrácia. Os dois mais velhos dor-miam na sala, em redes. Eu dormia numa cama de campanha, no corredor, e os mais novos, repartidos entre os dois dormitórios. Havia uma sala de jantar (e de almoçar) com uma mesa imensa que cabia umas doze pessoas e onde degustávamos quase sempre iguarias feitas por minha mãe a partir de carne de caça. A cozinha contava com um fogão de ferro debaixo do qual sempre havia lenha partida, a machado, por nós mesmos. Aí também havia um jirau puxado pra fora. Debaixo deste, uma paredinha até o chão onde havia um pequeno buraco por onde o Motinha, o irmão sapeca, meteu a piroca para urinar e foi bicado por um galo que acabara de beliscar alguma coisa imprópria, talvez merda de um outro bicho qualquer. Resultado: um mês de curativos no hospital onde Irmã Rosa obrava milagres sobre milagres.

Era uma casa alta com um pé direito de uns dez metros; na realidade, um barracão comprido, de uns cinqüenta metros, construído de lado, mas paralelo à Rua 24 de Janeiro. Os imensos esteios, de cumaru de cheiro lavrado a machado, mediam cerca de dois palmos quadrados, que era mais ou menos a mesma medida das tábuas grossas de castanheira das paredes e do assoalho. O zinco veio de Belém e ficou intacto a desempenhar o seu papel até inícios dos anos 90. Obra do meu tio avô, Raimundo Calixto, a grande construção foi dividida em quatro casas que, depois, foram vendidas aos amigos cea-renses que por ali foram chegando, como Pedro do Vale Pereira, um empreendedor à moda antiga a quem Xapuri deve de tudo um pouco, inclusive, uma prole de filhos e netos honrados, trabalhadores e decentes.

Havia dois grandes camburões contíguos à cozinha lá de casa, sempre cheios até a tampa, mas não conhecíamos esse artefato belíssimo chamado torneira. A água vinha de uma distância de uns cem metros, carregada em cambão, na força bruta, pelos moleques lá de casa, a partir de um poço profundo e perigoso localizado num quintal vizinho. É claro que além de puxar na corda toda essa água, ainda havia a horta a ser aguada duas vezes ao dia. Uma barra!

De um lado da vivenda, havia uma vila lotada de pessoas bem mais pobres que nós. Ali, segundo consta, tristes damas de vida difícil fa-ziam sexo rude e popular a preço abaixo da média de mercado. Era a lei da sobrevivência para os que vinham do seringal para a cidade buscando fazer o que não sabiam, isto, em termos de afazeres mais dignos. (Ora, o seringueiro não sabe muito além de cortar seringa e os rudimentos da agricultura. O que saberia ele fazer numa cidade? Daí a miséria, a criminalidade, a prostituição, dentre outros males sociais).

Na casa do lado direito, moraram bons amigos, como a Tia Naninha, a Nenem Veloso, o Zé Figueiredo, o Euclides Brasileiro e o Sargento Severino. Ocorre, todavia, que a residência ficava por longos períodos sem morador. Aí é que começava a arruaça dos espíritos. Minha avó Maria dizia um dia ter visto um olho bem grande abuticado para dentro da nossa casa a partir de um buraco causado pelo nó da madeira velha que se desprendera. Eu, de minha parte, sempre ouvi muito barulho. Um dia, então, estávamos em conversa à tardinha na calçada da frente da vivenda. Mais ou menos às seis da tarde, juntos, começamos a ouvir o barulho de dois ou três tijolos que eram atirados e saíam rolando pelo assoalho de madeira afora como se a casa não dispusesse de paredes que formavam os compartimentos. Pior é que, além das pedras, muita panela também caía na cozinha. Um dia, o estivador, então, chegado do serviço, pegou as chaves que ficavam sob sua responsabilidade e foi pela casa adentro, e eu mais vovó e mamãe fomos atrás. Vasculhamos tudo e não encontramos pedras ou panelas, posto que ali elas não existiam na realidade. Mesmo assim, ele continuou afirmando que alma é coisa de mulher e de cabra frouxo.

- Eu só quero é que um dia uma alma me venha aperrear o sono. Eu vou é meter a bala! – Isto tudo com a finalidade de encher-nos de coragem para o enfrentamento da vida.

Sob aquele teto de zinco enegrecido pela fuligem dos anos, pelo menos durante os dezenove verões em que por lá estive, viveram, além de papai e mamãe, a avó Maria, no inverno, e mais a Maria e a Regina, irmãs postiças, o Manoel, o Marcos, eu, o Mota, o Jorge e a Socorro, além das afilhadas de papai que vinham do seringal para a cidade com o intuito de estudar, como a Péta, a Mariquinha e a Neurides, esta, hoje formada em Letras pela Ufac.

A faina diária era iniciada antes do sol nascer e ia até as nove da noite pois, a partir daí, a Rádio Difusura começava a chiar demais e era hora do sono dos justos. Às quatro da manhã, já estudávamos à luz de um Aladim (lâmpada à querosene) comprado por papai para tal fim, uma vez que a luz elétrica ia apenas das seis da tarde às dez da noite, ou menos. Ali entendi as bases da matemática entre razões, proporções, expressões aritméticas, raízes quadradas, regras de três simples e composta, seno, co-seno, tangente, co-tangente e mais o raio que o parta.

Depois, pensávamos na sobrevivência da família...

