terça-feira, 31 de março de 2015

TENTATIVA DE FRAUDE AO SAQUE DO FGTS

A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Xapuri suspendeu temporariamente a emissão das Declarações de Alagados, documento exigido pela Caixa Econômica Federal para que sejam feitos os procedimentos referentes aos saques do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) que serão liberados para aqueles que residem nas áreas que foram inundadas pela enchente do Rio Acre.

O motivo da suspensão dos serviços foi a constatação de que muitas pessoas estavam tentando se cadastrar de maneira indevida para acessar a vantagem oferecida de maneira exclusiva a quem foi vítima direta da alagação. De acordo com o Coordenador da Defesa Civil Municipal, Joscíres Ângelo, aconteceu de em apenas uma casa constarem 18 viventes postulando o saque.

O que ocorreu foi que de olho na possibilidade de colocar a mão nesse dinheiro, muita gente se apressou em engendrar maneiras de fraudar o processo. O excesso de esperteza, além de não dar em nada, acabou por prejudicar quem realmente tem direito à liberação do saldo do FGTS nesse caso excepcional, pois a emissão das declarações foram suspensas para todos, sem exceção.

A boa notícia é que o atendimento a quem faz jus ao documento será retomado na próxima segunda-feira, 6. No entanto, medidas para dificultar a vida dos espertinhos serão tomadas. Depois de comunicar ao Ministério Público das irregularidades no processo de tomada de cadastramento, a Defesa Civil Municipal foi orientada a ser mais rigorosa na comprovação das informações recebidas.

O promotor de justiça de Xapuri, Bernardo Albano, afirmou que o MP estará atento para garantir a lisura do processo e resguardar o direito daqueles que realmente estão aptos a acessar os saques do FGTS. O fiscal da lei também disse que a prestação da informação falsa com o fim de se obter qualquer tipo de vantagem pode resultar em ação penal por crime de falsidade ideológica.

segunda-feira, 30 de março de 2015

MISTURA

Elas querem também o incentivo, a assistência técnica e o financiamento para produzir seu próprio alimento e continuar a viver felizes onde estão. 

Raimari Cardoso

As crianças bonitas, o sorriso aberto e a conversa franca que a gente encontra nas muitas comunidades da zona rural de Xapuri expõem a diferença que ainda há entre quem vive na floresta e quem sobrevive na cidade. O povo da mata não carece dos favores do poder público ou de outro ente qualquer. Necessita apenas dos serviços, que são pleno direito daqueles e mero dever desses.

Essa gente não deseja receber um sacolão, ter uma conta de energia paga ou uma receita médica despachada na farmácia mais próxima para que mais tarde seja cobrada por esta “assistência”. Eles estarão satisfeitos com o ramal permitindo o direito de ir e vir; com uma escola de ensino médio funcionando a pleno vapor e com um agente de saúde bem preparado e lhes dando a atenção devida.

É o que penso.

domingo, 29 de março de 2015

MATANÇA DE ÁRVORES

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A imagem acima, postada por Haroldo Sarkis, assessor da prefeitura de Xapuri, em seu perfil no Facebook, denuncia um fato que tem sido recorrente na cidade considerada por muitos como o berço do ambientalismo acreano.

Os buracos abertos no tronco de uma das mangueiras centenárias que se localizam ao longo da rua Cel. Brandão, certamente com o fito de envenenar a árvore, lembram outros episódios parecidos, ocorridos sempre na calada da noite, sem que até hoje qualquer providência tenha sido tomada.

Quem não se lembra da figueira que sombreava a Casa de Chico Mendes, tombada como Patrimônio Histórico Nacional, ou do benjamin que se situava ao lado da banca de café da dona Maria, ali quase à entrada da agência do Basa?

Posteriormente, uma mangueira situada próximo ao Posto Português também foi vítima do “serial killer” de árvores de Xapuri. Neste último caso, a vítima definhou, suas folhas caíram, os frutos que ainda brotavam amarelaram doentiamente, mas terminou por resistir bravamente à tentativa de um injustificável crime ambiental.

A prática nefanda e covarde consiste em se perfurar o tronco da árvore com uma broca grossa o bastante para permitir que ali seja injetado o veneno.

O que - e quem - estaria por trás desses atos bestiais talvez encomendados por algum interesse escuso? A pergunta apenas será respondida depois que nossos órgãos ambientais resolverem investigar, identificar e denunciar os criminosos ao Ministério Público do Meio Ambiente.

O secretário municipal de Meio Ambiente e Turismo, Idalino Pedrosa Júnior, informou que um boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia Geral de Polícia de Xapuri e que o fato foi informado também ao Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC). Ainda segundo ele, a mangueira passou por um “tratamento”, que consistiu na limpeza da área afetada pelo veneno e na vedação dos três furos feitos no tronco da árvore.

sábado, 28 de março de 2015

BOM DIA CIDADE!

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AM 820 kHz. Os 26 anos à frente desse microfone não foram capazes de tirar minha disposição em comunicar diariamente com os ouvintes da boa e velha Rádio Educadora de Xapuri. Informação e boa música todas as manhãs no programa Bom Dia Cidade, a partir das 7h15 da matina. Como é bom fazer o que se gosta.

sexta-feira, 27 de março de 2015

A TRISTE SAGA DOS MENINOS QUE TRUCIDAM LIVROS

CLÁUDIO MOTA PORFIRO*

Às vezes, fico a divagar um tanto acerca da realidade daqueles pobres meninos. Eles não têm origem ou, pelo menos, é assim que parece aos olhos de quem os observa a partir de um ângulo um tanto distanciado. Figuras destorcidas, duendes da modernidade, vítimas da civilização judaico-cristã sob o signo do capital, a sua alma jovem diz a mim, ao pé do ouvido, que eles nunca leram um livro, com tristes e raríssimas exceções. Também os seus pais não leram sequer uma bula farmacêutica.

Oh Deus de Isaac, Jacó e Abrahão!

Então, as minhas lembranças cansadas voam rumo a um passado já bem distante quando, há seis anos, li uma história muito bem delineada e magistralmente narrada por Markus Zusac. Trata-se de uma crônica de guerra cujo título é A menina que roubava livros. Segundo o cronista, de uma forma um tanto metafórica, a menina conseguiu juntar uma coleção de livros roubados nas mais diferentes circunstâncias e, a partir destes, foi descoberto o princípio a partir do qual toda a Alemanha foi reconstruída, depois de haver sido arrasada pelas forças aliadas durante a segunda guerra mundial. Os alemães leram o suficiente para encontrar as saídas para tantos problemas e, assim, reergueram as suas cidades, minas e plantações destruídas pelos canhões inimigos do nazi fascismo.

E tudo isto me leva a recordar as palavras também amargas do Seu Zé Bento, um pensador e crítico nosso do início do século vinte, ranzinza como ele só. Não lembro exatamente as palavras do Lobato enjoado, mas o resumo do pensamento residia em uma assertiva segundo a qual, para se construir uma nação de destaque, é preciso de homens e mulheres de grande valor que, antes, leiam muitos livros e ensinem os filhos seus a também fazê-lo. Eis um fato digno dos aplausos da humanidade que se contorce no enfrentamento diário com a barbárie e a estupidez das guerras que violentam a vida sobre no antigo planeta água.

Ainda segundo o autor aqui em comentário, grande parte das ideias aproveitáveis, ou mais ou menos úteis, ou meio razoáveis, são colocadas nos livros e estes vão alimentando as gerações que avançam rumo a um desenvolvimento moral, intelectual e material. No fim das contas, a ciência evolui porque os livros trazem o conhecimento de todos os lugares e o levam para todas as esquinas deste planeta redondo.

Um dia, então, o rei de cá - ou foi a rainha! - mandou confeccionar milhões de livros e os fez distribuir entre os meninos e meninas pobres de todo o extenso reinado de duzentas milhões de almas tupiniquins. Foi algo muito elogiado pelos monarcas das nações vizinhas. Houvera sido a medida mais importante de doze anos de reinado. Porém, infelizmente, tudo não passou disso. O sonho de enterrar a pobreza espiritual do povo foi por águas abaixo.

Numa das escolas da minha província colonial, ajudei a carimbar e distribuir livros didáticos para os alunos do segundo ciclo. Eram doze obras - cinco quilos no total - muito bem acabadas pela caprichosíssima e dispendiosíssima ática. Alguns deles disseram a mim, na lata, sem a necessidade de considerar que estariam tratando com um escritor de ofício:

- Eu lá vou levar isso pra casa!

Isto me deixou atônito e um tanto iracundo. Algumas parcas lágrimas quase me visitam os olhos. Nada tão esdrúxulo quanto ouvir uma frase dessas de um rapazola imberbe que sequer conseguiu se localizar perante si mesmo. (Imagine se ele saberia o que diabos são os quatro pontos cardeais. Nunca!)

Depois das dez da noite, então, passamos pela frente de algumas das salas de aula e observamos, consternados, que alguns dos nossos amados livros haviam sido abandonados sobre as cadeiras, deserdados, órfãos, coitados!

