domingo, 30 de junho de 2013

O lado trágico da distância

CLÁUDIO MOTTA

São homens que vivem ao sabor das águas do grande Rio Amazonas. Cada qual carrega sobre si o peso da distância das famílias. Há mais tragédia que tango, não exatamente como no espetáculo. A viagem por esta vida é longa, se assim tu o mereces.

Entrego-me, então, a alguns minutos de melancolia. É que estive a conversar com Homero, o velho homem do mar. Ao lado deste estava Petrônio Rodrigues, uma espécie de subcomandante do navio. A tristeza se abateu sobre os dois. O primeiro tinha quatro filhas em Belém aos cuidados de uma senhora de nome Alice que tomara conta das meninas, uma vez que a mãe destas morrera. As moças o viam por, no máximo, quinze dias a cada três meses. A mais velha, de dezesseis anos, era estudante adiantada do Colégio de Nazareth. Outras duas também estudavam, mas a mais novinha, de sete anos apenas, sofrera por dois anos de uma febre que dá nas crianças que são afastadas dos entes queridos, principalmente, por motivo de morte da mãe numa idade  -  cinco anos  -  em que sequer o pai pode arranjar outra esposa porque seria pior para todos. Por isto, o Comandante não mais se casou e agora, segundo ele próprio, desistiu de vez porque as meninas não merecem golpe tão duro.

Petrônio passa por drama parecido, mas a esposa sobrevive a uma doença e agora vegeta sobre uma cama de hospital aos cuidados de duas filhas e dois filhos que se revezam na cabaceira da moribunda já há mais de um ano. São problemas do coração aliados a uma letargia crônica que a deixou meio doida sem saber ou querer sequer levantar-se.

Pior de todas, entretanto, é a tragédia do seringueiro Zé Raimundo e sua esposa Isabel que, depois de dez anos no Acre, onde já possuem alguns bens, voltaram ao Ceará à procura de um filho, Raimundo Nonato, de vinte e cinco anos. Dá pena o estado dos dois que souberam ter o filho morrido no campo de concentração de Senador Pompeu.

Segundo Zé Raimundo, um homem razoavelmente esclarecido, os currais do governo  -  como os confinamentos são chamados pelos retirantes  -  surgiram em 1915, instalados no bairro do Alagadiço, em Senador Pompeu. Mais tarde, na seca de 1925, os campos foram ressuscitados como política do governo federal.

Do ponto de vista oficial, esses campos de miséria aparecem como medida de assistência aos flagelados que não têm trabalho nas frentes de serviço. Mas a realidade é outra. Os famintos são atraídos com a promessa de comida, assistência médica e segurança. Lá não encontram a estrutura prometida e não podem sair, sendo mantidos presos. Tudo para evitar que Fortaleza seja invadida por essa gente fedorenta.

Alguns campos, projetados para receber duas mil pessoas, chegam a manter até dezoito mil flagelados de uma só vez. A fome e a insalubridade dos confinamentos levam a milhares de mortes. Os livros de óbitos das igrejas mostram que noventa por cento das mortes registradas acontecem nos campos de concentração. No curral de Ipu, a média é de sete a oito mortes por dia.

O Comandante Homero Melo é desses cearenses que têm conhecimento da dimensão da tragédia e passa a me contar detalhes como se estivesse à frente de um jornalista. Segundo ele, do alto de uma colina esturricada pela seca, no município de Senador Pompeu, sertão do Ceará, está escondido um pedaço da história do Brasil que poucos cearenses gostam de contar. Sentem vergonha.

Erguidos para abrigar operários e engenheiros ingleses que construiriam ali um açude de grande porte, os casarões tornaram-se palco de doença e morte. Durante a impiedosa seca que mais tarde assolou a região, a Vila dos Ingleses sediou um campo de concentração para confinamento de flagelados. O gueto era vigiado por soldados, como em uma guerra. O objetivo era isolar os retirantes e evitar a invasão das grandes cidades pela miséria e por epidemias.

Há alguns meses, visitou o local um enviado do Presidente do Brasil encarregado de recolher provas e testemunhos a respeito do miserê. Missão relativamente simples: a lembrança do cárcere permanece viva na memória dos muitos sobreviventes que lá ainda residem. Segundo eles, a comida era a cera que escorria das velas na esperança de não morrer de fome, pois a maior parte dos víveres ali chegados estava estragada e o pouco que chegava em condições de consumo era roubado pelos guardas.

Ainda segundo o velho homem do mar, a morte era rotina nos chamados currais da fome, criados pelo governo da República sob o disfarce de obra social para distribuir alimento. Ao todo, no ano passado, construíram-se sete quartéis no Ceará e no Piauí, para onde foram levados setenta mil flagelados. A Vila dos Ingleses, em Senador Pompeu, era o maior deles. Das dezessete mil pessoas que passaram por lá, pelo menos cinco mil morreram de fome e doenças. Sob o sol escaldante e sem nenhuma água, milhares de famintos com cabeça raspada, para evitar piolhos, eram obrigados a descarregar o alimento enviado de trem pelo governo. A maior parte chegava estragada e os melhores cortes de carne iam para a cozinha dos militares. Para os retirantes, sobravam somente o sangue, o coração e os bofes dos bois. A sopa era preparada com mato e goma (amido de mandioca). As crianças comiam rapadura e morriam de diarreia. O feijão era tão duro e ruim que ganhou o apelido de Zé Félix, nome do mais truculento guarda do campo de concentração, comenta o Comandante.

À noite, luzes de holofotes vigiavam as vias de acesso e o comportamento dos prisioneiros, amontoados em barracos feitos com gravetos secos e estopas cortadas dos sacos de comida. Alguns guardas deixavam namorar num quartinho escuro, o mesmo usado para açoitar os desobedientes.

- Meu avô era coveiro e guarda do cemitério – comenta o Comandante. - Os doentes não podiam sair do gueto. Rezas, choros e lamúrias cortavam a madrugada, denunciando o desespero dos famintos. Muitos morriam  -  cerca de 20 por dia  -  e os cadáveres eram enterrados às pressas em valas para evitar o ataque de cachorros e urubus.

Para se ter uma ideia do desprezível, a antiga casa de pólvora onde os ingleses guardavam os explosivos usados na construção da Barragem do Patu tornou-se uma espécie de antecâmara da morte, para onde iam os internos em estado de saúde precário. Segundo pessoas da cidade, não se sabe da notícia de alguém que tenha saído dali com vida.

De acordo com as anotações depois tomadas do seringueiro Zé Raimundo, a barragem com a qual seria criado o grande açude para a distribuição de água teve as obras interrompidas por falta de dinheiro.  Hoje, as pragas e as secas estão destruindo tudo em Senador Pompeu, grande produtor de algodão de tempos anteriores.

- Mas a seca atual é pior que a dos primeiros tempos do campo de concentração porque os castigos do céu jogam fora todos os sonhos de um Ceará abundante que nós dificilmente veremos. Por isso, volto pro Acre onde já tenho uma padaria e um pequeno sítio com plantação e algum criame, graças a Deus! – Diz o seringueiro em lágrimas. 

A tristeza é um livro sábio que se tem no coração e que nos diz centenas de coisas. Impede-nos de apodrecer como um cogumelo debaixo de uma árvore. Pouco a pouco vai fabricando uma provisão de ensinamentos para a vida. Todavia, segundo observo pelo exemplo de Senador Pompeu, a humanidade segue se arrastando como a serpente apocalíptica pelos caminhos tortuosos da caatinga, instilando muito veneno aqui e pouco mel acolá...

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José Cláudio Mota Porfiro é cronista xapuriense.

sábado, 29 de junho de 2013

Extrativismo

Cooperativas da Região Norte conquistam clientes em Feira Internacional

Artesanato de babaçu, de látex com fibras vegetais e castanha do Brasil representam um pedaço da Região Norte encontrado na Natural Tech 2013 – 9ª Feira Internacional de Alimentação Saudável, Produtos Naturais e Saúde. Três cooperativas estão no espaço do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), na Feira, mostrando o trabalho de agricultores familiares que geram renda e melhoram as condições de vida de modo sustentável na Região.

A Cooperativa de Artesanato de Babaçu do Bico do Papagaio (Coopbabaçu) faz bolsas, colares, brincos, chaveiros, jogos americanos, cestas, porta-panela, porta-copo e porta-caneta. Tudo é aproveitado da palha e do coco da palmeira babaçu – árvore típica do Tocantins. O grupo tem 90 artesãos de empreendimentos coletivos de Aguiarnópolis, Tocantinópolis, Nazaré, Luzinópolis, São Bento e Araguantins, na região do Bico do Papagaio.

A artesã Maria de Fátima Teles Silva, de Aguiarnópolis (TO), representa a cooperativa na Feira e diz que a parceria entre MDA, por meio do Talentos do Brasil Moda, e Sebrae-TO é importante para dar impulso à comercialização e conquistar novos clientes. “As pessoas estão se encantando, achando bonito. A Feira torna viável ter um espaço para facilitar o acesso entre as artesãs e os lojistas e o público em geral”, acrescenta Maria.

A cooperativa integra o Projeto Talentos do Brasil Moda, iniciativa do Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceira com o SEBRAE- Tocantins, a cooperação técnica da Agência Alemã de Cooperação Internacional - GIZ, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção – ABIT e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – Apex-Brasil.