De uma lata de banha, daquelas antigas, de dois quilos, improvisávamos uma vasilha para o preparo do café matinal. Era só fazer fluírem os pendores para a marcenaria e colocar um cabo de madeira. Mais difícil, entretanto, não era ligar o botão do fogão a gás que não tínhamos e que sequer existia. Uma rotina invariável, era, certamente, às cinco da manhã, cortar o sernambi, cavacos finos de madeira seca, tocar fogo e ir colocando carvão, pedrinha por pedrinha, até chegar a vez das grandes, no fogareiro fabricado a partir do cimento e de uma lata de querosene cortada ao meio. Dez minutos apenas. E mais dez, enquanto era adi-cionado o pó e o açúcar. Depois, enfim, vinha a parte final e mais perigosa da operação: coar o café quente desde um saco de bico equilibrando-o rumo à boca estreita do bule verde de esmalte que veio do Ceará e durou uns cinquenta anos, não sem algum exagero. Melhor da história é que o meu café era tido e havido como muito bom, mesmo tendo eu jamais experimentado a tal beberagem até os dias que correm.

E pernas para que te quero... Era hora de buscar o pão... Corria à padaria do Senhor Jorge Farofa  -  marido de D. Elisa e pai de Abdon, Emílio, Jorgete e Consuelo Eluan  -  que funcionava a partir das cinco, depois que o Estivador, meu pai, abria o estabelecimento e vendia os primeiros pães diários, isto, até as sete da manhã quando, invariavelmente, ele ia à casa onde todos já haviam tomado o café da manhã e estavam entretidos com alguns afazeres maiores ou menores, inclusive as crianças que, como eu, já estavam na escola.

Datas deveras especiais eram os aniversá-rios, quando em casa mesmo mamãe fabricava os pastéis mais gostosos que eu já experimentei, além de quibes de macaxeira e de arroz, bolos, brevidades, biscoitinhos de araruta, filhós em calda, caramelos de cupuaçu, aluá de milho, licor de jenipapo para os adultos, refrescos de maracujá, abacaxi, caju... É claro que jamais esquecerei, ainda nos anos sessenta, a presença diferenciada de um homem brancão, gordão, amigão, vindo da Itália. Era o Padre João Maria Palmieri, o glutão, que, depois de encher a pança, entupia os dois miraculosos bolsos da batina que cabiam uns dois quilos de comida.

Em frente à residência simples, minha mãe plantou um jardim repleto de zínias, papoulas, tajás, roseiras, dentre outras. E, de martelo e serrote em punho, construiu um banco para a conversa noturna à beira da calçada. Atrás da residência, havia muitas árvores, todas frutíferas, e um pouco mais adiante, ela, o anjo de candura, plantou uma horta de onde retirávamos o que emprestava algum valor à nossa mesa: couves, alfaces, cheiro verde, tomates, e muito mais.
É esta apenas uma pequena parte da história da prole do hercúleo Gibiri, o estivador xapu-riense que, pelo fato de ter feito um filho cronista, não caiu no esquecimento do seu povo, como outros tantos que bem poderiam ter as vidas tão construtivas retratadas em páginas como esta. Que Deus os tenha na sua eterna glória! Amém!

José Cláudio Mota Porfiro é escritor xapuriense e irmão do Manoel Gibiri.

Do blog do Léo Rosas

Basa do Acre, o melhor desempenho da Amazônia

A Superintendência do Banco da Amazônia (Basa) no Acre foi escolhida a melhor da região no ano passado em cumprimento de metas.

O pessoal do Acre foi escolhido nas categorias de melhor Superintendência, Superintendência Ouro e Agência Ouro Rio Branco Metropolitana.

O gerente de Agência Metropolitana, José Cordeiro, e o gerente de relacionamento pessoa jurídica de Cruzeiro do Sul, Raimundo Lopes, também serão premiados.

Os números do Banco da Amazônia em 2010 são animadores.

Pela primeira vez na história foi superada a meta de aplicações no FNO, que era de R$ 204 milhões. Foram aplicados R$ 208 milhões.

A meta do Pronaf também foi superada com folga. Era de R$ 24 milhões e chegou a R$ 37 milhões.

Animado com os resultados, o superintendente Marivaldo Melo destaca que o desempenho foi possível graças as parcerias com o governo do Estado, Sebrae, as federações do Comércio e da Indústria e associações comerciais.

“Não podemos deixar de citar o empenho dos funcionários na operacionalização de crédito”, destaca Melo.

A entrega da premiação será na maravilhosa Porto de Galinha (PE), no período de 24 a 27 deste mês.

Virou novela

CCJ do Senado adia votação do referendo sobre o fuso do Acre para a próxima semana. Leia aqui.

Os Menezes

Meu colega de estudos, dos bons tempos da escola Divina Providência, Milton Menezes Júnior, criou um site sobre a família Menezes, uma das mais tradicionais de Xapuri. A página está repleta de informações e fotografias sobre a origem e a história da família, que começou em Baturité, no estado do Ceará, de onde seu Menezes, o patriarca, saiu para se tornar parte da construção da terra que adotou com sua.

Francisco Augusto Menezes, o seu Menezes, era um dos 11 filhos do casal Marcelina Trindade Menezes e José Augusto Menezes. Ainda na adolescência se  apaixonou por uma menina chamada Raquel, mas aos dezessete anos de idade ouviu falar que o Acre seria um lugar bom de viver e ganhar uns bons contos de réis. Alimentado por esta ilusão veio para cá e deixou Raquel no Ceará com a promessa de voltar para buscá-la.

Dois anos depois, para alívio de sua amada, ele voltou ao Ceará, casou com Raquel, e em seguida a trouxe para o Acre, onde tiveram um filho, que foi batizado de Clóves Menezes. Porém, o destino guardava algumas decepções para o seu Menezes. Após um ano e cinco meses morando no Acre, Raquel foi acometida de uma doença misteriosa, que a levou à morte.

