sábado, 4 de agosto de 2012

"Apagaro as lamparina!"

Rubens Menezes de Santana, via Grupo Acre, no Facebook

Jaburu nasceu Isaías Nogueira e ainda hoje, do alto de seus 90 anos, pode ser visto pelo centro de Rio Branco ou no Bairro 15 onde sempre morou: lúcido, caminha sozinho sem dificuldades e apesar de ter perdido parte de sua massa muscular, percebe-se que quando jovem, deveria ter sido muito forte. E bom de porrada, pois naqueles tempos de rapaz, as desavenças eram resolvidas à força dos argumentos de socos ou à faca.

Em Xapuri, os bambas eram Itamaury, Bodó e o Jaburu. Entre estes, nunca havia atritos. Respeitavam-se. E por ser tudo isto, D. Maria Rimba, moradora no rio Xapuri, próximo ao Velho do Mel, organizou um forró cuja principal atração era exatamente o Jaburu.

Forró prá ser considerado bom, era dançado na sala de entrada das casas e a disputa mais ferrenha entre os pares era por conseguir levar sua dama para o "ponto cego" e mais escurinho ainda, que se forma embaixo das lamparinas.

Bebidas eram a Cocal, o Vermute, o Quinado e o Martini. Tomadas puras ou misturadas: Cocal com Vermute era um coquetel chamado Rabo-de-Galo; com Martini, era o Traçado.

No terreiro varrido reuniam-se os cavalheiros em roda do "bar" e da "lanchonete".

As damas aguardavam "ser tiradas para uma parte", sentadas em compridos bancos ao longo das paredes.

O restante do espaço ficava livre para o baile.

Nos travessões de sustentação da cobertura de palha, eram colocadas as lamparinas que tentavam iluminar o local.

O forró seguiu bem até que o Missofó, esgueirando-se por entre os pares de dançarinos, começou a apagar as lamparinas.

O baile foi imediatamente interrompido, pois a casa era de muito respeito.

Pergunta daqui; pergunta dali:

- Quem foi que "apagô as lamparina"?

O Missofó, entregou a rapadura.

- Foi o Jaburu!

Isaías estava no "bar" tomando uma, quando foi intimado a comparecer à presença da anfitriã.

Subiu a escadinha de três degraus em forma de poleiro e foi ter com a dona da casa.

D. Maria Rimba, cearense de voz rouca, foi passando logo uma descompostura.

- Então, quer dizer que é assim, seu Isaías?! Dentro de minha casa, dou uma festa em sua homenagem, e é assim que o senhor se comporta?! Como pode fazer-me esta desfeita?! Porque "apagô as lamparina", seu Isaías??

- E quem disse, que fui eu? desafiou o Jaburu

- Foi Missofó! Disseram alguns em torno dos dois.

- MISSOFÓÓÓ! Trovejou com jeito de chuva, o Jaburu.

Quando Missofó chegou à frente do Jaburu, foi logo "aberturado".

- PLÁÁÁ! O tapa no pé-do-ouvido foi escutado lá embaixo, no terreiro.

Jaburu largou o Missofó e virou-se em direção à Rimba e disse:

- D. Maria, não fui eu quem "apagô as lamparina"!

Deu meia-volta e calmamente, soprou e apagou, uma a uma, todas as lamparinas que já haviam sido novamente acesas.

De lá mesmo, de onde estava, falou:

- Agora, fui eu, D. Maria!

Arrumou melhor seu chapéu de massa na cabeça e foi-se embora varadouro a dentro.

Rubinho é professor aposentado, ex-goleiro e contador de causos.

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