O que está despertando interesse também em São Paulo é o que traz a Organização Social de Interesse Público (OSIP) Polo de Proteção da Biodiversidade (Poloprobio) que trabalha com encauchados de vegetais da Amazônia – produtos feitos de látex com fibras de vegetais e resíduos de madeira. Os visitantes da Feira vão poder conhecer e comprar porta-lápis, porta-moeda, chaveiro, porta-copo e jogos americanos em fomato de folhas de árvores nativas da Amazônia. A Organização faz cursos em comunidades e cooperativas para multiplicar o trabalho com indígenas, quilombolas, ribeirinhos, reservas extrativistas e assentados da Reforma Agrária no Acre, Pará, Amazônia e Rondônia.

A presidente e coordenadora pedagógica do Poloprobio, Maria Zélia Machado Damasceno, de Castanhal (PA), destaca que é preciso estimular as comunidades a fazerem o artesanato e ter a oportunidade que o governo federal oferece para mostrar o trabalho. “Essa união aumenta a auto-estima de todos os envolvidos”. Também do Norte, a Cooperativa Central de Extrativismo do Estado do Acre (Cooperacre) está presente na Natural Tech com a castanha do Brasil em embalagens de 250g e 500g. São mais de dois mil agricultores familiares associados que vivem para produzir e vender a castanha.

Assessoria do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Tião entrega ruas no bairro Sibéria

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O bairro Sibéria, historicamente um dos lugares mais pobres e esquecidos de Xapuri, passou por uma grande transformação com as obras do programa Ruas do Povo. A pequena povoação localizada na margem oposta do Rio Acre tinha, até pouco tempo, meia dúzia de ruas mal abertas onde predominava a poeira no verão e a lama no inverno. A situação melhorou quando a prefeitura conseguiu asfaltar um quilômetro de vias públicas no ano passado. Nesta sexta-feira, 28, o governador Tião Viana entregou àquela população mais onze ruas pavimentadas e com ligação de água. Isso significa que praticamente todas as ruas do bairro Sibéria estão cobertas por asfalto. Na imagem acima, de Sérgio Vale, Tião caminha pelas novas ruas ao lado do atual e do ex-prefeito de Xapuri, Marcinho Miranda e Bira Vasconcelos, respectivamente. Clique aqui para ler mais.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Seu Carlito e dona Maria

Vicente, de 73 anos, participa das celebrações desde a infância

O ex-seringueiro Vicente Lima dos Santos, de 73 anos, não é conhecido em Xapuri por seu nome de batismo. No bairro Sibéria, onde reside desde que veio do seringal, ele é simplesmente o seu Carlito, dono de uma pequena mercearia e uma das figuras mais respeitadas e tradicionais da comunidade da margem esquerda do Rio Acre. Com dona Maria, a companheira de toda a vida, concebeu e criou mais de uma dezena de filhos. A foto acima foi feita pela equipe da Biblioteca da Floresta, na última romaria a São João do Guarani, festa religiosa que se realiza há mais de 100 anos. Carlito e a esposa são devotos do seringueiro que se tornou uma das almas milagrosas mais conhecidas do Acre. A reportagem está na Agência de Notícias do Acre.

terça-feira, 25 de junho de 2013

O protagonismo das manifestações está no social, e não no Facebook

Por Marcos Hiller

Ao pensarmos sobre o que está acontecendo hoje no Brasil, devemos ter um cuidado extremo para não cairmos em análises simplistas das manifestações e de todas essas movimentações sociais que assistimos diante de nossas janelas, televisores e telas de smartphones. Muitas das coisas que ando lendo colocam, por exemplo, o Facebook como um fator fundamental e protagonista do que estamos presenciando. Eu não parto dessa lógica. Colocar o Facebook como ferramenta principal de tudo isso que é, para mim, um argumento míope, raso e inconsistente.

O próprio uso do termo revolução, que aparece em textos, comentários e opiniões nas mídias e sobretudo nas nossas timelines, deve ser repensado. Será que estamos diante de uma revolução? Acho que não e ainda é muito cedo para concluir isso. Compreender essas interações mediadas pelas tecnologias digitais tem sido para mim uma questão central para a reflexão da sociedade contemporânea na medida em que se evidenciam transformações de ordem social, cultural, política e econômica.

Olhando no retrovisor da história, tivemos sim uma revolução da escrita no Oriente Médio no século V, ou então a revolução da imprensa de Johannes Gutemberg no século XV e até mesmo a tão estudada Revolução Industrial no século retrasado. Revolução significa ruptura. Significa que antes era de uma forma e depois ficou de outra. Na própria Revolução Industrial, coloca-se equivocadamente a máquina como o protagonista do acontecimento. O protagonismo está na apropriação social das pessoas sobre o surgimento da máquina, e não na máquina. É o mesmo que colocar, equivocadamente, o microblog Twitter como protagonista do que vimos acontecer na chamada Primavera Árabe. A queda de governos no Oriente Médio foi causada pelas pessoas e pela apropriação social das pessoas sobre essas redes sociais digitais. Sempre no social.

Vive-se hoje uma nova revolução? Uma revolução, ainda em curso, implementada pelas tecnologias digitais e ocasionando importantes transformações no interior dos distintos aspectos da sociedade? Há quem acredite que sim, que há uma revolução. Eu não partilho dessa opinião. Podemos ver contundentes transformações em todos os campos sociais, econômicos, políticos e culturais. Diferentemente de outras manifestações similares no Brasil e no mundo, dessa vez, vemos produtos culturais sendo apropriados pelas pessoas (sempre pelas pessoas) como, por exemplo, a música da banda O Rappa (“Vem pra rua”), utilizada em um filme publicitário da montadora FIAT e com o mote da Copa do Mundo, mas que já virou uma espécie de hino desses levantes. Ou então a máscara branca do grupo “Anonymous”, sendo utilizada como símbolo central e mascarando e ocultando rostos de muitas pessoas. Sem falar dos cartazes com frases de protesto e dizeres bem humorados.

Neste texto, eu coloco a minha reflexão sobre o que estamos vendo, e opto pela não-adoção do termo revolução para classificar essas transformações que evidenciamos. Os argumentos de algumas pessoas carregam um tom radicalmente revolucionário, fazendo crer que tudo aquilo que antes era passado, passa a ser agora de forma diferente, antagonizando e contradizendo o que passou. Se não existisse Facebook, estaria acontecendo toda essa mobilização social nas ruas? Certamente sim. Não é uma página de web, na verdade uma grande mídia originada em um dormitório de Harvard, que deve ser colocada no centro dessas transformações sociais, políticas e econômicas que podem estar por vir. Tudo bem que o Facebook e outras plataformas podem é contribuir de forma interessante no sentido de articular encontros e mobilizar pessoas. Mas os atores principais dessa história toda são e sempre serão as pessoas, o povo, o social. Oras, nem metade do Brasil possui acesso à Internet e cerca de um terço do país acessa o Facebook, sendo que desses, cerca de 30 milhões acessam o site de Mark Zuckerberg na palma na mão. O fato é que ainda é muito cedo para prever no que resultará toda essa mobilização. O preço das passagens já voltaram ao valor anterior. Mas o que realmente está por vir, eu não me arrisco a prever.

Marcos Hiller é coordenador do MBA Marketing, Consumo e Mídia Online da Trevisan Escola de Negócios.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Uma juventude sem liderança

Por Ana Luiza Couto

A Constituição da República Brasileira é clara e estabelece em seu artigo 5º, inciso XVI, o direito fundamental de reunião. Fato esse que torna legal e plausível qualquer tipo de manifestação pacífica em qualquer parte do território brasileiro, independente da pauta ou do momento político, econômico e social que o país está enfrentando. Pela amplitude e grandeza dos fatos, as manifestações que vem acontecendo em todo o Brasil, na última semana, já podem ser consideradas um marco na história do país.

O que vimos é que as correntes manifestações realizadas, que tiveram início com o Movimento Passe Livre (MPL) e que tinha como objetivo principal a redução das tarifas nos transportes urbanos, deflagrou uma onda de protesto por todo Brasil, que se estendeu por diversas capitais e atingiu até mesmo a sede do governo federal, no Distrito Federal. Apesar de obter êxito com a redução das tarifas em algumas cidades, que era o objetivo primário do movimento, os atos revelaram para toda sociedade uma série de questões subjacentes que precisam ser levadas em consideração pelos nossos governantes. Podemos elencar, entre elas, o repúdio às instituições democráticas e a intolerância com o sistema de representação partidária, o que podem ser consideradas as reivindicações mais importantes de todo esse processo. Além disso, entrou na pauta de discussão ainda a questão da exigência de investimentos focalizados nas áreas de saúde, educação, segurança, transporte, entre outros.

Outro fato que nos chama a atenção, principalmente de quem acompanhou de perto os movimentos, é a ausência de bandeiras claramente definidas e  identificação partidária durante as manifestações. Essa falta de convergência ideológica amplifica interesses diversos e conflitantes dos atores políticos envolvidos  tornando ainda mais difícil o processamento das demandas oriundas das ruas.

Vivemos em um Estado Democrático de Direito onde temos que ouvir a voz do povo. Mas a grande lição que tiramos de toda essa história está relacionada a uma crescente postura conservadora da juventude na medida que a ordem começa a restringir os atos. Tudo isso nos remete, imediatamente, a um passado de repressão tradicional. Fica, neste caso, um alerta para toda sociedade.

