domingo, 2 de junho de 2013

Ladrões do novo mundo

*JOSÉ CLÁUDIO MOTA PORFIRO

Essa de novo mundo é invenção do Cristóvão, aquele que substituiu a avestruz, pôs o ovo em pé  -  ele  -  e saiu correndo da sena feito louco varrido ainda com as calças na mão. Pirou! O ovo era grande demais e teria exigido muito trabalho para dar-se à luz de um dia cinzento de Espanha.

Muito mais lerdo que tranquilo. Isso é o que o Colombo era. Depois, muito mais por falta de iniciativa que por uma questão de não reconhecimento por parte dos monarcas espanhóis, o famigerado morreu solitário num convento católico em Valladolid, rodeado de monges rabugentos que queriam que logo o catre fosse desocupado por aquele estorvo que deu início à ruína completa de astecas, maias, toltecas e incas. Que tivesse morrido bem antes e teria poupado o mundo de tanta tragédia. Grande pústula!

Agora mesmo, olhando por um ângulo mais abrangente, vemos a velha Europa lá do outro lado do Atlântico. Pensemos, pois! Os europeus saquearam o mundo e hoje, talvez por castigo, passam pela vergonha que é terem roubado e não terem conseguido carregar o fruto do roubo. Se eles pudessem gatunar ainda mais, teriam anexado, sim, principalmente, as três américas à Europa, e teriam desconstruído a pangeia, o fenômeno legendário segundo o qual os continentes foram formados nas primeiras eras, ou na Era do gelo, como quer a 20º Century Fox Home Entertainment.

Então, para batizar essa joça de texto, em verdade vos digo que, segundo o Evangelho de Mateus (12, 39), é preciso logo compreender que, se o dono da casa soubesse a hora em que viria o ladrão, não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Ora pois, pois!

Aí, o Brasil já se deitara em berço esplêndido. Não sei com qual prostituta invasiva acompanhara-se. A velha pátria mãe tão distraída dormia a sono solto sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações, como trata o samba do Chico. A Amazônia, então, não estava entregue às moscas, mas aos ladrões do novíssimo mundo  -  o mundo de Henry Wickham  -  aquele salafrário inglês que roubou setenta mil sementes de seringueira e acabou com a hegemonia do Brasil na produção de borracha. Eis o maior e talvez o primeiro exemplo de biopitaria que viria para prejudicar exatamente o Acre, à época o grande produtor de látex em nível internacional. Mil demônios lusos com a cara do Cabral, ou do Vasco! Xô azar!

Embora não seja tão possível, a questão aqui tratada quer dizer respeito única e exclusivamente a Portugal, uma nação pequenina que roubou uma grande nação por trezentos ou mais anos. Ah, pilantras!

Vieram com os seus machados e foices. Destruíram toda uma floresta tropical imensa que ia do Pará ao Rio Grande do Sul. Além de outras espécies, a árvore símbolo da nação brasileira foi dizimada quase por completo e transformada em tinta para tecidos fabricados na Europa, ou em móveis decorativos para os ambientes frequentados pela alta burguesia de Portugal e países vizinhos. (Burgueses analfabetos e nada imbecis, é claro!) E as gerações de brasileiros foram se deixando roubar pelos séculos a fio.

Depois, foi a vez do roubo do ouro. As terras das minas gerais foram completamente devastadas pela ação destruidora dos portugueses que, além de levarem praticamente todo o minério brasileiro, ainda houveram por bem cometer o assassinato mais chocante da nossa história mais antiga. Os trastes, primos do Vasco e do Camões, cometeram a barbaridade que foi enforcarem e trucidarem o Joaquim José, um sujeito que apenas achava que os impostos pagos pelos mineiros eram muito altos. E, enquanto o trabalho nas minas também matava de inanição e de  cansaço negros e brancos tornados escravos, lá longe, lá nas cidades, vivendo do bom e do melhor, portugueses analfabetos gozavam as benesses de um sistema que os mantinha enquanto parasitas de um povo que por eles foi roubado por trezentos anos ou mais. Ah, ladrões!

(E pensar que, hoje, os brasileiros aguentam o triplo do imposto pago na época de Tiradentes, isto, em valores relativos, é claro!)

Com a cana de açúcar ocorreu algo idêntico. A diferença é que a sua exploração acontecia  -  como ainda acontece  -  basicamente, na região nordeste. Muitos foram os escravizados em um trabalho que tinha como óbice maior matar o trabalhador de fome para que ele não pedisse aumento de salário. Pior é considerar que os atuais usineiros nordestinos usam os mesmos métodos cruéis, agora, com o amparo de gente como o Renan Calheiros e a sua curriola de políticos de bundas magras e ambições maiores que as suas cabeças descomunais.

