quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

DIREITOS HUMANOS, UTOPIA?

João Baptista Herkenhoff

Consolidar a ideia de Direitos Humanos é uma exigência para que a Humanidade possa sobreviver sem se desnaturar.

Constatamos, no leque das culturas que se espalham pelo orbe terráqueo, um “núcleo comum universal de Direitos Humanos”. Este “núcleo comum” corresponde aos “universais linguísticos” descobertos por Chomsky.

Na visão de algumas pessoas, os Direitos Humanos são uma utopia, coisa de poeta que não tem os pés na terra. Nisto de colocar o rótulo de utopia nos Direitos Humanos, os que pensam desta forma estão certos. A meu ver, o equívoco está em supor que a utopia é sonho irrealizável.

A utopia é a representação daquilo que não existe ainda, mas que poderá existir se o homem lutar para sua concretização. É a consciência antecipadora do amanhã.

A primeira função do pensamento utópico é favorecer a crítica da realidade. (Pierre Furter). As utopias propõem aos homens os meios para proverem seu destino à luz de uma visão global do desenvolvimento histórico. (Ernst Bloch).

Para que a utopia seja força progressista, é preciso transformar as aspirações em militância.

O presente pertence aos pragmáticos. São eles os vitoriosos de hoje. Frequentam as manchetes dos jornais, as chamadas da televisão, as revistas de celebridades. Supõem que seu êxito é eterno. Enganam-se. Talvez na próxima geração ninguém nem saiba lhes declinar o nome.

A competição gera um progresso conflitivo e desumano. A cooperação é que pode produzir o verdadeiro progresso, em benefício de todos e não apenas em proveito de alguns.

A felicidade de um povo mede-se por indicadores muito mais profundos do que o simples consumo, ainda mais esse consumo que alcança somente uma fração da coletividade.

Sempre foi a utopia que moveu a História. Tomás Morus, Campanella, Marx, Teilhard de Chardin, Kierkegaard, Gabriel Marcel, Ernest Bloch, Roger Geraudy, Martin Luther King, Che Guevara, Tiradentes, Frei Cameca, Dom Hélder Câmara foram alguns dos grandes utopistas que alimentaram a caminhada dos homens na busca de uma existência compatível com sua dignidade.

Dizer que a utopia morreu é assinar carta de abdicação à face das forças poderosas que comandam este mundo.

É preciso alimentar a Utopia com a nossa Fé, em todos os espaços sociais onde possamos atuar: construir a utopia em nosso país, em nosso Estado, em nosso município, em nosso bairro, em nosso local de trabalho.

A edificação da utopia não é obra de uma só geração. Temos de fazer o que cabe ao nosso tempo e transmitir o bastão aos que vierem depois de nós.


João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito aposentado (ES) e escritor.

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