Ana Luiza Couto é professora de Direito Constitucional da Faculdade Mackenzie Rio.

sábado, 22 de junho de 2013

O anoitecer dos velhos ladrões

CLÁUDIO MOTTA*

A sua mãe um dia lhe disse que mentir para os outros é muito ruim, mas você não ouviu direito. Nem ligou. Rodopiou sobre o salto quinze. Sorriu como uma hiena. Olhou de lado feito um javali mostrando os dentes sem nenhum medo. Chutou o pau da barraca. Deu de ombros como uma mariquinha descalça com os nervos à flor da pele de bumbum de bebê. Nem aí. Dane-se o mundo que eu não me chamo Edmundo.

Então! Parece ilusão. Mas não é. É burrice mesmo, da grossa. E assim, para que estes escritos sigam para muito além do purgatório, em verdade vos digo que, segundo Maomé, 364, nos Textos islâmicos, os homens apreciarão as mentiras até o fim do mundo e relatarão anedotas como nunca ouvistes vós e vossos pais.

Na Bíblia Sagrada, para ser politicamente correto, está escrito que cada qual mente ao seu próximo falando com lábios fluentes e duplo coração.(Salmos 12,3)

Ora! Se eu quero roubar a tua alma ou o teu coração, ou se pretendo tomar posse do bem material que é teu, o meu ardil virá enfeitado por uma ou mais mentiras muito bem urdidas exatamente pelo ladrão que te pretende enganar. Ora, para te fazer o bem, dificilmente eu usaria a mentira. Nunca!

Pois bem. Ao contrário da afirmação do parágrafo lá de cima, quando se disse que mentir para os outros é feio, mentir para si próprio é adultério contra a própria alma que, no vai e vem da eternidade, está sempre a esconder-se das labaredas da casa do demônio, tal qual o Dante de Alighieri pregava no seu inferno, em A Divina Comédia.

Como sobreviveram e prosperaram os enganadores e ladrões maiores que a Humanidade conheceu desde tempos imemoriais, como espanhóis, franceses e italianos? Alguém os financiou, mas já não os financia. Os saques, a pirataria e as invasões às terras estrangeiras eram feitos por obra e graça de financiamentos milionários vindos dos monarcas patrões desses delinquentes históricos, juntos com os judeus neo-ortodoxos, ambos, mancomunados com a Santa Madre Igreja que àquela época  -  na Idade Média, e até depois  -  via-se envenenada por uma malta de padres assassinos, como os templários e os antigos jesuítas.

Sim, os jesuítas que vieram para o Brasil não eram tão somente pregadores da boa nova do reino de Deus... Não, senhoras! Eles vieram para cá com o objetivo de iludir os índios para que estes trabalhassem como escravos para o enriquecimento de Portugal e da antiga Igreja Católica. Segundo eles, depois de mortos de fome e inanição os nossos silvícolas habitariam o reino dos céus. Uma ova!

Eu próprio, em mil seiscentos e oitenta e poucos, na época em que ainda era um querubim de bunda gorda, conheci um sujeito de batina apelidadoFrei Antonil... Este, sim, um grande pilantra, mandatário da Companhia de Jesus, uma espécie de administrador dos interesses da ordem e da Coroa portuguesa nos tempos do Brasil Colônia. E como esse camarada roubou! Pense num ladrão danado de metido a santo! Ele carregava no peito uma cruz de um palmo, em madeira escura, com o Cristo crucificado. Ah, ordinário!

Esse Antonil, ao chegar à Bahia, tornou-se logo o inimigo número um de Antônio Vieira, o célebre pregador de boa alma e autor do fantástico Sermão da Sexagenária.

Vieira discordava completamente dos métodos escravagistas do Antonil com relação aos índios brasileiros. Àquela época, o padre ladrão dizia aos quatro ventos que a consciência moral (católica) já estava inteiramente dobrada às razões do mercantilismo colonial. Por que a Igreja não podia escravizar os índios se todos os fazendeiros já o faziam?

Colocações como esta, inscrita no livro Cultura e opulência no Brasil, mais tarde, fizeram as delícias de Karl Marx. Eu, de minha parte, associei tudo isto diretamente às relações entre seringueiros e seringalistas amazônicos do século passado.

Vamos dar um salto de quatro séculos. Já sou um humano comedor de tripa, bucho e mocotó. Virei macho, maxixe, maduro e doce. Se me lembro hoje nunca fui nenhum anjo ontem, até porque esta é uma época em que os espadachins devem exercer o seu papel de reprodutores com extrema competência, sob pena de serem acusados de atentado violento ao pudor e ao poder  -  gaypower  -  da rapaziada do chiclete e da alegria.

Quando o Joe Jackson escreveu A guerra do fim do mundo, a pata do boi já machucara, e muito, as últimas raízes de seringueira. Os homens da floresta, inclusive os índios, já se alojavam em barracos fétidos na periferia das cidades maiores do Acre. Chico Mendes, o ecologista, já se fora a passear em outros mundos em busca de mais e mais emoções.

O roubo praticado pelos ingleses, segundo o Joe, veio para matar a sede de riqueza dos seringalistas acreanos  -  muito em especial  -  que escravizavam os seringueiros no meio da floresta à cata de látex.

A grande senhora dos mares era a Inglaterra. Era esta nação que dava as cartas e manobrava como queria o comércio internacional. Todavia, os magnatas ingleses não tinham nenhum controle sobre a borracha, que era exclusividade da floresta amazônica.

Conforme o escritor americano Joe Jackson, acima descrito, para o Brasil do início do século vinte, a borracha era o que hoje é o petróleo para a Arábia Saudita. Uma riqueza estupenda.

A Inglaterra colocou em prática, então, o primeiro e mais marcante plano de biopirataria registrado nos anais da roubalheira mundial, quando contratou a peso de ouro um bioladrão chamado Henry Wickham que, de posse de um navio de grande calado, entrou de madrugada pelo Rio Amazonas adentro, enganou índios e seringueiros e os fez embarcar setenta mil sementes de seringueira que foram plantadas no Jardim Botânico de Londres. Daí as mudas foram para se tornar, depois, árvores adultas no Ceilão, Malásia, Cingapura e países vizinhos que, dominados pelos ingleses, passaram a ser os grandes produtores atuais da borracha com que são fabricados os pneus para os bilhões de carros que circulam pelo mundo inteiro.

E mais uma vez me vem a mente o Chico Buarque. Enquanto isto, dormia a velha pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações...

Então, voltando para o imponderável século dezesseis, é preciso observar que os ladrões dos tempos gatunos  -  esses que dizimaram incas, maias, astecas e toltecas  -  foram importados diretamente de Espanha, pagos a bom dinheiro por dois monarcas altamente sacanas, o Fernando e a Isabel. O dinheiro ganho nos saques e nas invasões era dividido entre o rei, a rainha e a bandidagem extremamente habilitada para tal em treinos e matanças nas ruelas e becos escusos de Madrid, Barcelona, Pamplona, Alicante, Bilbao, dentre outras.

Em aqui chegando, os assassinos espanhóis passaram a exercitar o seu esporte predileto: matar índios americanos do sul e do centro e roubar-lhes riquezas geradas a partir da prata e do ouro produzidos em quantidades suficientes para arregalar a butuca dos ladrões mais audazes de que a Humanidade tem notícia, o rei Fernando de Aragão, o ganancioso, e a rainha Isabel de Castela, a aloprada.

Os piratas e congêneres eram os ratos do mar. Ficavam por até seis meses à deriva, comendo peixe e bebendo água de chuva. Morriam de beribéri. Corpos pútridos eram atirados diariamente às águas. Até que um dia, avistavam uma ponta de pedra. Ali haveria o que roubar. Eles lá iam, matavam as pessoas e delas tomavam tudo o que havia de valor.

E hoje? O que é feito dos espanhóis? Onde estão os herdeiros dos velhos corsários, piratas e bucaneiros de Itália, de Espanha, de França, de Inglaterra? Em quais dos infernos se escondem esses salteadores? Eles não mais roubam tanto porque já quase não têm a quem roubar. Os judeus são muito espertos. Os americanos do norte ensinam padre nosso a vigário. Os americanos do sul são muito pobres, e assim por diante. Em verdade, os europeus gatunaram meio mundo e agora são vítimas dos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade que eles próprios criaram. É deveras engraçada a história. Talvez eles estejam mais pobres que nós cá do terceiro mundo.          

Veja bem, dona principesca. Trago comigo interpretações da história bem ao meu modo, em que sejam consideradas as possibilidades de um engano ali e dois acolá. Todavia, uma falha dessas seria desculpável, pois, como escrevi dia desses, não mais sou um cientista. Habito já os campos etéreos da literatura. Exerço a tal licenciosidade poética. Por aí tem dito de mim ser apenas um cronista de meia tigela. Nem pronto, nem acabado, mas ao ponto.

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*José Cláudio Mota Porfiro é cronista: claudioxapuri.blog.uol.com.br.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Xapuri terá protesto na 2ª

Está marcado para a segunda-feira, 24, o 1º Movimento Pacífico #Acordaxapuri. O ato será realizado na praça Barão do Rio Branco, em frente à igreja de São Sebastião, às 19 horas. Internautas estão se mobilizando e divulgando o protesto através do Facebook. Confira abaixo o que eles estão dizendo:

Maysa Moreira

"' O dia do Movimento foi marcado ".....#AcordaXapuri!
Vamos comparecer em galera será na próxima terça feira dia 24/06/2013
as 19:00 , local da concentração praça da igreja Católica.....Comecem a Organizar cartazes .""Lembre-se que essa manifestação não é partidária é um ato de Democracia de reivindicar nossos direitos não importa se o partido é A ou B !
#vemprarua....que a rua é a #maiorarquibancadadexapuri!

