sexta-feira, 24 de junho de 2011

Santo da Floresta

24 de junho é dia de festa na comunidade São João do Guarani

Capela_Guarani

Uma pequena capela, um cruzeiro de ferro, um túmulo com três cruzes e uma imagem esculpida em barro ocupam o local onde teria tombado, há mais de 100 anos, o seringueiro João do Guarani, morto provavelmente por malária, para se tornar uma das maiores tradições religiosas populares do município de Xapuri.

As histórias sobre a origem do culto ao seringueiro não são claras, mas acredita-se que as manifestações relacionadas a João do Guarani começaram a ocorrer por volta do ano de 1906, depois que um homem se perdeu na mata ao desviar de uma cruz, seu objeto de medo, que havia avistado no caminho.

Para encontrar o caminho de volta o homem teria recorrido a uma promessa, e assim encontrado a saída, avistando novamente a cruz e atribuindo o fato à alma de João. A partir daí a tradição ganhou força com os anos e João se tornou uma das mais conhecidas almas milagrosas do Acre, sendo considerada pelos seringueiros locais como o “Santo da Floresta”, apesar de não existir qualquer reconhecimento oficial da igreja católica.

Um relato interessante é o de que João não residiria na colocação Guarani, como muitos pensam, mas sim no seringal Recife, na região do Rio Iaco. O Guarani seria passagem para Xapuri e o seringueiro pernambucano teria morrido ali, sozinho, na beira do caminho, onde foi levantada a capela em sua homenagem.

Anualmente é realizada uma grande festa na comunidade, cuja programação reúne atividades religiosas, com a celebração da Santa Missa e pagamentos de promessas; esportivas, com torneios de futebol e outros esportes; e culturais, com a realização de gincanas, concursos e baile dançante.

É bem verdade que a romaria até o Guarani perdeu um pouco do seu charme com a chegada do “progresso”. A abertura da estrada que nesta época do ano dá acesso a todos os tipos de veículos tornou muito mais fácil o trajeto. Nos tempos antigos, as viagens eram feitas a pé ou de cavalo em jornadas que duravam mais de doze horas, o que para muitos representava sacrifício como forma que pagamento pela graça recebida.

De uma maneira ou de outra, a devoção secular ao “santo seringueiro” cresce a cada ano, e a festa, celebrada no dia de São João Batista, se torna mais organizada e frequentada a cada realização com o apoio da prefeitura e da paróquia de São Sebastião. Prova de que para o povo sofrido da floresta, a fé em São João do Guarani continua a ser uma grande razão de vida que prescinde de autorização do Vaticano para ser cultuada.

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