segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Reflitamos!

Não deveria ser assim, mas é comum que a preocupação com a segurança cresça ou que medidas preventivas sejam tomadas sempre que acontece uma tragédia. Eu mesmo, depois de presenciar um incêndio (sem vítimas, felizmente) em uma residência causado por um curto circuito, no ano passado, revisei a instalação elétrica da casa em que moro.

Mas essa preocupação deveria ser constante e as medidas de precaução rotina. O velho clichê que diz ser melhor pecar por excesso que por omissão nunca foi tão correto e jamais necessitou ser tão levado a efeito. O perigo está em todo lugar e o máximo cuidado sempre representa muito pouco ou até mesmo nada.

No dia 3 de março de 2010, escrevi aqui no blog sobre a precariedade da travessia nas catraias entre o centro de Xapuri e o bairro Sibéria, numa postagem que mostrava a dificuldade e os riscos que a população enfrentava ao utilizar um serviço desprovido de qualquer recurso relativo à segurança da navegação fluvial.

“Não tenho a intenção de ser Cassandra, a predizer desgraças, mas não existem coletes salva-vidas para a eventualidade de um naufrágio; e nessa época do ano não se podem negar os perigos do afamado rio Acre”, disse, à época.

No ano passado, o “eventual” naufrágio aconteceu e três vidas se perderam nas águas barrentas do rio. E para quem delira dizendo que os jovens de Santa Maria (RS) morreram por que estavam em uma boate e não numa igreja, as vítimas da tragédia de Xapuri acabavam de deixar um culto evangélico, em um templo onde congregavam.

Hoje, depois da desgraça acontecida e das vidas desperdiçadas, nenhuma catraia deixa o porto sem que todos os passageiros estejam com os coletes salva-vidas devidamente afivelados e sentados nos bancos e não nas bordas da canoa. E as embarcações que transportavam até 20 pessoas por viagem agora não permitem mais que 10 almas por travessia.

Com a tragédia da boate Kiss, o governador do Acre, Tião Viana (PT), determinou que a Secretaria de Turismo convoque reunião para a quarta-feira (30) com os donos de boates de Rio Branco. E ficamos a espera de que a medida se estenda aos municípios, onde a situação de boates, bares e afins são geralmente comprometedoras.

Em Xapuri, as casas noturnas não apenas apresentam problemas de insegurança, mas simplesmente não oferecem qualquer garantia de integridade física aos seus frequentadores em caso de acidentes. Aqui quase tudo o que existe é improvisado, construído em madeira ou dependurado no barranco do rio. Detalhar mais a situação seria preciosismo de minha parte.

Mas não é apenas em casas noturnas que o perigo reside. Na última festa de São Sebastião, o que mais podia se ver na região onde estavam montados o parque de diversões e a praça de alimentação eram ligações elétricas precárias e fios à altura da cabeça do público que ia e vinha.

Em 2010, fui ameaçado de ação na justiça pelo parque “Pequeno Príncipe” porque mostrei as condições em que se encontrava uma peça da roda gigante (veja aqui). E ainda houve conterrâneo meu que “botasse pilha” nos donos da geringonça para que me acionassem no JEC. E eles poderiam até ter feito isso, já que portavam laudos do Corpo de Bombeiros garantindo à parafernália as condições de segurança que habilitam o funcionamento.

Fatores aparentemente banais podem resultar em tragédias como a desse último e nefasto domingo no Rio grande do Sul, na qual mais de 230 vidas se perderam de forma trágica e lamentável. O que não faz sentido é o argumento da “fatalidade” como objetivo de isenção de culpa. Não, nada disso. Acidentes não acontecem, eles são provocados; e podem ser evitados se as leis forem obedecidas, o que não ocorreu em Santa Maria.

A grande verdade é que onde houver a possibilidade, por ínfima que seja, de perda de vidas humanas em caso de acidentes, devem haver medidas preventivas exacerbadas, permanentes e eficazes. E a responsabilidade por isso passa por todos nós: o Estado, como um todo, e a população em geral.

Reflitamos!

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