Michele Rocha

Confirmando o movimento foi marcado para segunda-feira dia 24/06/2013. Vamos lá pesssoal #AcordaXapuri

Lindiana Monteiro

Xapuri deixou de ser a princezinha do acre para se tornar a Bela adormecida... Vamos acorda-lá com um grito bem alto dizendo: Ruas de qualidade, iluminação publica, bom atendimento nos posto de saúde,Lazer, cultura.Movimento:#Acordaxapuri Dia 24 de junho juventudo fazendo história.

Diego Ferraz

~>Xapuri deixou de ser a princezinha do Acre para se tornar a Bela adormecida... Vamos acorda-lá com um grito bem alto dizendo: Ruas de qualidade, iluminação publica, bom atendimento nos posto de saúde,Lazer, cultura.Movimento:#Acordaxapuri Dia 24 de junho juventude fazendo história.
Horário:19h
Local da concentração: Praça da Igreja Católica
Levem seus cartazes, tinta e faixas... Vamos mostrar a nossa força!!! Professores, profissionais de saúde, estudantes, população toda convidada!!!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Não Estamos Entendendo Nada: Este é o Problema!

Por Alcides Leite*

A maioria das autoridades ficou perplexa com as últimas manifestações populares nas principais cidades brasileiras. Elas têm demonstrado que não estão entendendo nada. Para mim, as manifestações estão ocorrendo justamente por isso.

Basta dar uma rápida olhada no noticiário do dia para compreender a insatisfação da população um pouco mais instruída. Escolhi a esmo quatro notícias (dia 19/6):

- STF reduz seu expediente nos jogos do Brasil na Copa das Confederações. Supremo e outras cortes irão atuar das 8 às 15 hs. (Folha de São Paulo)

- A repórter Fernanda Odilla revelou que o Itamaraty achou pequena a suíte de 81 m2 do Hotel Berverly Hills em Durban, na África do Sul, e hospedou a doutora Dilma no Hilton. (Folha de São Paulo)

- Toffoli diz que vai julgar, no TSE, contas do PT. (O Globo)

- Quanto custam as frequentes viagens de Dilma a São Paulo atrás de orientação de Lula? (Blog do Noblat)

Notícias diárias como essas, ano após ano, são suficientes para estourar a paciência de qualquer um.

A impressão dos governantes é de que, com Bolsa-Família calando os pobres, Bolsa-BNDES calando os grandes empresários, Bolsa-Dólar/Miami calando a classe média-alta, Bolsa Fundo de Pensões/Imposto Sindical calando os líderes sindicais, Bolsa-Ministério calando o PMDB e os demais partidos de aluguel, Bolsa-Copa das Confederações/Copa do Mundo/Olimpíadas calando a opinião pública externa, a bolsa propaganda pública calando a pequena imprensa, seria suficiente para seguir em frente indefinidamente. Mas quem paga tudo isto?

Todos pagam, mas quem mais sente é a classe média, que arca altos impostos e não usufrui de nada. Paga escola particular para os filhos porque a escola pública é de má qualidade; paga condomínio para a segurança do prédio onde mora porque a polícia não garante a segurança pública; paga plano de saúde porque o sistema de saúde pública não funciona; paga IPVA, mas as ruas estão esburacadas; paga IPTU, mas as praças estão abandonadas; paga flanelinha para estacionar o carro na rua; paga vendedor de rua quando para no farol; enfim, não consegue dar um passo sem ter que pagar por alguma coisa.

O cidadão de classe média não tem o mínimo de paz: o trânsito é um inferno, a cidade está suja, inunda na época de chuva, super poluída na época das secas, arrastões nos restaurantes, menor de idade assalta, mata, queima e não acontece nada com ele. Além disso, o julgamento do mensalão não acaba nunca, ninguém está preso. Maluf é procurado pela Interpol, mas todo mundo sabe onde mora e até tira foto com ele no jardim de sua casa.

O grande perigo é que as autoridades políticas continuem não entendendo o porquê dos protestos e que os que protestam continuem não entendendo que a política é o único caminho possível para avançar. Sem isso, de nada servirão os protestos, e poderão ser inclusive, contraproducentes.

* Alcides Leite é professor de economia da Trevisan Escola de Negócios

II Conferência Municipal de Cultura

“Dizer aqui o que queremos, colocar nossas propostas é política cultural”, seu Tico (Foto: Assessoria FEM).

“Dizer aqui o que queremos, colocar nossas propostas é política cultural”, seu Tico (Foto: Assessoria FEM)

Rose Farias

Como etapa integrante da III Conferência Estadual de Cultura, e da terceira no âmbito nacional, foi realizada nessa semana, a II Conferência Municipal de Cultura, em Xapuri. Representantes de diversos segmentos artísticos-culturais, fazedores e gestores de cultura se fizeram presentes. Artistas locais abriram com a apresentação de clássicos da música popular brasileira, e a banda dona Júlia Gonçalves Passarinho, entoou o Hino Nacional brasileiro.

A solenidade contou com a participação do prefeito Márcio Pereira Miranda, da presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour, Francis Mary Alves de Lima, da secretária Municipal de Cultura, Elisangela Horácio Menezes, do diretor de políticas culturais  da FEM, Assis Pereira, do representante do Conselho Estadual de Cultura, professor Júnior Uchoa, do presidente do Conselho Municipal de Cultura, Judson Vladesco. Várias autoridades do município estiveram presentes.

"A cultura deve ser tratada de forma especial pelos governos. Aqui em nosso município temos várias manifestações que precisam ser revitalizadas. Precisamos sempre acender aquela chama e perceber o que a comunidade quer", disse o prefeito Márcio Miranda.

"As conferências que culminarão na Conferência Estadual e na  Nacional de Cultura, não se resumem somente à eleição dos delegados que representarão os municípios, elas vêm acompanhadas de conteúdo, do conceito mais amplo de cultura, não só das manifestações artísticas da dança, da música, do teatro, mas também dos costumes, da culinária, das tradições, das festas populares. Vocês de Xapuri, lugar que tenho um apreço profundo estão de parabéns", comenta Francis Mary.

A secretária de cultura, Rosangela Horácio, falou das perspectivas com a criação da recente secretaria, da importância das parcerias para a implementação do plano municipal de cultura, além dos programas e ações.

"Juntamente com o Conselho Municipal de Cultura já traçamos metas e ações que contemplam as diversas linguagens artístico-culturais, e que fazem parte do plano municipal de cultura. Todo esse trabalho só é possivel com parceiros, temos recebido um apoio maravilhoso de outras secretarias municipais ", disse.

Participação efetiva dos fazedores de cultura - A mobilização no munícipio garantiu a participação efetiva de representantes dos segmentos culturais, fazedores de cultura, o que promoveu o debate entre artistas, produtores, conselheiros, gestores, consumidores e demais protagonistas da cultura.  Com o tema "Uma política de Estado para a Cultura: desafios dos sistemas de cultura", eles se debruçaram sobre os eixos-temáticos: Implementação do Sistema Nacional de Cultura; Produção Simbólica e Diversidade Cultural; Cidadania e Direitos Culturais, e Cultura e Desenvolvimento.

Ele se diz um narrador da floresta. O produtor rural e ex-seringueiro, o escritor Seu Tico, 81 anos, fez questão de participar da conferência.

"Tenho dois livros já editados: 'Despedida da Floresta' e 'Contos da Floresta'. Dizer aqui o que queremos, colocar nossas propostas é política cultural. Estou aqui pra isso".

Foram eleitos os delegados que irão representar o município na Conferência Estadual.  O foco principal foi a  implantação das estruturas que integram o Sistema Nacional de Cultura (SNC). As conferências vêm se constituindo como importante mecanismo de participação direta  da sociedade civil nas decisões referentes às políticas públicas de cultura.

O calendário das conferências municipais se estende até o final de julho, e culminará com a Conferência Estadual de Cultura, em setembro deste ano.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Antônio Pedro Mendonça

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Nascido no seringal São Miguel, colocação São Francisco, no ano de 1955, Antônio Pedro Mendonça é hoje um dos empresários de maior sucesso em Xapuri. Uma demissão por questões políticas, ocorrida na década de 1980, foi a responsável pela grande virada em sua vida. Com o dinheiro da indenização, o ex-funcionário público montou uma banquinha de confecções, depois um bar e, por fim, uma loja de eletrodomésticos que resultou no empreendimento que leva hoje a marca ArtMóveis, nos ramos de móveis, eletroeletrônicos e material de construção. O jornal O Alto Acre dedicou, há algumas semanas, reportagem especial sobre a história de Antônio Pedro, que preside, atualmente, a Associação Comercial do município. É só clicar no link para conferir.

domingo, 16 de junho de 2013

Paisagem da janela

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“Da janela lateral do quarto de dormir
Vejo uma igreja, um sinal de glória
Vejo um muro branco e um vôo pássaro
Vejo uma grade, um velho sinal…”.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Talento xapuriense

Rosinha Evangelista

Nos orgulha ver pessoas deixarem Xapuri para se realizar profissionalmente lá fora sem esquecer, é claro, das raízes acreanas. Rosinha Evangelista é assim.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Seringal Cachoeira se despede de Cecília Mendes

Cecília era considerada a matriarca não apenas da família, mas de toda a comunidade do seringal, que, diariamente, lhe pedia bênçãos e conselhos em sua casa (Foto: Arquivo)

Assessoria Biblioteca da Floresta

Cecília era considerada a matriarca não apenas da família, mas de toda a comunidade do seringal, que, diariamente, lhe pedia bênçãos e conselhos em sua casa (Foto: Arquivo)

A comunidade do seringal Cachoeira, situado na zona rural de Xapuri, a 200 quilômetros de Rio Branco, perdeu, na última quarta-feira, 12, um dos ícones mais importantes da luta socioambiental acreana das décadas de 70 e 80. Dona Cecília Mendes, que tinha 87 anos de idade, estava internada na UTI do hospital Santa Juliana após um acidente vascular cerebral.

