segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Cenário desalentador

COOPERACRE - BENEFICIAMENTO DA CATANHA DO BRASIL - T. BAIXO ACRE E ALTO ACRE CAPIXABA - AC

Um dos pilares da economia extrativista acreana, a castanha sofreu uma queda de preço tão drástica, a partir do primeiro trimestre do ano passado, em razão da crise internacional, que neste início de 2013 não tem sequer valor de compra estabelecido pelos principais compradores do estado. O cenário desanimador interfere de maneira direta na maior festa do município de Xapuri, o novenário do padroeiro da cidade, São Sebastião, cuja movimentação de pessoas e de dinheiro sempre foi vitaminada pela força da castanha e da borracha.

Até a semana passada era grande a apreensão de produtores por uma definição de preço para a atual produção de castanha. Houve até mesmo quem cobrasse a Cooperativa Agroextrativista de Xapuri (Caex) para que se manifestasse sobre a indefinição do mercado. Fato é que o mercado nunca está indeciso ou indefinido; a realidade atual - bastante diferente daquela vivida no ano passado, quando a lata de 10 quilogramas da castanha, nesta mesma época, estava sendo comprada a R$ 17,00 ou R$ 18,00 - é que o produto hoje não encontra valor maior que R$ 10,00. E esse quadro é, clara e implacavelmente, definido pelo mercado.

De acordo com o presidente da Caex, Luís Íris de Carvalho, o Licurgo, não há perspectiva de melhora em curto prazo. A cooperativa sequer está comprando castanha nesse começo de janeiro, o que deve acontecer apenas a partir desta segunda-feira (14). O preço, segundo ele, não passará de R$ 8,00 quando o produto for comprado dentro dos seringais e de R$ 10,00 quando a castanha for entregue pelo produtor no armazém da cooperativa, localizado no centro de Xapuri.

Licurgo afirma que a situação ruim da castanha é motivada pela crise mundial e que se agrava em razão da inserção do produto boliviano que está entrando no mercado nacional porque não encontra mais saída para a Europa. As empresas Thauamanu e Riberalta são, segundo ele, as responsáveis por introduzir no Brasil, de maneira ilegal, a castanha boliviana que aumenta a oferta do produto no país e pressiona os preços ainda mais para baixo.

O panorama atual da castanha é, no entanto, apenas mais um problema para a mais tradicional associação extrativista do Acre. Atolada em dívidas que se arrastam há vários anos, A Caex luta há quase meia década para sair da situação de falência iminente em que foi deixada pela administração que antecedeu a atual, de Luís Íris de Carvalho. A cooperativa criada por Chico Mendes tem hoje quase todo o seu patrimônio penhorado pela justiça e perdeu o direito sobre a usina de beneficiamento que leva o nome do sindicalista assassinado em 1988.

Principal empresa do ramo no estado, a Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), que administra a Usina de Beneficiamento Chico Mendes, em Xapuri, está com 30 mil caixas de castanha beneficiada em estoque e não pretende dar a largada na cotação do produto para esta safra. A Cooperacre não conseguiu comercializar no mercado interno toda a produção comprada no ano passado, o que fez com que os recursos captados para a compra da safra atual também fossem drasticamente diminuídos.

A usina de beneficiamento de Xapuri também foi afetada pela crise e dispensou quase a totalidade dos 68 funcionários que trabalharam até o fim do ano passado. Permaneceram por lá apenas 7 pessoas, entre as quais 4 vigias e duas mulheres que por estarem grávidas não puderam ser demitidas. A expectativa da empresa é de conseguir vender essa castanha em estoque para o mercado nacional até a metade do ano para poder devolver à normalidade a rotina de beneficiamento e empacotamento da produção que está em andamento.

Os bons resultados das safras de castanha dos anos de 2010 e 2011 fizeram com que a Cooperacre investisse R$ 2,5 milhões na ampliação e na modernização da usina de beneficiamento de castanha, que foi reinaugurada no dia 27 de julho do ano passado. Com as mudanças, a usina aumentou sua capacidade de produção e passou a beneficiar e empacotar, tipo exportação, mais de 100 toneladas de castanha por mês, matéria-prima toda oriunda dos seringais dos municípios de Brasiléia e Xapuri.

Os principais destinos da castanha processada e comercializada pela Cooperacre são os mercados do Sul e Sudeste do país. “Hoje, nossos maiores compradores continuam sendo os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, mas mantemos um contrato de exclusividade com a Nestlé, a Nutrimental e outras empresas de grande porte”, declarou, à época, Manoel Monteiro, superintendente da Cooperativa.

Na safra passada, no período entre os meses de novembro de 2010 a abril de 2011, a Cooperacre comprou das cerca de 1.800 famílias cooperadas mais de 500 mil latas de castanha, o equivalente a 7 milhões de quilos, o que contabiliza um investimento de R$ 15 milhões em compra de matéria-prima. O que vai acontecer na safra atual, diante do desalentador cenário de crise é uma incógnita a ser decifrada por um monstro voraz chamado mercado mundial.

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