Seu Menezes Passou algum tempo triste e solitário ao lado do menino Clóves, mas logo percebeu que a vida continuava, e após alguns anos casou  com dona Raimunda Freitas Menezes e foram morar no seringal Porto Carlos, em Brasiléia. Deste casamento nasceram  seis filhos: Milton, Mozart, Mussuline, Mitônio, Melchiades e Marina, dos quais apenas Mitônio é falecido.

Após alguns anos, com o objetivo de oferecer melhores condições de estudo aos filhos, a familia Menezes se mudou para o município de Xapuri, onde seu Menezes conseguiu fazer um acordo com o Instituto Divina Providencia, através do qual ele fornecia lenha para alimentar o fogão da tradicional escola das Servas de Maria Reparadoras em troca do pagamento dos estudos de Mitônio, Marina e Melchiades.

Já Mílton, Mussuline e Mozart sempre estudaram em escola pública, porém todos os filhos homens trabalhavam na agricultura de subsistência e posteriomente se tranfomaram em serradores profissionais, sendo que as serras utilizadas eram rústicas e por isso exigiam muita força física e estratégias de operação com alavancas.

Seu Menezes chegou ao Acre em 1912, e em Xapuri foi um dos pioneiros no transporte de produtos através de tração animal (carro de boi). Assim, ele ajudou na contrução da cidade transportando material de construção para vários pontos históricos de hoje, como, por exemplo, a igreja de São Sebastião. Na cidade, reside até hoje a maioria dos descendentes do desbravador nordestino, que faleceu no dia 30 de agosto de 1998, com 102 anos de idade.

Clóves, o filho primogênito, também não está mais entre os vivos, por ironia do destino ele também foi acometido por uma doença misteriosa, assim como sua mãe, e está sepultado em um  cemitério no meio da floresta. Na foto que ilustra o post, escrito com base nas informações constantes no site, estão: seu Menezes com a esposa, dona Dica, rodeados pelos filhos Milton, Mozart, Mussuline, Melchiades, Marina e Mitônio Menezes, que faleceu no dia 13 de janeiro deste ano, na cidade do Rio de Janeiro, conforme nota publicada aqui no blog (veja) pela família.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O povo do Acre foi enganado

Deputado Moisés Diniz propôs consulta ao STF sobre o referendo

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O deputado Moisés Diniz afirmou hoje que “o povo do Acre pode ter sido enganado”.

A seguir, trechos de reportagem de agazeta.net:

O líder do governo na Assembleia Legislativa (Aleac), apresentou na sessão desta terça-feira, 22, requerimento solicitando que seja enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) consulta jurídica sobre o referendo. Para o parlamentar, existem divergências jurídicas e que precisam ser esclarecidas, evitando prejuízos à população.

No requerimento, Moisés propõe que seja respondido se o referendo declara a perda de vigência da norma rejeitada, fazendo com que a Lei 11.662 deixe de ter eficácia no que se refere ao Estado do Acre, que voltaria a ser integrado à faixa de fuso horário GMT-5 e se o referendo, ao ser realizado apenas com a população do Acre, não subtrai o direito da população dos municípios do Amazonas e do Pará, que tiveram também a sua hora legal alterada pela Lei 11.662, o que exigiria a aprovação de uma nova Lei no congresso Nacional, alterando essa última.

De acordo com Moisés Diniz para que o horário do Acre seja alterado é preciso também alterar o fuso horário de seis municípios do Amazonas e outros 18 do Pará, que foram incluídos na Lei 11.662.

“O povo do Acre pode ter sido enganado. É que estamos tratando de uma Lei federal, que determina a questão do fuso horário. E como nesse caso não estamos tratando apenas do Acre, precisamos saber qual o entendimento do STF”, afirmou.

O deputado federal Flaviano Melo (PMDB), por sua vez, disse que o referendo tratava apenas sobre o desejo da população acreana. Para ele, o que está em debate não é o horário em outros estados, mas apenas no Acre.

“Nós não podemos interferir em outros estados. O referendo tratava sobre a vontade do povo acreano. Cada Estado deve decidir aquilo que é melhor. Se não houve contestação em outros estados, então que seja respeitada a vontade do nosso povo. Temos que defender a democracia”, argumentou.

Flaviano Melo disse que está otimista com a aprovação do relatório do senador Sérgio Petecão (PMN), que será apreciado nesta quarta-feira, 23, durante reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Meu comentário: Se for considerado o fato de que todos os acreanos que votaram no referendo pelo retorno do horário antigo fizeram isso acreditando que a partir de janeiro deste ano a mudança seria efetivada sem nenhuma lenga-lenga, e foi nisso que a realização da  consulta popular e toda a propaganda que a acompanhou nos fez acreditar, pode-se dizer com todas as letras que o povo acreano, sem nenhuma dúvida, até o presente momento, foi literalmente enganado.

Para a grande maioria das pessoas, que possuem parcos conhecimentos legais ou jurídicos, diante de toda a polêmica que acontece agora, é difícil entender que para se fazer a alteração do horário sem consulta popular não tenha havido nenhuma preocupação com isso ou aquilo outro. É difícil de compreender também que um povo que teve, no passado, a capacidade de optar por ser brasileiro e de defender essa opção com armas na mão, não tenha hoje o direito de ser respeitado no sagrado e constitucional direito de escolher como quer viver.

Poesia xapuriense

Do site do IFAC

A edição 15 da revista Escrita Guatá - Cultura em Movimento divulgou as poesias "Currículo oculto" e "Perdidos nas Estrelas" de autoria de Maria de Nazaré Uchôa, aluna do curso técnico subsequente (pós-médio) em Meio Ambiente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (IFAC), Campus Xapuri.