Tia de Chico Mendes (ela era viúva do também falecido Joaquim Mendes, irmão do pai do seringueiro), Cecília era considerada a matriarca não apenas da família, mas de toda a comunidade do seringal, que, diariamente, lhe pedia bênçãos e conselhos em sua casa.

Seu corpo foi velado na igreja Assembleia de Deus de Xapuri e enterrado no cemitério São José, ao lado do corpo da filha, Marilza Mendes. No local também está sepultado o corpo de Chico, morto há 25 anos por defender a floresta e seus moradores índios e extrativistas.

Mais de 200 pessoas acompanharam o funeral, entre elas familiares e amigos, a maioria vinda às pressas das colocações dos seringais Cachoeira e Equador. A grande comoção por parte dos presentes deu a dimensão do quanto dona Cecília era querida pela sua comunidade.

Ela era mãe de 15 filhos, entre eles Nilson Mendes, sábio da floresta e guia turístico da pousada ecológica do seringal. “Minha mãe sempre foi uma grande guerreira, antes, durante e depois das lutas que travamos contra a derrubada da floresta e a expulsão dos seringueiros da mata. Era uma memória viva que nos deixou, para a tristeza de toda a comunidade”.

De acordo com Duda Mendes, outro filho, a imensa bondade da mãe  é a lembrança que mais ficará guardada em sua memória. “Ela é a grande mãe do seringal Cachoeira. Sua partida deixou todos os moradores órfãos de sua história, sua luta e seu amor”, afirmou.

Cecília era parceira da Biblioteca da Floresta. Em 2008, ela concedeu entrevistas para duas publicações da instituição, “Vida na Floresta”  e “Memórias da Floresta”. Também participou de cinco das seis Imersões ao Nosso Tempo e Espaço Originais promovido no Cachoeira pela Sociedade Filosophia, um dos grupos temáticos da biblioteca. Na ocasião, Cecília falou sobre sua vida e participação nos empates contra os fazendeiros. As duas entidades se solidarizaram com a família e presenteou seus filhos com um quadro em homenagem à matriarca.

A matriarca da floresta

Na segunda metade da década de 1920, o Acre, predominantemente rural, ainda era território federal e sofria as consequências do fim do primeiro ciclo da borracha (1987-1912). Após a concorrência com o látex extraído e comercializado na Ásia, vários seringais faliram e seus moradores, boa parte vinda do Nordeste, foram esquecidos em meio à floresta. É nesse contexto que, no dia 1º de janeiro de 1926, nasceu, em Xapuri, Cecília Teixeira do Nascimento.

Dona Cecília durante palestra para  a Sociedade  Filosophia (Foto: Arquivo)

Dona Cecília durante palestra para a Sociedade Filosophia (Foto: Arquivo)

Até sua chegada ao seringal Cachoeira, em 1969, muita coisa aconteceu em sua vida. A mudança para o seringal Porto Rico aos 11 anos de idade, seu casamento com Joaquim Mendes aos 15 e o nascimento dos primeiros filhos são apenas alguns exemplos. Mas a época que mais marcou sua história, segundo ela, foi o ano de 1975, “quando começou a ameaça. Aí não prestou mais”, disse em uma das entrevistas concedias à Biblioteca da Floresta.

Cecília se referia à chegada dos fazendeiros à região. “Eles pintavam e bordavam com a gente. Tomavam as colocações, metiam fogo na casa e derrubavam a mata”. Embora não tenha participado diretamente dos empates, ela teve papel fundamental na luta. “O Chico fazia muita reunião na minha casa, chegava a juntar 100 homens, e eu ficava na cozinha fazendo pra esse povo a comida que ele conseguia. De três em três dias ele trazia 50 quilos de carne”.

Vencida a batalha, ficou o sentimento de ter valido a pena lutar, principalmente após os investimentos públicos no seringal nos últimos anos. “A chegada das escolas, as estradas, a saúde e o transporte. Mudou demais”. Em uma das últimas vezes em que foi perguntada se gostava de morar no Cachoeira, ela riu e disse: “Gosto, vixe! E nem quero sair, só pra morrer mesmo”.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Sábia senhora da floresta

Cecília Mendes: 19 filhos e muito amor pela floresta

Elson Martins

Entrevista feita em julho de 2005, publicada pela Agência de Notícias Kaxiana. Dona Cecília Mendes faleceu na manhã desta quarta-feira, 12, em Rio Branco.

Élson Martins

Na chegada do ano 2008 teve muita festa para dona Cecília Mendes, madrinha símbolo das boas coisas que acontecem no seringal Cachoeira, nas proximidades de Xapuri. Ela recebeu o prêmio que leva o nome do sobrinho querido, Chico Mendes (assassinado em dezembro de 1988), e dia 1º de janeiro completou 82 anos, alegre, esperançosa, cheia de vida.

Não, não, a vida dela nunca foi fácil. Aos 11 anos de idade, trocou a cidade pela floresta e casou muito jovem. Teve 19 filhos, todos com parteira, criados no peito e sem conhecer médico.

Viúva há 13 anos, a imagem que faz do marido, Joaquim Mendes, irmão do pai do Chico, é a imagem dela mesma: só o pai deles pra trabalhar e criar todos eles! Naquele tempo o pobre morria de trabalhar e não pagava a conta, não sei por quê. O que aquele homem trabalhava! Cortava seringa o ano todinho. Quando terminava a seringa começava a quebrar castanha, e quando terminava tudinho ainda estava devendo um monte. Não tinha castanha, não tinha borracha, não tinha nada que pagasse a conta.

A casa em que vive no seringal, hoje, é mais movimentada que a sede da associação local dos extrativistas. É um entra-e-sai o tempo todo, de parentes, amigos ou visitantes que vão pedir conselho, entrevistá-la, tomar a bênção ou, simplesmente, tomar café com farofa de ovo e, se tiver sorte, saborear um guisado de paca com farinha. A sala é o cômodo menor e menos importante: mal cabe um sofá e uma TV no canto, além dos quadros da família pendurados na parede. É ligada à cozinha por um corredor estreito, com janelas à esquerda, e portas de entrada para dois ou três quartos à direita.

A cozinha, claro, é ampla, com jirau e porta que dão para o quintal. É o reinado de dona Cecília. Tem uma mesa grande no centro com bancos corridos laterais e tamboretes nas cabeceiras. Sobre ela permanecem pratos, xícaras, copos, garrafa de café, farinheira...o tempo todo. Resumindo: a cozinha é um centro de cultura onde se ouve e aprende os segredos da floresta.

Cidade... só pra batizar menino!

A senhora acha que o seringal está melhor agora ou antes?

Agora. Na verdade, nunca foi ruim. O que era ruim no seringal era o patrão. Antigamente, aqui era bom porque não tinha essas derrubadas, essa acabação de mata, a destruição doida que tá uma coisa triste. Todo dia eu penso nessa destruição da mata, secando água, se acabando tudo. Antigamente era uma beleza. As águas boas, as águas bonitas, um “sombrio” beleza. Tudo era bom. Muito calmo. Ainda ontem eu tava conversando com as meninas aqui, lembrando como antigamente era tão animado... O pessoal brincava a noite inteira. Botava uns três paus assim, um saco de carregar borracha, a cachaça vinha naquele frasqueirão; aí era um caneco dentro e o pessoal cantando e dançando, e de vez em quando o caneco no saco de cachaça, que nem água. Hoje vai fazer isso que morre gente...

E não morria ninguém antes?

Não. Nem brigavam.

Era fácil casar e separar no seringal?

Não era fácil não. Separar assim uma vez... só por um descuido... Pelo menos do meu alcance não existia essa danação!

A gente ouve muita história do que acontece na mata. Fala-se que a pessoa atira num animal e ele fica olhando, parado. Acredita nessas coisas?

Isso daí é verdade. Da mata o senhor não duvide de nada, porque na mata tudo tem.

Já passou por alguma situação dessas?

Não senhor, graças a Deus.

Mas tem medo da mata?

Todo mundo tem medo, né, seu Elson? Porque é na mata que moram os bichos. Eu tinha medo, sim, de andar na mata, e nem ando ainda!

O que a senhora teme?

Tenho mais medo da cobra. Mais do que da onça.

Viu alguma onça?

Morta, já, mas viva, não.