Em dia posterior, uma das moçoilas estudantes do nosso liceu sonolento disse que alguns livros estão sendo vistos sozinhos, sem companhia alguma mesmo, a esmo, perambulando feito almas penadas, pelas paradas de ônibus, pelo terminal rodoviário, pelo parque, ou pelas praças, agora tornados mendigos ou zumbis em terra onde a carência de conhecimento parte das vivendas periféricas com luz elétrica, mas sem alma, sem brilho, sem iluminação e sem porvir.

Numa noite, que já faz parte de um passado de há três anos, em pleno intervalo em que rolava na vitrola uma música brega, erótica e sensual, a luz apagou na escola moribunda. Foi uma balbúrdia sem tamanho e quase sem fim. As gurias corriam com medo de serem apalpadas pelos moleques. Um moço de braços de silicone acendeu um basilar e poluiu toda a sala com aquele cheiro enjoativo da fumaça da erva sativa. No corredor, havia pilhas de paradidáticos a serem distribuídos entre os convivas daquele bacanal no pretérito mais que perfeito. Foi quando voou o primeiro volume e quase pairou, miraculosamente, acima das cabeças. E veio o segundo e outros muitos. Se a luz não houvesse voltado, todos os dois mil livros teriam se tornado brinquedos perigosos, posto que se o volume de Português, de seiscentas páginas, pega na cabeça de um, era óbito na hora.

Não eram apenas alguns meninos, eram rapagões e, dentre estes, alguns já casados e com filhos que, certamente, hão de lhes copiar os exemplos terríveis.

Mais tarde, em conversa comigo mesmo, posto já haver sido declarado louco de pedra, fiquei ruminando essa vida marvada.

O ministro da sabedoria não deverá ter pensado numa galhofa dessas. Ele jamais saberá o que deverá ser feito com bem mais de um milhão de obras caríssimas, hoje abandonadas pelo reino inteiro, mas longe dos cemitérios de livros tão bem descritos pelo Carlos Ruiz Zafón na sua tríade barcelonense. (Ide ao Google!)

Pensei, inclusive, sobre o que o rico fundo nacional de desenvolvimento da educação poderá fazer com essas montanhas de papel que não servem sequer para fazer parte do cemitério dos livros esquecidos do Zafón, uma vez que ninguém conseguirá nunca mais juntá-los ou retirá-los do fundo do rio. Verdade mais bizarra é que, por este mesmo motivo, nem reciclar será mais possível.

O mais triste desta triste saga é observar que os livros irão para o lixo e, mais uma vez, o dinheiro dos que pagam impostos descerá bueiro abaixo.

Agora, Inês é morta! – É o que diria a minha mãe do alto da competência de quem ensinou todos os filhos a ler a partir da cozinha de casa no tempo da palmatória e das escolas engraçadas de Marcelino Pão e Vinho.

O tempo perdido já se tornou irrecuperável e os nossos rapazes e moças das classes mais humildes rastejarão por caminhos muito íngremes.

Em síntese, o velho e bom Karl Marx tinha razão, como em todas. A classe média se perpetua no poder porque a superior maioria dos seus filhos estuda em voz alta e se tornam profissionais de altíssimo valor, presidentes e gerentes de grandes conglomerados. Enquanto os meninos das classes trabalhadoras, em boa parte dos casos, sequer aprendem a ler.

Tudo é muito real e estupidamente lamentável!

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*Autor de Janelas do tempo, livro de crônicas, de 2008; e O inverno dos anjos do sol poente, romance, de 2014, à venda na Livraria Nobel do Via Verde Shopping.

quinta-feira, 26 de março de 2015

PM REALIZA AÇÕES CONTRA VIOLÊNCIA EM XAPURI

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A Companhia de Polícia Militar de Xapuri iniciou durante esta semana duas ações que fazem parte do conjunto de metas que a corporação tem estabelecidas para o decorrer de 2015. São elas as operações Comércio Seguro e a Visita Solidária.

Ambos os trabalhos possuem caráter preventivo e visam reduzir o número de ocorrências de duas das naturezas de crimes mais recorrentes: os roubos e furtos contra estabelecimentos comerciais e os crimes graves contra a vida.

A Operação Comércio Seguro tem o objetivo principal de realizar visita aos estabelecimentos comerciais da cidade e realizar levantamentos sobre os pontos de vulnerabilidade e apontar possíveis soluções para minimizar pontos críticos e garantir aos comerciantes mais segurança no seu dia a dia.

Durante as visitas, os Policiais Militares da 2ª Cia PM de Xapuri buscam constatar os pontos que podem facilitar uma ação criminosa no estabelecimento como furtos ou roubos e apontam soluções que podem dificultar as ações dos ladrões.

“A Operação Comércio Seguro será desenvolvida durante todo o ano e a meta da Polícia Militar e realizar visita a todos os estabelecimentos comerciais da cidade”, disse o capitão Sílvio Araújo em entrevista concedida à Rádio Educadora 6 de Agosto, na última quarta-feira, 25.

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Já a operação Visita Solidária realiza o acompanhamento às vítimas de crimes graves contra a vida, violência doméstica e violência contra a mulher. A ação visa instruir sobre os procedimentos que podem ser adotados para evitar novas ocorrências e direcioná-las para órgãos específicos de proteção.

SOCORRO CARVALHO

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Cobrindo o fechamento da Semana de Capacitação e Oficina da fábrica de preservativos Natex, tive o imenso prazer de conhecer e conversar com Socorro Carvalho, a simpática e solícita coordenadora de Educação Continuada do Serviço Social da Indústria (SESI/Acre). Ela tem muito a ensinar a quem atua no serviço público e desconhece o que é relação interpessoal. Muito grato a ela pela atenção dispensada a este humilde militante do rádio e blogueiro interiorano.

QUALIFICAÇÃO

Natex capacita colaboradores em parceria com o SESI

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A fábrica de preservativos Natex encerrou nesta quarta-feira, 25, a Semana Interna de Oficina e Capacitação, oferecida aos trabalhadores da empresa por meio de parceria mantida com o Serviço Social da Indústria do Estado do Acre (SESI).

O objetivo do treinamento, segundo a coordenadora de Formação Continuada do SESI, Socorro Carvalho, foi proporcionar aos funcionários, os meios através dos quais eles irão aprimorar tanto a qualidade do trabalho quanto as relações interpessoais tanto dentro da indústria como na vida pessoal.

“O processo de formação continuada é um fator relevante para o trabalhador da indústria, do setor público ou do privado. Ele é fundamental tanto para o desenvolvimento voltado para as competências no mundo do trabalho quanto para o relacionamento com as pessoas na vida social, com os pais, os filhos e os amigos”, disse.

De acordo com a diretora-presidente da Fundação de Tecnologia do Acre e diretora executiva da Natex, Dirlei Bersh, a formação foi direcionada para o desenvolvimento do colaborador com foco não apenas na sua atividade profissional, mas também na sua qualidade de vida.

“Concentramos as oficinas na conscientização sobre a importância do trabalho de cada um e na valorização do colaborador para que ele não seja apenas um agente que produz preservativo, mas que ele se veja na sociedade como um cidadão que contribui com o desenvolvimento de seu município e de sua região com o trabalho que faz na Natex”, afirmou.

Todos os 170 colaboradores da fábrica de preservativos participaram das oficinas ministradas. Dentre eles, Antônio Raimundo de Melo, era um dos mais entusiasmados. Operador de fabricação da Natex há dois anos, fez muitos agradecimentos à direção da fábrica e elogiou a parceria com o SESI por oferecer os treinamentos.

“As capacitações tem nos proporcionado estar constantemente nos autoavaliando e revendo atitudes com base nos conhecimentos que recebemos. As oficinas foram gratificantes e focou na necessidade de mantermos uma melhor relação com nossos colegas de trabalho”, enfatizou.

Fábrica envia preservativos para o Ministério da Saúde

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A fábrica de preservativos Natex iniciou nesta semana a expedição de 30 milhões de preservativos para o Ministério da Saúde. Somente nesta quarta-feira, 25, foram carregadas 4 carretas que já estão na estrada com destino a todos os estados da região Norte, mais Matogrosso do Sul e Brasília.

A Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac), que administra a fábrica, assinou na quarta-feira da semana passada, 18 de março, a renovação do convênio com o Ministério da Saúde para o fornecimento de mais 100 milhões de preservativos.

Até a metade deste ano, a Natex deve dar início ao projeto de duplicação da produção anual. A previsão é de que até o fim de 2016 a fábrica esteja operando com a capacidade de produzir 200 milhões de preservativos por ano, segundo Dirlei Bersh, diretora-presidente da Funtac e diretora-executiva da fábrica Natex.

PAUSA

Mário Quintana

Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa.

Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?

Com algum ciclista tombado?

Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?

E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.

E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois – Dom Quixote ou Sancho? – vive uma vida mais intensa e, portanto mais verdadeira…

E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.

Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor.

E agora?

Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:

“Io sonno um poeta o sonno um imbecile?”

Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia…

A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.

E daí?

– Mas o melhor – pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança –, o melhor é repor depressa os óculos no nariz.

A vaca e o hipogrifo. © by Elena Quintana. São Paulo, Globo.

quarta-feira, 25 de março de 2015

POLO JEQUIÁ BLOQUEIA RAMAL PARA CAMINHÕES

Moradores protestaram na manhã desta terça-feira, 24, contra o tráfego de caçambas que transportam areia e danificam único acesso à comunidade.

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Moradores do Polo Hortifrutigranjeiro União, mais conhecido como Polo Jequiá, realizaram na manhã desta terça-feira, 24, uma manifestação contra o tráfego de caminhões-caçamba que transportam areia para construções retirada de uma das propriedades existente no local deixando em péssimas condições o ramal que dá acesso à comunidade onde vivem e trabalham 35 famílias.

Entre os manifestantes, várias crianças reivindicavam o direito de chegar limpas à escola e alertavam para o perigo que os veículos pesados oferecem em uma via estreita e sem nenhum tipo de sinalização. Um representante da Associação de Produtores do Polo Jequiá, Reginaldo da Silva de Souza, o Tucano, diz que os caminhões estão destruindo o único acesso entre o polo e a cidade.

“Nosso ramal está ficando completamente danificado pelo peso dos caminhões. Então nos reunimos com a comunidade e resolvemos fazer essa manifestação para chamar a atenção do poder público com o objetivo de chegarmos a um acordo que contemple também o nosso direito. Por isso estamos aqui com mulheres e também as crianças que usam esse ramal para poderem chegar à escola”, afirmou.

Durante o protesto, o ramal foi fechado à passagem dos caminhões. Informado da manifestação, o prefeito Marcinho Miranda enviou ao local o secretário municipal de Obras, Francisco Ferreira da Silva, o Neném Borges. O assessor afirmou que o proprietário da draga em funcionamento no Polo Jequiá possui todas as licenças para a extração de areia, mas considerou justos os apelos da comunidade.

“Tenho a informação de que não há nada de errado com a extração da areia quanto as autorizações para a atividade, mas com relação ao tráfego dos caminhões-caçamba entendemos que os moradores não podem ser prejudicados e nem mesmo a prefeitura pode ter o prejuízo de ver danificada uma obra de recuperação e piçarramento que foi feita aqui há pouco tempo”, disse o secretário.

A manifestação realizada no Polo Jequiá terminou bem sucedida depois que o secretário Neném Borges negociou um acordo com João Carlos Moreira, proprietário da draga e de um dos caminhões que trafegavam no ramal, e os moradores. Ficou acertado entre as partes que até o fim do período chuvoso não haverá tráfego de caminhões-caçamba transportando areia no ramal.

Ainda como parte do acordo, com a chegada da estiagem a prefeitura vai realizar uma nova recuperação do ramal, a partir de quando o tráfego dos veículos voltará a ser feito com o fim de transporte de areia. A precariedade do ramal do Polo Jequiá, no entanto, tem outra razão além do vai e vem dos pesados caminhões. De acordo com a associação, 95% da área foi inundada pela enchente do Rio Acre.

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Moradores do Polo Jequiá não aceitam destruição de ramal por caminhões-caçamba que transportam areia para lojas de material de construção.

terça-feira, 24 de março de 2015

EROSÃO AMEAÇA MUSEU E CASAS EM RUA HISTÓRICA

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O desbarrancamento do Rio Acre na “Rua do Igarapé” provocou a interdição pela Defesa Civil de todas as casas ali situadas. Pelo menos duas residências foram levadas pelas águas com a vazante. Em alguns pontos, a erosão já consumiu inteiramente a ruela considerada histórica por sua relação com a Revolução Acreana. Segundo relatos, o caudilho José Plácido de Castro teria passado por ali instantes antes de se defrontar com um sonolento Juan de Dios Barrientos no dia da independência boliviana no célebre diálogo que hoje estampa camisas.

- És temprano para la fiesta.

- Não é festa, é revolução.

A alguns metros do barranco em erosão está a Casa Branca, considerada por muitos como a sede da antiga Intendência Boliviana de Mariscal Sucre, como Xapuri era denominada pelos hermanos bolivianos. Fontes históricas, no entanto, comprovam que a verdadeira intendência boliviana nunca foi ali estabelecida, tendo em vista que em 1902 o prédio sequer existia. Foi construído em 1910 para se tornar um hotel e restaurante de “primeira ordem”, que foi chamado de “Rendez-vous da alta Sociedade Acreana”.

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Intendência ou não, é fato que a Casa Branca, hoje transformada em museu e tombada como Patrimônio Histórico e Cultural de Xapuri, possui realmente um enorme valor para a cidade e para o Acre.  Preocupa a sua proximidade com uma encosta que derrete a cada enchente. Um projeto de restauração que estava prestes a ser iniciado pela prefeitura acaba de ser abortado até que uma avaliação criteriosa da situação do patrimônio seja feita.

A LIÇÃO DO ACRE EM MEIO AO CAOS

Por Nayanne Santana*

Nas últimas semanas, quando se registrou a maior enchente do Acre, dois ministros vieram apresentar o apoio do governo federal ao estado. Entre as chegadas e partidas ministeriais, um me chamou a atenção: Carlos Eduardo Gabas, ministro da Previdência Social. Durante coletiva o representante da presidência fez um relato diante de câmeras e dezenas de jornalistas. Um testemunho sobre o que dias atrás eu também observara.

Gabas disse que, quando acompanhado por sua equipe chegou ao Acre, imaginava que encontraria um estado desorganizado, que veria pessoas desesperadas pelas ruas. Mas, enganou-se. Declarou-se positivamente surpreendido pelo exemplo que encontrou em meio ao caos.

Mas por que não nos surpreendemos com isso?

Creio que por ser um estado que nasceu nas cabeceiras de rios e igarapés, o povo acreano e o governo sabem como lidar com transbordo de mananciais. Evidente que não estamos preparados para lidar quando atinge nível de catástrofe, mas há de se reconhecer que existe um preparo e, até mesmo, uma rotina pré-estabelecida quando tal fenômeno é registrado.

Logo que se confirmam as previsões de que o rio chegará às moradias, o Parque de Exposições começa a ser preparado para tornar-se uma minicidade.  Boxes são construídos, equipes de apoio chegam ao local para catalogar os pertences dos que são abrigados, para identificar animais domésticos.

Além do acolhimento, outros serviços são ofertados, como assistência médica, três alimentações diárias, distribuição de fraldas e mingau para bebês, policiamento. Ativa-se uma rádio comunitária, onde surgem até pedidos de casamento, montam um telecentro para que a comunidade que se estabelecerá ali acesse a internet e, ainda, disponibilizam rede wi-fi, entre outros serviços. Tudo gratuito, assegurado pelo governo e prefeitura.

É lógico que os abrigados prefeririam estar em suas casas. Mas essa acolhida é fundamental. Minimiza a dor de quem deixou seu lar porque a água tomou conta. Mas, será que é assim nos outros estados? Não. Por isso o próprio ministro Carlos Eduardo Gabas admirou-se.

Eu tinha até ouvido de equipes da Defesa Civil Nacional, em 2012, que o Acre tratava essas situações de maneira atípica. Contudo, confesso, não dei a devida atenção a essa observação na época. Confesso também que só percebi isso de maneira mais nítida quando estive em outro estado amazônico que também fora assolado por uma enchente histórica, ano passado. Testemunhei o abandono das vítimas da enchente. As pessoas estavam largadas à própria sorte. Não recebiam assistência diária. No máximo, recebiam sacolões e água potável. O governo, municipal ou estadual, não se organizava para por ordem na situação, nem a comunidade tinha condições de fazê-lo, porque não estava habituada a tal fato.

Diferente do que se via aqui no Acre. Temos um ambiente preparado para montar e estruturar assistência a vítimas de enchentes. Localizada no Corpo de Bombeiros, a sala tem equipes especializadas. Homens e mulheres trabalham com logística, avaliação meteorológica e tudo mais que a situação exige. Telas de tevê mostram imagens de satélites, em tempo real, que monitoram cada milímetro de chuva que cai na região ou na bacia dos rios que cortam o estado. É um universo paralelo dentro do Corpo de Bombeiros. Ali pulsa toda nossa gestão da crise.

Conheci essa sala em 2012, quando o Rio Acre estava com alto nível e chegou a inundar 70% de Brasileia. Na época, eu era repórter da assessoria de comunicação do governo. Me aproximei mais do local em 2014, quando veio a cheia histórica do Rio Madeira. Naquele período, o Acre travou uma verdadeira operação de sobrevivência. Vencemos a guerra. Sobrevivemos ao caos.

Gabas tem razão de admirar-se com o que encontrou na capital. O Acre é uma lição de solidariedade, de superação. O Acre é uma lição de ordem ainda que diante do caos. Mas custa-nos reconhecer isso.