Nazaré mora no Sibéria, bairro xapuriense localizado às margens do Rio Acre. Para frequentar as aulas, ela atravessa o rio todos os dias numa pequena embarcação, conhecida como catraia. Destaca-se por desenvolver várias atividades como escrever poesias, declamar, jogar futebol e atuar. Além disso, ganhou a etapa regional do Prêmio Técnico Empreendedor com o projeto "Agência de Turismo Receptivo Xapurys" ao lado do colega de curso Edmilson Freitas de Oliveira.

A publicação na revista da Associação Guatá - Cultura em Movimento com sede em Foz do Iguaçu (PR) foi possível por gestão da professora de língua portuguesa do IFAC - Campus Rio Branco e Campus Xapuri, Maria Cristina Lobregat que já conhecia o grupo da cidade onde lecionara. "Quando vi as poesias da Nazaré achei que ia valer a pena mandar para a Associação Guatá. Mandei e deu certo! Eles decidiram publicar", disse a professora na mesma edição.

Nota: Na foto, Nazaré recebendo exemplar da revista pelos diretores do campus Sérgio Flórido e Wemerson Fittipaldy. Clique aqui para acessar a versão eletrônica da revista. As poesias de Nazaré estão na página 26.

Opinião

“Que tal tirar do ar cenas de sexo e violência da novela das 20h? Que tal extinguir de vez o BBB? Isso resolveria boa parte do problema, tendo em vista que há muito tempo todas as novelas globais são escritas em cima de sexo, violência e traições. Além disso, o BBB de "reality" não tem nada, começando pelos participantes que são selecionados e escolhidos por Boninho e sua tropa. Se a programação fosse boa e respeitosa não precisaria ser adaptada”. Clique aqui para ler a opinião do blogueiro Maxsuel Maia.

Sobre a polêmica do fuso horário

Altino Machado

O presidente da OAB no Acre, Florindo Poersch, apelou ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para que a vontade da população seja "respeitada e preservada" em relação ao referendo que rechaçou lei de autoria do então senador Tião Viana (PT-AC), responsável pela mudança da hora legal do Estado, sem consulta popular.

Veja o ofício enviado por Florindo Poersch no final da tarde desta segunda-feira (21):

"Senhor Presidente,

Apraz-me cumprimentá-lo cordialmente ao tempo em que me dirijo à elevada presença de Vossa Excelência para tratar de assunto da mais alta relevância para a população do Estado do Acre.

Em decorrência de Decreto Legislativo aprovado pelo Congresso Nacional a população acreana teve a oportunidade de se manifestar, através de Referendo, acerca da mudança no fuso horário local implementada pela Lei n 11.662/2008.

Cerca de 57% (cinqüenta e sete por cento) dos eleitores acreanos compareceram às urnas, concomitantemente ao segundo turno das Eleições 2010, e manifestaram sua vontade livre e soberana no sentido de que o horário local deveria ser restabelecido, rechaçando portanto a mudança legal.

Todavia, Excelência, mais de dois meses após a manifestação sufragada pela maioria da sociedade acreana, esta augusta Corte ainda não deu cumprimento à vontade popular.

Mais recentemente, causou repulsa em toda população acreana notícia segundo a qual poderoso lobbies movimentam-se no Congresso Nacional a fim de obstar a volta ao antigo horário, conforme decidido pela população.

Como Vossa Excelência bem sabe, é papel institucional da Ordem dos Advogados do Brasil a defesa da democracia e da cidadania, motivo pelo qual não podemos silenciar diante deste preocupante caso.

O referendo é uma das poucas ferramentas de exercício direto da democracia previstas em nossa legislação, razão pela qual deve ser ele respeitado tanto quanto o resultado de qualquer processo eleitoral.

Não mais se trata de rescaldarmos a discussão de quem está ou não com a razão, mas sim de fazermos com que a vontade da população acreana seja respeitada e preservada.

Por outro lado, os elementos jurídicos necessários à implementação da decisão soberana do povo acreano encontram-se muito bem lançados na manifestação já colhida junto à Advocacia do Senado Federal, razão pela qual resta a decisão política de se fazer valer o que foi decidido nas urnas.

Certo de poder contar com a sensibilidade e o espírito público de Vossa Excelência na célere análise do caso ora narrado, colho o ensejo para reiterar meus protestos de mais elevada estima e apreço.

Respeitosamente,

Florindo Poersch

Presidente da OAB-AC"

Meu comentário - O governador Tião Viana até agora permanece calado sobre a polêmica, como se a população do Acre não estivesse preocupada com o fuso horário ou como se ele não tivesse envolvimento com a trapalhada. Viana poderia ir além da defesa feita pelo presidente da OAB-AC: basta acatar democraticamente o resultado do referendo e tocar a vida pública com uma hora a menos. Seria a primeira demonstração de que o governo estadual é do povo do Acre, para servir de coração, como consta na propaganda oficial. Afinal, o eleitor que o elegeu no primeiro turno é o mesmo que rechaçou a lei de sua autoria no segundo turno.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Paulo Boca

O centésimo post do blog neste ano é dedicado ao sujeito da foto, de camisa branca listrada. Ficou conhecido como Paulo Capão nos lugares onde jogou futebol, mas em Xapuri ele é o Paulo Boca, jogador habilidoso que fez parte da última boa geração de futebolistas xapurienses. Vítima de um acidente de trabalho quando era funcionário da antiga Eletroacre, Paulo Boca jamais permitiu que as sequelas físicas resultantes do episódio lhe impusessem limitações. Apaixonado pelo esporte, tocou a bola pra frente e hoje é treinador da Associação Desportiva de Senador Guiomard, a Adesg. Paulo Boca é um belo exemplo de vida. A foto é do site O Alto Acre.

