quarta-feira, 4 de março de 2015

ANTES DE TUDO UM FORTE

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Tomo emprestado um pedaço da famosa frase de Euclides da Cunha em “Os Sertões” para exaltar a força desse povo acreano que, descendente dos nordestinos, sertanejos ou não, é antes de qualquer coisa dono de uma força e de uma bravura imensuráveis.

Pessoas como o sanfoneiro Juvenal Aquino (foto) são capazes de transformar sofrimento em esperança, tristeza em fé e o sentimento de perda em uma alegria que deixou meio sem jeito o blogueiro que a ele se dirigiu com ar circunspecto diante do cenário de tragédia produzido por uma enchente sem precedentes, da qual ele foi uma das muitas vítimas.

Juvenal nasceu no seringal Apodi, nas margens do Rio Xapuri, sendo o único xapuriense de 12 irmãos. Seus pais, Teodoro, um cearense de Sobral, e sua mãe, Rita, uma paraense de Castanhal, vieram para o Acre nos anos de 1940. Na viagem de barco até as matas de Xapuri, perderam três dos 11 filhos que traziam a reboque para esses confins da Amazônia.

Na cidade, onde chegou rapazote, se tornou sanfoneiro de prestígio e uma das pessoas mais queridas e respeitadas da comunidade. Sua casa noturna batizada Forró do Juvenal conquistou status de local de visita obrigatória. “Quem vai a Xapuri e não conhece o forró do Juvenal, perdeu a viagem”, costumava dizer o radialista Washington Aquino.

Nessa tragédia que atingiu Xapuri, Juvenal Aquino teve inundados tanto a casa de morada quanto o famoso salão de forró, de onde há mais de 30 anos tira o sustento da família. A exemplo da maior parte das pessoas atingidas pela enchente, não acreditou que o rio pudesse se enfurecer tanto, e perdeu quase tudo do pouco que tinha.

Entre os muitos pertences que foram perdidos na enchente estavam duas estimadas sanfonas de 48 baixos, que foram insensatamente levadas pelas águas. Não é necessário que ele diga para que se compreeenda que essa foi, sentimentalmente, a perda mais dura. Com a sanfona Juvenal Aquino possui um caso de amor que já foi tema de postagem neste blog.

Contudo, o encontrei na manhã da última terça-feira, 3, no lugar de sempre, com duas de suas características mais marcantes: o indefectível boné e o velho sorriso franco a lhe iluminar o semblante. Vassoura, rodo, balde e pano na mão. No peito, certamente, um coração ainda mais cheio de amor e de coragem para tocar a vida adiante, apesar dos pesares. Juvenal Aquino é antes de tudo um forte.

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