sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Intolerância

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Confesso que, apesar de não ser daqueles que andam com a Bíblia debaixo do braço, meus brios costumam ser ofendidos pela audácia de alguns que, do "alto" de sua ignorância, se põem a envergar as vestes da sabedoria suprema para condenar sumariamente ao fogo do inferno aqueles que no exercício de sua liberdade religiosa não comungam com as suas estapafúrdias ideias. Digo isso com todo respeito aos cristãos chamados evangélicos, em sua maioria pessoas sensatas e respeitadoras das boas normas de convívio em sociedade. Me dirijo apenas àqueles a quem a carapuça possa servir.
        
Tem sido cada vez mais comum que manifestações de teor altamente preconceituoso e eivadas de uma intolerância só vista nas cabeças de fanáticos religiosos do oriente médio, sejam propagadas na internet, onde circula todo o tipo de informação, desde receita de bolo a fórmulas para a fabricação de bombas sujas. O que não é normal é que pessoas instruídas, muitas vezes ocupantes de cargos públicos, o que enseja que as mesmas sejam conhecedoras das leis do país, se deem ao trabalho de fazer uso delas para ridicularizar e perseguir seus semelhantes.

Ora, sem querer iniciar aqui uma discussão religiosa e muito menos de me propor a esse tipo de debate, mas pergunto: se a Igreja Católica é a meretriz anunciada pelos nazi-fascistas do protestantismo, o que serão aquelas chamadas evangélicas se não as filhas daquela outra? Não acredito em perfeição abaixo dos céus, muito menos em pessoas que se escondem sob o manto de uma religião para a partir dali se investir de autoridade divina para pregar o preconceito e a discriminação.

A "santa" inquisição é, sem dúvidas, a grande nódoa na trajetória da igreja fundada por Pedro, mas os absurdos perpetrados pelas instituições religiosas não exclusividades do Catolicismo. O holocausto, que vitimou milhões de judeus durante a II Guerra Mundial, teve - lá atrás - o apoio de Martinho Lutero, cujas ideias influenciaram a Reforma Protestante. Os próprios pastores evangélicos alemães apoiaram o Nazismo. Vejam o que diz a história:
“Dentre os 17.000 pastores evangélicos da Alemanha, nem 1% se negaram a apoiar o regime nazista”. (Fonte: History of Christianity, de Paul Johnson).

Tudo começou quando Lutero escreveu um diabólico panfleto chamado: "Von den Juden und ihren Lügen", o que significa: “contra os judeus e suas mentiras" obra esta reproduzida na "História do Anti-semitismo", de Leon Poliakov. Dizia o raivoso Lutero contra os judeus:

“(…) Finalmente, no meu tempo, foram expulsos de Ratisbona, Magdeburgo e de muitos outros lugares… Um judeu, um coração judaico, são tão duros como a madeira, a pedra, o ferro, como o próprio diabo. Em suma, são filhos do demônio, condenados às chamas do Inferno. Os judeus são pequenos demônios destinados ao inferno.” (‘Luther’s Works,’ Pelikan, Vol. XX, pp. 2230).

"Queime suas sinagogas. Negue a eles o que disse anteriormente. Force-os a trabalhar e trate-os com toda sorte de severidade … são inúteis, devemos tratá-los como cachorros loucos, para não sermos parceiros em suas blasfêmias e vícios, e para que não recebamos a ira de Deus sobre nós. Eu estou fazendo a minha parte.” (‘About the Jews and Their Lies,’ citado em O’Hare, in ‘The Facts About Luther, TAN Books, 1987, p. 290).

Utilizo as citações acima somente para lembrar que o erro faz parte da trajetória do ser humano na terra. Protestantes ou católicos, todos estão sob a mesma condição de pequenez e desconhecimento dos grandes mistérios do mundo. Essa é a grande verdade. De bom alvitre é cada um professar sua fé de acordo com suas normas e tradições e não esquecer que, religiosos ou não, estamos todos obrigados a respeitar as leis terrenas criadas com a intenção de tornar a convivência neste mundo um tanto menos complicada.

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