Prazer perigoso

Sexo oral causa mais câncer de garganta que cigarro e bebida, diz pesquisa

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O tabaco, substância presente no cigarro, e o consumo de bebidas alcoólicas sempre foram apontados como um dos principais fatores para desenvolvimento de câncer na região da garganta. Pois agora cientistas afirmam que o sexo oral ocupa o topo da lista entre os comportamentos de risco. Continue lendo no Portal Terra.

Pouco para eles, tanto para nós

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Estou em Brasiléia, nesta segunda-feira, dando uma ajustada na saúde. Aqui, fui informado que boa parte da população do município não está satisfeita com a mão única da ponte que liga a cidade à vizinha Epitaciolância.

A ponte é metálica com pista de rolamento em madeira. O tráfego é controlado por semáforo e o tempo de espera é relativamente pequeno. Quem a atravessa a pé sente um inevitável desconforto pelo balançado causado pela passagem dos carros.

Na pracinha em frente à Rádio Aldeia FM, ouvi a informação de que uma vereadora, Alda Pacheco (PMDB), teria solicitado ao deputado Flaviano Melo a alocação de recursos de emenda ao orçamento para a construção de uma ponte de mão dupla entre as duas cidades em substituição à atual.

Com meus botões, pensei que o que representa pouco para Brasiléia e Epitaciolândia constitui o sonho de consumo de grande parte da população de Xapuri, que sonha há muitos anos com uma ponte sobre o rio Acre, mesmo que fosse de mão única, ligando as duas partes da cidade.

É claro que não estou fazendo comparações entre as duas situações. Brasiléia e Epitaciolândia são duas cidades. Sibéria é apenas um bairro. Mas a situação dos políticos do Acre com os xapurienses ficaria insustentável se o anseio da fronteira ganhasse mais atenção que o sonho dos filhos do Berço da Revolução.

Unopar em Xapuri

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A Universidade Norte do Paraná será a próxima instituição educacional a se instalar em Xapuri. A prefeitura cederá em regime de comodato a área onde serão construídas as instalaçãos do polo da universidade no município. A cessão será feita pelo prazo de 25 anos. A Unopar Virtual é hoje uma das maiores Universidades de Ensino a Distância do País, com a oferta do Sistema de Ensino Presencial Conectado - SEPC.

O sistema da Unopar Virtual ministra aulas ao vivo, preparadas por equipe tecno-pedagógica especializada, que permite interatividade entre professores, alunos e tutores eletrônicos de forma on-line. Os cursos ofertados pelo SEPC estão presentes em mais de 400 municípios de 26 Estados brasileiros nos cursos de graduação, pós-graduação (especialização), além da educação corporativa, segundo informa o site da faculdade.

A vinda da Unopar para Xapuri reforça o pensamento da atual administração municipal de transformar a cidade em um “polo de conhecimento”. Já estão presentes no município, além da Universidade Federal do Acre (Ufac), a UAB/Unb (parceria do governo federal com estados e municípios e a Universidade de Brasília) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifac).

No dia 23 de novembro de 2010, o prefeito Ubiracy Vasconcelos baixou decreto  tornando a cidade de Xapuri “Polo de Conhecimento e de Excelência em Estudos de Desenvolvimento Sustentável” (veja aqui a íntegra do Decreto nº 42/2010). No dia seguinte, o Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE), instituição internacional de estudo com sede na Costa Rica, implantou oficialmente seu escritório técnico nacional no Acre. Clique aqui para ler mais sobre o assunto.

Em tempo: O IFAC estará capacitando os fiscais para o exame (vestibular) no dia 23/02 (quarta-feira), às 19h, na escola estadual Anthero Soares Bezerra. É obrigatória a presença de todos os que fizeram inscrição. No dia 27/02 (domingo) será realizado o exame vestibular para os inscritos pelo IFAC. Os candidatos devem comparecer às 8h da manhã, os portões fecharão às 8h30 e às 9h as provas terão início. Não será permitida a entrada após as 8h30.

Compra macabra

O prefeito de Cruzeiro do Sul, Vagner Sales (PMDB), acaba de fazer uma compra digna de fazer inveja ao Zé do Caixão, personagem do ator e cineasta José Mojica Marins. Segundo informa o site Voz do Acre, com informações do Diário Oficial do Estado, Sales comprou 630 ataúdes de duas casas funerárias daquele município, com o fim de sepultar pessoas que venham falecer no decorrer deste ano, de famílias sem condições financeiras para custear os sepultamentos.

Dilson Ornelas, o repórter que escreveu a notícia, pondera que mesmo útil a funesta aquisição leva a pensar que Vagner Sales esteja esperando pelas mortes, assim como Odorico Paraguaçu, prefeito da fictícia Sucupira, do romance O Bem Amado, que passou o todo o mandato de prefeito esperando que alguém morresse para inaugurar um cemitério, maior obra de sua administração. Vale lembrar que Odorico findou por ser ele mesmo o esperado defunto que inaugurou o campo santo sucupirano.

Cruz credo.

Homens de dois tempos

José Cláudio Mota Porfiro

Passei boa parte de toda uma vida quase completa vendo e ouvindo e lendo e convivendo com algumas histórias bem feitas por gente da minha estirpe. Os nossos ancestrais fizeram que fizeram, e fizeram tão bem feito que findaram por construir uma terra hoje digna, já, dos aplausos dos povos ao redor do mundo. Quem diria?!

É a partir de algumas iniciativas de acreanos que - pelo menos nós - não haveremos de morrer sem fôlego ou de inanição. Já há pouca fumaça nos meus pulmões e nos meus horizontes antes tão turvos. Larguei ou me proibiram também de fumar, para a felicidade geral da nação lá de casa. O Acre é a terra prometida onde a sustentabilidade praticamente nasceu.