Boa parte da população alagada já está de volta a seus imóveis. Alguns perderam, além de móveis e eletrodomésticos, importantes elementos de registro de suas histórias: documentos, objetos de afeto, fotos de família. Mas recomeçam sem grande alarde porque sabem que somos capazes de nos reerguer depois da enxurrada. Acho que isso vem no modo acreano de ser. Nossos descendentes, os nordestinos, fugiram da falta do que hoje nos alarma. A água passa. A mesma água que nos tirou de casa é a que ajuda a renovar o ambiente e nos deixa aptos a reiniciar a vida.

*Jornalista, subeditora da Agência de Notícias do Acre.

segunda-feira, 23 de março de 2015

JUIZ LIBERTA MULHER QUE TRANSPORTAVA DROGAS EM BOLSA DE FILHA RECÉM-NASCIDA

O magistrado concedeu a ela benefício da liberdade provisória, considerando as circunstâncias de a acusada não possuir antecedentes criminais e ter concordado em colaborar com as investigações.

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O Juiz de Xapuri, Luís Gustavo Alcalde Pinto, determinou ainda no fim de semana a soltura de uma das mulheres que foram presas em flagrante, na tarde do último sábado, 21, na BR-317, transportando para Xapuri 220 gramas de cocaína escondidos dentro da bolsa da filha recém-nascida de uma delas. Elas viajavam em um táxi que faz a rota entre Xapuri e as cidades de Brasiléia e Epitaciolândia.

As mulheres, que estavam acompanhadas de cinco crianças pequenas, adquiriram a droga na cidade boliviana de Cobija e pretendiam entregar o produto ilegal a uma terceira pessoa que aguardava em Xapuri, segundo informou o delegado titular do município, Cristiano Ferreira Bastos. Elas foram identificadas como Deusenir da Silva Sena, de 24 anos, e Lenira Diogo da Silva, de 20 anos.

Depois de homologar a prisão das duas acusadas, o magistrado concedeu a Deusenir o benefício de responder ao crime em liberdade, considerando as circunstâncias de ela não possuir antecedentes criminais e de ter concordado em colaborar com as investigações. Também contou a favor dela, o fato de estar ainda de resguardo pós-parto e amamentando. Ela é mãe de outras três das cinco crianças que estavam no táxi que as traziam a Xapuri.

Já Lenira Diogo da Silva, 20 anos e mãe de uma garota de 5, que também estava no carro quando ocorreu a apreensão, continua à disposição da justiça em uma das celas da delegacia de Xapuri. Agrava a situação dela, o fato de ser mulher de Luciano Pinheiro da Silva, condenado no dia 12 de abril do ano de 2012 a cumprir uma pena de 8 anos de reclusão pelo crime de tráfico de entorpecentes. A polícia acredita que a droga apreendida no último sábado tenha sido repassada por ele às duas mulheres que deveriam entregar o produto a um irmão de Luciano.

Luciano está foragido da justiça desde o ano passado, quando se livrou de uma pulseira de monitoramento, depois de ser liberado para passar o fim de ano com a família e não mais retornar ao presídio de Rio Branco.

O DRAMA DA PERDA DA MORADIA

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O aposentado Sebastião Rodrigues de Souza, 59 anos, é uma das mais de 100 pessoas que continuam alojadas no abrigo instalado no ginásio de esportes Álvaro da Silva Mota, em Xapuri, depois de passado quase um mês do pico da enchente histórica do Rio Acre, que atingiu o nível de 18,30 metros de profundidade no último dia 27 de fevereiro, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM).

Estabelecido no box de número 13 do maior dos quatro abrigos ainda mantidos na cidade, Sebastião é um dos desabrigados que não voltarão para suas casas, pois essas foram levadas pelas águas ou pelo desbarrancamento do rio. O aposentado morava sozinho na Rua do Igarapé, um local considerado histórico por sua relação com o início da Revolução Acreana e pela vizinhança com o Museu Casa Branca, um dos cartões postais da cidade.

Sebastião conta que sair de sua casa foi uma das decisões mais difíceis de sua vida, especialmente pelo fato de ser deficiente físico. Ele perdeu a perna direita no ano de 2001 em uma acidente de trabalho, quando vivia em Rio Branco. Quando relatou o momento em que foi comunicado por um sobrinho de que sua casa havia sido levada pela enchente, os olhos marejaram.

“Nunca pensei passar por uma situação dessas, foi a pior coisa da minha vida. Perdi minha casinha e me encontro sem ter para aonde ir e nem familiares tenho muitos aqui em Xapuri. Mas foi a natureza quem quis assim e estou superando. Tenho muita fé no poder público de que as pessoas que estão passando por tudo isso não vão ficar abandonadas”, afirmou Sebastião.

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Na imagem acima, Sebastião observa da janela a aproximação das águas no encontro do Igarapé Santa Rosa com o Rio Acre, ainda no dia 21 de fevereiro. Esse era – mais ou menos – o nível que a enchente de 2012 havia alcançado. Ao lado e atrás de sua moradia, dois vizinhos já estavam com suas casas atingidas pela alagação e também tiveram o mesmo destino. Abaixo, a imagem de como ficou o lugar em que estava a casa do aposentado.

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Xapuri ainda tem um número superior a 30 famílias desabrigadas pela enchente. A grande maioria delas não retornará para as antigas residências. A Câmara de Vereadores aprovou na semana passada o projeto de lei que dispõe sobre o pagamento do Aluguel Social, benefício de cunho temporário disponibilizado enquanto as medidas permanentes não chegam. Enquanto isso, pessoas como Sebastião Rodrigues de Souza permanecerão no desconforto dos abrigos.

domingo, 22 de março de 2015

“SEM FESTA NEM FOGOS”

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A cerimônia de comemoração do aniversário de Xapuri foi realizada na manhã deste domingo, 22, em frente ao ginásio de esportes Álvaro da Silva Mota, onde ainda estão alojadas 30 famílias das centenas que foram desabrigadas pela enchente do Rio Acre, a maior da história da cidade.

O ato se resumiu ao hasteamento dos pavilhões nacional, acreano e xapuriense ao som do Hino Nacional Brasileiro, executado pela banda de música Dona Júlia Gonçalves Passarinho. Estiveram presentes funcionários da prefeitura e lideranças religiosas do município.

Em seu discurso, o prefeito Marcinho Miranda disse que apesar de a data ser muito importante para a cidade, o momento não é de festa nem de fogos. “É um instante de muita reflexão e de aproximação com Deus para que possamos tentar entender a mensagem trazida por esse desastre”.

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Ainda na manhã deste domingo, o prefeito e sua equipe receberam representantes do Moto Clube Gaviões da Amazônia, que entregaram à Secretaria Municipal de Assistência Social vários kits de donativos contendo sacolões, fraldas e material de limpeza e higiene pessoal.

Os donativos foram transportados por um caminhão da empresa Star Motos, que contribuiu com a arrecadação das doações feitas aos desabrigados de Xapuri e ofereceu o suporte ao Moto Clube Gaviões da Amazônia, para que a organização sem fins lucrativos pudesse chegar à cidade atingida pela enchente.

PARABÉNS, PRINCESA!

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Ainda sob o impacto da maior enchente da história, Xapuri completou 110 anos de fundação neste domingo, 22 de março. Não há festa, nem comemorações. Mas há controvérsias quanto à data da fundação do município. Alguns historiadores citam 22 de agosto de 1904, outros 23 de abril de 1903, 23 de outubro de 1904 e 22 de março de 1904. O governo do Acre e a prefeitura local utilizam o dia 22 de março de 1904 como o ano de fundação para as atividades festivas da cidade. O blogueiro usa 22 de março de 1905, como me ensinaram, lá no Grupo Escolar Plácido de Castro, várias professoras de muito boas lembranças.

ESSA NOSSA ABENÇOADA JUVENTUDE BOÊMIA

CLÁUDIO MOTTA PORFIRO*

Plantaram no âmago daquela alma insana, e pouco ingênua, algumas sementes de arbusto parente destes que enverga, mas não quebra. Nasceram-lhe galhos descomunais, tais e quais os da castanheira bicentenária, única a não ceder para o rio que tudo arrasta, numa alusão a Brecht. Folhas e frutos passaram a render muito acima do esperado. Àquele ser a natureza houvera presenteado com uma guirlanda de folhas de jurema e tamarindeiro postada sobre a cabeça à guisa de enfeite próprio dos campeões de qualquer peleja. Um colosso!

Passou a navegar com grande facilidade pela vida afora. É que, aqui e ali, foi aprendendo a não criar problemas e a se defender dos que lhe surgiam, ou lhe eram colocados em meio ao caminho bem palmilhado com as botas do velho caudilho, ou com um sapato de seringa herdado dos ancestrais trabalhadores da mata. Para cada percalço da vida, sempre algo lhe serviu de lenitivo ou cura total, posto que os curandeiros da vizinhança estavam sempre a postos com os seus chás e unguentos de todas as qualidades e para os fins mais diversos possíveis.

