terça-feira, 23 de abril de 2013

Chovendo no molhado

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Os editores do blog Xapuri Amax, da Associação dos Militares e Amigos de Xapuri, continua a chover no campo molhado dos problemas da segurança pública no município.

Em postagem que divulga a prisão de um acusado de tentativa de homicídio, Sinei da Costa Raulino, de idade não informada pela polícia, deixam de lado o fato em si para “filosofar” sobre a comercialização de bebidas alcoólicas e sua relação com o crime.

Diz o Xapuri Amax sobre o episódio em que uma pessoa foi esfaqueada no bairro Sibéria:

“Mais uma vez, a bebida alcóolica foi o vetor da violência praticada nessa ocorrência, infelizmente. Mesmo que alguns não queiram ver, mas essa é a dura realidade de um munícipio em que a venda de bebida alcóolica é oferecida em larga escala e que, segundo os dados ou fatos, como queiram, não mentem, ou seja, contra fatos não há argumento”.

Como entre esses “alguns que não querem ver” certamente está este blogueiro, vou aceitar a provocação ao debate saudável e respeitoso. Jamais me neguei a aceitar que a bebida alcoólica seja um facilitador para ocorrência de violência, mas considerá-la “vetor” já me causa uma sensação de exagero. A própria definição do termo já torna, em minha leiga opinião, um tanto quanto inadequada a sua aplicação em um caso que relaciona hábitos e comportamentos humanos.

Consultando alguns dicionários, a definição mais simples que encontrei para a palavra vetor foi a que vem do grego vector, que significa o que transporta. Na matemática é uma grandeza física e na medicina é um ser vivo capaz de transmitir um agente infectante, de maneira ativa ou passiva. Seria a bebida alcoólica um “vetor” de práticas criminosas ou um agente facilitador, se combinado com uma série de fatores e circunstâncias?

Para se praticar um crime de violência não é necessário exclusivamente se embebedar ou se entupir de cocaína. É preciso, antes disso, possuir a predisposição para a violência, assim como a existência de fatores que facilitem a sua prática. Algumas circunstâncias também contribuem sobremaneira para que ocorrências motivadas por futilidades sejam registradas. A falta de policiamento preventivo e ostensivo é uma delas.

O bairro da Sibéria, localizado na outra margem do rio Acre, onde aconteceu esse e outros crimes com o uso de arma branca não possui policiamento regular. Qualquer chamada para o 190 é obrigada a esperar um tempo maior para o atendimento porque a travessia do rio é feita por balsa ou catraia. Essa é uma circunstância que favorece o mau hábito de se portar canivetes e facas tipo peixeira em locais de grande aglomeração.

A venda de bebidas alcoólicas em “larga escala” ocorre em qualquer lugar do Brasil. Eu, pelo menos, não tenho conhecimento de lugares onde a quantidade de cervejas ou de outras bebidas oferecidas a quem tenha dinheiro para pagar por elas seja controlada ou restrita. Até mesmo as leis criadas para proibir a venda de bebidas alcoólicas em rodovias brasileiras não têm pegado, uma vez que têm sido constantemente confrontadas por princípios constitucionais que, por sua vez, têm embasado liminares contra a restrição.

Cabe à sociedade como um todo discutir sobre as questões que afetam negativamente a vida em grupo. O papel primordial da Polícia Militar é policiar preventiva e ostensivamente. O da Polícia Civil é investigar. Compete à prefeitura verificar se os estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas fazem isso dentro dos ditames legais. Os que estão quites com as suas obrigações devem ser respeitados, os que não estão devem ser lacrados e fim de papo. Esses locais devem ser constantemente fiscalizados, assim como seus frequentadores devem passar pelo crivo do policiamento preventivo.

O que a Polícia Militar precisa fazer é entrar em bares e festas e fazer revistas rigorosas e constantes em busca de armas brancas e de fogo. Se flagrar indivíduos vendendo drogas, melhor ainda. Deve resolver de maneira enérgica qualquer foco de confusão, tumulto, desordem ou perturbação da ordem. Necessita abordar suspeitos nas ruas e mostrar que os olhos do Estado estão atentos a qualquer tentativa de ação criminosa e que o braço que empunha o cassetete está pronto para agir da maneira mais dura possível.

Concordo que para alguns fatos realmente não existam argumentos, para outros nem tanto. E se mesmo assim insistirem em não ser questionados, pior para eles.

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