Com 19 filhos, sobrou tempo pra senhora trabalhar na roça, ou algo assim?

Coitada! Se eu fosse lhe contar minha vida era pior que a vida do Chico Mendes. Eu pra criar esses filhos sofri muito. Ainda ontem eu conversava com um deles dizendo: “Ah, meu filho, as coisas hoje em dia estão muito boas”. Sofrer, sofri eu. Que eu não vou contar riqueza porque eu não era rica.

Como era o seu dia-a-dia na floresta, no começo?

Minha luta de casa era lavar roupa pra fora, costurar pra fora, cuidar de um bando de menino, cuidar do tabacal, arrancar feijão, apanhar arroz. Tudo isso eu fazia.
E cozinhava também...
Cozinhava. Empregada da onde, né (risos). Se a gente não podia nem com a gente, ainda mais pagar empregada. Agora vim ter ajuda das minhas filhas quando elas ficaram grandinhas.

Quantas mulheres e homens a senhora teve?

Eu tive 10 mulheres e 9 homens. Uma mulher nasceu de sete meses, nasceu morta. Hoje tem 14 vivos.

É muita sorte a senhora ter 14 ainda vivos...

O senhor sabe que eu agradeço muito a Deus por ter sido uma mãe feliz. E digo por consciência: por causa dos meus filhos. Porque sempre acontece alguma coisa com um ou com outro, mas, Graças a Deus, nunca aconteceu nada muito grave.

A senhora ainda teme que a devastação da floresta ameace vocês?

Eu não acho difícil. Mas até agora ainda não soube. Mas tenho medo. Tenho um filho que é soldado lá em Rio Branco, e outro que trabalha lá. Com esses eu me preocupo e tenho medo, porque é na cidade que acontecem as coisas. O restante vive aqui em paz.

E agora já têm escola e saúde aqui?

Já. O Chico quando morreu já deixou escola aqui. Saúde tá meio lá, meio cá. Volta e meia falta um remédio.

A senhora cuidou da saúde de seus 19 filhos com que remédios?

Remédios da mata. Com chá, lambedor, eu sei que tratava dos filhos assim.

Teve algum contato com índios?

Não. Aprendi com minha mãe. Ela que sabia vários remédios do mato, medicina da mata.

Quantos netos a senhora têm?

Ah, meu filho, aí nós não podemos nem conversar. Passo o dia todinho e não acabo de contar [risos]. Já tenho três tataranetos.

Quando a senhora fala que o seringal antes era melhor, está se referindo a quê? Segurança?

Antigamente era melhor nos seringais porque era tudo à vontade. Não tinha quem mexesse nas matas. Quando a gente mexia era pra fazer um “ roçadozinho” pra plantar um milho, um arroz. Era muito bom de caça. Cidade era aquilo em que ninguém falava, a não ser pra batizar menino. Era uma vida bem tranqüila.

E televisão, rádio e luz, a senhora não gosta?

Eu gosto de luz. Televisão é coisa que não faço questão. Mas rádio eu gosto, porque fico sabendo as notícias, e se tiver uma família minha passando mal eu já sei aqui.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Celebração do Meio Ambiente

João Baptista Herkenhoff

O Dia Mundial do Meio Ambiente foi estabelecido pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1972. Cinco de junho foi justamente o dia em que se abriu, naquele ano, a Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano. A semana que se estende até doze de junho é a Semana do Meio Ambiente.

A data solene foi criada para alcançar quatro objetivos: mostrar o lado humano das questões ambientais; convocar e capacitar as pessoas para que se tornem agentes do desenvolvimento sustentável; conscientizar indivíduos, comunidades e países para que se utilizem dos recursos da natureza sem depredá-la; estimular parcerias de todo tipo aglutinando pessoas, empresas, governos, acima das fronteiras nacionais, na busca de um meio ambiente cada vez mais sadio.

O cuidado para com o meio ambiente coere com uma específica visão de mundo e de homem, aquela que parte da ideia de que somos partícula do universo. Nosso destino como pessoa projeta-se no destino comum dos seres. Somos responsáveis pelo mundo do futuro.

Se temos uma concepção hedonista da vida, se nosso horizonte de preocupações fecha-se nos limites de nossa própria casa, se o prazer pessoal e ilimitado é nossa referência – não há razão para que pensemos em meio ambiente.

A Constituição Federal estabelece que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem essencial à sadia qualidade de vida. Determina a Constituição que cabe ao poder público e à coletividade a defesa e a preservação do meio ambinte.

Miguel Reale escreveu muito inspiradamente em suas “Memórias”: "A civilização tem isto de terrível – o poder indiscriminado do homem abafando os valores da Natureza. Se antes recorríamos a esta para dar uma base estável ao Direito (razão de ser do Direito Natural), assistimos hoje a uma trágica inversão, sendo o homem obrigado a recorrer ao Direito para salvar a natureza que morre".

A consciência ambiental disseminada na opinião pública assume especial relevância na atualidade, para que todos sejamos guardiães da natureza, defendendo-a de agressões e esbulhos. A preservação ambiental convoca as três esferas de governo – federal, estadual e municipal. Igualmente, o compromisso com a defesa do ambiente reclama a atuação dos três poderes – legisladores que façam leis protetoras, autoridades do Executivo que estejam vigilantes, magistrados preparados para aplicar o Direito Ambiental nas suas decisões.

Embora tenha havido progresso no Brasil, no que refere à responsabilidade ambiental, creio que muito chão ainda há para percorrer. Observe-se, por exemplo, que nem todos os cursos jurídicos incluíram no currículo o Direito Ambiental. Em algumas Faculdades houve a inclusão formal da disciplina, estudada, entretanto, com disciplicência. Escolas que deram a merecida relevância a esse ramo do Direito merecem aplausos.

João Baptista Herkenhoff, 76 anos, magistrado aposentado, professor e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Nova fachada

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A Câmara de Xapuri, enfim, concluiu a sua nova fachada. Letras prateadas sobrepostas pelo brasão do município. A próxima meta da direção da Casa é a aquisição de novos assentos para melhor receber a população, que neste ano têm sido bastante assídua ás sessões semanais do Poder Legislativo Municipal.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Matusalém na prisão?

Cláudio dell´Orto*

Com justificada preocupação, observamos a longa permanência em detenção na Bolívia de 12 cidadãos brasileiros, torcedores do Corinthians, acusados pelas autoridades desse país de participação no disparo do sinalizador que causou a morte de um adolescente, na cidade de Oruru. O episódio coloca novamente em discussão a questão da prisão temporária e da aplicação das penas, temas que sempre geram dúvidas na opinião pública, que nem sempre entende o porquê das decisões que libertam ou privam a liberdade de autores ou suspeitos de cometerem crimes. Assim, é sempre importante esclarecer essas questões.

No Brasil, a prisão preventiva, como a determinada para os corintianos na Bolívia, se caracteriza genericamente por ser medida de caráter cautelar decretada antes do trânsito em julgado do processo criminal. Sua duração ou renovação dependem de uma série de variáveis, desde a possibilidade de a pessoa acusada poder evadir-se, dificultar a coleta e provas, ameaçar testemunhas ou prejudicar a ação policial e da Justiça. Com base na avaliação desses riscos ou de sua inexistência, o magistrado adota a melhor decisão, dentro das alternativas propiciadas pela lei. Na Bolívia, os prazos para a prisão preventiva são de até dois anos, o que complica a situação dos torcedores detidos em Oruru.

Mais instigante ainda para a opinião pública em nosso país é a aplicação e o cumprimento de penas por parte daqueles que já foram julgados e sentenciados pela Justiça. Muitas vezes, impressiona a longa duração das penas às quais são condenados alguns autores de fatos criminosos no Brasil. A imprensa informa condenações que totalizam centenas de anos de encarceramento, tempo no qual nem o mítico Matusalém poderia sobreviver.

É preciso um olhar técnico-jurídico para justificar a racionalidade dessas penas, considerando que sua aplicação, muito menor do que estabelecido na sentença, muitas vezes frustra a opinião pública. O Direito Penal lança sua teia de responsabilidade sobre comportamentos conflitantes com a Lei, ou seja, no sistema brasileiro, crimes ou contravenções penais. Adotamos a responsabilidade penal pelo fato. Cada uma das condutas penalmente ilícitas será submetida ao julgamento, mesmo que praticadas pela mesma pessoa. As penas serão aplicadas e estarão vinculadas a cada um dos comportamentos realizados. O tempo máximo de aprisionamento em decorrência de um único ato criminoso é de trinta anos, porque é proibida, pela Constituição da República, qualquer pena de caráter perpétuo. Toda pena deverá ter uma validade temporal previamente definida pela lei, elaborada por deputados e senadores.

Julga-se o fato, mas a execução da pena recai, no caso do aprisionamento, sobre a liberdade da pessoa autora da conduta incriminada. Portanto, as várias condenações derivadas dos mesmos ou de diversos autos processuais são unificadas para fins de execução da pena. Sendo vedada a perpetuidade do castigo penal, o legislador, no artigo 75 do Código Penal, definiu o prazo máximo de trinta anos para o encarceramento contínuo. A quantidade de pena privativa de liberdade que ultrapassar esse marco temporal poderá ser considerada para fins de reinicio da contagem do prazo em caso de fuga, impedir mudança de regime prisional ou para inviabilizar a liberdade condicional. Entretanto, ninguém poderá permanecer preso continuamente por prazo superior a trinta anos, pois isso representaria uma pena de caráter perpétuo.