Não teve infância nem adolescência, posto que filho de pobre desconhece estas trivialidades do pensamento de alguns estudiosos da alma humana. Aos dez janeiros, se fez negociante em coligação com a mãe. Aos catorze já prosperara. Ao lado da existência devotada ao trabalho estafante, vivia uma vida estudantil na qual passeava com um bando de crianças muito mais estudiosas e muito menos arteiras. Queria ser músico, mas, quando muito, apenas chegou a apitar muito bem uma corneta nos desfiles cívicos do colégio das irmãzinhas servas e santas.

Durou tão pouco esta fase, até porque se fez adulto um pouco depois do tempo de andar de fraldas ou da época de mijar na cama.

Da mesma forma que lhes sorriram algumas breves musas do seu e de outros tempos, assim também lhe sorriu o destino, só que este, sim, de boca escancarada de uma orelha à outra.

Antes, bem antes, viu uma violinista com nome de flor e uma violonista batizada Olívia. Uma senhora muito bonita dedilhava divinamente ao piano, no grupo escolar, em saraus de verão. A música delas se fazia sublime a qualquer ouvido na cidade princesa. Habitara, já, a música a alma do poeta infante. No entanto, ele sempre teve certeza de que a flauta mágica dos anjos jamais seria brinquedo seu.

Em criança, ia à casa paterna um mulato pintor e tocador de média qualidade, que queria ensinar a alguém as artes do violão. O garotinho via o moço bater nas cordas e ficava extasiado. Depois, um menino boymostrava as notas musicais naquelas posições estranhas em que os nós dos dedos doem e incham. Em seguida, apareceram os conjuntos musicais tão apreciados pelos da cidade e pelos da capital.

No colégio, um dia, depois de ouvir uma cançoneta qualquer sob os acordes de um tocador chamado camaleão colorido, o menino houve por bem pedir que ele tocasse uma outra, do Renato & seus blue caps. O bom rapaz, uma espécie de multimídia da comunidade, foi incisivo:

- Pô! Isso aqui não é vitrola não, que tudo que tu quer ela toca.

Enfim, o garotinho percebeu surpreso que nenhum músico sabe tocar todas as músicas. Pudera!

Veio, então, a fase dos botecos da capital tristinha. Em um jirau qualquer, havia música mecânica de boa qualidade e a conversa dos convivas era nivelada por cima. No outro bar jovem bacana, bem diferente, uns rapazes compunham um certo grupo capu, que operava maravilhas através de um jeito sui generis de fazer a galera dançar... Foram aqueles tempos de muita diversão e som de ótima qualidade. Por uns dez anos, a frequência e a rotatividade em finais de semana obrigavam-no a passar ou a ficar por ali, até que veio um bar com nome de avião de pau. Tudo, então, já se tornara bem moderno, inclusive, as viagens de jato pelo Brasil afora a partir do antigo aeroporto da cidade insossa.

O Ari não deu o ar da graça, no Café Nice, até porque os intensos dias dele já se houveram ido. Nem o Donga foi visto em Madureira, na Portela, posto já serem realidade os incríveis anos oitenta, quando ainda soavam ao longe os últimos acordes dedilhados por Vinícius de Moraes, em Ipanema, na esquina mais poética do Brasil. Também o Cartola já não morava no Catete e muito menos em Mangueira. Bom mesmo é que, no Beco das Garrafas e na Boca do Lixo, poetinhas de todos os matizes, de boa rima e ótima métrica, usavam muito bem a herança deixada por aqueles que já se haviam ido para outras doces tarefas em mundos um tanto mais leves e distantes... Saravá!

1990. Rua Miguel Lemos, Copacabana, uma e pouco da manhã. Eis que um acreano cumprimenta João Ubaldo Ribeiro e se diz leitor seu e fã. Com um sorriso do lagarto de uma orelha a outra, o cronista bradou:

- Rapaziada!... Este moço é do Acre. A ele um brinde!

Foi aí que o rapazola, aos trinta e poucos, passou a fazer amizade com todos os garçons com quem trava conhecimento, seja em que boteco for por esta vida boêmia afora. É que eles vieram bebericar a derradeira, posto que a função já chegara ao fim, enfim. Já era segunda-feira...

Nasceram-lhe filhos, então. A boa música povoou-lhe ainda mais a alma. Hoje, um crioulo magro dedilha divinamente bem músicas belíssimas compostas pelo filho do Seu Sérgio Buarque. Um náua caboclo pequeno e talentoso passa de Tom Jobim a Zé Rico num piscar de olhos. Um roqueiro chega em apenas um passo e toca um roque misturado com baião. Bravos!

De tudo ou antes de mais nada, à mente do poeta insano ainda sopra a poesia serena e meiga e suave e linda de Vinícius de Moraes. A partir de agora, lá no céu, também passarão a servir uísque e não apenas o vinho verde que não é de Portugal...

É pra você, poetinha, a balada seguinte!

INSENSÍVEIS

Vinha bela no seu balouçar de ancas largas.

A vila inteira em júbilo, em festa febril.

Depois, um susto, um derramar de pétalas...

Era médio ou pleno abril...

Pássaros, flores, lágrimas tardias, desilusões.

Rosas púrpuras, céu claro cor de anil.

Tempos ocres, cor de cobre, rendas rasgadas.

O amor enredara-se e caíra em ardil.

Moribundos tantos de amores que são hoje cinzas.

É assim a tenra vida, o destino vil...

Julgaste-me muito bem ou mais ou menos mal.

Arrefecimento fátuo, pouco discernimento.

O tempo urgente balançou a árvore infrutífera

Muito próprio do amor, parco desentendimento.

Um leve adeus em mágoas e descontentamento.

Não sabias das minhas intenções, do meu intento.

E não viste nem por um breve momento

Que se os teus instantes não tinham nenhum valor,

Não devias desperdiçar os meus, em nenhum momento...

Coube então a última lágrima, um triste adeus, por Deus!

O amor houvera por bem enredar-se e cair no ardil

Temos morrido a cada instante destes tristes dias...

É assim a tenra vida, a sina, a morte, o destino vil...

Em verdade, a poesia é que o leva a pensar assim. Afinal, ele não pariu o seu mundo com violência, mas rodeado dos carinhos das mais belas mulheres, desde a mãe que o acalentou e amamentou, a esta última sócia no árduo empreendimento que é fazer e bem educar crianças humildes, mas felizes. Benza Deus!

__________

*Autor de Janelas do tempo, livro de crônicas, de 2008; e O inverno dos anjos do sol poente, romance, de 2014, à venda na Livraria Nobel do Via Verde Shopping.

DIA MUNDIAL DA ÁGUA

"Água e Desenvolvimento Sustentável"

Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)

Em um mundo onde 780 milhões de pessoas não têm acesso à água potável e 40% da população mundial viverá em áreas de escassez de água em 2050, devido aos efeitos do aquecimento global e das alterações climáticas (Fonte: OMS / UNICEF, 2013), a utilização eficiente e eficaz dos recursos hídricos tem um significado especial.

Os países amazônicos Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, reunidos na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), são os maiores detentores de recursos de água doce no mundo (20% do total mundial) e estão determinados a facilitar e promover ações para a conservação, proteção e uso sustentável dos recursos hídricos na região amazônica. Para este fim, a OTCA está executando um projeto regional deManejo Integrado e Sustentável dos Recursos Hídricos Transfronteiriços na Bacia do Rio Amazonas, considerando a Variabilidade e a Mudança Climática. Este projeto visa a fortalecer o marco institucional para o planejamento e a implementação de atividades estratégicas para a proteção e gestão dos recursos hídricos na Bacia Amazônica, por meio da formulação de um Programa de Ações Estratégicas (PAE) e da criação de um ambiente favorável de cooperação regional nas áreas social, econômica, política e institucional para a futura aplicação deste Programa.

O Projeto inclui um Diagnostico Analítico Transfronteiriço (ADT) para identificar os problemas transfronteiriços, suas causas e impactos sócio-econômicos e ambientais. Também tem como um dos seus objetivos a produção de um Atlas Regional de Vulnerabilidade Hidroclimática, consolidando dados e informações socioambientais, socioeconômicas, de infraestrutura, clima e riscos. O conhecimento científico sobre os ecossistemas aquáticos, sedimentação em rios amazônicos e aquíferos para analisar os riscos ambientais e seus impactos socioeconômicos, a carga de sedimentos e o estado das águas subterrâneas também será desenvolvido. O empoderamento dos governos e comunidades locais para responder e se adaptar a eventos extremos através da implementação de um Sistema de Alerta Precoce, um Modelo de Governança de Risco, agrotecnologias para a cultivo nas áreas alagadas e medidas de adaptação à elevação do mar, também será promovido.

Com o apoio do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e dos Países Membros (PM), a OTCA está se tornando um ponto de referência regional para a utilização sustentável recursos hídricos. Os Países Membros da OTCA estão cumprindo suas responsabilidades na preservação e conservação dos recursos hídricos na bacia do Amazonas, por meio de um diálogo regional sobre a gestão dos recursos hídricos transfronteiriços e do desenvolvimento de uma estratégia comum para lidar com os desafios e oportunidades para o benefício das gerações presentes e futuras.

