domingo, 27 de janeiro de 2013

Roupa suja!

*JOSÉ CLÁUDIO MOTA PORFIRO

A memória esguia busca refúgio numa frase judaica antiga segundo a qual um homem corrupto é um indivíduo fraco que perdeu as qualidades do homem equilibrado e justo.

Em qual das órbitas haveremos de estar ou permanecer, então? Essas galáxias tantas já não suportam o peso da alma brasileira arrogante e metida a burguesa. Estamos, certamente, buscando heróis que marcam gols de placa, como o Romário, nas páginas amarelas de certa revista. Mas por que palavras tão bem colocadas não saíram de um monge de nome Pedro Simon? Porque não teriam eco. Nenhuma reverberação haveria em meio à grande mídia, posto que ele é apenas um intelectual que se posta acima da altivez das palavras sempre pomposas e muito bem colocadas em frases de estilo elaborado.

Colocações tão contundentes não poderiam sair da têmpera de um ex-jogador de futebol sem berço e sem letra. Mas o Romário vai muito além com o dedo apontado em riste para as nossas coisas e para as cabeças de líderes espertalhões, notadamente, políticos com vínculos com o Estado do Rio de Janeiro.

Falo-vos de um herói de subúrbio formado nas favelas cariocas, versado em educação física e diplomado num curso de moda da Cidade Maravilhosa.

Nascido numa favela, o pai e a mãe trabalharam de sol a sol para poderem lhe oferecer além de comida. A ele foram dadas instrução, educação e consciência crítica. Não apenas jogou futebol. Frequentou ainda dois anos de um curso superior de educação física. E dois de moda. Sim, moda. É que ele sempre gostou muito de roupa boa, de se vestir bem. Queria entender como as roupas eram feitas. Mas isso é o de menos. O que importa é que esta vontade de conhecimento lhe deu preparo para ser uma pessoa consciente, forjada para a vida.

É conveniente observar a consistência do Romário, hoje Deputado Federal, em um discurso, em Brasília:

O Brasil só deixará de ser um país atrasado quando a educação for plenamente valorizada. O professor é uma das classes que menos ganha e é a mais importante. O Brasil cria gerações de pessoas ignorantes porque não valoriza a educação. As pessoas que comandam o País precisam passar a enxergar isso. A Saúde é importante? Lógico que é. Mas a Educação de um povo é muito mais.

Observemos, então. A ignorância, como consequência da desinformação, é amiga íntima da corrupção.

Por isto, esclareçamos o que aconteceu depois da realização dos Jogos Pan Americanos do Rio de Janeiro. Primeiro, gastaram quase quatro bilhões de reais.

Ademais, o próprio Romário deixa muito claro que teve de se livrar de um imbróglio que lhe traria prejuízos financeiros. Havendo comprado alguns apartamentos na Vila Pan Americana do Rio, como investimento, teve que se desfazer urgentemente dos mesmos porque todo o conjunto de edifícios está erguido por sobre um grande charco. Está afundando.

O velódromo, caríssimo, está abandonado. Assim como o complexo aquático Maria Lenk. É uma vergonha! Todos fingem não enxergar. Mas alguém ganhou muito dinheiro com o Pan Americano do Rio. E a ignorância da população é que deixa os corruptos tranquilos. Eles sabem que ninguém vai cobrar nada das autoridades.

Pior é que a população não sabe da força que tem. Por isso, Romário defende os professores, uma vez que o brasileiro, segundo o ex-jogador, não tem base cultural nem para entender o que acontece ao lado. E muito menos para perceber a força que tem.

Os mandatários não querem a população conscientizada? O Pan do Rio custou quatro vezes mais do que o do México, não deixou legado algum e ninguém abriu a boca para reclamar.

Por tudo isso, já dá para notar o tamanho da farra dos corruptos com a realização da Copa do Mundo. Dos quarenta e dois bilhões previstos, já temos chegado à casa dos 100 bilhões de reais. Pior é que as arenas que estão sendo construídas não terão uso constante e sequer haveria a necessidade de serem construídas. Na verdade, tem muita coisa errada, propositalmente, para favorecer poucas pessoas. Tão somente os construtores se beneficiarão com tantas arenas a serem utilizadas apenas para três jogos da Copa.

E então aparecem os dirigentes mancomunados com os empreiteiros. As promessas são muitas. Eles garantem, mas não há transparência nas contas públicas. Nunca. 

Estão empurrando buchas de tamanho descomunal na boca aberta do povo apalermado. O Engenhão, no Rio, foi construído com recursos públicos   - dos impostos pagos pelo povo, mesmo - e foi entregue ao Botafogo, um time sem arrimo e carregado de espertalhões que lucram com a paixão do torcedor. O mesmo acontecerá com o Itaquerão. Os custos iniciais seriam da ordem de um bilhão. Mas será entregue também a um clube particular, o Corinthians Paulista.

É imoral demais lançar mão dos recursos públicos - do povo, mesmo - para a construção de estádios particulares e não haveria como a população mais consciente aceitar. Mas aceita passivamente.

Por isto, é conveniente afirmar que ao populacho falta compreensão. Não frequentaram boas escolas. Não tiverem professores bem preparados e condignamente remunerados. Poucos, dentre os menos favorecidos, têm consciência dos absurdos cometidos no Brasil para que a Copa se efetive.

Ao triste zé-povinho, desinformado, caberá apenas a obrigação de contribuir para pagar a conta. É por isso que, segundo o Deputado Romário,

nós precisamos virar a cara para esses eventos literalmente sujos e mafiosos. Quem teve a ideia de promover o evento em nosso País, alguém sabe? O Brasil é uma farsa e, como sempre, irá jogar a sujeira toda para debaixo do tapete.

Então, fazendo uma reapreciação sobre a questão dos royalties, convém observar que os membros da república federativa de espertalhões, notadamente os ricos cariocas da Zona Sul, amigos do Cabral, do César e do Cavendish, que se autoproclamam produtores de petróleo, apesar de as jazidas estarem em alto mar, rirão à boca larga porque o seu patrimônio nas Ilhas Virgens, acondicionado e apertado em pequenas gavetas de bancos também ladrões, será aumentado substancialmente, significativamente. Depois da Copa do Mundo, eles não mais serão milionários, mas biliardários, como diria Ibrahim Sued, o porta voz morto das elites cariocas que jamais haverão de se misturar à ralé rude da periferia local ou nacional.

De minha parte, é uma grande lástima ter que ponderar sobre tanta iniquidade, tanta perfídia, tanta sacanagem contra o meu povo desprovido de informação e educação para a vida real, corriqueira, rude, difícil, dura, cheia de tantos vis enganadores e ladrões nada sutis.

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*Cronista: www.claudioxapuri.blog.uol.com.br. Diretor de RH/Ufac.

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