domingo, 10 de abril de 2011

Nenhuma sutileza

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José Cláudio Mota Porfiro

... Mas não se espante, meu amor! O mundo é mesmo uma grande pilhéria e sofrem muito mais aqueles que não aprenderam a rir, ou a ver sempre algo de engraçado em tudo e em todos que nos rodeiam. Em outras palavras ainda mais fúteis, há uns poucos que nascem para sorrir e uma maioria que vive de se lamentar. Ora, pois! Ficar entre os primeiros é muito melhor. Senão vejamos.

Então, se para cada gracejo devo fazer dez inimigos ou, como disse o Churchill, uma piada é uma coisa muito séria, devo ficar com as duas assertivas e equilibrar-me sobre essa corda bamba que é emprestar foros de legitimidade e toques de sensatez a situações tão esdrúxulas da vida... É claro que já não mais hei de me esquecer daquele cuidado segundo o qual, para que as dúvidas sejam resguardadas e a fim de que por estas letras tortas flua um pouco de tosca literatura, é preciso assegurar que fatos e personagens aqui tratados não são mais que frutos do engenho e da arte deste artista menoscabado.

Garantirei a todos por aí afora que tratamento especial será dado, aqui, ao  princípio elaborativo da falsa moral básica pura e da sexualidade transcendente entre homens e mulheres pouco sutis. Assim mesmo. Sem figuras de estilo pie-gas. Eis o título de um projeto que se pretende grande, sempre consideradas as reais possibilidades de um aborto prematuro, é claro.

Aqui, pois, o objetivo é dar foros de legitimidade e deixar registrada em bom papel eletrônico a ideia que não deve ser copiada, principalmente, por japoneses de olhinhos sacanas que nunca tomaram açaí, mas o dizem de sua propriedade, com patente registrada e tudo por algum conselho internacional de bioladrões.

Então, rememorando Luís Vaz de Camões, na primeira estrofe d’Os Lusíadas, que alguma força do bem dê fôlego a este poeta insano, pequeno burguês, que se aventura por estes mundos insondáveis que é a alma humana, notadamente, quando os temas nada têm de sutis...

E por aí sigo eu na vã pretensão e na esperança de que Deus me ajude e, em alguma época, alguém possa ou consiga ler estas algaravias, às vezes picantes, às vezes tão ou quase educativas. Com mil perdões antecipados!

Metodologicamente, num primeiro momento, alguns cavalheiros desta amada terra de Galvez farão perguntas mordazes, no que até poderão ser ajudados pelas moças.

- Qual é a sua opinião a respeito do sexo depois do casamento, na pulada da cerca, logicamente, com outro ou outra? É legal, é imoral ou engorda?

- Vai que o seu filho arranja uma esposa sacana. Um dia a senhora descobre que o netinho tão amado, já com sete anos, não é filho dele, mas de um nobre cafajeste que se deita com a sua nora. O que a sua coerência mandaria fazer?

- Se a filha do vizinho tem caso com homem casado, é claro, é uma puta. Se o filho do vizinho tem caso com homem solteiro, trata-se de um grande veado. E se o filho ou a filha fossem seus?

- Coloque o seu projeto de Ricardão, o marido, para esquentar a barriga no fogão e esfriar no tanque. Aí, vai a senhora para o escritório e se aproveita daquele secretário sarado, estilo Paulo Zulu. O esposo doméstico, em casa, poderia tirar uma casquinha daquela empregada metida a Juliana Paes? Por quê?

- O que a senhora acha que os homens ficam conversando nas mesas de boteco até altas horas? Poderiam eles estar em outros locais mais aprazíveis? E as mulheres estariam obrigadas a tais práticas hoje tão convencionais?

E por aí vai...

Em um segundo momento, damas sem papas-na-língua, interpretando os perfis psicológicos abaixo delinea-dos, responderão às perguntas feitas anteriormente. Caberá a cada uma escolher a personagem que melhor lhe aprouver.

Mariah Carey. Natural das Ilhas Jersey. Trata-se da mulher mais estressada do mundo. Tem um marido calmo, quase letárgico que, se não apanha de açoite, morre na peia todos os dias de tanto ouvir um palavrea-do cheio das conotações mais negativas de que se pode ter notícia. É de maus bofes, sim. Quando não está reclamando da vida e dos seres humanos, está falando dos defeitos dos parentes, posto que ela não tem nenhum. É vítima assumida do destino que lhe reservou um marido que nunca lhe deu umas boas mãozadas para ela se orientar e não chamá-lo nunca mais de abestado, como faz sempre.

Madellaine Blanché. Nasceu entre os vinhedos da região da Alsácia e Lorena, na França. Depois viveu em Caiena. Está separada de um marido que acaba de ficar viúvo. A separação, praticamente, não foi sentida. O ex-marido ficou cego de um olho, tem uma perna mais curta que a outra, é meio zambeta e, por isso, foi rapidamente esquecido. É liberal e modernosa. Gosta muito de cerveja e está numa farra já programando a outra. No Carnaval, toma todas. A vida é uma festa. Cozinha maravilhosamente bem. Está sempre aberta ao diálogo. É amiga leal de todos a ponto de sempre se decepcionar com alguns porque, já no início da amizade, a tendência é sempre ver o novo amigo enquanto uma pessoa excepcional, gente boa, bacana, e tudo mais.

Louise-Eloah Tourraine. De origem francesa humílima, veio à luz em Greenpines, South Caroline, United States of América. Quando adolescente, foi empregada doméstica. Lavou, passou, cozinhou e foi maltratada. É professora de Cosmologia, mesmo sem saber exatamente quais e onde estão os quatro pontos car-deais. Faz parte de um seleto grupo de advogados pernambucanos que se enrola todo quando a tarefa é procurar significados de palavras no Aurélio. É católica fervorosa e uma das pessoas mais corretas que o sol já cobriu, segundo ela própria.

Sue Andersen. É natural das terras altas da Escócia, mais precisamente do Condado de Horsevalley, nas proximidades de Edinburg. Trata-se de um comportamento às vezes com doses exageradas de uma violência que, felizmente, não é colocada em prática. É católica praticante, mas odeia o próximo e quer que o próximo se lasque na primeira esquina. É ruim de gênio e maldosa.

Enfim, para arrematar toda a argumentação, caberá a este aprendiz de feiticeiro tabular o grande número de respostas e emprestar o toque final a estes alfarrábios que, um dia, haverão de ser vendidos nas melhores casas do ramo, no Jordão, Santa Rosa do Purus, Japiim e adjacências, com muito mais amor e muito mais carinho deste sempre, sempre seu poeta mal acabado...

Mas tudo isso é apenas um projeto e qualquer colaboração menos tosca poderá ser aproveitada.

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