OTCA é um organismo intergovernamental que reúne oito países da Bacia Amazônica, desenvolve projetos na região sobre a gestão sustentável e integrada dos recursos hídricos transfronteiriços.

sábado, 21 de março de 2015

INUSITADO E LAMENTÁVEL

No Dia Mundial da Infância, duas mulheres envolvem cinco crianças em uma apreensão de drogas feita pela Polícia Civil de Xapuri na BR-317.

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De acordo com a Polícia Civil, Lenira Diogo da Silva, 20 anos, e Deusenir da Silva Sena, 24, transportavam quantidade não informada de entorpecentes. Elas viajavam em um taxi, na tarde deste sábado, 21, que vinha da fronteira com destino a Xapuri. O lado inusitado do fato é que as mulheres traziam na viagem nada menos que cinco crianças, sendo que a mais nova tem apenas 15 dias de vida.

Deusenir da Silva Sena (foto acima), mãe da criança recém-nascida, teria sido contratada por Lenira Diogo da Silva (abaixo) para transportar a droga, que vinha em meio às fraldas do bebê. Ainda de acordo com a polícia, Lenira é esposa de um traficante de Xapuri que se encontra foragido da justiça. Segundo as investigações, ele estaria por trás da ação coibida nesta tarde.

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O lado lamentável do fato está na maneira trágica como as pessoas mais socialmente vulneráveis estão sendo tragadas por esse buraco negro chamado tráfico de drogas. Esse é o segundo flagrante dessa natureza ocorrido no município em menos de uma semana. No primeiro, um jovem de 21 anos. Agora, duas jovens mães de 20 e 24. Desnecessário dizer que algo precisa ser feito além de simplesmente encarcerá-los.

PARCERIA

Governo transfere Hospital de Xapuri para unidade da prefeitura

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Samuel Bryan, da Agência de Notícias do Acre.

O governador Tião Viana recebeu o prefeito de Xapuri, Márcio Miranda, e o secretário de Saúde, Armando Melo, na noite desta sexta-feira, 20, no Gabinete de Governo, para falar sobre o funcionamento do Hospital de Xapuri. O local foi atingido pela cheia histórica do Rio Acre e precisou mudar para uma das unidades de saúde do município, porém, por ser um espaço insuficiente, a prefeitura e o governo chegaram a um acordo para que o hospital passe a funcionar na nova unidade de saúde de Xapuri que não foi nem mesmo inaugurada ainda.

Segundo o prefeito, a unidade de saúde está nos preparativos finais e ficará pronta para receber a estrutura e o pessoal do Hospital de Xapuri, em 30 dias.

O secretário Armando Melo informou que o hospital foi bastante atingido pela enchente e por isso está inviabilizado de retornar às atividades normais por tempo indeterminado. Com essa medida, governo e prefeitura se unem para que não haja prejuízos maiores ao atendimento à população.

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Hospital Dr. Epaminondas Jácome foi totalmente atingido pela cheia em Xapuri  (Foto: Diego Tenutti).

sexta-feira, 20 de março de 2015

CASA BRANCA

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Erroneamente considerado como a Antiga Intendência Boliviana de Mariscal Sucre, onde Juan de Dios Barrientos foi deposto por José Plácido de Castro e seus soldados seringueiros, em 6 de agosto de 1902, o prédio chegou a ser utilizado, na década de 1980 como boate.

O historiador Marcos Vinícius das Neves afirma que a ideia de se atribuir à Casa Branca uma identidade que ela nunca possuiu se converte em um verdadeiro estelionato histórico. E essa reposição da verdade, segundo ele, não prejudica o valor cultural que o patrimônio possui.

A Casa Branca foi construída para funcionar como hotel e restaurante, na primeira década do século XX. Um anúncio publicado no jornal Folha do Acre, no dia 29 de novembro de 1910 (veja aqui), corrobora as afirmações do historiador.

No entanto, a placa de tombamento da Casa Branca como Patrimônio Histórico Cultural de Xapuri, com base numa mentira histórica, continua fixada ao lado da porta de entrada do prédio a espera de que alguém crie coragem de retirá-la pelo bem da verdade.

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No prédio estão expostas peças que relembram a Revolução Acreana, a atividade do seringueiro e obras de artistas locais e de outros pontos do Acre. Lá também estão expostas, em quadros padronizados, fotografias de vários prefeitos xapurienses.

A DÍVIDA PÚBLICA: TALVEZ UM DOS MAIORES PROBLEMAS DO BRASIL*

Carlos Estevão Ferreira Castelo

Desde a eleição presidencial de 2014 tenho observado no “mundo maravilhoso do facebook” uma verdadeira “guerra de postagens” entre vermelhos e azuis. Posts que, em grande parte, são totalmente descabidos de mínimo senso crítico (ou como diria meu filho: “sem noção alguma”). Dia desses, uma dessas postagens despertou-me maior atenção. Falava sobre a dívida externa brasileira.

Talvez tenha despertado meu interesse pelo fato de apresentar informações, incorretas, sobre um tema que tenho certo domínio devido minha função de Professor de Economia na UFAC. Era uma “fotomontagem”. Postada por um simpatizante do “Garantido”. O post afirmava, em letras grandes, que o “Lula havia pago a dívida externa brasileira”.

Fiquei com uma vontade enorme de comentar a publicação. A ideia era perguntar se o “amigo de face” acreditava mesmo naquilo. Mas, como agora utilizo o método de contar até três antes de comentar qualquer coisa nas redes sociais, pensei um pouquinho e decidi que não comentaria. Achei melhor escrever esse texto e publicar na minha linha do tempo. É que da última vez que entrei nesse tipo de “debate virtual” no grupo “Filhos e Amigos de Xapuri” com um funcionário do Banco da Amazônia, fui chamado de “intelectual criminoso”, “bandido”, e outras coisas que nem vale a pena falar.

O post da dívida, como também os comentários que o mesmo provocou, para mim evidenciam, claramente, como a maioria da população brasileira está totalmente desinformada (de propósito, diga-se de passagem) sobre o que considero um dos maiores problemas que enfrentamos: a nossa dívida pública. Considero a dívida um grande problema na medida em que a mesma se relaciona diretamente com o fato de sermos o 7º país mais rico do planeta, mas o 3º mais injusto (considerando a distância entre pobres e ricos).

Todo especialista na velha ciência social sistematizada por Adam Smith e outros clássicos sabem, ou deveriam saber, que o Brasil não pagou dívida nenhuma (nem externa nem interna). Inclusive, os valores que devemos só tem crescido nos últimos anos, e de forma considerável. E o mais grave é que entra Governo e sai Governo e continuam teimando em não admitir que a dívida é um dos nossos principais problemas. Além de não admitirem, não falam claramente sobre ela (e sobre as implicações dela) para a população (nem os burocratas do Governo, nem os políticos, e nem a grande mídia atrelada ao capital). Penso eu que se esclarecidos fossem, talvez os cidadãos questionassem de forma mais assertiva, por exemplo, o fato de 45% do orçamento do país ser destinado ao pagamento de juros e amortização. É quase a metade do orçamento destinado aos juros e amortizações da dívida, pessoal. Metade, eu falei metade.

Muito se fala em juros elevados no Brasil (e são mesmo), mas pouco se diz que juros elevados possuem relação direta com a divida pública. Muito se comenta sobre a carga tributária altíssima que suportamos, mas dificilmente se relaciona a carga com a dívida. Dívida que também explica, em grande medida, os famosos contingenciamentos orçamentários que ocorrem todos os anos no dinheiro da educação e da saúde dos brasileiros. Contingenciamentos para perseguir as “espetaculosas” metas de superávit primário. Sem falar do “dedinho de responsabilidade” dessa “velha senhora” - a dívida - com os cortes de benefícios sociais e as constantes ameaças de congelamentos da renda dos trabalhadores.

A dívida pública brasileira, teoricamente, pode ser dividida em externa e interna (digamos que é a soma das duas). Em 2013 a dívida externa brasileira já havia ultrapassado os 450 bilhões de dólares norte americanos. Portanto, quando muitos repetem que o Lula pagou a dívida ao FMI, estão se referindo, na verdade, a um pagamento de 15,5 bilhões acontecido em 2005. Pagamento que não foi nada bom para as finanças do nosso país, diga-se de passagem. Não foi bom, pois o FMI cobrava 4% ao ano de juros, e o governo brasileiro, para pagar esses 15,5 bilhões, emitiu títulos da dívida interna pagando por eles juros de 19% ao ano. Então, na verdade, trocamos uma dívida em dólares (que estava caindo na época) junto ao FMI à taxas de 4% ao ano, por um dívida, em reais, junto a bancos privados (maioria internacionais), à taxas médias de 19% ao ano. Penso que “ficar livre do FMI” é importantíssimo para o Brasil, entretanto, no mesmo dia que esse pagamento foi efetuado, o Ministro Antônio Palocci se apresou para publicar no sitio do Ministério da Fazenda que o pagamento não significava rompimento com o artigo 4º do estatuto do Fundo, simplificando: a “cartilha” do FMI. O Brasil nunca rompeu.