Aí pelos doze anos, já adulto, vivia ouvindo as conversas sérias dos mais velhos, apesar de dois tios meus, cearenses, de quando em vez contarem tiradas sempre hilárias, e no mais das vezes, picantes, para os risos forçados do meu pai, que não era dado a anedotas... E já dava para notar pelas feições azedas ou toscas ou rudes de um cabra que não era lá de rir por pouca coisa.

- Ô vidinha mais ou menos, mais pra mais do que pra menos. – É o que dizia o Edgar, o tio mais sacana do mundo.

Eles falavam muito das relações entre seringalistas e seringueiros. Os patrões, meio ricos, eram, na sua maioria, dados à chantagem, à burla e à enganação, isto, até os anos cinqüenta, conforme Vovó Mariinha. Daí em diante, as ligações já não eram tão inamistosas.

Nos anos sessenta, então, ainda bem garoto, conheci o Solón Maia, arrendatário do Seringal Albrácia, de quem todos falavam muito bem, tendo em vista o comportamento marcadamente ético, compreensivo e até dado a favores. Andei pelo barracão dele  -  a sede do seringal  -  aí por essa época. Alguns diziam que o tempo da borracha não tardava a ter fim. Que estavam chegando uns forasteiros com a idéia fixa de criar gado em vastas fazendas implantadas a partir da derrubada de árvores, inclusive, seringueiras. Falavam também dos preços irrisórios alcançados pela borracha que há muito havia perdido a primazia para os plantios asiáticos do Ceilão e da Malasia, dentre outros temas.

Queriam vender o pouco que tinham para comprar casas em Xapuri. Lá plantariam e colheriam para o sustento das famílias, como se fosse possível. Poucos desses projetos deram certo. A maioria veio para a cidade viver das migalhas caídas das mesas da elitezinha que, à época, também já não era lá essas coisas.

Entretanto, uma conversa me chamava mais a atenção. Era sobre a vinda dos seringueiros nordestinos para a implantação e exploração dos seringais amazônicos. Era muito sofrimento.

Numa síntese apressada, observo o grau das dificuldades a partir do momento em que o sertanejo, ainda no nordeste, era chamado a vir para o Acre catar dinheiro com um cambito. O coitado acreditava na conversa do agente preposto dos seringalistas, lá, e começava aí o suplício. As passagens, ainda no porto de Fortaleza eram grátis. Mas quando o navio atingia mar alto, a verdade era revelada:

- Ora, cabra! Como é que tu vai querer viajar de navio, comendo bebendo e dormindo, de graça? Acabei de receber carta do patrão. Ele tá é puto. Todos vão pagar com serviço, no corte da seringa. Quem não topar é porque não é macho e pode pular fora do navio e voltar pro Ceará a nado.

Contado isso por Abdoral, um compadre do meu pai, com lágrimas nos olhos, era de cortar o coração, uma vez que, segundo ele próprio, no Ceará, nunca tinha visto um rio que lhe conseguisse afogar mais que os pés. Como iria nadar?

- Tava era lascado! – Exclamava o sertanejo calejado pelas idas e vindas por esse mundão de meu Deus.

A comida era uma espécie de lavagem de porco. O arroz tinha muita casca que, depois de cozida, ficava preta. Era um chibé bem ruim. O feijão tinha bastante gorgulho, segundo uns afortunados, fonte rica de proteína. A farinha era uma poeira que voava ao vento. Não havia pratos. Comia-se em latas de goiabada, e com as mãos. Crianças morriam de doenças tropicais e os corpos eram atirados nos rios. Mulheres e homens tinham piolhos, pulgas e até carrapatos. A promiscuidade grassava nos porões desses novos navios negreiros. Gente não era gente. Gente era bicho mesmo.

O nordestino que por aqui chegava com mais sorte ou esperteza abria seringal, ficava rico e passava a tratar os demais com uma desumanidade sem tamanho, como se não viessem da mesma origem. Mandava surrar os ditos desordeiros com couro de umbigo de boi, até se mijar. Eu próprio ainda cheguei a ver um tronco em frente ao quartel velho, em Xapuri, Rua Batista de Morais, onde os seringueiros desobedientes eram surrados.

Aí o sujeito era jogado numa colocação onde só havia um papiri (casinha de palha de pau-a-pique) sem assoalho. No verão era o pium de dia e a carapanã de noite. No inverno, a umidade noturna da mata. A alimentação era parca. O seringueiro morria e, muitas vezes, só lhe era encontrado o corpo, já putrefeito, dias depois, quando o comboieiro vinha trazer mantimento e buscar borracha ou sernambi.

Com o meu tio avô Teófilo Porfiro aconteceu que, chegado ao Seringal Lua Cheia, Rio Xapuri, ainda muito moço, percorreu quatro horas de viagem madeira adentro, com um sujeito em cima de um burro, à frente dele, fumando um porronca e, aos gritos, mandando que ele se apressasse. O baixinho Teófilo guardou por poucas semanas a humilhação e, na próxima oportunidade, meteu-lhe a lambedeira a três dedos abaixo da última costela. O cabra não morreu na hora, mas foi-se meia hora depois. Passados dois anos da fuga, ele já tinha emprego de ajudante na firma do Américo de Morais, Seringal Palcemar, próximo à fronteira com a Bolívia, para a prevenção dos possíveis problemas com a Justiça que pudesse vir a ter, mas que nunca aconteceram.