Ao Judiciário cabe cumprir e fazer cumprir a Constituição e as Leis. Os juízes de direito têm a responsabilidade de realizar as interpretações exatamente de acordo com as normas e princípios definidos pelo povo, por meio de seus representantes no Parlamento, na Constituição e nas leis ordinárias. Ao agirem assim, os magistrados contribuem muito para a prevalência do Estado de direito e dos princípios da cidadania.

*Desembargador Cláudio dell´Orto é o presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (AMAERJ).

terça-feira, 4 de junho de 2013

Distribuição de atribuições: para que serve?

Emylson Farias

A Constituição Federal e as leis infraconstitucionais estabelecem, expressamente, as atribuições de diversos órgãos. E não por acaso. Trata-se de uma questão de organização administrativa, com o objetivo de assegurar que o serviço público se desenvolva de forma harmoniosa, eficiente e eficaz.

Tamanha é a importância da divisão de atribuições e funções, que o Código Penal tipifica como crime a conduta consistente em usurpação de função pública, à qual comina as penas previstas no art. 328 a quem incidir nesse comportamento. Para parte significativa da doutrina e da jurisprudência também pode figurar como sujeito ativo desse crime o funcionário público.

E essa divisão ganha relevo quando se trata das funções de cada uma das forças de segurança pública, área do poder público, que, por envolver o serviço policial, exige regras bem delineadas quanto às atribuições das polícias. Afinal de contas, a segurança pública é um direito fundamental, por isso merecendo, do Ordenamento Jurídico, a proteção necessária.

Todavia, não são raras as vezes que esse princípio de organização do Estado é violado ou negligenciado entre as diversas instituições, o que tem ocorrido com certa frequência entre as corporações policiais.

Talvez pelo pensamento equivocado de alguns, que insistem em subestimar o regramento de organização do Poder Executivo, simplesmente porque comparam as consequências de sua violação com aquelas cominadas à infração às normas do processo judicial.

Esse pensamento é superficial e errôneo, pois é sabido que o ato administrativo tem que ser dotado dos seguintes requisitos: competência, finalidade, forma, motivo e objeto. Além disso, o ato deve obedecer aos princípios expressos no art. 37 da Magna Carta, a saber, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Merece destaque o requisito da competência. De acordo com a renomada administrativista Maria Sylvia Zanella Di Pietro, competência é o “conjunto de atribuições das pessoas jurídicas, órgãos e agentes, fixadas pelo direito positivo” (Direito Administrativo. 8 Ed. São Paulo: Atlas, 1997). Essa competência é distribuída segundo critérios de matéria, território, hierarquia, tempo, entre outros.

Em direito administrativo, nada subsiste se não for norteado pela legalidade. Para o administrado, significa dizer que “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão, em virtude de lei”. Ou seja, se não existir uma norma proibindo determinado comportamento tal, é permitido ao particular. Já em relação ao agente público, este somente pode praticar um ato se a lei expressamente o autorizar. Do contrário, o ato será ilegal.

Como policial e gestor da Polícia Civil do Estado do Acre, tenho visto com muita preocupação e perplexidade o desrespeito que algumas instituições têm tido em relação à função constitucionalmente confiada à polícia judiciária do Estado.

Isso se traduz desprestígio a uma instituição que tem, a cada dia, agido com imparcialidade e crescendo em credibilidade e reconhecimento da sociedade acriana. A Polícia Civil vem cumprindo com excelência o seu mister, independente de quem seja alvo de suas investigações, sempre com o olhar voltado à missão que a Lei Maior lhe conferiu expressamente.

Prova disso são as diversas operações desencadeadas pela instituição, algumas oriundas de investigações complexas, como as operações “Delivery” e “Diáspora”, a primeira, de enfrentamento à exploração sexual e, a última, de combate à instalação da organização criminosa denominada “PCC” em nosso Acre.

Note-se que a chamada “Operação Limpidus”, que apurou desvio de recursos públicos, resultou no indiciamento e na prisão de várias pessoas, dentre as quais membros de partidos da base aliada do governo do Estado.

Cite-se ainda, a investigação da morte do Vereador Pinté, à época presidente da Câmara Municipal de Acrelândia-AC, que culminou com a prisão do prefeito daquele município, que também pertencia a partido da base aliada do Governo.

Não foi diferente em relação ao indiciamento e prisão de uma vereadora do município de Feijó, a qual também era integrante de agremiação partidária ligada a Frente Popular.

Cabe aqui fazer a justiça necessária ao governador, que jamais tentou ingerir em qualquer investigação da Polícia Civil, e nem poderia fazê-lo, exatamente porque quem conferiu as funções de polícia judiciária e de apuração das infrações penais no âmbito estadual foi a Constituição Federal, a nossa Lei Magna. A polícia não tem cor partidária. Age com o único escopo de bem e fielmente cumprir o seu papel junto à sociedade.

Entretanto, ao observar a chamada “Operação G-7”, recentemente realizada pela Polícia Federal em nosso Estado, aconteceu algo que, no mínimo, chama a atenção de qualquer operador do direito: se coube à Justiça Estadual apreciar os pedidos de busca e apreensão e de prisão provisória dos envolvidos, automaticamente caberia à Polícia Civil, e não à Polícia Federal, as investigações correspondentes, inclusive a representação pelas medidas cautelares.

Diante desse cenário, outros questionamentos emergem: porque a Polícia Federal, a exemplo de outros inúmeros casos, ao verificar que o caso seria de competência da Justiça Estadual, não remeteu o inquérito à Polícia Civil? E o Poder Judiciário do Estado do Acre, ao deparar-se com as investigações, por qual motivo não determinou o envio dos autos à autoridade policial competente para as investigações?

Convém lembrar que, ainda que o inquérito pertinente à operação G-7 tenha sido oriundo de desdobramento de outra investigação no plano federal, isso não afastaria a atribuição da polícia judiciária do Estado.

Ora, a Polícia Civil acriana sempre conduziu suas operações de forma técnica, imparcial, com discrição, sem vazamentos de informação, sem exposições desnecessárias sem precipitações, e sem desrespeitar os direitos e garantias dos investigados. Não há pretexto que justifique qualquer falta de credibilidade para com uma instituição que tem crescido e se qualificado cada vez mais no trabalho de apuração das infrações penais.

Registre-se que, no tocante às funções das polícias Federal e Civil, tal encontra-se suficientemente delimitado no art. 144 da Constituição Federal de 1988, não cabendo qualquer alegação de desconhecimento ou de tolerância à infração de uma norma de natureza constitucional.

Destarte, sem adentrar ao mérito de qualquer investigação feita por outros órgãos ou instituições, deixo aqui estas singelas, mas necessárias palavras para, na condição de dirigente da Polícia Civil do Estado do Acre, externar o sentimento de reprovação a qualquer ato, seja ele emanado de que autoridade for que venha a desprestigiar, desconsiderar ou usurpar a missão que o povo, através do legislador constituinte, confiou às polícias civis dos Estados.

Mas, afinal, para que serve a distribuição das atribuições a cada órgão? Traduz-se em verdadeira garantia de que o cidadão contará com uma atuação eficiente do Estado, na busca do interesse público.

Emylson Farias da Silva é secretário de Estado da Polícia Civil do Acre.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Estiagem

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O governador Tião Viana decretou estado de emergência em cinco cidades acreanas em decorrência do baixo nível das águas do Rio Acre. São elas: Rio Branco, Xapuri, Epitaciolândia, Brasileia e Assis Brasil. A medida considerou o relatório apresentado pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), que identificou poucas e irregulares chuvas em todo o Estado a partir do mês de abril. A portaria foi publicada na edição desta segunda-feira, 3, do Diário Oficial do Acre. Essas cinco cidades têm como fonte de captação de água para tratamento e distribuição a bacia hidrográfica do Rio Acre. A população total desses municípios ultrapassa os 395 mil habitantes, dos quais 85% moram na capital. Leia mais na Agência de Notícias do Acre.

Inconstitucional

Do site Ac24horas

A Defensoria Pública do Estado vai entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a Lei Municipal criada pela prefeitura de Xapuri que cria a Defensoria Pública Municipal.

O sub-defensor geral do Estado, Fernando Morais, disse que a Lei Municipal é inconstitucional porque a atribuição de criar defensorias é da União e dos Estados.

“Nós primeiramente criamos uma comissão para estudar medidas judiciais que devem ser adotadas. A Constituição diz que é missão concorrente da União e dos Estados criar defesa jurídica gratuita. Portanto essa lei do Município é inconstitucional”, diz o defensor.

O tema também foi pauta na última sessão do Conselho da OAB/AC, que nomeou uma relatoria para tratar sobre o caso.  Mas a priori, o Conselho considerou inconstitucional a Lei Municipal.

O prefeito de Xapuri, Marcinho Miranda (PSDB), disse que ainda não recebeu nenhuma notificação, mas que se for obrigado vai atender a decisão da Justiça.

“Não posso fazer nada ilegal. Se eu for notificado vou só atender” disse o prefeito.

De acordo a Lei, sancionada pelo prefeito, um advogado atuaria na Defensoria atendendo somente pessoas de baixa renda beneficiárias do programa Bolsa Família.