O sistema atual da dívida externa brasileira começa nos anos de 1970 da ditadura empresarial-militar. Exatamente quando a liquidez de recursos, em dólares, estava abundante no mundo. O governo americano havia acabado com a paridade dólar/ouro e, estrategicamente, ofertava sua moeda a taxas de juros baixíssimas e prazos de carência longos. O seduzido Brasil pegou muita grana emprestada (agentes públicos e privados). Onde gastou só suspeitamos. Mas havia um pequeno detalhe nos contratos, daqueles escritos com letras “miudinhas”, as taxas, apesar de baixas, eram flutuantes. Em outros termos, era o FED que controlava as taxas. Então, se os bancos credores precisavam de um “dinheirinho a mais”, era só aumentar as taxas.

Na década de 80 essas taxas flutuantes alcançaram patamares 20,5% ao ano, provocando crises em cadeia. Crises provocadas pelos bancos credores é importante frisar. É nesse momento que entrou com força o FMI. O FMI passou a “colaborar” com os países devedores, mas impondo sua “cartilha”. A principal exigência do FMI para “ajudar” os países devedores foi que deveriam renegociar dívidas com os bancos credores estatizando-as. Ou seja, o BACEN deveria assumir as dívidas do setor privado (de grandes bancos, de grandes empresa de comunicação, etc). Além das exigências de privatizações de nossas empresas, etc. Vários contratos da dívida foram estatizados, a partir de 1982.

Em 1992 existia a suspeita que a nossa dívida entrou em prescrição. Mesmo assim, em 1994, ela foi transformada em títulos (o famoso plano Brady – a dívida que era em contratos foi transformadas em títulos negociados no mercado). Trocou-se uma dívida em contratos provavelmente prescrita, por títulos. O Brasil não ganhou nada e ainda teve que comprar títulos da dívida americana, como garantia. E os “bônus Brady” serviram para comprar nossas empresas que foram privatizadas a partir de 1996. Além disso, a partir 2004 o Brasil também passou a fazer resgates antecipados da dívida pagando ágio de até 70%. A pergunta é: quem está por trás disso tudo?

Com respeito à dívida interna, em sua maioria, é resultante de mecanismos meramente financeiros. Juros sobre juros. Para conseguir mais dinheiro o Brasil vai criando papeis e estabelecendo taxas altíssimas para vendê-los no mercado. Processo esse intensificado no Plano Real para atrair capitais estrangeiros visando pagar exportações. Não esqueçamos que as portas do Brasil haviam sido abertas para as exportações. Seu volume gira em torno de três trilhões de reais.

E quem compra os títulos da nossa dívida interna? Os “dealers”. São eles os compradores, e também os que ditam as taxas que querem ganhar (no jogo de cartas os dealers sempre serão os últimos a dar o lance no jogo). Taxas que estão alcançando patamares de 11% ao ano, gerando lucros extraordinários aos grandes bancos multinacionais (maiores compradores de nossos títulos). E esse sistema todo opera com privilégios políticos, econômicos, e com apoio da grande mídia. Também com muita corrupção. Os que sempre ganharam colaboram para que o sistema não mude, nunca.

Aos pobres são dados pequenos ganhos e bolsas.

Antes de 2003 eu lutava muito para o “garantido” ganhar o campeonato. Ganhou e não mudou nada. Hoje só torço pelo Botafogo.

* O Artigo possui como fonte principal uma aula aberta na USP proferida pela professora Dr. Maria Lucia Fattorelli.

Carlos Estevão Ferreira Castelo é professor de Teoria Econômica da UFAC e doutor em História Social pela USP.

XAPURI E SEU “INSUPORTÁVEL” DILEMA

A “princesa virou plebeia” ou nunca foi mesmo tão “aristocrática”?

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Francisco Bento da Silva
Sérgio Roberto Gomes de Souza

No próximo domingo, 22 de março, Xapuri completará 110 anos de idade. A data é uma representação e não significa o momento em que deu-se a ocupação da localidade ou foi criado seu primeiro núcleo populacional. A imprecisão permanece, mesmo se utilizado como referência um ato institucional, já que foi através do decreto Nº 09 de 28 de setembro de 1904, assinado pelo prefeito Raphael da Cunha Mattos, que o Departamento do Alto Acre foi dividido em dois municípios: um com sede na Villa Rio Branco e outro na cidade de Xapury. Foram, a partir de então, estabelecidos os limites territoriais e criadas as Intendências Municipais, compostas por um Intendente e quatro Vogais cada. No período, estimava-se que a cidade de Xapury tinha aproximadamente 40 casas e a população total do município era de cerca de 800 habitantes.

É sempre bom lembrar que o espaço pertencia a Bolívia e era denominado “Mariscal Sucre” (Marechal Sucre), em homenagem a Antônio José de Sucre, militar e estadista venezuelano, combatente nas lutas em defesa da independência da América Latina. Sua anexação ao território brasileiro ocorreu como consequência da assinatura do Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de 1903.

A formação histórica de Xapuri ainda é bastante confusa. Fala-se de um espaço inicialmente habitado por três etnias: “Moneteres, Catianas e Xapurys”. Mas, não se pode dizer que existam fartos registros da presença dessas populações na região. Uma possibilidade é que haja “confusão” com relação às nomenclaturas. Por exemplo: quando se utiliza o termo “Moneteres”, parece ser uma referência ao Povo Manchineri, citados “em vários relatórios da segunda metade do século XIX, em textos do geógrafo inglês W. Clandless, do caboclo Manuel Urbano da Encarnação e do seringalista Antonio Labre (MANCHINERY & MORAIS, 2011, P. 4)

Nos relatos de Manuel Urbano da Encarnação, tido como primeiro a “desbravar” rios e florestas da região de Xapuri, são enumeradas um total de 18 tribos nas redondezas do Juruá e nos afluentes do Purus, entre elas estavam: Mura, Pamari, Catauxi, Caripuna, Cipó, Mamuri, Uapuça, Catuquina, Crupali, Tará, Paru, Ipuriná, Pamaná, Quaruná, Juberi, Jamamadi, Canamari e Maneteneri, que são os atuais Manchineri (Brasil, 2009, apud MANCHINERY & MORAIS, 2011, P. 4). Perceba-se que não são feitas referências as etnias dos Xapurys e Catianas. Uma informação importante, com relação à terminologia “Xapuri”, foi dada por David Kopenawa, em entrevista a revista “Galileu”. Para os Ianomâmis, os “Xapuris” são os Xamãs e teriam sido enviados á terra por Omami (criador), para cuidar da terra e ajudar as pessoas. Isso não significa que a etnia não existiu e tão pouco que o significado do termo fosse o mesmo utilizado por outros Povos Indígenas. A intenção é apenas mostrar que existe um vasto campo de estudo a ser explorado.

A institucionalização de Xapuri está inserida no contexto de criação de um novo regime jurídico para o Acre, definido e implantado logo após a anexação do Território ao Brasil. Francisco Bento da Silva aborda o tema da seguinte maneira: “Três alternativas estavam postas para aquela questão: a) ser o novo território administrado pela União; b) anexá-la ao Estado Amazonense; ou, c) elevá-lo à condição de Estado Autônomo da Nação brasileira. Prevaleceu a primeira alternativa, uma saída que antes de tudo beneficiava o Governo Federal no âmbito econômico e político, desagradando por sua vez tanto às oligarquias locais quanto as regionais, ligadas ao extrativismo da borracha e que tinham enorme interesse em ter controle sobre o novo território tornado brasileiro (SILVA, 2012, p. 31)”.

Definido o estatuto jurídico que tornava o Acre um Território a ser administrado pela União, portanto, sem nenhuma autonomia administrativa e política, teve início sua organização institucional. O Decreto nº 5.188 de 07 de abril de 1904, dividiu administrativamente o Território em três Departamentos: Alto Juruá, Alto Purus e Alto Acre. Para cada Departamento o governo federal nomeou um prefeito e os membros do corpo judiciário.

Rafael da Cunha Matos foi nomeado prefeito do Departamento do Alto Acre através do decreto nº 14, de abril de 1904, mas só chegou a região no dia 17 de agosto do mesmo ano após “longa e penosa viagem”, com início na cidade do Rio de Janeiro e fim quando de seu desembarque no povoado de Rio Branco. Um dia após sua chegada tratou de instalar a sede da prefeitura. A princípio, intencionava fazê-lo em Xapuri, o que terminou por não concretizar-se devido às dificuldades que encontrou para deslocar-se até o local, em consequência do período de vazante das águas e as péssimas condições de navegabilidade do rio Acre, única via de acesso a época. O prefeito explicou que não poderia esperar de cinco a seis meses pelo período das chuvas, que proporcionaram ao rio o volume de água necessário para viabilizar sua locomoção, para poder instalar a Prefeitura. Sua opção inicial por Xapuri e não Rio Branco para a capital, deu-se devido à crença pessoal que, no primeiro, os quadros mórbidos eram bem mais amenos, muito embora tenha dito que o clima era insalubre em todo o Departamento que administrava: “Como já conhecesse pessoalmente as terras banhadas pelo rio Acre e estivesse, portanto, habilitado a fazer juízo seguro do respectivo clima que é o mais insalubre possível, a partir da Capital Federal tinha em mente constituir em Xapuri a sede do meu governo, pois ali se fazem sentir com menos intensidade as febres de mau caráter, o beri-beri e outras enfermidades que tanto dizimam a população do Acre. (MATTOS, 1905, p. 03)”.