Na chegada à colocação o tal Protásio deu uns empurrões no Teófilo e lhe disse:

- Aí dentro desses dois sacos tu tem tudo para viver por um mês. Depois disso, tu volta na margem (sede do seringal) para buscar mais. Mas não vai comer muito. Fica com essa espingarda e mais vinte cartuchos. Tu mata uma imbiara, come e economiza a tua ração... Ah, sim! E tem umas bichanas que de dia esturram e, de noite, dão uns miaus de fazer gelar o sangue de qualquer cabra frouxo como tu. Resolve o teu problema com elas. Dorme atrepado no oitão da casa. Acende o fogareiro e jogue merda no fogo que elas nem chegam perto. E deu-lhe mais um empurrão e um chute na bunda:

- Vai, caba da peste! Se a onça não te comer, tu vai ter que comer a onça, no fio do terçado ou no chumbo quente!

Ele não sabia com quem estava mexendo, como não sabia que a alma já havia sido encomendada a Deus. Fi do cão!

Para os mais novos e também para os desinformados, é preciso que lhes diga a medida exata dos esforços dos seus avós. Hora de acordar, três e meia da manhã. O fogão de lenha, o fogo com graveto e sernambi, o café parco, uns dois punhados de farinha seca na boca, ou um pedaço de macaxeira, e só. Não havia frutas. Às quatro da manhã, poronga na cabeça, já estava na estrada de seringa na primeira fase do seu trabalho, o corte. Às onze ou onze e pouco, vinha em casa, comia carne seca ou enlatada, bebia uma água qualquer e voltava, agora, para colher o leite. Na volta, ia pro mato cortar cavaco. Fazia o fogo no defumador e envenenava os olhos com a fumaça do cumaru de cheiro, a árvore. E depois... Depois, morria, porque não há fígado que agüente um repuxo desses. Fazer derrubada, broca, botar roçado de adjunto, plantar, colher, beneficiar, isso foi só depois, quando, enfim as relações ficaram um pouco mais humanas.

E olhe o que é a história em dois tempos.

Os de ontem fizeram sacrifícios incomuns, morreram a cada dia que Deus dava vitimados por doenças esquisitas ou ceifados por felinos sanguinários ou abatidos por répteis peçonhentos... Meu Deus!

E é aí que me vem à mente um aforismo que prega que, quanto mais difícil, penosa e dura é uma etapa da vida, tanto mais se obstinam os homens, tanto mais a querem. Assim foi como esses bravos iniciaram a construção do Acre. A eles, aos nossos avôs e avós, nós devemos tudo, inclusive, homenagens tão simples como esta. Na verdade, lembrando a fímbria e o caráter dos cearenses lá de casa, notadamente o bom Gibiri, meu pai, afianço-vos que é a dificuldade que atrai o homem de caráter porque é abraçando-a que ele se realiza... Que Deus o tenha!

E, hoje, corre o ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2010. A convite do Sabino Cordeiro, meu amigo, então, fiz visita ao antigo Seringal Baixa Verde, atualmente área destinada pelo Incra a parceleiros que a deverão explorar.

O que vi é o que vos narro porque foi realmente bastante marcante. Em contato com os nossos novos colonos  -  os tais parceleiros  -  observei que esses homens da floresta dos dias de hoje têm tudo e querem muito mais. Há carros na garagem, o Governo do Estado e o próprio Governo Federal são os agentes da força maior que devem mecanizar, plantar, colher, dar o peixe para o açude que foi cavado pela própria assistência técnica, cavar cacimba, cuidar do monte de menino catarrento e, aos sábados, o parceleiro, nosso atual herói maior, deve refestelar-se na comodidade do lar e tomar uma cervejinha ao lado da patroa, ou da quenga, isto, é claro, porque ninguém é de ferro.

Ora, irmãos! O arigó não tinha nada. Já o moderno homem da floresta dispõe de terra, capital proveniente de bancos, com juros subsidiados, com carência a perder de vista, trabalho e assistência técnica. Mas, enfim, tem-se que ir ao supermercado comprar tudo, do feijão e arroz à água mineral e ao gás, sim, porque já não são cavadas fontes, como as antigas, altamente saudáveis, nem se constroem mais fogões de barro, branquinhos pela força de um alvejante chamado tabatinga. É, senhores! A produção desses novos pioneiros é bastante irrisória.

Apesar de toda a facilidade, muitos vendem os lotes por qualquer pouco-mais-ou-nada, como diziam os antigos, para a compra de barracos na periferia de Rio Branco ou das cidades maiores, onde as profissões são urbanas e o homem do campo nada sabe fazer. Aí os filhos são diretamente encaminhados ao mundo das drogas, as filhas se prostituem e a esposa passa a ser doméstica, arranja o outro, um desses bacanas que dormem de dia e trabalham à noite, no tráfico! É o caos social. De tudo isso, resta a desagregação da célula mais importante, a família. Aí vem a mendicância, a prostituição, o crime pela via do narcotráfico, o que só aumenta o contingente penitenciário.

Alguns tentam voltar depois que vêem a realidade nua e crua da cidade desumana, porém o patrimônio adquirido com a negociação anterior da gleba não tem valor suficiente para novos empreendimentos rurais. Não dá mais para comprar sequer uma coloniazinha, no dizer dos antigos. E mais uma vez sou chamado por mim mesmo a opinar sobre o que muitos pensam que nada tenho a ver; mas tenho, e muito. Os órgãos responsáveis pela desconcentração e redistribuição de terras rurais deveriam usar critérios mais coe-rentes na hora de selecionar os parceleiros. Uma cartilha ou mesmo um questionário socioeconômico e cultural bem elaborado adequaria o novo dono de terra e diria das suas habilidades, dos seus costumes, das suas disponibilidades.

