sábado, 27 de fevereiro de 2016

PIPIÚNA: UM "PASSAGEIRO DA AGONIA"

A notícia da morte do morador de rua José do Carmo da Silva, 51 anos, dada neste sábado, 27, pelo portal G1 Acre quase passa despercebida do público xapuriense. Não fosse pela foto "três por quatro" divulgada na reportagem, ninguém teria notado se tratar de Pipiúna, um dos filhos do senhor Fernando Polegada, já falecido, cuja família era tradicional na rua Major Salinas e bastante conhecida em toda a cidade.

"Seu" Fernando Polegada possuía uma pequena lanchonete localizada na rua 17 de Novembro em frente à Mercearia Fé em Deus, de propriedade do comerciante Raimundo Alemão. Entre as minhas boas lembranças da adolescência está um saboroso misto quente ali servido junto a um geladíssimo "refresco", infalivelmente de cupuaçu ou graviola. Eram os primeiros anos da década de 1980.

Foi exatamente nessa época que conheci o Pipiúna jogando futebol amador em um tempo em que Xapuri era uma cidade respeitada na prática dessa modalidade esportiva. Recordo-me como se fosse hoje de um belo gol marcado por ele em cobrança de falta numa decisão de campeonato xapuriense entre os tradicionalíssimos América e Santiago, salvo equívoco no ano de 1983. 

Pipiúna jogava pelo América, que foi o campeão daquele ano. Era um jovem talento, tanto no futebol de campo quanto no futebol de salão, que àquela época ainda não era chamado de futsal. Foi colega de Julinho Figueiredo, em minha opinião um dos maiores jogadores do futebol local, entre outros tantos craques que desfilaram pelo gramado do velho estádio Góes e Castro, rebatizado de Álvaro Felício Abraão.

Mas, ainda na flor da idade, Pipiúna já começara a perder uma das batalhas mais inglórias para um ser humano: a luta contra as drogas. Negro e pobre como a maior parte das vítimas dessa tragédia que com o passar dos anos só se agravou em Xapuri, era mais conhecido na cidade pelo vício que possuía que pelo belo futebol que jogava. Sem qualquer tipo de apoio que não fosse o da família ou dos poucos amigos que a bola lhe dera, jamais conseguiu vencer a doença, mergulhando cada vez mais numa viagem sem retorno que terminou na última quinta-feira, 25, em Rio Branco. 

Depois de ir embora de Xapuri, em data incerta, Pipiúna perambulou entre Rio Branco e Porto Velho, segundo informações de pessoas que vez por outra o encontravam sempre vagando. Foi preso várias vezes por pequenos furtos e terminou por se tornar morador de rua. O último capítulo da sua trágica existência foi uma agressão sofrida em um bar no bairro Tancredo Neves, em Rio Branco. Segundo uma irmã de Pipiúna, ele foi atacado com um taco de sinuca por uma pessoa ainda não identificada pela polícia. Morreu no Pronto-Socorro da capital depois de passar 111 dias em coma. 

José do Carmo da Silva, o Pipiúna, foi um passageiro da agonia. 

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