Nota do blog: Então que a Defensoria Geral do Acre cumpra com o seu dever constitucional. É muito simples.

domingo, 2 de junho de 2013

Ladrões do novo mundo

*JOSÉ CLÁUDIO MOTA PORFIRO

Essa de novo mundo é invenção do Cristóvão, aquele que substituiu a avestruz, pôs o ovo em pé  -  ele  -  e saiu correndo da sena feito louco varrido ainda com as calças na mão. Pirou! O ovo era grande demais e teria exigido muito trabalho para dar-se à luz de um dia cinzento de Espanha.

Muito mais lerdo que tranquilo. Isso é o que o Colombo era. Depois, muito mais por falta de iniciativa que por uma questão de não reconhecimento por parte dos monarcas espanhóis, o famigerado morreu solitário num convento católico em Valladolid, rodeado de monges rabugentos que queriam que logo o catre fosse desocupado por aquele estorvo que deu início à ruína completa de astecas, maias, toltecas e incas. Que tivesse morrido bem antes e teria poupado o mundo de tanta tragédia. Grande pústula!

Agora mesmo, olhando por um ângulo mais abrangente, vemos a velha Europa lá do outro lado do Atlântico. Pensemos, pois! Os europeus saquearam o mundo e hoje, talvez por castigo, passam pela vergonha que é terem roubado e não terem conseguido carregar o fruto do roubo. Se eles pudessem gatunar ainda mais, teriam anexado, sim, principalmente, as três américas à Europa, e teriam desconstruído a pangeia, o fenômeno legendário segundo o qual os continentes foram formados nas primeiras eras, ou na Era do gelo, como quer a 20º Century Fox Home Entertainment.

Então, para batizar essa joça de texto, em verdade vos digo que, segundo o Evangelho de Mateus (12, 39), é preciso logo compreender que, se o dono da casa soubesse a hora em que viria o ladrão, não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Ora pois, pois!

Aí, o Brasil já se deitara em berço esplêndido. Não sei com qual prostituta invasiva acompanhara-se. A velha pátria mãe tão distraída dormia a sono solto sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações, como trata o samba do Chico. A Amazônia, então, não estava entregue às moscas, mas aos ladrões do novíssimo mundo  -  o mundo de Henry Wickham  -  aquele salafrário inglês que roubou setenta mil sementes de seringueira e acabou com a hegemonia do Brasil na produção de borracha. Eis o maior e talvez o primeiro exemplo de biopitaria que viria para prejudicar exatamente o Acre, à época o grande produtor de látex em nível internacional. Mil demônios lusos com a cara do Cabral, ou do Vasco! Xô azar!

Embora não seja tão possível, a questão aqui tratada quer dizer respeito única e exclusivamente a Portugal, uma nação pequenina que roubou uma grande nação por trezentos ou mais anos. Ah, pilantras!

Vieram com os seus machados e foices. Destruíram toda uma floresta tropical imensa que ia do Pará ao Rio Grande do Sul. Além de outras espécies, a árvore símbolo da nação brasileira foi dizimada quase por completo e transformada em tinta para tecidos fabricados na Europa, ou em móveis decorativos para os ambientes frequentados pela alta burguesia de Portugal e países vizinhos. (Burgueses analfabetos e nada imbecis, é claro!) E as gerações de brasileiros foram se deixando roubar pelos séculos a fio.

Depois, foi a vez do roubo do ouro. As terras das minas gerais foram completamente devastadas pela ação destruidora dos portugueses que, além de levarem praticamente todo o minério brasileiro, ainda houveram por bem cometer o assassinato mais chocante da nossa história mais antiga. Os trastes, primos do Vasco e do Camões, cometeram a barbaridade que foi enforcarem e trucidarem o Joaquim José, um sujeito que apenas achava que os impostos pagos pelos mineiros eram muito altos. E, enquanto o trabalho nas minas também matava de inanição e de  cansaço negros e brancos tornados escravos, lá longe, lá nas cidades, vivendo do bom e do melhor, portugueses analfabetos gozavam as benesses de um sistema que os mantinha enquanto parasitas de um povo que por eles foi roubado por trezentos anos ou mais. Ah, ladrões!

(E pensar que, hoje, os brasileiros aguentam o triplo do imposto pago na época de Tiradentes, isto, em valores relativos, é claro!)

Com a cana de açúcar ocorreu algo idêntico. A diferença é que a sua exploração acontecia  -  como ainda acontece  -  basicamente, na região nordeste. Muitos foram os escravizados em um trabalho que tinha como óbice maior matar o trabalhador de fome para que ele não pedisse aumento de salário. Pior é considerar que os atuais usineiros nordestinos usam os mesmos métodos cruéis, agora, com o amparo de gente como o Renan Calheiros e a sua curriola de políticos de bundas magras e ambições maiores que as suas cabeças descomunais.

Alô, Mariete Costa, meu amor! É preciso considerar levas e levas de portugueses que vieram para o Brasil nas primeiras décadas do século vinte, como Adão, Antonino, Belchior, Manoel, Eurico, Tomás, João Fonseca, dentre muitos outros. Nesse meio, praticamente não havia enganadores. Eles chegaram aqui para trabalhar, com certeza, para ajudar a construir o grande Brasil que hoje conhecemos. Com alguns deles eu cheguei a conviver e afirmo-vos, de cátedra, que o seu espírito empreendedor ajudou muito os xapurienses, com empregos, e o Acre que, àquela época se ressentia da crise da produção da borracha que se alastrava de seringal a seringal.

Mas é preciso voltar um pouco no tempo e observar a fórmula mágica que os primeiros portugueses usaram para aqui chegar na época do infortúnio que foi o tal descobrimento do Brasil. Ô falta de sorte!

No século dezesseis, realmente, pouca sorte rondava as regiões mais ocidentais do mundo, as Américas. Em 1500, então, houve por bem acontecer o pior aos brasileiros da primeira época, os índios que eram donos da terra que hoje dizemos nossa.

Veja só a desgraça, dona Filomena Cruz!

Quando os navios ingleses partiram rumo ao novo mundo, o vento os empurrou direto à costa dos Estados Unidos, em linha reta. Não demoraram nada e já fundaram as treze colônias, com bancos, escolas e igrejas para todos, além de casas resistentes ao frio da América do Norte.

Em uma outra época, o vento não estava para nós, mais uma vez e, a partir do momento em que Cabral se pôs ao mar, o ar ficou parado e as calmarias fizeram com que os navios portugueses ficassem empacados no meio da viagem rumo às Índias. Quando cessou a calmaria, eles foram empurrados no rumo de cá, para o meu desespero, à época ainda um querubim de bunda gorda.

Se os ventos tivessem empurrado os ingleses no rumo de cá, nós hoje seríamos mais interessantes que Austrália e Nova Zelândia, posto que as nossas índias são incrivelmente mais belas que aquelas aborígenes manchadas de nódoa de jenipapo. Poupe-nos!

Não. Para o Brasil tinha que vir a escória da humanidade representada, logo depois, por assassinos que aqui chegavam para cumprir pena pelos crimes mais hediondos possíveis praticados em Portugal. Como prosperaríamos a partir de uma fórmula sacana como esta?

Bem. Os ingleses tinham tecnologia e chegaram onde bem entenderam. Já os portugueses, ao imitarem o Vasco da Gama, tornaram-se os primeiros vice-campeões ao descobrirem um Brasil cheio de riquezas, que depois se transformaram na miséria de um povo que hoje vive das migalhas que lhes são concedidas pelos neo ladrões mandatários do FMI e do Banco Mundial.

Em 1808, foi pior ainda. Preste bem atenção, dona Sandroca Rocha.

Numa dessas noites de alta orgia com os garotões franceses que lhe cheiravam e bafejavam o cangote, Napoleão Bonaparte, o imperador maricas da França, foi aconselhado pelos outros gays a empreender uma nova guerra, agora para anexar Portugal aos domínios franceses.

Na mesma noite, então, Dom João VI, o rei de Portugal, sonhou que algo de muito ruim aconteceria à terrinha pelas mãos de Napoleão. O português, comilão e fedorento, não contou conversa. Corria que o pé batia no traseiro gordo e findou chegando ao embarcadouro, de onde mandou avisar aos seus fidalgos vagabundos que estava de partida rumo ao Brasil, levando consigo comandita imensa e mais uma mãe doida, aquela vaca que mandou matar o Tiradentes. Quem gostaria de vir para o quinto dos infernos? Todos quiseram. Aqui haveria fartura e o Napoleão que triturasse o zé povim português mais pobre. Que eles se lascassem!

O rei medroso trouxe consigo uma malta de vagabundos... Eles sequer sabiam ler e, por conseguinte, nem para alfabetizadores das crianças brasileiras serviram. Eram chamados fidalgos. E foram estes tais que nos deixaram como herança uma corja de políticos malfeitores que ainda hoje atravancam o desenvolvimento nacional com a sua politicanalhice, estilo Fernando Collor.

É extremamente lúcido o Millôr Fernandes ao dizer a você, meu arrojado surripiador do erário, que tu deves roubar ainda hoje, porque amanhã poderá já ser ilegal... Mas calma. A Polícia pode ter grampeado até os teus tambores, a fumaça branca da capela sistina e o celular de última geração, aqueles que basta fazer deslizar o dedo, e pronto.

Tenho dito e escrito.

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*Cronista do novo mundo de Xapuri: www.claudioxapuri.blog.uol.com.br.