Medidas como estas talvez pudessem evitar o que ocorreu aos soldados da borracha, aqueles primeiros seringueiros que por aqui chegaram para a exploração da borracha, na época da revolução e, depois, no tempo da Segunda Guerra. Muitos combatentes morreram sem ver um centavo dessa maldita aposentadoria, enquanto sulistas chegados ao Acre nos anos oitenta e noventa foram declarados beneficiários.

O presidente Salazar, de Portugal, disse uma vez que o homem que tem orgulho de si próprio só sente verdadeira alegria ao vencer as grandes dificuldades. As pequenas dificuldades não pesam na vida dos homens e não podem dar-lhes a cons-ciência e a alegria plena do cumprimento do dever.

Os velhos seringueiros se orgulhavam de tudo o que fizeram para a construção de um Brasil e de um Acre fortes. Sim! Eles deram as suas vidas, por assim dizer... Foram os nossos homens da primeira época, os personagens da minha epopéia rude e real.

José Cláudio Mota Porfiro é escritor produtivo e não alinhado. Doutor em Filosofia e História da Educação pela Unicamp. Assessor da Prodgep/Ufac.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

I’m yours

“Isso não pode esperar, tenho certeza

Não há necessidade de complicar, nosso tempo é curto

Este é o nosso destino, eu sou seu”.

Jacaré cai no laço de Piaba

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O réptil invadiu, na madrugada passada, o galinheiro do morador Francisco de Assis Oliveira do Nascimento, o conhecidíssimo Piaba. Como bom peão de boiadeiro que é, De Assis pegou o jacaré apreciador de galináceos no laço. Reservado, não quis ser fotografado com o animal, que será solto em local distante da cidade.

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Acima, ainda viva, a vítima do predador que habitava a região alagada da várzea de um afluente do igarapé Santa Rosa. A transformação dessa área em capoeira, resultado do desmatamento, está tornando escassas as presas naturais desses animais, fazendo com que eles procurem em terra firme alternativa para sua alimentação.

Dexistas

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Recebi email, esta semana, do dexista sueco Henrik Klemetz (foto acima), que sintoniza a Rádio Educadora de Xapuri em OT (Ondas Tropicais) a mais de 9.000 quilômetros de distância, na península escandinava. “Você sabia que a propagação da emissora está no seu melhor às 6 da manhã e às 6 da tarde (horário do Acre)?”, perguntou afirmativamente na mensagem sobre o fenômeno conhecido como aprimoramento crepuscular, um verdadeiro milagre para os adeptos dessa atividade.

Para mim, no entanto, já não era surpresa que um transmissor de apenas 1 kW conseguisse chegar tão longe. Em 2003, o norueguês Tore B. Vik (foto abaixo) também captou o sinal de OT da emissora xapuriense na cidade de Mysen. Na oportunidade, Tore Vik enviou uma carta escrita em espanhol falando sobre sua recepção, que publiquei aqui no blog no ano de 2007.

Tore Vik - Norway

Dexista há quase 60 anos, Tore Vik, que tem 73 anos de idade, é oficial aposentado do exército norueguês. Ele já ouviu entre 2.000 e 2.500 rádios de todas as partes do mundo, mas tem a atenção especialmente voltada para emissoras da América Latina. Converso sempre com Tore via messenger. Nesta semana, ele me consultou sobre mudanças na frequência da Rádio Educadora de Xapuri em OT.

No Portal Cultura, encontrei uma entrevista com o norueguês na qual ele fala sobre o hobby de colecionar escutas de emissoras distantes. Avô de duas crianças, Tore Vik conta na entrevista que seu interesse por rádio começou em 1952, aos 14 anos de idade. Nesses 59 anos como Dexista, perdeu a conta de quantas estações de rádio estrangeiras já ouviu, mas lembra que a emissora latino-americana mais distante que captou foi a rádio Base Esperanza, que funciona na base argentina da Antártida, a região mais inóspita do planeta.

Vale a pena conferir.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Quem matou o benjamin?

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Uma árvore de pequeno porte, dessas conhecidas popularmente pelo nome de benjamin, muito comuns por ornamentar as ruas das pequenas cidades do interior do estado, se tornou motivo de polêmica em Xapuri, a cidade dita por muitos a capital mundial da ecologia.

Ocorre que alguém na calada da noite fez três perfurações no tronco do simpático vegetal e ali depositou generosas doses de algum tipo de veneno que está fazendo com que a árvore definhe rapidamente. Suas folhas amarelas e galhos ressecados indicam que sucumbirá em breve.

As pergunta que muitos estão se fazendo são: Quem matou o benjamin? E por qual motivo teria alguém atentado contra uma espécie que não causa nenhum tipo de prejuízos a pessoas ou ao espaço público?

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A pequena árvore abrigava com sua sombra a tradicional barraca do Café da dona Maria, ponto de encontro de muito funcionários públicos que diarimente fazem  ali o desjejum antes de pegar no batente.

Dona Maria José Alves da Rocha, 68, afirma que trabalha naquele ponto há mais de 40 anos. Começou com sua mãe e deu sequência à atividade depois da morte da genitora. Para ela, será impossível permanecer no local sem a sombra da árvore.

“Foi uma maldade muito grande o que fizeram com a árvore. Não sei quem foi, mas que alguém quer me tirar desse lugar”, diz dona Maria, que aguarda ter um novo lugar cedido pela prefeitura para instalar sua barraca.

O popular José Carrilho, vendedor de CD’s, é outro que se queixa do atentado contra o pobre benjamin. “Nós até imaginamos quem possa ter feito isso, mas é quase impossível conseguir alguma prova”, lamenta.

Como recorda o blogueiro Joscíres Ângelo no seu Xapuri News, o caso não é o primeiro a ocorrer por essas bandas. No ano passado, a frondosa figueira que existia ao lado da Casa de Chico Mendes também morreu misteriosamente.