Alô, Mariete Costa, meu amor! É preciso considerar levas e levas de portugueses que vieram para o Brasil nas primeiras décadas do século vinte, como Adão, Antonino, Belchior, Manoel, Eurico, Tomás, João Fonseca, dentre muitos outros. Nesse meio, praticamente não havia enganadores. Eles chegaram aqui para trabalhar, com certeza, para ajudar a construir o grande Brasil que hoje conhecemos. Com alguns deles eu cheguei a conviver e afirmo-vos, de cátedra, que o seu espírito empreendedor ajudou muito os xapurienses, com empregos, e o Acre que, àquela época se ressentia da crise da produção da borracha que se alastrava de seringal a seringal.

Mas é preciso voltar um pouco no tempo e observar a fórmula mágica que os primeiros portugueses usaram para aqui chegar na época do infortúnio que foi o tal descobrimento do Brasil. Ô falta de sorte!

No século dezesseis, realmente, pouca sorte rondava as regiões mais ocidentais do mundo, as Américas. Em 1500, então, houve por bem acontecer o pior aos brasileiros da primeira época, os índios que eram donos da terra que hoje dizemos nossa.

Veja só a desgraça, dona Filomena Cruz!

Quando os navios ingleses partiram rumo ao novo mundo, o vento os empurrou direto à costa dos Estados Unidos, em linha reta. Não demoraram nada e já fundaram as treze colônias, com bancos, escolas e igrejas para todos, além de casas resistentes ao frio da América do Norte.

Em uma outra época, o vento não estava para nós, mais uma vez e, a partir do momento em que Cabral se pôs ao mar, o ar ficou parado e as calmarias fizeram com que os navios portugueses ficassem empacados no meio da viagem rumo às Índias. Quando cessou a calmaria, eles foram empurrados no rumo de cá, para o meu desespero, à época ainda um querubim de bunda gorda.

Se os ventos tivessem empurrado os ingleses no rumo de cá, nós hoje seríamos mais interessantes que Austrália e Nova Zelândia, posto que as nossas índias são incrivelmente mais belas que aquelas aborígenes manchadas de nódoa de jenipapo. Poupe-nos!

Não. Para o Brasil tinha que vir a escória da humanidade representada, logo depois, por assassinos que aqui chegavam para cumprir pena pelos crimes mais hediondos possíveis praticados em Portugal. Como prosperaríamos a partir de uma fórmula sacana como esta?

Bem. Os ingleses tinham tecnologia e chegaram onde bem entenderam. Já os portugueses, ao imitarem o Vasco da Gama, tornaram-se os primeiros vice-campeões ao descobrirem um Brasil cheio de riquezas, que depois se transformaram na miséria de um povo que hoje vive das migalhas que lhes são concedidas pelos neo ladrões mandatários do FMI e do Banco Mundial.

Em 1808, foi pior ainda. Preste bem atenção, dona Sandroca Rocha.

Numa dessas noites de alta orgia com os garotões franceses que lhe cheiravam e bafejavam o cangote, Napoleão Bonaparte, o imperador maricas da França, foi aconselhado pelos outros gays a empreender uma nova guerra, agora para anexar Portugal aos domínios franceses.

Na mesma noite, então, Dom João VI, o rei de Portugal, sonhou que algo de muito ruim aconteceria à terrinha pelas mãos de Napoleão. O português, comilão e fedorento, não contou conversa. Corria que o pé batia no traseiro gordo e findou chegando ao embarcadouro, de onde mandou avisar aos seus fidalgos vagabundos que estava de partida rumo ao Brasil, levando consigo comandita imensa e mais uma mãe doida, aquela vaca que mandou matar o Tiradentes. Quem gostaria de vir para o quinto dos infernos? Todos quiseram. Aqui haveria fartura e o Napoleão que triturasse o zé povim português mais pobre. Que eles se lascassem!

O rei medroso trouxe consigo uma malta de vagabundos... Eles sequer sabiam ler e, por conseguinte, nem para alfabetizadores das crianças brasileiras serviram. Eram chamados fidalgos. E foram estes tais que nos deixaram como herança uma corja de políticos malfeitores que ainda hoje atravancam o desenvolvimento nacional com a sua politicanalhice, estilo Fernando Collor.

É extremamente lúcido o Millôr Fernandes ao dizer a você, meu arrojado surripiador do erário, que tu deves roubar ainda hoje, porque amanhã poderá já ser ilegal... Mas calma. A Polícia pode ter grampeado até os teus tambores, a fumaça branca da capela sistina e o celular de última geração, aqueles que basta fazer deslizar o dedo, e pronto.

Tenho dito e escrito.

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*Cronista do novo mundo de Xapuri: www.claudioxapuri.blog.uol.com.br.

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