Plácido de Castro viria a criticar posteriormente Cunha Mattos, alegando que a medida de situar em Xapuri a capital do Departamento era “sem alcance e sem vantagens, dada a extrema dificuldade de navegação e, por conseguinte, de comunicações para aquela cidade durante o período de baixa das águas” (CASTRO, 1907, p. 187).

Acauã Ribeiro, que também exerceu o cargo de prefeito, esboçou transferir a capital do Departamento para Xapuri, conforme pode ser constatado em afirmação que fez em seu relatório de 1905: “O estabelecimento da capital preocupou bastante minha atenção, porquanto desde logo fui recebendo informações das condições de salubridade desse local (refere-se a Villa Rio Branco), ao passo que preconizavam a cidade de Xapury como mais salubre (...) tanto mais por ser o mais movimentoso (sic) centro do Departamento” (RIBEIRO, 1905). Mas, não demoraria a arrepender-se, utilizando como argumento os problemas de acesso já citados em 1906 por Plácido de Castro. De acordo com o prefeito: “É certo que a cidade de Xapury tem a maior movimentação, o seu município é o de maior extensão e possui excelentes e mais ricos seringais, daí seu prospero comercio e sua grande população. Mas faltam outros requisitos necessários para uma capital, sendo notável a grande distancia que está dos demais pontos do departamento” (RIBEIRO, 1905).

Xapuri não tornou-se capital do Departamento, mas, manteve durante todo a época áurea da borracha uma grande importância econômica, motivo pelo qual adquiriu o título de “princesa do Acre”. Não se sabe ao certo se tão “nobre” denominação serviu como espécie de “prêmio de consolação”, mas, é possível dizer que isto não representou nenhuma melhoria na qualidade de vida de seus habitantes, principalmente dos mais pobres. Observe-se, por exemplo, a passagem do relatório de Acauã Ribeiro sobre a educação no município: “A Instrução pública e ministrada em duas salas de aulas mistas do primeiro grau, funcionando uma nesta Vila sob a direção da normalista Nicolina Fontoura e outra na cidade de Xapury sob a direção da professora D. Candida do Nascimento (...) não obstante o numero de crianças de ambos os sexos ser grande e a ignorância ser quase geral entre crianças e adultos”. (RIBEIRO, 1905).

De forma contraditória, o mesmo Acauã que havia elogiado as condições sanitárias de Xapuri, definiria a localidade posteriormente como “insalubérrima” e nada “higiênica”, com a população sendo acometida constantemente pelo beribéri e o impaludismo. Em suas viagens ao Acre entre 1912 e 1913, o médico Carlos Chagas ressaltou que o impaludismo atingia cerca de 80% a 90% da população de Xapuri. O cenário também não era lá muito agradável quando tratava-se de alimentação. A base alimentar era constituída de enlatados, no geral com data de validade vencida, carne seca e farinha. Claro que para os seringalistas ou grandes comerciantes, algumas regalias, mas nada também tão diferente. Talvez um pouco de bacalhau. Segundo o prefeito: “É um fato reconhecido por todos que é simplesmente péssimo o sistema de alimentação, onde o pão e a carne verde raríssimas vezes figurava (RIBEIRO, 1905.)

A população de Xapuri não foi constituída apenas por “desbravadores” nordestinos ou “comerciantes” sírio-libaneses e portugueses, como costuma-se a afirmar. Além destes, havia caboclos ribeirinhos, personagens que uma historiografia oficial tratou de “dar sumiço” e desterrados oriundos da cidade do Rio de Janeiro, que começaram a chegar a partir de 1904. Da prisão denominada “Ilha das Cobras”, vieram participantes da Revolta da Vacina e, posteriormente, da Revolta da Chibata. Somaram-se aos “revoltosos” os que foram denominados como “vadios”, “bêbados” e outras personagens que não se enquadravam nos preceitos modernizadores, vigentes na capital da República no início do século XX.

Perceba-se que existem intermináveis memórias que ainda precisam ser acessadas para que “outras histórias” sobre Xapuri sejam narradas. O enfoque deste texto foi na origem da cidade, mas sempre é importante ressaltar as constantes lutas e resistências que foram construídas, muitas vezes por personagens silenciados e silenciosos, mas que foram fundamentais para que Xapuri persistisse. Não interessa no texto discutir se Xapuri foi “princesa” e agora virou “plebeia”, citação constantemente utilizada para denominar o local como “cidade do já teve”. É possível, no entanto, perceber certo menosprezo, por parte dos que utilizam o termo aos “plebeus”, aos não aristocráticos, aos comuns o que deixa a impressão de que em Xapuri, mas do que o fato da cidade ter sido uma “princesa”, a sua caracterização com o “nobre título” serve muito mais para satisfazer o ego dos que juram, de pés juntos, que têm “sangue azul” circulando nas veias e, cá prá nós, isso é mesmo muito engraçado.

Foto: Centro Comercial de Xapuri. Tibor Jablonsky. Fonte: GUERRA, Antônio Teixeira. Estudo Geográfico do Território do Acre, 1955. Pág. 160. Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico – FEM.

Francisco Bento da Silva e Sérgio Roberto Gomes de Souza são professores de História da Universidade Federal do Acre.

quinta-feira, 19 de março de 2015

JOÃO DAMASCENO GIRÃO

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A bela e triste imagem é do fotógrafo Raimundo Paccó. Xapuri se aproxima dos seus 110 anos de existência como cidade logo depois de passar pela maior enchente do Rio Acre desde que o cearense João Damasceno Girão fundou o povoado, em 22 de março de 1905. Diz a história que Girão chegou por aqui na excursão do pioneiro Manoel Urbano da Encarnação. O busto do fundador não chegou a ser encoberto pelas águas.

quarta-feira, 18 de março de 2015

POLÍCIA APREENDE MACONHA RUMO A XAPURI

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A Polícia Civil de Xapuri interceptou na tarde desta quarta-feira, 18, na BR-317, uma carga de meio quilo de maconha que tinha como destino bocas de fumo da cidade. A droga foi apreendida em poder de Samuel Souza Viana, de 21 anos, que foi preso em flagrante.

Samuel, que viajava de ônibus na linha Rio Branco-Xapuri quando foi preso, era investigado há algum tempo por suspeita de transportar drogas para a cidade. Há cerca de 6 meses um irmão seu, de nome Alan, também foi preso em flagrante pelo mesmo crime.

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Samuel foi preso em operação coordenada pelo agente civil Eurico Feitosa.

NATEX RENOVA CONTRATO COM MINISTÉRIO DA SAÚDE

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Larissa Costa, da Agência de Notícias do Acre.

A diretora-presidente da Fundação de Tecnologia do Estado de Acre (Funtac), que também dirige a Fábrica de Preservativo Masculino de Xapuri (Natex), Dirlei Bersch, assinou na tarde desta quarta-feira, 18, um novo contrato com o Ministério da Saúde (MS), para o fornecimento de 100 milhões de preservativos masculinos de látex nativo.

Assinaram o contrato a diretora-presidente Dirlei Bersch, o diretor operacional Jocemirio Ferreira e a servidora Heloisa Valente, que assinou como testemunha A Natex opera desde 2008 na produção de preservativos masculinos de látex nativo, extraído da seringueira, gerando emprego e melhoria de renda para o município de Xapuri.

Esses preservativos são fornecidos ao Ministério da Saúde, que os distribui gratuitamente à população brasileira para prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) HIV/Aids e Hepatites Virais, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

“Essa parceria estabelecida com o Ministério da Saúde em 2004 resultou na implantação de uma indústria que emprega tecnologia de ponta utilizando uma nobre matéria-prima de nossas florestas, o látex da seringueira, que enobrece a história do Estado e hoje nos insere na ponta do processo, agregando valor ao produto dentro do Acre, melhorando a qualidade de vida dos extrativistas da região de Xapuri e Alto Acre”, diz Dirlei.

Assinaram o contrato a diretora-presidente Dirlei Bersch, o diretor operacional Jocemirio Ferreira e a servidora Heloisa Valente que assinou como testemunha (Foto: Vasti Quintana)

Assinaram o contrato a diretora-presidente Dirlei Bersch, o diretor operacional Jocemirio Ferreira e a servidora Heloisa Valente, que assinou como testemunha (Foto: Vasti Quintana).